Que existem diversas formas de se remontar um time, ninguém tem dúvida. O formato da NBA, sem rebaixamento, com maiores chances no Draft para os times ruins, além de uma possível reviravolta com a contratação de Free Agents, oferece uma gama enorme de opções para cada franquia buscar o topo. Thunder e Warriors se montaram com boas escolhas de Draft, o Spurs se renovou com contratações precisas de Free Agents, o Cavs investiu pesado em trocas desde a volta de LeBron James. Não tem receita, tudo pode dar certo, tudo pode dar errado.
Entre esses formatos, o Boston Celtics escolheu um caminho curioso. Depois da saída de Doc Rivers, eles contrataram o jovem técnico Brad Stevens para comandar o banco de reservas, um jovem de sucesso no basquete universitário por Butler, mas mais novo que muito jogador por aí. Ele chegou no time em 2013, quando tinha míseros 37 anos! Em volta dele, colocaram um time também muito jovem: Ray Allen já tinha ido embora, Kevin Garnett e Paul Pierce foram trocados, e dúzias de pirralhos tomaram seus lugares. O time ainda começou a acumular um número absurdo de escolhas de Draft. Além das suas próprias, eles têm escolhas de primeira rodada de Nets (QUE SORTE!), Mavericks e Wolves nos próximos anos, além de escolhas de segunda rodada de Cavs, Mavs, Heat, Clippers, Pistons e Grizzlies.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”De All-Star aí só o cabelo do Olynyk”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Celtics5.jpg[/image]
Algumas dessas escolhas, além de jogadores, foram conseguidos nas trocas que aconteceram após a chegada de Stevens. Para a surpresa de muita gente, Rajon Rondo e Jeff Green, ainda jovens e que pareciam ser o pilar do novo Celtics, foram negociados. De uma hora para outra, o time campeão que tinha uma lista de All-Stars no elenco era um apanhado de jogadores medianos e esforçados, daqueles que você vê a lista de atletas e é tão nivelado que fica difícil identificar quem é titular, reserva ou quem nem vai continuar no time no ano seguinte. Afinal, Tyler Zeller é o melhor ou o terceiro pivô mais importante do time? Cada dia eu acho uma coisa diferente.
Essa característica de todo o time combina perfeitamente com a história de Brad Stevens. Claro que ele não chegou lá, novinho e inexperiente, e mudou tudo, foi ao contrário. Danny Ainge, manager da equipe, que escolheu Stevens baseado no que pensava para o futuro da franquia. Assim como Stevens fazia ao recrutar jogadores do colegial para sua faculdade, o Celtics não iria babando para cima das super estrelas, ao invés disso o foco seria bons defensores, caras que gostam e sabem jogar em equipe, e jogadores que quanto mais versáteis, melhor. Pense bem, não é essa assim que você definiria Avery Bradley, Marcus Smart, Jae Crowder, Jonas Jerebko, Evan Turner ou Amir Johnson? Todos são baratos, chegaram de mansinho e fazem um pouco de tudo.
O sucesso veio até mais cedo do que o planejado. Em meados da temporada passada, depois até a troca de Rajon Rondo, o time começou a embalar. A boa defesa ganhou ainda um boost de talento ofensivo quando eles conseguiram, brilhantemente, trocar por Isaiah Thomas do Phoenix Suns em um negócio onde não perderam quase nada. Era a peça que faltava para o time começar a fazer estragos: o time que todo mundo via como em caminho direto para uma boa posição para o Draft acabou na 7ª posição do Leste, era um time de Playoff! E o bom momento se carrega até essa temporada, onde o Celtics se encontra na 4ª colocação do Leste, com 5 vitórias e apenas 2 derrotas em casa e vêm de impressionantes vitórias sobre OKC Thunder e Houston Rockets, estas em plena conferência Oeste.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Quem está ganhando a corrida da reconstrução, Celtics ou Lakers?”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Celtics4.jpg[/image]
Mas qual o segredo desse Celtics recheado de jogadores secundários? Podemos dizer que é um dos times mais modernos da liga, que aplica os conceitos mais em voga no basquete para ampliar suas chances de vitória.
O primeiro dele envolve as bolas de 3 pontos. Não, eles não tem um Steph Curry no elenco. Nem perto disso, aliás. Na temporada passada eram o quarto time com PIOR aproveitamento de longa distância; nesse ano estão piores ainda: antepenúltimos com patéticos 28% de acerto. O diferencial está na defesa, é difícil demais arremessar de longe contra esse Celtics! Na temporada passada os adversários acertaram apenas 33% das bolas de longe contra os verdes, e isso tentando apenas 22 bolas de longe por jogo, uma das menores marcas da liga.
Com uma defesa de perímetro agressiva, que gruda nos atacantes mesmo quando eles estão longe da cesta, os adversários tem dificuldade para tentar e acertar as bolas mais valiosas do jogo. Isso é possível porque o Celtics tem diversos jogadores atléticos, rápidos e com uma altura e peso meio genéricos que podem trocar de atacantes entre sim. Então se Marcus Smart, um excelente defensor, está marcando um armador e recebe um bloqueio de um ala, ele pode trocar com Jae Crowder, que mantém a pressão sobre o armador com a bola enquanto Smart usa sua força física pra dar um calor no adversário mais alto. A bola sempre sofre pressão, nenhum passe sai fácil, ninguém tem espaço para puxar um arremesso do nada. Não é muito diferente do que outros times atléticos como o Warriors ou o Thunder costumam fazer.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”VEM. NI. MIM.”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Celtics2.jpg[/image]
Méritos também para o técnico Brad Stevens nessa. Ele é conhecido por desenhar jogadas muito criativas, especialmente em laterais e fundo-bola, mas é na defesa que ele tem feito a diferença. Esse sistema de muitas trocas na defesa só não vira putaria se todo mundo estiver na mesma página. Então se bolas de 3 são o presente da NBA e você não consegue fazê-las, é importante não sofrer também! Essa defesa feroz de perímetro, que já pode colocar Marcus Smart e Avery Bradley entre os melhores da liga na função, põe o Celtics com a segunda menor marca em pontos sofridos por posse de bola nesse começo de temporada. É um nível defensivo que Boston não via desde os tempos do auge de Kevin Garnett e Tom Thibodeau.
Curioso que no ataque, mesmo com o aproveitamento patético, o time insiste nas bolas de 3 pontos. Nesse ano, só Warriors e Rockets tentam mais bolas de longa distância! A questão aqui é um misto de matemática e falta de opção: matemática porque é melhor ter aproveitamento ruim em uma bola de 3 pontos do que aproveitamento mais ou menos em bolas que valem míseros 2; falta de opção porque é um time sem um grande pontuador capaz de invadir o garrafão e conseguir bandejas fáceis, nenhum dos pivôs é capaz de chamar a bola pra si e tomar conta da partida também. Como bom time contemporâneo, aprenderam com o San Antonio Spurs, Miami Heat e Golden State Warriors que precisam passar bem a bola: aproveitam que ninguém além de Isaiah Thomas leva jeito pra segurar muito a bola na mão e rodam bastante a laranja antes de arremessar. É o 5º time que mais dá assistências na NBA apesar de, como dissemos, ser um time que nem sempre coloca a bola dentro da cesta, algo essencial para que a bendita assistência conte na estatística.
Tudo muito lindo e otimista até aqui, mas não se engane, ainda falta o mais importante. Não importa o quanto seu time esteja atualizado nas tendências da moda, ou quanto o time alie bem o uso de estatísticas com o treinamento dado pelo técnico, só dá pra vencer com talento. O Celtics experimentou isso na última temporada, nos Playoffs, quando fez 3 jogos disputadíssimos contra o Cleveland Cavaliers e em todas as ocasiões perderam no final porque de um lado LeBron James decidiu, e do outro o Celtics penou para conseguir acertar os arremessos mais importantes do jogo.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Exemplo visual da defesa de perímetro do Celtics”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Celtics3.jpg[/image]
Eu sei da importância de ter essa estrela decisiva, você sabe e, claro, Danny Ainge também. E é aí que eu acho o plano do Boston Celtics um sucesso. Ao contrário do Philadelphia 76ers que acha que é importante se manter ruim enquanto não consegue as estrelas, para maximizar suas chances no Draft, o Celtics apostou em criar um ambiente que pareça promissor. Qualquer um que olhe esse time hoje enxerga um padrão de jogo, uma ótima defesa e um excepcional treinador, quanto tempo até uma estrela da liga não pensar que “falta só eu ali”? Ano que vem Kevin Durant é Free Agent, DeMarcus Cousins pode pedir pra sair a qualquer momento.
O Boston Celtics tem o time, o banco, o espaço no teto salarial e dúzias de escolhas e jovens jogadores para trocar. O tabuleiro está pronto, falta aquele movimento para ganhar o jogo da reconstrução.
Não sei se vocês lembram, mas a Universidade de Butler foi bi-vice campeã com Brad Stevens no banco de reservas. Uma dessas finais, contra Duke, teve um dos grandes finais de jogos na história do basquete universitário. Assistam tudo e CHOREM junto comigo no arremesso final de Gordon Hayward