O sucesso inesperado do LA Clippers

Depois de anos de muito sucesso e também de derrotas traumáticas, o Los Angeles Clippers decidiu que era hora de mudar. A base do time conhecido como Lob City foi morrendo aos poucos: primeiro Chris Paul foi para o Houston Rockets, depois JJ Redick foi se aventurar no jovem Philadelphia 76ers, já durante a última temporada o recém-renovado Blake Griffin foi trocado para o Detroit Pistons. Antes desta temporada, finalmente, foi a vez de DeAndre Jordan partir para o Dallas Mavericks. Destas negociações, alguns partiram de graça e outros foram trocados por jogadores bons, mas nenhuma estrela.

Parecia reconstrução, tinha cara de reconstrução e cheiro de renovação. Mas com um quarto da temporada 2018-19 para trás, o LA Clippers é o LÍDER da disputadíssima Conferência Oeste. Como diabos isso aconteceu?

Antes de analisarmos o time em quadra é preciso falar sobre seu elenco. O dono do time, Steve Ballmer, deixou claro para o presidente de operações Lawrence Frank que não queria ter um time perdedor em mãos. Poderia haver reconstrução de elenco, troca das estrelas e até uma busca por jovens jogadores e eventuais escolhas de Draft, mas nada de simplesmente uma limpa em nome de uma boa posição no Draft. A ideia seria continuar relevante, mas flexível, e então atacar algum Free Agent da aguardada classe de 2019. Entre os nomes especulados, o de Kawhi Leonard é o mais forte.

Existem razões e riscos por trás da opção de Ballmer. Por um lado o time precisa realmente de alguma relevância dentro de quadra se planeja atrair bons nomes veteranos, LeBron James foi o único grande jogador na última década a topar ir para um time que não tinha sucesso recente. Também não podemos esquecer que não é fácil se manter sob os holofotes da imprensa e da torcida de Los Angeles, uma cidade com muito mais torcedores do LA Lakers e com grandes times em todos os outros grandes esportes. Seja ruim e você some da TV, dos jornais, do Twitter…

Por outro lado, um time mediano corre o risco de ainda assim não atrair o super Free Agent e morrer no velho limbo do meio da tabela, vendo seu time envelhecer e sem conseguir dar aquele boost de qualidade nem com a chegada de uma estrela consagrada nem com uma boa escolha no Draft. Mas entendo a decisão de Ballmer por um lado mais simples: qual a graça de comprar um time da NBA para chamar de seu e ele ser uma porcaria?! Ele quer ir aos jogos, se divertir, vibrar com grandes lances. Eu faria o mesmo.

Dentro de quadra, sob o comando do técnico Doc Rivers, o Los Angeles Clippers tem misturado um estilo que agrada um pouco os tradicionalistas e um pouco os novos tarados em estatísticas e viciados em eficiência. Os técnicos antigos devem ir ao delírio ao ver que o Clippers não abre mão de jogar com um pivô o tempo todo, que usa e abusa dos handoffs ao invés dos infinitos dribles e que é um dos times que ainda não desistiu dos arremessos de meia distância. O Clippers é o OITAVO time que mais arremessa de meia distância e apenas o VIGÉSIMO OITAVO que mais chuta de 3 pontos. E entre essas bolas de longa distância, é o segundo que menos arremessa da zona morta, que é justamente o local de maior aproveitamento médio na NBA.

Como, em 2018, um time consegue ter o QUARTO MELHOR ATAQUE da NBA com tanta meia distância e poucos tiros de longe? Bom, acertando tudo! Os arremessos de meia distância não são ruins por si só, eles são considerados ruins porque seu aproveitamento, em geral, é baixo para valer só dois pontos. O Clippers, por outro lado, tem acertado 42% dos arremessos de meia distância. O aproveitamento sobe para 44% se contarmos só os arremessos chamados de “short-mid”, que são de dentro do garrafão mas não grudados no aro. Estamos falando aqui de floaters, ganchos e arremessos bem curtos, excluindo bandejas e enterradas.

shotchart

O gráfico acima mostra como o LA Clippers está abaixo da média da NBA em apenas dois pontos da quadra. E, tirando os arremessos DO MEIO DA QUADRA, esses pontos são justamente de onde eles menos arremessam. É um time que sabe sua identidade, como jogar e de onde arremessar. Isso se reflete também nos turnovers, onde o Clippers é o sexto time que menos comete erros.

Sem poder de fogo das grandes equipes estelares da NBA, o Clippers vence pelo cansaço. Não desperdiça a bola à toa, não tenta arremessos idiotas, troca passes até a defesa cometer um erro bobo e passa 48 minutos executando seu ataque sem lapsos mentais que tanto atrapalham, por exemplo, Boston Celtics e LA Lakers até aqui na temporada. No jogo da última quinta-feira contra o Sacramento Kings, um raro jogo televisionado nacionalmente nos EUA para as duas equipes, o Clippers fez um jogo regular do começo ao fim, abrindo vantagem só quando o Kings, jovem e irregular, começou a viajar no período final.

Isso tem a ver com a tal CULTURA do time. A palavra é batida e às vezes usada sem pudor, mas não quer dizer que não existe. Times têm estilos de jogo próprio e às vezes isso se impregna de tal forma que se torna um norte para como os jogadores se portam em qualquer situação. No Clippers, veio de fora para dentro, com uma ideia que contagiou contratações. Depois do desastre dos egos conflitantes de Chris Paul e Blake Griffin, Steve Ballmer, Doc Rivers e Lawrence Frank começaram a falar sobre ter um time BRIGADOR, raçudo, competitivo e sem estrelismo. Falar é fácil, mas eles complementaram isso trazendo jogadores que já eram famosos pela entrega em quadra, pelo foco defensivo e pelo jogo em equipe. O maior nome é Patrick Beverley, o pentelho armador que é o líder mais vocal do grupo. Mas se expande para Avery Bradley, o discreto Tobias Harris, Danilo Gallinari e até para Lou Williams, que por mais fominha que seja, aceita vir do banco de reservas sem reclamar. Nosso idolatrado Boban Marjanovic é outro que ajuda a deixar o vestiário mais unido e amigável. São outros tempos no lado amaldiçoado do Staples Center.

Vale voltar para a imagem acima para lembrar que o Clippers tem, sim, ótimo arremesso de longa distância. Eles chutam pouco, mas acertam bastante. Lembra que eu disse que eles são o segundo time que menos arremessam da zona morta? Pois são também LÍDERES em aproveitamento daquela área, com 45% de acerto! Talvez até devessem mesmo arriscar mais arremessos de fora, mas até aqui estão sendo premiados por chutar só em excelentes condições. Quando um rival se esforça para tirar o arremesso de longe, eles pegam o de meia distância sem pensar duas vezes. E acertam…

Mas se o arremesso de meia distância faz os Daryl Moreys da vida terem arrepios, o time responde com eficiência em outras áreas consagradas pelos números. O time é o SÉTIMO que mais dá arremessos grudados à cesta, geralmente enterradas e bandejas. O aproveitamento não é nada de mais, mas essa agressividade rende nada menos do que TRINTA lances-livres por partida. É o segundo time que mais arremessa lances-livres por jogo e o 5º que mais acerta. Isso é cartilha do basquete eficiente contemporâneo (também conhecido como James Harden): arremesse de 3 pontos, faça bandejas e bata lances-livres. São, por seu aproveitamento médio, as maneiras mais eficientes de marcar pontos numa quadra de basquete.

Nesse aspecto aqui devemos tirar o chapéu para três jogadores em especial: Lou Williams é desde sempre o mestre supremo das fintas, ameaças e cavadas de falta. Danilo Gallinari (finalmente saudável!) é outro especialista em deixar o marcador desequilibrado a aproveitar para ganhar uns lances-livres. Por fim, Montrezl Harrell é um pivô ultra agressivo que sempre vai para a enterrada ao receber uma bola no pick-and-roll e muitas vezes só é parado com faltas.

O pivô, aliás, é um dos fortes candidatos a jogador que mais evoluiu na temporada. De reserva pouco usado no Rockets, ele foi ganhando espaço no Clippers até se tornar peça fundamental do ataque da equipe. Hoje ele lidera o time em roubos, tocos, lances-livres e rebotes de ataque! Seus corta-luzes são feitos de concreto e ele tem boa mão para receber o passe e já partir para a finalização. São talentos parecidos com o de outro jogador da posição, Marcin Gortat, mas com muito mais poder físico.

O Clippers também fez um bom achado no Draft também. O jovem armador Shai Gilgeous-Alexander, além da ótima FORÇA NOMINAL, é bem alto para a posição e tem uma calma rara para um novato nessa posição. Ele sabe usar seu tamanho e porte físico para ir achando seus espaços na quadra e assim arremessar por cima de marcadores baixos. Em alguns momentos parece muito o Shaun Livingston jogando, com o bônus de ser mais atlético por motivos de ser muito mais novo e nãu usar joelhos biônicos:

Mas embora o Clippers tenha diversas qualidades, temos que pensar o quanto disso é sustentável. Em geral podemos confiar que números de lances-livres cobrados se mantenham no topo ao longo do ano, por exemplo, mas será que o Clippers seguirá com esse aproveitamento alto nos arremessos de média e longa distância? A defesa do time, que começou voando, já começou a voltar à realidade e hoje é só a 14ª melhor da NBA, basicamente mediana. Qualquer passo para trás no ataque e não sei se a defesa estará lá para compensar.

Mas mesmo que a defesa impeça o time de deslanchar na frente da tabela, é difícil não acreditar em uma equipe que tem jogado de maneira tão inteligente e que pode contar com diversos jogadores. Talvez Gallinari se machuque, talvez Montrezl Harrell deixe de ser o melhor pivô reserva do mundo, mas existem outras opções no elenco. Eles sobreviveram, por exemplo, ao começo ruim de Gortat e Avery Bradley, que finalmente estão melhorando. No Oeste maluco do jeito que está, a regularidade que tem marcado o time até aqui pode render mais sucesso a um time cujo planejamento pensava só em não ser horrível.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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