Os Novatos da Temporada 2021-22 da NBA

Há alguns anos eu decidi não fazer mais o texto analisando o Draft da NBA. Depois de tantos tempo acompanhando a liga de perto, estava cada vez mais claro que era um trabalho colossal demais para destilar incertezas demais. Por que eu estava dando notas e julgando times se estava convencido de que beira o impossível saber quem acertou ou errou no dia do recrutamento? E mais, não sou um daqueles gênios multifunção capazes de acompanhar tudo no mundo. Para ver tudo de NBA que vejo, abro mão de basquete universitário e muitas outras coisas. Que julgamento eu poderia fazer?

Só que nesse momento de hesitação, os assinantes do Bola Presa cobraram e afirmaram que este era um dos textos que mais gostavam de ler, além de que era uma TRADIÇÃO que não poderia ser simplesmente abandonada. Temos análise de todas as escolhas de todos os Drafts da NBA desde que começamos, em 2007! Topei o serviço, mas desde então a abordagem tem sido outra. Ao invés de preocupação exagerada em falar sobre quem acertou ou errou, optei por muita pesquisa em cima do material de quem segue a molecada de perto para saber quem são eles, como chegaram na NBA e quais são as qualidades e defeitos que mais chamaram a atenção dos olheiros. Em 2021, por exemplo, é legal reler a Análise de 2016 e ver que muito se questionava sobre Ben Simmons ter “abandonado” seu time na universidade no meio da temporada.  Também passamos a valorizar mais a Summer League, uma chance da gente ver os jogadores de perto e criar impressões próprias depois de tanto ler a análise dos outros.

O trabalho de pesquisa, o fato de serem 60 jogadores e nossa vontade de esperar a Summer League passar sempre fez a Análise do Draft sair bem depois do recrutamento, mas nunca tinha demorado TANTO. Como já comentei com os assinantes algumas vezes, ainda não aprendi a escrever textos e ser pai ao mesmo tempo. Tempo para o podcast dá pra arranjar, texto é outro bicho. Um dessa magnitude eu nem sei como consegui fazer, mas juro que comecei há pelo menos DOIS MESES e quase desisti algumas vezes. Espero que gostem e que usem para consultar vez ou outra durante a temporada ao se deparar com um rosto novo que querem conhecer melhor. =)

Também faz parte da tradição ter os SELOS DE QUALIDADE para cada time. Mesmo que a gente não dê mais muita bola para julgar quem foi bem ou quem foi mal, não pode faltar, né? Neste ano usei o tema que mais apareceu nas nossas lives pré-podcast. Mais que basquete, pandemia, vacina ou relacionamentos: VASCO. Encontrei maravilhosas faixas da torcida vascaína que simbolizam o que um torcedor pode ter sentido ao ver seu time fazer essas escolhas. Bora lá!


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DETROIT PISTONS
Cade Cunningham, PG/SG (1) – Oklahoma State
Isaiah Livers, SF/PF (42) – Michigan
Luka Garza, C (52) – Iowa
Balsa Koprivica, C (57) – Florida State

Foram muitos os boatos de que diversos times da NBA correram atrás do Detroit Pistons para tentar uma troca pela primeira escolha do Draft 2021. Alguns desses times, como o OKC Thunder, até teriam oferecido propostas gordas, cheias de futuras escolhas de Draft e bons jovens jogadores, segundo repórteres. Mas o Pistons não negociou e o motivo é bem óbvio: Cade Cunningham. Temos certeza mesmo de que ele vai ser uma das próximas grandes estrelas da NBA? Nunca sabemos com essa molecada, mas se a preparação, a investigação e até INSTINTO de um time no longo processo do Draft indicam que esse é o cara com mais chance de revolucionar a franquia, não há motivo para fazer troca.

Pensem bem, mesmo que o Thunder estivesse dando cinco escolhas boas de primeira rodada por Cunningham, o que o Pistons iria fazer com elas? Torcer para que um dia uma dessas caísse na primeira posição em um Draft considerado fortíssimo. Bom, isso eles já tinham agora! Segundo os especialistas, esse era um Draft com três talentos muito óbvios no topo, com Jalen Green e Evan Mobley fazendo companhia para Cunningham, que era o favorito da maioria. O Pistons até fez charme, não cravou desde cedo o que ia fazer e marcou treinos com outros atletas, mas no fim escolheu o óbvio.

Ler sobre Cunningham é quase que como ler sobre o que todo time da NBA busca em um jogador de perímetro em 2021: alto para a posição (2,03m), bom arremesso de longa distância, facilidade em atacar a cesta, habilidade de ler as defesas e tomar decisões, bom passe, liderança, defensor versátil, finaliza com as duas mãos e por aí vai. Quando se lê alguns dos relatórios sobre Cunningham a gente se pergunta se quem tá escrevendo é a mãe dele, se é post pago ou se em algum momento vão começar a dizer que ele é engraçado, ajuda velhinhos a atravessar a rua e é um ardente amante na cama. O ponto é que Cunningham é um jogador COMPLETO e parece meio impossível que ele dê errado na NBA, mas ainda precisamos ver quão bom ele vai ser bom em todas essas coisas que listamos para saber se será uma estrela. Todo time precisa de alguém que faça um pouco de tudo, mas há os Nicolas Batuns que fazem isso e há os LeBron James, com oceanos de distância entre eles. Como ele não é uma aberração física, há quem tema que ele esteja velejando no meio desses oceanos.

A versatilidade de Cunningham deve facilitar um pouco a vida do Pistons e do técnico Dwane Casey. No ano passado o time investiu sua escolha mais alta no Draft no armador francês Killian Hayes, que se machucou logo no começo da temporada e teve pouco tempo para mostrar a que veio. Quando o Pistons foi sorteado na primeira posição do Draft, muitos já imaginavam que a chegada de Cunningham seria sinônimo da saída de Hayes, mas na Summer League de Las Vegas ambos jogaram juntos. Como o menino é versátil e na lista de talentos do maior CV do mundo está “boa movimentação sem a bola”, deu pra colocar ele ao lado de um armador mais tradicional. Os números de Cunningham na Summer League não fazem brilhar os olhos (18,7 pontos, 5,7 rebotes e 2,3 assistências), mas foram bons e com alguns momentos de brilhantismo.

O Pistons ainda escolheu mais TRÊS vezes no Draft, mas só no fim. Na escolha 42 eles apostaram no ala Isaiah Livers, veterano para os padrões do Draft com 22 anos, especialista em tiros de longa distância e… só. Sem muita mobilidade e sem qualquer característica de criar seu próprio lance ofensivo, Livers tem na sua pontaria a chance de ganhar minutos ou não no banco do time. Curioso que ele seguirá perto de casa: nasceu e estudou em Kalamazoo, cidade com excelente FORÇA NOMINAL a duas horas de Detroit, e fez faculdade na Michigan University, que fica a meia hora do centro de Detroit. Carinho da torcida confirmado.

Na Escolha 52 o time apostou em Luka Garza, outro “veterano” de 22 anos vindo do basquete universitário, outro com boa pontaria de longa distância apesar de ser mais conhecido como jogador de forte presença no garrafão. Ele é elogiado pelo esforço e pela entrega, mas poucos acreditam que sua defesa dê conta do nível da NBA. Nesta primeira temporada ficará no afiliado do Pistons na G-League. Garza é um daqueles casos que a gente demora a entender quando estamos começando no basquete: como alguém com tanto sucesso no basquete universitário é tão mal visto pelos profissionais? O pivô foi eleito o Jogador do Ano da revista Sporting News nos últimos dois anos, o primeiro bicampeão do prêmio dado ao melhor jogador universitário pela revista esportiva desde Michael Jordan nos anos 1980. O troféu é super tradicional e nos últimos 15 anos premiou caras como Kevin Durant, Blake Griffin, Anthony Davis, Victor Oladipo e Zion Williamson. Mesmo jogadores menos consagrados que venceram o troféu, como Doug McDermott e Frank Kaminsky, foram pelo menos escolhas de primeira rodada no Draft. Garza foi selecionado na posição 52! Realmente ninguém acredita que seu domínio nas quadras acontecerá novamente. Uma curiosidade é que Garza, nascido nos EUA de pai americano de origem hispânica e mãe bósnia, é sobrinho de Teoman Aloibegovic, maior cestinha da história da seleção da… ESLOVÊNIA. Que salada! E que o senhor Teoman aproveite seu recorde até Luka Doncic fazer mais meia dúzia de jogos e quebrar sua marca.

Por fim, o Pistons apostou no pivô sérvio Balsa Koprivica. Promessa do basquete europeu, Koprivica foi para os EUA muito jovem e chegou a ser considerado um dos principais nomes do basquete colegial por um tempo, mas perdeu o status no seu último ano de escola. Acabou jogando pela Florida State University, com bons números em duas temporadas. Depois de ser muitíssimo discreto na Summer League de Las Vegas, onde fez só dois jogos com 1,5 ponto por jogo de média, Koprivica fechou contrato com o tradicional Partizan Belgrado, do seu país natal. Lá ele terá como treinador Zeljko Obradovic, um dos mais idolatrados treinadores da história do basquete europeu e que, vejam só, treinou o PAI de Koprivica no mesmo Partizan Belgrado muitos anos atrás. Se essa bela jornada acabar com o pivô de 2,13m desenvolvendo seu basquete, o Pistons estará esperando para chamá-lo de volta aos EUA.


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HOUSTON ROCKETS
Jalen Green, SG (2) – G League Ignite
Alperin Sengun PF/C (16) – Turquia
Usman Garuba PF/C (23) , Espanha
Josh Christopher SG (24), Arizona State

Com quatro escolhas na primeira rodada, o Houston Rockets iniciou sua reconstrução pós-Harden mostrando toda a variedade possível no processo de recrutamento. O time trouxe um jogador da Liga Turca, um da Liga Espanhola, um do basquete universitário e outro da G-League, a liga de desenvolvimento da NBA que agora tem um time só para jovens promessas que querem pular a faculdade. Não entendeu? Tem texto do Bola Presa do ano passado falando dessa nova aventura protagonizada por Jalen Green, escolha do Rockets na segunda posição do Draft.

Confiança não é problema para o ala. Primeiro ele achou que se arriscar na novidade da G-League não iria prejudicar sua imagem entre os times da NBA, depois falou várias vezes que achava que deveria ser a primeira escolha do Draft. O Pistons não achou, e tem gente que acha que Evan Mobley será mais completo que Green, mas há também muitos que concordam com Green de que não há talento como o dele no Draft 2021. O que mais encanta em Green é sua capacidade de fazer uma coisa bem importante no basquete: botar a bola na cesta. Pode ser infiltrando, arremessando de meia distância, de 3 pontos, com defesa na cara, driblando pra trás, girando, de ponta cabeça… não importa. E se tudo der errado, ele consegue cavar uma falta e ganhar uns pontos de graça na linha do lance livre. Nos dois jogos que fez na Summer League de Las Vegas antes de se machucar, acertou 51% dos seus arremessos, 52% nas bolas de 3 pontos e 93% dos lances livres, marcas INSANAS se você considerar o grau de dificuldade dos arremessos que tentou:

Esse é um elogio que sempre vem seguido de preocupação, até onde ele vai com esses arremessos? Sabemos que alguns jogadores são tão bons que as regras normais não servem pra eles, como Stephen Curry ou Damian Lillard, mas até Green provar que está nesse nível vamos ver com um pé atrás esses arremessos difíceis em cima de marcação pesada que ele arrisca. Também será um desafio ver como ele se adapta a seu novo parceiro (e amigo pessoal de longa data!) Kevin Porter Jr, ambos gostam muito de controlar o jogo e não muito de fazer a bola rodar no ataque. Quem acompanhou sua carreira mais de perto no colegial também aponta que às vezes ele desliga das partidas e perde interesse. Mas vai que acontecia só porque jogar na escola não é tão legal quanto na NBA…

No meio da primeira rodada, o Rockets sentiu o cheirinho da oportunidade e decidiu agir. O GM Rafael Stone ligou para seu companheiro Sam Presti e conseguiu a Escolha 16 do OKC Thunder em troca de duas escolhas futuras. Já virou piada como o Thunder só deseja mais e mais chances de escolher no Draft e de como parece que não há qualquer pressa, então o Rockets se aproveitou disso para abrir mão de um pouquinho de futuro para aproveitar uma oportunidade que eles julgaram única, a de selecionar o pivô Alperen Sengun. Com apenas 18 anos, o turco conseguiu a façanha de ser MVP da última temporada do campeonato de seu país, que não é a ACB da Espanha mas ainda assim tem muito times fortes e inúmeros jogadores respeitados na Europa. Não sei se é o fato dele ser pivô, se é um desdém com a qualidade do campeonato ou só um desânimo em ver que ele não é uma força da natureza fisicamente, mas Sengun parecia ter tudo para ser uma escolha alta nesse Draft e mesmo assim ninguém deu bola. Segundo o que dizem, o Rockets era um dos poucos times que o tinham bem alto em suas listas e ao vê-lo caindo correram para fechar uma troca. Entre os especialistas, o Kevin Pelton da ESPN colocou Sengun como O MELHOR jogador desse Draft, na frente até de Cunningham e Green! O John Hollinger, ex-cartola do Memphis Grizzlies e hoje comentarista do The Athletic, tinha Sengun na QUARTA posição da sua lista e disse que caras que dominam na Europa como ele nunca dão errado na NBA, mesmo que tenham níveis diferentes de sucesso. Ele cita Toni Kukoc, Danilo Gallinari, Luka Doncic, Ricky Rubio e Jusuf Nurkic como casos semelhantes. Uns são mega estrelas, outros são bons titulares, mas ninguém que dominou na Europa tão jovem foi um desastre nos EUA.

A Summer League chegou e o que vimos foi que Pelton e Rockets estavam bem certos em seus pensamentos otimistas. Sengun teve média de 15 pontos, 11 rebotes e foi o líder entre os novatos com 3 tocos por jogo nas quatro partidas que disputou. No ataque mostrou bom arremesso (o que pegou muito olheiro desprevenido!), visão de jogo para movimentar o ataque a partir do garrafão, muita habilidade ao redor da cesta e agilidade para pontuar assim que recebia o passe, sem dar chance da defesa contestá-lo. É bem impressionante ver como ele tem tantos recursos mesmo com tão pouca idade. Na defesa, onde tanto se teme por sua falta de velocidade lateral e explosão física, ele se virou bem, soube se posicionar e ainda se recuperou de várias situações incômodas com bonitos tocos. Claro que na NBA de verdade os adversários serão melhores e ele não vai poder errar nunca seu posicionamento defensivo, mas o começo foi mais promissor do que o esperado.

Um pouco depois, na Escolha 23, o Rockets de novo pegou um jovem europeu, Usman Garuba, que ficou sabendo da novidade enquanto estava na Olimpíada de Tóquio defendendo a seleção da Espanha. Para compensar a perda da experiência de estar lá, ouvir seu nome e cumprimentar Adam Silver usando um boné pequeno demais para sua cabeça, Rubio e seus companheiros fizeram uma pequena cerimônia improvisada:

Nascido em Madrid, Garuba é filho de pais nigerianos que imigraram para a Europa nos anos 1990. O menino jogava futebol até os 11 anos, mas a altura começou a atrapalhar, segundo ele, e então mudou para o basquete. Um ano depois estava nas categorias de base do Real Madrid, aos 14 foi MVP do EuroBasket Sub-16 e de lá passou a integrar o time profissional do clube, onde superou Doncic como mais jovem titular da história da equipe. Ele não brilhou como o esloveno, é claro, mas cavou seu espaço em um elenco muito forte e na seleção.

Embora fazer parte da equipe olímpica espanhola mostre que Garuba é bom, os números dele em Tóquio-2020 também mostram porque muitos ainda o veem como um projeto. Em quatro partidas olímpicas, o ala passou apenas 46 minutos em quadra e marcou só quatro pontinhos. Sua melhor atuação foi na eliminação contra os EUA, quando passou 16 minutos em quadra, fez 3 pontos, pegou 3 rebotes e foi um dos poucos jogadores a sair com saldo positivo de quadra. Logo depois da eliminação ele voou para Las Vegas, onde jogou três partidas de Summer League e chamou atenção pelo físico, pelos rebotes e por não conseguir contribuir com quase nada ofensivamente. Mesmo em um time jovem e sem ambições imediatas, difícil imaginar Garuba sequer jogando muito dada a concorrência com Christian Wood, Sengun, Daniel Theis e Jae’Sean Tate.

Para encerrar sua participação, na escolha imediatamente seguinte à de Garuba, o Rockets apostou no ala Josh Christopher, que era previsto para ser selecionado na segunda rodada mas que encantou a galera das planilhas no Texas. É consenso entre os especialistas que Christopher não brilhou na última temporada por Arizona State, mas que seus bons momentos eram ÓTIMOS momentos. Excelente capacidade atlética, agressivo atacando a cesta e capaz de enterradas incríveis, como bem vimos na Summer League. Muitas vezes jogadores que brilham nessas áreas se dão melhor no basquete veloz e aberto da NBA do que no jogo mais amarrado e lento do basquete universitário. Veremos.


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CLEVELAND CAVALIERS
Evan Mobley, PF/C (3) – USC

Em um Draft com três nomes de maior destaque, a posição mais fácil é a de quem ficou em terceiro. Com Cunningham e Green fora do páreo, restou ao Cleveland Cavaliers selecionar o ala/pivô Evan Mobley. Mas que fique claro, pra muita gente ele deveria ter sido selecionado antes da dupla! Tudo o que está na moda em jogadores de garrafão, Mobley pode fazer. Ele é bom no pick-and-roll, com bons bloqueios e versatilidade para decidir quando recebe a bola, seja passando ou finalizando. Também tem arremesso de qualidade se quiser fazer um pick-and-pop e, para ser mais da moda ainda, já mostrou que pode ser um organizador de ataques na cabeça do garrafão. Até nos seus defeitos ele é um reflexo do seu tempo, todo mundo critica sua falta de repertório de costas para a cesta. Mas quem precisa disso em 2021, né? Seus maiores fãs entre os olheiros também elogiam muito sua defesa. Se tudo isso for verdade, o Cavs tem um futuro All-Star em mãos.

Para o Cavs a seleção acaba sendo cômoda também. Se eles selecionam Cunningham ou Green, provavelmente teriam que eventualmente abrir mão de Darius Garland ou Collin Sexton, ou ao menos passar pela dor de cabeça de colocar alguém no banco, negociar minutos e lidar com o drama. Com Mobley, não. Pelo contrário, se tem algo que Garland e Sexton sonham é com um parceiro de pick-and-roll que deixe a vida deles mais fácil. Na Summer League, sem seus parceiros mais famosos, Mobley até foi bem, mas foi obrigado a fazer mais sozinho que o normal e às vezes teve dificuldade quando recebeu a bola para mano-a-mano longe da cesta. Mas quando ganhou a bola bem posicionado, fez miséria contra marcadores mais baixos. Alguns de seus tocos me fizeram pensar no estrago que uma dupla com ele e Jarrett Allen pode causar. Pode estar na defesa, que chegou a ser uma das melhores da NBA no primeiro mês da temporada passada, quando o Cavs ameaçou ser um bom time, o começo da virada.

Na sua temporada universitária em USC, Mobley jogou ao lado do irmão mais velho Isaiah, que decidiu não entrar no Draft e jogar mais um ano na NCAA. Ele é cotado para ser uma escolha de segunda rodada na próxima temporada. Ambos também tinham jogado juntos no basquete colegial, quando até foram pauta de matéria da revista SLAM, que contava a história dos irmãos avaliados como promessas “cinco estrelas” pelas principais publicações dos EUA. O pai da dupla jogou basquete profissionalmente em Portugal, Indonésia e no México, e desde 2018 é assistente técnico em USC. Não sei se o plano da universidade foi contratar o pai como estratégia para recrutar a dupla de promessas, mas deu certo. A matéria da SLAM também conta que a movimentada casa da família Mobley contava com três outros irmãos de criação: um rapaz chinês que precisava de uma família para recebê-lo enquanto fazia intercâmbio escolar no ensino médio; um aluno da mãe de Mobley que de repente ficou sem lugar parar morar; e um terceiro garoto que a família conheceu através de parentes e que aceitaram criar. Aguardo a reunião de todos na NBA.


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TORONTO RAPTORS
Scottie Barnes, PF/SF (4) – Florida State
Dalano Banton, PG/SG (46) – Nebraska
David Johnson, SG/PG (47) – Louisville

A primeira grande surpresa do Draft rolou quando o Toronto Raptors usou a quarta escolha para pegar o ala Scottie Barnes ao invés do adorado armador Jalen Suggs. Não só Suggs era mais elogiado por quase toda a crítica esportiva, como também teve uma carreira universitária de mais destaque e joga na posição que o Raptors mais precisaria de reforço caso a provável saída de Kyle Lowry se concretizasse, o que realmente rolou semanas depois. E não é só isso, nos sites especializados em Draft, Barnes era muitas vezes comparado ao agora companheiro de time Pascal Siakam. Seja por abrir mão do cara que muitos viam como melhor jogador disponível ou só por pegar um que pode ser redundante, críticas não faltaram à turma de Masai Ujiri no dia do Draft.

Na Summer League de Las Vegas entendemos todas as comparações com Siakam. Barnes não tem lá muito domínio de bola para brilhar no mano-a-mano, não tem um arremesso realmente bom, mas mesmo assim consegue fazer a diferença por ESTAR EM TODO LUGAR. Ele rouba bolas e transforma em contra-ataques, é sempre o primeiro a chegar no ataque, se movimenta bem, sabe finalizar perto da cesta (mesmo que pareça meio desengonçado às vezes) e busca rebotes com intensidade maníaca. A intensidade dele combina perfeitamente com o que o técnico Nick Nurse sempre pede de seus jogadores e é o que fez eles se apaixonarem por Siakam anos atrás. Será que é mal negócio ter dois caras parecidos demais?

Embora ambos sejam maravilhas atléticas, Siakam é um pouco mais alto e parece ter braços mais longos também. Dá pra imaginar Barnes jogando na posição 3, Siakam na 4 e tá tudo certo. É no ataque que a ausência de um arremessador de longa distância entre a dupla pode acabar deixando algumas posses de bola ofensivas meio estagnadas. E como nem sempre novato tem essa moral toda, é provável que OG Anunoby seja titular ao lado de Siakam nas alas e que Barnes sirva de reserva de ambos. Soma-se essa solução aos boatos de que o Raptors não ligaria de trocar Siakam no futuro próximo após uma frustrante temporada 2020-21, e aí essa redundância de talentos de Barnes e Siakam fica cada vez menos relevante.  O ala está no lugar ideal e com o técnico certo para usar e abusar de sua versatilidade e intensidade defensiva. Ele já escreveu até cartinha de amor a Toronto antes mesmo de estrear pelo time e teve uma boa Summer League, com 15 pontos, 7 rebotes e 2 tocos de média. Se daqui algum tempo alguém criticar essa escolha, provavelmente terá mais a ver com o possível sucesso de Suggs no Orlando Magic do que com um eventual fracasso de Barnes no Raptors.

Outra coisa: já que estamos na era dos SUPER TIMES, vale lembrar que Scottie Barnes já fez parte de um! Depois de dois títulos estaduais seguidos na Flórida durante o Ensino Médio, ele se transferiu para a Montverde Academy, uma das escolas mais tradicionais dos EUA no basquete colegial, para jogar ao lado de ninguém menos que Cade Cunningham, a primeira escolha do Draft, e outros dois parceiros selecionados nesse recrutamento, Moses Moody (escolha 14) e Day’Ron Sharpe (escolha 29). O trio liderou Montverde a uma temporada de 25 vitórias, NENHUMA DERROTA, e uma média de 39 pontos de diferença no placar nesses triunfos. Para alguns, esse foi o melhor time colegial da história do basquete americano. O grupo ainda tinha Caleb Houstan, cotado para ser Top 10 no Draft 2022, e Dariq Whitehead, considerado um dos mais promissores do Draft 2023.

Na segunda rodada o Raptors levou também Dalano Banton, armador alto, com boa visão de jogo e canadense da gema. Há quem veja traços de Shaun Livingston ou Kyle Anderson no jogador, que comanda o jogo mais no ritmo do que na força. Dá pra entender a comparação, mas a falta de um arremesso confiável e muita dúvida sobre sua defesa explicam o que fez Banton cair até a segunda rodada. Dito isso, o Raptors teve boa defesa na Summer League e Banton foi um dos destaques. Há potencial aqui para ele ser mais um achado do Raptors no Draft, vale ficar de olho. Na escolha imediatamente seguinte, a seleção foi David Johnson, um tipo de jogador que às vezes sofre para chamar a atenção no basquete universitário mas que tem seu espaço na NBA: ótimo defensor, super intenso em quadra e inteligente na movimentação sem a bola… enfim, um Alex Caruso que todo time precisa. Parece alguém que vai parecer melhor se jogar em um time organizado e com talento a seu redor, algo que o Raptors pode oferecer se voltar aos seus melhores dias.


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ORLANDO MAGIC
Jalen Suggs, PG, (5) – Gonzaga
Franz Wagner, SF/PF (8) – Michigan

Se o Orlando Magic não selecionasse Jalen Suggs, o Twitter iria desabar. Já tinha sido uma surpresa o Raptors deixar o armador passar, se o Magic faz a mesma coisa já iríamos começar a pensar que descobriram alguma lesão secreta no menino. Por sorte não foi o caso e o time da Flórida fez a decisão mais fácil da sua vida. Suggs foi o principal nome de um dos maiores times da história do basquete universitário: seu time de Gonzaga venceu 31 dos 32 jogos que fez na última temporada, perdendo apenas… a FINAL. O time foi o primeiro desde 1979 a chegar numa decisão invicto, mas a final foi um desastre completo, botando um baita de um asterisco na campanha e tirando um pouco (só um pouco) do brilho do arremesso que Suggs acertou no último segundo da semifinal contra UCLA:

Se tem algo que pesa contra Suggs é que muita gente não vê características dominantes que possam fazer dele uma mega estrela. É bom pontuador e bom defensor, mas não faz cestas com a facilidade e variedade de movimentos que Jalen Green, por exemplo, nem é versátil defensivamente como Scottie Barnes. Em Gonzaga brilhou por saber fazer um pouco de tudo, errar pouco e por ser um baita de um líder, algo que o Magic sente falta desde Jameer Nelson, pra falar a verdade. Costumam comparar seu estilo com caras como Chauncey Billups ou Jason Kidd, mas eu vejo um pouco de Kyle Lowry também. Sempre sob controle, vê tudo e todos o tempo todo, passa quando precisa passar, arremessa quando precisa arremessar. Não deve ser o cestinha do time, mas vai ser o melhor amigo de quem for esse pontuador. Essa característica pode até ajudá-lo a jogar ao lado de outros armadores, como o próprio Lowry já fez muitas vezes. Sua chegada, portanto, não é o fim do mundo para Cole Anthony ou Markelle Fultz, dá pra garimpar minutos para o trio e ver o que rola. E uma curiosidade: Suggs é primo de Eddie Jones, ala que foi três vezes All-Star na NBA no fim dos anos 1990 e fez história no LA Lakers, Charlotte Hornets e Miami Heat.

Três escolhas depois, na oitava posição do Draft, o Magic selecionou Franz Wagner, ala alemão que jogou na Universidade de Michigan e que é o irmão mais talentoso de Moe Wagner (que terminou a última temporada no Magic e renovou contrato!). As críticas que o Magic recebeu na época do Draft foram mais pela falta de coragem do que pela falta de talento de Wagner. O ala é visto como um jogador bom e versátil, especialmente na defesa, mas que poucos veem com potencial para arrasar quarteirão. Como o time está em modo reconstrução total e pecou nos últimos 10 anos justamente por não encontrar uma grande estrela, não valia a pena apostar em um nome que mais gente vê com chance de estourar, como James Bouknight ou até Alperen Sengun? Talvez o tempo seja cruel com eles, mas ser um bom defensor com bom arremesso já é bem valioso na NBA e não dá pra condenar o Magic por reconhecer isso e escolher Wagner. Se ele for tudo o que dizem defensivamente, aliás, é bem impressionante pensar no que ele e Jonathan Isaac podem fazer juntos. Coloque Chuma Okeke no mix e temos uma coleção de jogadores jovens, inteligentes e pau pra toda obra nas alas. O lado negativo é que jogadores assim, que geram pouco ataque para si mesmos, acabam brilhando mais em times bem estabelecidos, entrosados e com criadores em outras posições. Não parece o caso do Magic de 2021-22. É bom que Suggs seja tudo isso mesmo!


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OKLAHOMA CITY THUNDER
Josh Giddey, PG/SG, (6) – Austrália
Tre Mann, PG (18) – Flórida
Jeremiah Robinson-Earl, PF, (32) – Villanova
Aaron Wiggins, SG, (55) – Maryland

O OKC Thunder, o time que tem 70 escolhas (não contei certinho, mas é por aí) nos próximos seis ou sete anos, mostrou mais um sinal de excesso de PACIÊNCIA nesse Draft. Só em uma liga que premia perdedores, que não tem rebaixamento e que não lida com invasão de CT de torcida organizada, é que pode ser possível um time tão ruim, que coloca todas as suas fichas no Draft, selecionar na SEXTA POSIÇÃO um jogador que mais ninguém vê com tanto otimismo – e ainda trocar sua outra escolha mais alta, a 16, por duas seleções em Drafts futuros. É como se o Thunder quisesse garantir com todas as forças que será o pior time da NBA em 2021-22.

A polêmica primeira escolha do time foi Josh Giddey, australiano de 19 anos que muita gente vê como um ala com características de armador ou só um armador muito alto. Ao que tudo indica, o Thunder acredita mais na segunda opção. Em seus vídeos vemos muito controle da posse de bola, manipulação das defesas e bons passes, mas Ricky Rubio está aí para mostrar que na NBA isso às vezes só faz a diferença mesmo se ele conseguir se estabelecer minimamente como pontuador. Eram dúvidas que a gente queria tirar na Summer League, mas Giddey machucou o tornozelo logo no primeiro quarto do primeiro jogo. Certamente, porém, não faltarão oportunidades para ele na temporada regular. Como aconteceu ano passado com Aleksej Pokuseviski, o GM Sam Presti não tem medo de escolher seu jogador favorito antes de todo mundo nem de botar ele em quadra pra aprender na prática. O tempo dirá se suas apostas vão envelhecer como geniais ou não, assim como só o tempo irá botar o peso certo na opção de abrir mão de Alperen Sengun por duas escolhas de Draft.

O modus operandi de Presti seguiu na Escolha 18, quando ele foi com o empolgante Tre Mann. O baixinho de 20 anos ainda está crescendo (dizem que isso ajudou ele a ganhar moral com vários olheiros) e é daqueles caras lisos que gostam de disparar arremessos de qualquer lugar, tipo um Devonte’ Graham da vida (com a mesma dificuldade em infiltrar, dizem). A maioria dos especialistas via ele saindo nas últimas posições da primeira rodada ou até depois, mas o Thunder, como dissemos, não liga pra isso. Na Summer League, Mann jogou apenas duas partidas: acertou 3/14 arremessos contra o Pistons e 4/15 contra o Pelicans, depois deixou o time por questões pessoais.

Na segunda rodada o Thunder apostou primeiro em Jeremiah Robinson-Earl, que na ausência dos companheiros mais famosos ganhou mais responsabilidade na Summer League e chamou atenção com bons lances defensivos e muita entrega. É a receita básica para que jogadores selecionados na segunda rodada ganhem um espacinho na rotação do time. Por fim, na posição 55 o Thunder levou Aaron Wiggins, ala que tenta se firmar como 3-and-D mas que os olheiros ainda têm dúvidas se é bom o bastante tanto nos arremessos de 3 quanto na defesa. Ele assinou um contrato Two-Way e deve passar a maior parte do ano na G-League tentando melhorar. Geralmente quando lemos sobre esses atletas, descobrimos que eles vêm de uma família de atletas – é comum acharmos pais, irmãos, irmãs, tios ou primos que jogaram basquete ou mesmo outros esportes profissionalmente. Com Wiggins, não. A família é MUSICAL: “Queria que meus filhos tivessem uma formação musical”, disse a mãe dele, uma professora, ao Washington Post. “Queria eles expostos à cultura, à arte e ao teatro”. O resultado é que ele e seus irmãos todos sabiam ao menos dois instrumentos, Wiggins escolheu piano e trombone. Ele tocou na banda da escola, na igreja, e na dança fez aulas de ballet, sapateado, jazz e hip-hop! Vamos torcer para o parça do Danilo no mundo da dança.


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GOLDEN STATE WARRIORS

Jonathan Kuminga, SF, (7) – G-League Ignite
Moses Moody, SG, (14) – Arkansas

Todo o papo do Golden State Warriors trocar uma ou suas duas escolhas no Top 14 do Draft por um jogador veterano foi só papo, assim como no ano passado quando eles selecionaram James Wiseman. Não que eles não tenham tentado, mas é bem difícil achar a troca certa, pelo valor certo, pelo cara certo, na hora certa, especialmente quando você tem um time cheio de ambições e não é só um catadão tentando trocar só pra ver no que vai dar. O resultado é que o Warriors teve que escolher dois adolescentes para juntar a seu time de balzaquianos, uma combinação que o próprio Draymond Green disse recentemente que “historicamente não costumam dar certo”.

Essa afirmação torna-se ainda mais extrema se pensarmos que o Warriors usou sua primeira escolha no congolês Jonathan Kuminga, de apenas 18 anos, que ao lado de Jalen Green decidiu ignorar o basquete universitário e se aventurar na G-League na última temporada. A decisão de fazer um caminho pouco usual rumo à NBA parece ser de família, já que seu primo Emmanuel Mudiay decidiu faturar uma grana jogando na China por uma temporada ao invés de ir para a NCAA antes do Draft de 2015 – em que foi, vejam só, também a sétima escolha.

São duas perguntas envolvendo o jogador: será que Kuminga é bom pra valer? Se sim, será que ele vai ser bom pra valer desde já? Ele encantou no Ensino Médio e na sua temporada de G-League com uma soma de físico explosivo impressionante e puro talento. Está sempre atacando a cesta com suas passadas largas e finaliza bolas difíceis com qualquer uma das mãos. Na Summer League, Kuminga foi o general ofensivo do Warriors e comandou o ataque quase como um armador, uma função que pouco deve exercer quando Steph Curry estiver em quadra. O resultado foi uma mescla de grandes jogadas em que parece Tracy McGrady desfilando por entre adversários e aproveitamento bem baixo em arremessos forçados.

Na posição 14, o Warriors selecionou o jogador que eles cogitaram pegar na sétima posição, Moses Moody. O bom arremessador era cotado para o Top 10, mas foi caindo até voltar para o colo do Warriors, que aproveitou a chance de pegar um aprendiz de Splash Bros. O The Ringer diz que Moody é uma “aposta certeira” para ser um jogador produtivo, mas não imagina ele sendo mais do que um mero coadjuvante. Não tem muito jogo de mano-a-mano nem explode rumo à cesta, mas se o arremesso for mesmo bom como dizem, o Warriors vai arranjar um jeito de usá-lo bem. Na Summer League ele teve média de 16,3 pontos por jogo com ótimos 43% de acerto nas bolas de 3 pontos. Tudo muito bom, mas o mais marcante envolvendo Moody é como o grande Kendrick Perkins foi INCAPAZ de pronunciar seu nome durante o Draft:


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SACRAMENTO KINGS
Davion Mitchell, PG, (9) – Baylor
Neemias Queta, C, (39) – Utah State

Alguns especialistas cravavam Davion Mitchell como um dos cinco melhores jogadores deste Draft, outros o colocavam mais perto da décima posição. O que a gente tinha certeza era de que quando chegou a vez do Sacramento Kings selecionar seu jogador na nona posição, Mitchell era o nome mais bem cotado à disposição. A pergunta era se o time, que já tem De’Aaron Fox e Tyrese Haliburton como seus principais talentos, escolheria um outro jogador da mesma posição. Pois escolheram.

Esse é um assunto que surge todo santo ano no Draft: um time deveria selecionar o jogador disponível que considera melhor ainda que ele jogue na mesma posição de outros nomes de destaque da franquia? Não há resposta certa ou definitiva. Pessoalmente, sou do time que pensa em talento primeiro e encaixe depois. Imaginem se o Philadelphia 76ers não seleciona Joel Embiid por já ter Nerlens Noel e Jahlill Okafor no elenco! O período com três pivôs foi tenso e as despedidas não muito amigáveis, mas o time saiu da brincadeira com o melhor jogador. Outra hipótese é a de que o Kings simplesmente ache que dá pra usar os três armadores juntos, ou dois por vez. Haliburton é bem alto e versátil, tem impacto com ou sem a bola, pode atuar junto de Mitchell ou Fox, como fez várias vezes ano passado. Já o novato talvez funcione em diferentes funções porque é um MAGO DEFENSIVO. Como li por aí nas redes sociais, ele é o cara que o Patrick Beverley acha que é.

Na Summer League, onde o Kings levou o caneco, Mitchell anulou Payton Pritchard na final contra o Boston Celtics. O armador fez só QUATRO pontos no jogo depois de ter média de 20 ao longo do torneio. E olha o que ele fez nesse lance da pré-temporada em que estava marcando Paul George, um cara que tem VINTE CENTÍMETROS a mais do que ele de altura. Talvez dê pra botar o moleque marcando alas e seguir a vida sem problema algum:

E olha que ele não é só defesa. Tem bom controle de bola e na sua última temporada na Universidade de Baylor, onde foi campeão em cima da Gonzaga de Jalen Suggs, melhorou seu aproveitamento de 31% para 45% nas bolas de 3 pontos. Talvez um número tão alto não seja uma realidade possível na NBA, mas ele mostrou que sabe fazer e pode melhorar. Um defensor fora de série, que marca muitas posições, sabe conduzir um ataque e tem melhorado no arremesso? Bom demais para deixar passar, mesmo com outros bons jogadores na posição.

Na segunda rodada o Kings levou o gigantesco pivô Neemias Queta, o primeiro PORTUGA draftado na história da NBA! Como diria a deletada pérola do Twitter: “parabéns aos nossos colonizadores“. Curiosamente, Queta chega para jogar em Sacramento, cidade que consagrou o grande nome do basquete português em terras norte-americanas, Ticha Penichero. A armadora dava os passes mais criativos e inovadores da WNBA no começo do século, tornando inevitáveis as comparações com Jason Williams, com quem compartilhava cidade e ginásio na época. Dá pra acreditar que um dia Sacramento foi o lugar para se viver no mundo para ver basquete bonito?

Nascido em São Sebastião da Pedreira, Queta é filho de guineenses e se mudou para os EUA em 2018 para jogar na Universidade de Utah. Fez três boas temporadas lá e se consolidou como um dos bons pivôs tradicionais do basquete universitário. Os olheiros destacam os muitos tocos e como ele marca bem outros pivôs, mas sofre ao lidar com qualquer outro jogador mais veloz. Na NBA isso pode ser um problema, mas há utilidade em ter alguém como ele e Queta pode cavar seus minutos no banco do Kings nos próximos anos. Na Summer League ajudou o time a ser campeão, mas não teve papel de destaque, o mais provável é que passe um tempo na G-League se adaptando à velocidade da NBA.


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MEMPHIS GRIZZLIES
Ziaire Williams, SG/SF, (10) – Stanford
Santi Aldama, PF, (30) – Loyola

Gosto de ler diferentes análises do Draft na pesquisa para esse texto não só pelo mero aprendizado, mas também para rir de como especialistas que dedicam sua vida a desvendar jovens jogadores conseguem, às vezes, discordar tanto sobre o potencial de um jogador. Mas há também o oposto, há as vezes em que TODO MUNDO fala a mesma coisa. É o caso do ala Ziaire Williams: impossível achar uma análise que não chame essa escolha do Memphis Grizzlies de “high-risk, high-reward”: risco alto, recompensa alta. Em outras palavras, todo mundo vê uma chance do menino ser um baita jogador um dia, mas ele ainda não é grande coisa.

Se eu fosse um jogador mais completo, ficaria revoltado. Então eu já mostrei todo meu talento, fui melhor que esse cara, mas você prefere esse ser claramente inferior porque há algum POTENCIAL escondido nele? É assim que funciona, mas como um atleta que já provou alguma coisa imagino que deva ser frustrante ser preterido em nome desses caras. É que Williams é simplesmente muito tentador: ele é alto, conduz a bola com facilidade, tem boa visão de jogo e tem melhorado ao poucos seu arremesso. Se esse poder ofensivo deslancha, dá pra botar um ataque nas costas dele. Se não deslancha, o Grizzlies tem um Kyle Anderson novo para ser reserva do Kyle Anderson original.

A Escolha 10 usada em Williams era do New Orleans Pelicans, mas foi para o Grizzlies na troca que envolveu Jonas Valanciunas e Steven Adams. Dizem que a ideia por trás da troca era selecionar Josh Giddey, mas com a surpresa dele saindo em sexto para o OKC Thunder, essa parte do plano falhou. A escolha veio numa troca contestada e o jogador selecionado está longe de ser unanimidade, mas o histórico recente do Grizzlies no Draft dá a eles o benefício da dúvida.

Na última escolha da primeira rodada, o Grizzlies fisgou o ala espanhol Santi Aldama, MVP do último Europeu Sub-18, em 2019. Curioso que ele tenha caído no Grizzlies porque o rapaz tem uma queda por times menos badalados: ao se destacar ainda bem jovem no seu clube das Ilhas Canárias, não aceitou transferência para Real Madrid e Barcelona. Mais tarde, decidiu jogar basquete universitário nos EUA ao invés de seguir em grandes clubes europeus porque queria estudar e seguir carreira nos negócios após deixar o basquete. Ele então resolveu ir para a Universidade de Maryland-Loyola, um time pequeno para um cara da projeção de Aldama. Ele disse ter ficado à vontade lá ao visitar a escola e ainda conhecia o assistente Ivo Simonic, amigo de seu pai, que também foi jogador profissional da seleção espanhola.

Na Summer League, assim como seu companheiro Ziaire Williams, Aldama sofreu para botar a bola na cesta. Ambos tiveram aproveitamento baixo nos arremessos e tiveram dificuldade em exercer qualquer protagonismo. Williams brilhou em uma partida em que marcou 19 pontos contra o Heat e Aldama meteu um double-double convincente contra o Bulls, 14 pontos, 11 rebotes e 4 assistências. Dado o elenco recheado de bons jogadores do Grizzlies, não me surpreenderia de vê-los com poucos minutos neste primeiro ano.


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CHARLOTTE HORNETS
James Bouknight, SG, (11) – Connecticut
Kai Jones, C, (19) – Texas
JT Thor, PF/C, (37) – Auburn
Scottie Lewis, SG, (56) – Florida

Sabe como todo time busca uma identidade? Acho que descobrimos a do Charlotte Hornets: DAR SHOW! James Bouknight é um ala explosivo que ataca a cesta assim que vê uma possibilidade, um parceiro ideal para os contra-ataques puxados por LaMelo Ball, com Miles Bridges correndo junto para garantir que alguém receba uma ponte-aérea no fim do lance. Depois de fisgar um armador como LaMelo, o Hornets precisa nos próximos anos seguir a cartilha do Atlanta Hawks com Trae Young e cercá-lo com os melhores alvos possíveis para passe. Bouknight parece um bom passo nessa direção. O arremesso de longe é inconsistente, indicam os números, mas saber se mexer sem bola é um talento elogiado por muitos e que faz todo sentido nesse time. Os seus muitos pontos de interrogação (defesa, decisão de quando arremessar ou passar) vão definir se ele vai ser no futuro só um bom parceiro de melhores momentos de LaMelo ou um titular nessa equipe. As diferentes hipóteses para responder a essas dúvidas fizeram alguns especialistas colocarem Bouknight como o sexto melhor jogador desse Draft enquanto outros nem o incluíam no Top 10.

Na Summer League ele foi bem, com 17 pontos por jogo e muita responsabilidade na criação de jogadas, onde mostrou mais visão de jogo do que o esperado, mas não sem uma boa dose de turnovers. Talvez seja até melhor ele começar a carreira apenas focado em finalizar os lances criados por LaMelo, Gordon Hayward e Terry Rozier e só aos poucos, entre os reservas, ir pondo à prova seu gosto por segurar demais a bola. Ah, e nessa última semana, na pré-temporada, chamou a atenção de todo mundo com isso aqui:

Ainda na primeira rodada, após uma troca com o NY Knicks, o Hornets levou Kai Jones, o que só reforça minha teoria de que o Hornets está focado em montar um time de entretenimento ao redor do seu armador showman. O pivô é outro monstro atlético cuja principal característica é o pick-and-roll, em que usa sua explosão para criar ameaças de pontes aéreas. É ou não é um parça ideal para LaMelo? O resto do seu jogo não é muito refinado e ele não deve receber muito a bola para passes, handoffs ou arremessos, mas se criar espaços com corta-luzes e enterradas, seu trabalho está feito. Depois de um ano inteiro de boatos de que estariam interessados em Richaun Holmes, o Hornets conseguiu uma versão mais jovem e mais barata do pivô.

Nascido nas Bahamas, Jones só foi jogar basquete pela primeira vez aos QUINZE ANOS de idade! É raríssimo que alguém comece tão tarde e chegue tão longe. Jones se mudou para os EUA aos 11 anos, mas nem foi lá que começou a jogar. Ele ainda voltou para as Bahamas com o sonho de ser um atleta profissional de salto em distância, mas acabou crescendo muito e tentando o basquete. Em um evento do Basketball Without Borders, da NBA, ele conversou com seu compatriota DeAndre Ayton, que o convenceu a tentar o basquete colegial dos EUA. Jones brilhou no basquete colegial, onde foi parceiro de time de Nassir Little, ala do Portland Trail Blazers, e logo recebeu convites de grandes universidades.

Na segunda rodada o Hornets selecionou JT Thor, o terceiro escolhido em que as fichas dos olheiros já começam com elogios e mais elogios ao seu físico e capacidade atlética. Pelo jeito o Hornets quer ganhar de todo mundo na base da correria mesmo. Gosto! Mas ao contrário de Bouknight e Jones, Thor é um ala mais conhecido pelos atributos defensivos. É uma opção mais defensiva para a posição 4 do que Miles Bridges ou PJ Washington, por exemplo, e na Universidade de Auburn ele se destacou com tocos e até marcando jogadores mais baixos. Não sabemos se ele já está pronto para enfrentar os profissionais, mas são características que o Hornets não tinha em um jogador há algum tempo.

Embora tenha nascido no estado do Nebraska, Thor se mudou para o Alaska aos cinco anos de idade e morou lá até o Ensino Médio. Para se ter uma ideia da improbabilidade, o Alaska é o estado que MENOS gerou jogadores da NBA na história! Pelo Basketball-Reference, o único jogador nascido no gélido estado a chegar na NBA foi Mario Chalmers. O segundo será Daishen Nix, que passou em branco neste Draft 2021 mas foi logo contratado pelo Houston Rockets. Thor não entrará na conta, mas simbolicamente tá na lista. E não podemos ignorar Carlos Boozer, que passou quase toda a vida pré-NBA por lá após ter nascido em uma base militar americana na Alemanha. Outro nome famoso do Alaska é Trajan Langdon, que nasceu em Palo Alto, na Califórnia, mas que ainda muito novo se mudou para o norte, onde cresceu. Langdon durou só dois anos na NBA, no Cleveland Cavaliers (foi embora justo quando Boozer chegou!), e depois fez história na Europa, ganhando duas Euroligas no CSKA Moscou.

Por fim, lá na Escolha 56, o Hornets selecionou Scottie Lewis, cuja primeira sentença de descrição na ficha do The Ringer é “tremendous athlete”. Pelo jeito é pré-requisito pra jogar na franquia. Ele é uma versão mais baixa de Thor: muita intensidade, muita defesa, pouco usado no ataque. Para essa temporada assinou um Two-Way Contract, o que o deixará boa parte no ano na G-League. Depois da Summer League, onde teve honestos 8,5 pontos por jogo em 50% de aproveitamento, ficou claro que sua entrega defensiva é positiva e interessante,  mas que sem algo a agregar no ataque vai ser difícil vê-lo numa rotação da NBA.


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SAN ANTONIO SPURS
Josh Primo, SG, (12) – Alabama
Joe Wieskamp, SF, (41) – Iowa

Depois de sua pior temporada em décadas, o Spurs foi para o Draft precisando acertar em cheio. Nos últimos anos o time de Gregg Popovich selecionou vários bons jogadores, mas até agora nenhum deles realmente deslanchou. Sabendo disso, o Spurs foi lá e pegou o canadense Josh Primo, o MAIS JOVEM jogador desse Draft, com 18 anos de idade. Foi um choque geral. Não é só que praticamente 100% dos especialistas não viam o ala saindo tão cedo, na posição 12, mas também que vários deles sequer tinham certeza de que ele seria escolhido NA PRIMEIRA RODADA. Vejam só: Chad Ford o colocou em 25º em seu Big Board, o The Ringer listou Primo como o 27º melhor jogador deste Draft, o SportingNews o colocou na 42ª posição, a CBS Sports o ranqueava como 30º melhor, mesma posição do DraftRoom. E essas listas não são de previsões de onde eles imaginam que o atleta vai sair, mas uma lista de quem eles julgam os melhores jogadores disponíveis.

Na sua única temporada por Alabama, Primo marcou apenas 8,1 pontos por jogo, mas beirou os 40% nos arremessos de 3 pontos e para muitos ele é o melhor arremessador entre os selecionáveis deste ano. Ele parece ter um bom arremesso quando está parado, mas um melhor ainda quando está driblando e cria o espaço para o chute. As críticas sobre sua capacidade de atacar a cesta e finalizar em bandejas é que alimentam as dúvidas sobre o quanto ele pode ser central em um sistema ofensivo. Para o Spurs do curto prazo, porém, já vai ser de grande ajuda se ele pontuar do seu jeito e se movimentar sem a bola, outro ponto que parece estar em seu repertório. Se tem algo que Popovich sabe fazer é tirar proveito de quem sabe ler o jogo. Na Summer League, Primo mostrou os altos e baixos típicos de alguém com tão pouco experiência: obrigado a ser armador o tempo todo, fez uns bons passes, mas às vezes foi ENGOLIDO pela defesa e falhou em lances básicos.

O garoto parece talentoso e o Spurs segue confiando no próprio histórico de desenvolver bons jogadores internamente, mas escolhas tão FORA DA CAIXA como essas sempre correm o risco de serem punidas pela história. Moses Moody, Trey Murphy, Corey Kispert e especialmente Alperen Sengun, que possui todas as características de um jogador que o Spurs selecionaria anos atrás, podem ser lembrados pelos torcedores dependendo de como cada um se desenvolva nos próximos anos.

Na segunda rodada, o Spurs apostou em Joe Wieskamp, outro especialista em tiros de longa distância. Quando, em 2021, um cara bom em arremessos de 3 pontos cai para a segunda rodada é porque a gente sabe que os defeitos devem ser uns belos de uns defeitos. Os olheiros dizem que ele sofre defensivamente e que no ataque não parece que vai contribuir para além dos arremessos. Dito isso, o Spurs bem que precisa desses tiros de longe!


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INDIANA PACERS
Chris Duarte, SG, (13) – Oregon
Isaiah Jackson, PF/C, (22) – Kentucky

Logo depois da escolha do jogador mais jovem do Draft, vimos o mais VELHO ser chamado ao palco por Adam Silver. Chris Duarte, de 24 anos, foi a seleção do Indiana Pacers na 13ª posição. Na época do Draft, a notícia era a de que o novo técnico Rick Carlisle queria alguém que pudesse ajudar o elenco de imediato, não uma mera promessa que só vai render de verdade daqui uns anos. Em entrevista, o treinador disse que o time não olhou idade, só talento. É uma afirmação vaga, tem gente que vê mais talento em outros jogadores, mas um talento que ainda precisa ser lapidado. Ao que tudo indica, o Pacers queria talento ÚTIL desde já, e Duarte parece oferecer justamente isso.

É um bom arremessador que se destacou na Universidade de Oregon pela movimentação sem a bola. Deve se dar bem com um técnico conhecido por montar bons ataques e ao lado de bons passadores como Domantas Sabonis, Caris LeVert e Malcom Brogdon. Pela idade e pelo que mostrou em quadra, poucos acreditam que ele possa se tornar muito mais do que um bom coadjuvante, mas na posição TREZE do Draft os times já podem se dar por satisfeitos se selecionarem alguém útil. As histórias dos Kawhis e Giannis da vida estão aí pra deixar sonhar, claro, mas são mais exceção do que regra.

A trajetória de Duarte rumo à NBA é incomum. Ele nasceu no Canadá, foi criado na República Dominicana e depois de crescido foi para os EUA, onde se destacou na cena do basquete colegial em Nova York. Ele entrou na faculdade tarde para os padrões boleiros, já aos 20 anos, e foi para um Junior College. Expliquei no ano passado, ao falar de Jalen Scrubb, o que é um JC: “Nos EUA, os Junior College são instituições de ensino com cursos de curta duração, geralmente de dois anos, que servem para oferecer ensino técnico, voltado a alguma atividade profissional, ou como preparação dos estudantes para tentar vaga em uma  universidade tradicional após a formatura. No mundo dos esportes, os Junior College viraram uma maneira de atletas promissores jogarem após o Ensino Médio mesmo sem ter cumprido os requisitos acadêmicos exigidos pela NCAA para universidades da Divisão I”.

Duarte jogou dois anos no Junior College de Northwest Florida State, foi eleito o melhor jogador de JC do país em 2019, e então conseguiu uma transferência para Oregon, na Divisão I da NCAA. Lá jogou mais dois anos e no último recebeu o Troféu Jerry West de melhor ala-armador do basquete universitário americano. O passaporte para a NBA estava carimbado, era só esperar e ver que time não ligaria de ter um novato da idade de Devin Booker, que vai entrar na sua SÉTIMA TEMPORADA na liga. Na Summer League, enfrentando esses caras até seis anos mais novo que ele, Duarte foi um dos melhores novatos do torneio com médias de 18 pontos, 4 rebotes, 4 assistências e 2,5 roubos por jogo. Não apenas Duarte parece pronto como também o Pacers, pela lesão de TJ Warren, deve precisar muito dos seus serviços desde já.

Ainda na primeira rodada, o Pacers selecionou Isaiah Jackson, pivô bastante atlético que se destaca por uma habilidade e timing incríveis para tocos e pelas pontes-aéreas que finaliza. Na Summer League chegou a ter um jogo em que conseguiu SETE TOCOS em apenas 21 minutos jogados! Não parece muito pronto em todos os outros aspectos para contribuir desde já, mas é uma boa aposta para reforçar o banco. Pode a princípio roubar os minutos de Goga Bitadze e, quem sabe, até deixar o Pacers confiante de que trocar Myles Turner é uma possibilidade. O Pacers trocou a escolha 31 e Aaron Holiday para conseguir a escolha 22 e selecionar Jackson.


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WASHINGTON WIZARDS
Corey Kispert, SF, (15) – Gonzaga
Isaiah Todd, PF, (31) – G-League

Para muitos especialistas, Corey Kispert é simplesmente O MELHOR arremessador de todo o Draft. Em Gonzaga, onde jogou ao lado de Jalen Suggs na temporada quase perfeita da equipe, Kispert teve ótimos 44% de aproveitamento em quase sete arremessos por jogo. Se sua entrega e bom posicionamento na defesa forem mesmo de qualidade, como apontam os olheiros, é difícil imaginar essa aposta dando errado para o Wizards. Se algo pode preocupar o time é que Kispert, assim como seus companheiros Kyle Kuzma, Kentavious Caldwell-Pope, parece melhor se movimentando sem a bola do que criando algo com ela. O ala não vai dividir funções com Bradley Beal e Spencer Dinwiddie, mas pode ser responsável por ambos terem muito mais espaço para operar.

Na Summer League, porém, Kispert não correspondeu. Acertou apenas sete dos 23 arremessos de 3 pontos que tentou (30%) em quatro jogos e cometeu muitos turnovers enquanto tentava ser mais protagonista do que está acostumado. Ele deve se dar melhor quando estiver rodeado de melhores companheiros, mas vai precisar desenvolver mais coisas (rebote e defesa, especialmente) para segurar-se em quadra quando os arremessos não estiverem caindo.

Na primeira escolha da segunda rodada, o Wizards pegou Isaiah Todd, companheiro de Jalen Green e Jonathan Kuminga na aventura de abrir mão da carreira universitária em nome do G-League Ignite. Ele teve bons momentos por lá, mas não convenceu a ponto de garantir um contrato de primeira rodada. Na Summer League, mais do mesmo: boas finalizações quando recebe a bola em um pick-and-roll, algum malabarismo impressionante quando ataca no mano-a-mano, mas em geral ainda falta muito recurso para punir as defesas consistentemente. Acabou com média de apenas 8 pontos por jogo e deve seguir como projeto futuro do Wizards.


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NEW ORLEANS PELICANS
Trey Murphy, SF, (17) – Virginia
Herbert Jones, SF, (35) – Alabama

Ao lado de Moses Moody e Corey Kispert, Trey Murphy completava a trinca de ótimos arremessadores a serem escolhidos no miolo da primeira rodada do Draft. O ala escolhido pelo Pelicans é o mais alto do trio e seus atributos físicos o ajudam bastante na defesa. Ele é um jogador que disparou nas previsões depois do seu desempenho no Draft Combine, evento onde todos os participantes do recrutamento fazem uma série de testes físicos.

Antes de ir jogar na Universidade da Virginia, Murphy atuou por dois anos na Universidade de Rice que, confesso, NUNCA OUVI FALAR. Não à toa, claro, já que a última vez em que eles conseguiram se classificar para um Torneio da NCAA foi em 1970! Mesmo numa universidade pequena, de uma conferência fraca e com adversários medíocres, o ala teve média de apenas 8 pontos por jogo no seu primeiro ano. Foi só no segundo ano que ele deslanchou e chamou a atenção de universidades maiores, conseguindo a transferência para Virginia. Uma mudança de regras forçada pela pandemia o permitiu jogar no novo time sem precisar ficar de fora por um ano.

Na Summer League, Murphy se destacou com médias de 16,3 pontos, 7 rebotes, 1,8 roubo e um lugar na seleção oficial da NBA de All-Summer League 1st Team, ao lado de outros seis jogadores. Por que um “time” de melhores atletas tem SETE nomes? Não sei, mas Murphy entrou lá após ajudar o Pelicans a vencer todos os quatro jogos de que ele participou. Parece que o time conseguiu três coisas que queria em um único jogador: mais uma opção para a posição 4, um bom arremessador de longa distância e um bom defensor. Os elogios a seus corta-luzes e à sua movimentação sem a bola encaixam perfeitamente com um time que quer Zion Williamson e Brandon Ingram comandando o show.

Na segunda rodada o time apostou em Herb Jones, que também pode ajudar na defesa. Foi algo que deu TÃO errado no ano passado que é legal ver eles investindo nisso. Jones entrou nos times de defesa da sua divisão, a SEC, nas duas últimas temporadas universitárias e parece capaz de marcar jogadores de diferentes posições. No ataque vai ser mais difícil para o técnico Willie Green achar um espaço: ele é elogiado pela ótima visão de jogo, mas sem um arremesso confiável ou habilidade para atacar a cesta, vai se encontrar naquela situação Lonzo Ball/Draymond Green de ter toda a leitura do ataque mas poucos ângulos ou oportunidades de passe. Talvez brilhe após as dobras em Zion? Talvez encontre um entrosamento com Ingram no pick-and-roll? Vamos torcer para que sim.


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ATLANTA HAWKS
Jalen Johnson, SF/PF, (20) Duke
Sharife Cooper, PG, (48) Auburn

Com um elenco recheado de talento jovem em todas as posições, o Hawks podia se dar ao luxo de usar sua escolha de primeira rodada NO QUE BEM ENTENDESSE! Pivô promessa de 18 anos? Armador com 4 anos de basquete universitário? Um novo mascote? Qualquer coisa, de qualquer posição. O escolhido então foi Jalen Johnson, ala de Duke, jogador versátil que parece uma versão light de Ben Simmons: atlético, agarra rebotes como poucos da sua posição e usa eles para disparar loucamente para os contra-ataques, onde usa seu bom passe e suas enterradas para gerar pontos. Como Simmons, no jogo de meia-quadra pode ficar às vezes meio perdido, mas aí cabe ao técnico Nate McMillan encontrar maneiras de envolvê-lo em corta-luzes ou atacando rebotes ofensivos.

Na Summer League, mesmo com o time não tendo qualquer pressa em colocá-lo na rotação desde já, Johnson brilhou: 19 pontos e 9 rebotes de média e uma série de enterradas fabulosas em contra-ataques,

Mas por que diabos um Ben Simmons Light sai na VIGÉSIMA posição do Draft? Difícil falar por todos os General Managers, mas sua carreira universitária foi conturbada o bastante para não ajudar. Em fevereiro deste ano, semanas antes do fim da temporada, ele simplesmente ABANDONOU o time e decidiu se focar apenas no Draft. As notícias eram de que Johnson e outras pessoas próximas que o ajudam na carreira tiveram seguidos desentendimentos com Duke, o que culminou com ele sendo cada vez menos usado pelo técnico Mike Krzyzewski. Na época existiam previsões de Drafts o colocando até na SEXTA posição, mas ele só caiu desde então. Existem riscos e interrogações ao redor de Jalen Johnson, mas o Hawks estava em posição de arriscar e pode ter fisgado um bom talento. E pensando bem agora… talvez ele não seja só um Ben Simmons Light, mas um Ben Simmons FULL até demais.

Na segunda rodada, na posição 48, o time foi no armador Shariffe Cooper, que DESPENCOU no Draft e surpreendeu todo mundo. Para se ter uma ideia, ele era o 23º melhor jogador do Draft segundo o The Ringer e o 24º na lista de Chad Ford, do BigBoard. Nos principais Mock Drafts, que tentam prever a posição em que cada jogador será escolhido, sua pior posição era a 28! A comparação natural aqui é Rajon Rondo que, ironicamente, fracassou no Hawks no último ano. Ele é baixinho, não confia muito no arremesso, mas comanda tudo no ataque e acha todo passe que for preciso. Cooper, que é irmão de Te’a Cooper, jogadora do LA Sparks, da WNBA, nasceu em New Jersey, mas se mudou com a família para Atlanta aos seis anos de idade e já conhece bem a cidade onde vai jogar profissionalmente.

Na Summer League, Cooper mostrou bom entrosamento com Johnson e saiu de Las Vegas com médias de 14,8 pontos e 7 assistências. Mas seu grande momento até agora veio na pré-temporada, quando foi o responsável pelo passe que consagrou John Collins com a mais espetacular enterrada da jovem temporada:


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LOS ANGELES CLIPPERS
Keon Johnson, PG/SG, (21) Tennessee
Jason Preston, PG, (33) Ohio
BJ Boston Jr., SG, (52) Kentucky

O LA Clippers foi um dos times mais ativos na noite do Draft: trocou a escolha 25 pela 21 ao custo de uma escolha de segunda rodada futura e ainda mandou outra escolha de segunda rodada futura para pescar a escolha 33. Com um elenco veterano e a lesão de Kawhi Leonard, parece que o time quer achar mais um Terance Mann para fechar o elenco. O primeiro escolhido foi Keon Johnson, que marcou a maior impulsão de toda a história do Draft Combine: 1,21m! SURREAL.

Se ofensivamente ninguém acredita que ele está pronto para contribuir, na defesa a sua mera presença correndo, pressionando e pulando na cobertura deve fazer alguma diferença. Foi o que vimos na Summer League: muito atrapalhado com o drible, sem saber lidar com a responsabilidade de comandar o ataque, mas capaz de transformar “lixo” em cesta e de atrapalhar muito os rivais na defesa. Johnson disputou cinco jogos em Las Vegas: em uma partida, fez 17 pontos, acertou 6/12 arremessos e até umas bolas de 3 pontos. Nas outras quatro partidas somadas acertou só 11 de QUARENTA E SETE arremessos (23%) e 2 de 20 bolas de 3 pontos!

No começo da segunda rodada o Clippers escolheu Jason Preston, que operou o pé no início deste mês e deve perder boa parte da temporada. Uma pena não só pela carreira do menino, mas porque ele terminou muito bem a Summer League (depois de primeiros jogos desastrosos, é verdade) e porque o time não tem um armador como ele. Se Reggie Jackson e Eric Bledsoe são mais agressivos e finalizadores, Preston é um distribuidor de jogadas do jeito que Paul George e Kawhi pedem há tempos e que tentaram encontrar com Rondo. A história de vida do armador é daquelas de dar arrepio em coach, tamanha a superação, e viralizou depois que foi contada durante uma transmissão de um jogo seu pela Universidade de Ohio:

Em resumo: ele nunca conheceu o pai, a mãe morreu de câncer de pulmão quando ele estava no Ensino Médio. Os novos responsáveis por ele são os tios, que moram na JAMAICA. Ele seguiu nos EUA, morando com o filho do melhor amigo de sua mãe. Na época tinha média de DOIS PONTOS por jogo no seu time da escola e nem sonhava em ganhar uma bolsa de estudos. Um amigo, no entanto, o convidou para um time da AAU, as ligas amadoras que reúnem jovens jogadores do país. Ele topou, mas acabou no Time C do grupo, completamente amador. Jogou bem até subir para o Time B, depois para o Time A, mas aí, por algum motivo, o mandaram de volta para o Time C. Preston então tratou de fazer um triple-double no seu próximo jogo, montou um vídeo próprio se promovendo e colocou no Twitter, onde chamou a atenção da Universidade de Ohio. Lá ele foi bem discreto no primeiro ano e finalmente estourou no segundo, chamando a atenção dos olheiros da NBA e, um ano depois, ganhando espaço no Draft.

Se você já estava triste pela lesão de Preston, imagino que esteja ainda mais agora. Mas se tem alguém que parece que vai saber lidar com esse primeiro ano de dificuldades, é ele.

Com sua última escolha, o Clippers foi de BJ Boston, jovem ala/armador que era muito bem cotado no Ensino Médio, conseguiu uma vaga na disputadíssima Universidade de Kentucky, mas simplesmente não conseguiu render por lá. Quem acompanhou de perto o ano de Kentucky diz que Boston é bem magro e que a falta de força física pesou na hora dele conseguir pontuar atacando a cesta. Quando os arremessos de longe também deixaram de cair, o cara que iniciou o ano cotado para ser Top 10 do Draft (ele diz que queria brigar pela primeira posição!) despencou nas listas de todo mundo. Ele foi bem na Summer League, porém: seu arremesso parece mais alinhado e a confiança parece que, aos poucos, está voltando. Aposta válida para a posição CINQUENTA E DOIS, mas muito trabalho a ser feito.


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NEW YORK KNICKS
Quentin Grimes, SG, (25) Houston
Rokas Jokubaitis, PG, (34) Lituânia
Miles McBride, PG, (36) West Virginia
Jericho Sims, PF/C, (58) Texas

Depois de trocar as Escolhas 19 e 21, o Knicks finalmente escolheu um jogador no Draft na posição 25. O escolhido foi Quentin Grimes, que não é a cantora ex-mulher de bilionário. A maioria dos especialistas interpretou essa escolha do mesmo jeito: ao invés de se arriscar com promessas muito jovens e confusas, o Knicks só queria um cara que pudesse ajudar. Ele é raçudo como exige Tom Thibodeau e arremessa de longe, como pede o time depois do fracasso nos Playoffs. Não precisam de mais do que isso.

Grimes saiu do Ensino Médio com altas expectativas, mas teve um primeiro ano ruim na Universidade de Kansas, se transferiu para a Universidade de Houston e só na sua terceira temporada na NCAA é que começou a mostrar mais do que prometia quando mais jovem. Não há ninguém que comente seu estilo de jogo sem falar de como ele se entrega em quadra. Poderia ele se tornar, como Immanuel Quickley no ano passado, um raro novato que ganha a confiança de Thibodeau? Desde o Draft, o Knicks trouxe Kemba Walker e Evan Fournier, então é concorrência pesada para o menino, mas na Summer League ele ganhou moral com média de 15 pontos por jogo e ótimos 40% de aproveitamento nos 3 pontos.

Com a Escolha 34, no início da segunda rodada, o Knicks selecionou o lituano Rokas Jokubaitis, que vai seguir jogando no Barcelona por ao menos mais uma temporada. O armador de 20 anos já faz parte da seleção da Lituânia e chegou a disputar o pré-olímpico há alguns meses. Ele parece ter facilidade em ler a quadra e usar o pick-and-roll no ataque, podendo passar, arremessar de meia distância e atacar a cesta. Parece o bastante para ter uma carreira na NBA. Mas já que não veremos Jokubaitis tão cedo, quero focar menos no seu jogo e mais nessa história: segundo a imprensa lituana, um homem foi preso na cidade de Vilnius após fingir que era o jogador e ter usado isso para tirar DEZ MIL EUROS de uma mulher! A polícia até achou roupas de basquete do time de Jokubaitis na casa dele. Saca só a matéria do EuroHoops:

“O homem visitava a mulher em Vilnius todos os dias e mandava pra ela vídeos das atividades do Zalgiris (o time de Jokubaitis na época), como treinos e viagens. Depois de dois meses, ele pediu a ela para ajudá-lo com alguns problemas envolvendo impostos, e pediu a ela 10 mil euros em dinheiro. A mulher eventualmente descobriu que o homem que ela estava namorando não era Jokubaitis, mas um impostor, depois de mexer em seu celular. Ela o denunciou à polícia, que prendeu o rapaz”.

Duas escolhas depois, o Knicks selecionou Miles “Deuce” McBride, um armador especialista em defesa. Aqui é a mesma receita de Grimes: muita raça, muita entrega, boa defesa de mano-a-mano e capacidade de arremessar de longe.Tinha gente apostando que ele seria selecionado lá pela posição 20 e que o próprio Knicks o considerou para a escolha 25, deve ter sido uma alegria vê-lo sobrar dez posições depois. O menino jogou muito bem na Summer League, com média de 15 pontos, 5 rebotes e 60% de acerto em bolas de 3 pontos. Arremessou pouco, mas muito bem. Brilhou mesmo na defesa, especialmente no duelo com Shariffe Cooper, do Atlanta Hawks, que tinha sido seu rival num treino pré-Draft pelo Knicks, em que também levou a melhor.

Por fim, na antepenúltima escolha do Draft, o Knicks pegou Jericho Sims, que vai ficar na G-League nesta temporada. O pivô já tem 22 anos e jogou quatro anos de NCAA na Universidade do Texas. Ele nunca teve médias de mais de 10 pontos nem mais de 8,2 rebotes. Seu físico e impulsão impressionam, mas as médias de toco também nunca foram grande coisa. Sims parece ter o corpo de um pivô na NBA, mas até agora não mostrou muita coisa além disso.


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DENVER NUGGETS
Bones Hyland, SG, (26) VCU

Depois de tanto sofrer com a falta de opções na armação desde a lesão de Jamal Murray, fazia sentido que o Denver Nuggets buscasse uma opção da posição no Draft. Se a franquia demonstrou paciência nas seleções de Michael Porter Jr. e Bol Bol nos últimos anos, dessa vez a urgência bate um pouco mais forte na porta e é provável que tenham pendido para atletas com mais chance de ajudar desde já. O escolhido foi Nah’Shon Hyland, ou BONES Hyland, como é mais conhecido. Assim como Murray, Hyland joga nas posições 1 e 2 e sabe comandar um pick-and-roll, mas adora ir para o mano-a-mano e tentar, por algum motivo, sempre o arremesso mais difícil possível. Na Summer League os arremessos caíram e ele beirou os 20 pontos por jogo com 40% de acerto na linha dos 3 pontos. O aproveitamento de longe não se mantém do mesmo jeito na pré-temporada, mas ele tem dado um jeito de pontuar e dar assistências do mesmo jeito. Certamente é um estilo agressivo que nenhum outro armador disponível no time tem.

O apelido “Bones” vem da infância, quando ele era tão magricelo que a galera do bairro lhe chamava de OSSO. A única lesão séria da carreira de Hyland vem de uma história terrivelmente trágica: a casa onde ele vivia pegou fogo quando ele era adolescente, Hyland precisou PULAR do segundo andar para se salvar e acabou rompendo o tendão patelar do joelho, ameaçando sua carreira desde cedo. O mais triste é que seu joelho era a menor das preocupações: sua avó e um primo, ainda bebê, morreram presos dentro de casa no incêndio. Simplesmente impossível imaginar o que esse moleque passou tão cedo na vida.


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BROOKLYN NETS
Cameron Thomas, SG, (27) LSU
Day’Ron Sharpe, C/PF, (29) North Carolina
Kessler Edwards, PF, (44) Pepperdine
Marcus Zegarowski, PG, (49) Creighton
RaiQuan Gray, SF/PF, (59) Florida State

Durante anos, uma das tradições do Draft era um favorito dos críticos sobrar para o San Antonio Spurs e todo mundo ficar indignado que a liga estava permitindo que o time de Gregg Popovich seguisse no topo da NBA. O tempo passou, o Spurs não vai mais para os Playoffs e dessa vez foi o Brooklyn Nets, favoritaço ao título apesar de Kyrie Irving, que levou um cara que o mundo inteira via como um talento incrível e que por algum motivo ninguém quis pegar antes. O ala/armador Cameron Thomas era uma máquina de fazer pontos no mano-a-mano na Universidade de Lousiana State, foi uma máquina de fazer pontos no mano-a-mano na Summer League, onde foi eleito MVP do torneio, e segue uma máquina na pré-temporada.

O estilo dele é um mix de Lou Williams, CJ McCollum e Kemba Walker: todos os dribles possíveis até conseguir arranjar um arremesso no duelo individual. É meio fominha, mas muitos desses grandes pontuadores começam a carreira assim, dá tempo de aprender a usar a pressão que cria sobre a defesa para achar outros companheiros. É curioso que o Nets, a máquina ofensiva mais impressionante da NBA, consiga um jogador desses no Draft, mas pensando na temporada regular e em reforçar o banco de reservas no curto prazo, foi uma boa.

Ainda na primeira rodada, na Escolha 29, o Nets escolheu Day’Ron Sharpe, um jogador old-school de garrafão, que gosta de jogar de costas para a cesta e de brigar por rebotes. Difícil imaginar ele conseguindo qualquer espaço num time com Blake Griffin, Nicolas Claxton, LaMarcus Aldridge e Paul Millsap. Na Summer League sua grande contribuição foi nos rebotes, com 8 por jogo, sendo QUATRO deles ofensivos! Mas também cometeu muitas faltas, outro indicativo de que não está tão pronto para contribuir em um time que luta por tanto. E vale lembrar que, como dissemos antes, Sharpe estava no SUPER TIME da Monteverde Academy no Ensino Médio ao lado de Scottie Barnes, Cade Cunningham e Moses Moody. O menino ao menos sabe lidar com estar em um elenco cheio de expectativas.

Na segunda rodada, o Nets escolheu Marcus Zegarowski que, pelo sobrenome, vocês logo perceberam que é irmão do… Michael Carter-Williams?! Nem vou tentar entender. Ele não foi muito bem na Summer League, com apenas 8 pontos por jogo, e acabou não conseguindo um contrato com o Nets para a temporada. Lembrando que só escolhas de primeira rodada tem contratos garantidos. Vai restar a Zegarowski uma temporada na G-League. É o mesmo destino de RaiQuan Gray, escolha 59 do Draft e filho do ex-quarterback da NFL Quinn Gray, e de Kessler Edwards, ala com bom arremesso de média e longa distância, mas que não conseguiu deslanchar em nenhum momento da Summer League.


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PHILADELPHIA 76ERS
Jaden Springer, PG/SG, (28) Tennessee
Filip Petrusev, PF/C, (50) Sérvia/Gonzaga
Charles Bassey, PF/C, (53) Western Kentucky

Em um Draft lotado de bons nomes defensivos, o Philadelphia 76ers agarrou mais um deles. Jaden Springer é mais baixo, mas segue a mesma linha do seu novo companheiro Matisse Thybulle: defesa sufocante e muito agressiva tentando forçar erros a qualquer custo. Às vezes isso ganha jogos, às vezes gera faltas ou fintas secas em momentos importantes. Com Ben Simmons no elenco, o espaço de Springer fica mais restrito, embora ele possa brigar com Furkan Korkmaz e Tyrese Maxey se provar que dá conta no ataque. De qualquer forma, bom para o time ter mais um defensor no elenco caso a novela Simmons termine com um dos melhores marcadores da NBA em outro lugar.

Na Summer League, o padrão: foi mais exigido como armador e mostrou algum potencial mas também uma enxurrada de turnovers e arremessos inconsistente. Hoje parece pronto apenas de um lado da quadra. Nos melhores momentos dele é possível ver que quando há espaço para infiltrar ele sabe o que fazer, mas criar esse espaço nem sempre é fácil:

Lá na distante Escolha 50, o Sixers selecionou o pivô sérvio Filip Petrusev, que jogou na Universidade de Gonzaga em 2018-19 e 2019-20, mas que decidiu sair do basquete universitário frente às incertezas que rondavam a temporada pandêmica e acabou perdendo a chance de fazer parte da temporada quase perfeita no processo. Ele se preparou para o Draft 2021 jogando na sua terra natal, na Sérvia. Petrusev foi MVP e cestinha da Liga Adriática na última temporada, mas ao invés de vir para a NBA, vai disputar ao menos um ano de basquete no Anadolu Efes, da Turquia.

Três posições depois, o Sixers chamou o também pivô Charles Bassey. Ele, sim, conseguiu uma vaga já nesta temporada. Ainda bem, já que o Sixers pagou DOIS MILHÕES de dólares para conseguir essa escolha do Pelicans no dia do Draft e poder selecionar o nigeriano! Bassey não jogou muito na Summer League porque seu agente o segurou até que ele firmasse um acordo com o Sixers. As negociações parecem ter sido bem duras e demoradas, o que não é normal para caras selecionados tão no fim do Draft. Depois de ser considerado um fenômeno colegial, perdeu moral com difíceis primeiras temporadas universitárias até finalmente estourar de novo. É um jogador bem explosivo, sabe pegar uma ponte aérea e dizem que tem um bom arremesso, embora tentasse poucos tiros por jogo em Western Kentucky.


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CHICAGO BULLS
Ayo Dosunmu, PG/SG, (38) Illinois

Com apenas uma escolha nos confins da segunda rodada, o Chicago Bulls tentou atacar um dos seus problemas na última temporada, a falta de um organizador ofensivo. Claro que depois, na offseason, eles RESOLVERAM esse problema com Lonzo Ball e DeMar DeRozan, mas Ayo Dosunmu ainda pode ser útil, seja como plano futuro ou mesmo brigando por uma vaga entre os reservas. Se Coby White não tem lá muita visão de jogo, será que ele em dupla com Dosunmu pode dar certo e servir como respiro para as estrelas? Se os olheiros estão certos sobre o jogador, ele pode ser um armador de fato no ataque e, na defesa, marcar até jogadores mais altos. O desafio é ver como ele atuará com menos protagonismo, já que na Universidade de Illinois era o responsável por fazer TUDO.

Uma coisa legal de Dosunmu é a identificação com a torcida: ele nasceu, cresceu, fez Ensino Médio e depois faculdade em Chicago. Agora vai ser profissional da NBA no time da cidade. Com 12 pontos por jogo de média, Dosunmu não brilhou na Summer League, mas jogou bem no geral e teve ao menos um jogo impressionante. Foi interessante o bastante para imaginar que ele possa garimpar minutos no banco ao longo dessa sua primeira temporada e, talvez, sonhar com algo mais alto no futuro.


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UTAH JAZZ
Jared Butler, PG/SG, (40) Baylor

E apenas na QUADRAGÉSIMA escolha saiu o jogador eleito o melhor do último Final Four! Com um estilo agressivo, dribles arrasadores, cestas decisivas e muita facilidade em pontuar, Jared Butler liderou a Universidade de Baylor a uma campanha impressionante e foi o cestinha da final universitária contra a até então imbatível Gonzaga, com 22 pontos. Ele foi também o cestinha do time na temporada e na média de assistências só ficou atrás de Davion Mitchell, escolhido no Top 10 pelo Sacramento Kings. Como um cara tão bom e com currículo tão laureado caiu tanto no Draft?

Quando a temporada universitária acabou, ele estava cotado para sair entre as posições 10 e 20, mas tudo mudou quando ele não passou em um exame de rotina que é feito com todos os jogadores que vão participar do Draft. O Fitness-To-Play Panel reúne três médicos para avaliar todos os jogadores, um escolhido pela NBA, um pelo sindicato dos jogadores e um terceiro selecionado pelos dois primeiros médicos. O grupo descobriu alguma coisa, que não foi revelada na hora, que impedia Butler de jogar basquete na NBA. Isso foi em 22 de junho, e apenas em 17 de julho os médicos mudaram seu veredicto e cravaram que Butler tinha condições de participar do Draft e jogar. Ele tinha um problema cardíaco que já era de conhecimento do jogador desde antes da carreira universitária, quando foi autorizado a jogar nos três anos que atuou por Baylor.

Não apenas um jogador com problemas cardíacos assusta qualquer time, como também Butler não teve permissão para treinar com nenhum time da NBA entre esses testes do Fitness-To-Play Panel. Enquanto seus concorrentes faziam workouts em diferentes equipes, ele tentava provar que não ia morrer em quadra. Muitos acreditavam que equipes boas que tinham menos a perder no fim da primeira rodada, como Denver Nuggets ou Philadelphia 76ers, poderiam escolhê-lo, mas na verdade ele despencou até a 40ª posição, onde o Utah Jazz o aguardava após uma troca que enviou a escolha 30 para o Memphis Grizzlies em troca dessa escolha 40 e mais duas escolhas de segunda rodada futuras. Pelo período parado, porém, o Jazz decidiu não colocá-lo para jogar na Summer League.

A primeira vez em que vimos Butler jogar foi em um treino aberto do Jazz que foi transmitido na internet. Butler fez as jogadas mais bonitas do treino, com direito a entortada pra cima de Mike Conley e bandeja super confiante sobre Rudy Gobert, o melhor jogador de defesa da NBA:

Foi o bastante para encher a torcida de expectativa para a pré-temporada, onde ele não decepcionou: o técnico Quin Snyder botou ele pra jogar e o garoto respondeu com média de 18 pontos por jogo (em 24 minutos!) nas três partidas que disputou. Como se não bastasse ter Jordan Clarkson, atual vencedor do prêmio de melhor reserva do ano, o Jazz parece ter arranjado um outro fenômeno ofensivo para botar fogo no jogo vindo do banco.


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PORTLAND TRAIL BLAZERS
Greg Brown, SF/PF, (43) Texas

Antes mesmo de decidir trocar Derrick Jones Jr, o Portland Trail Blazers já tinha arranjado outro ala que chama a atenção por tudo o que PODE fazer com um físico privilegiado, mas que nem sempre decide colocar em prática. Greg Brown foi eleito um dos melhores jogadores colegiais dos EUA em 2020, mas só o físico alucinante não foi o bastante para ele deslanchar na Universidade do Texas. Ele começou a temporada na SEXTA posição da lista de melhores jogadores do Draft feita pelo Chad Ford, mas despencou até a 35ª posição logo antes do recrutamento. O ala mereceu os termos “cru” e “pouco preparado” de praticamente todos os especialistas em Draft.

Alguns textos sobre Greg Brown ainda apontam para uma certa falta de maturidade e dedicação ao esporte, o que pode ser mais preocupante. De qualquer forma, ele pode ter caído no lugar certo: o Blazers tem tido algum sucesso em desenvolver atletas draftados lá embaixo, é uma franquia que geralmente tem paciência com seus jovens e não os queima logo de cara. E se trabalhar ao lado de Damian Lillard não resolver sua disciplina de treinos, nada vai.


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BOSTON CELTICS
Juhann Begarin, (45) SG/SF, França

Com sua única escolha no Draft lá na distante 45ª posição, o Boston Celtics apostou no jovem ala francês Juhann Begarin. Ele é elogiado pela sua defesa e por saber ler o jogo e dar os passes certos, mas não muito mais do que isso. A ideia do Celtics nunca foi trazê-lo para a NBA imediatamente, mas ao invés disso deixar ele se desenvolvendo na França por ao menos mais um ano antes de testá-lo. O jogador, porém, insistiu com o agora General Manager Brad Stevens que queria jogar na Summer League para mostrar que poderia jogar na NBA. Stevens topou, mas Begarin vai voltar para a França mesmo assim.

Não que ele tenha ido mal, mas não foi bem o bastante para mudar os planos do chefe. O assistente técnico Joe Mazulla elogiou a capacidade de Begarin de atacar a cesta, mas disse que ele precisa ainda decidir melhor quando é hora de atacar e quando é hora de passar ou arremessar. Eis um projeto que todos vocês que acompanham o FRANCESÃO de basquete vão ter a oportunidade de acompanhar. Depois me contem.


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MILWAUKEE BUCKS
Sandro Mamukelashvili, PF, (54) Seton Hall
Georgios Kalaitzakis, SF, (60) Grécia

Lá no fim do Draft, na escolha 54, o CAMPEÃO Milwaukee Bucks resolveu apostar na coisa mais importante de um jogador, o NOME. Depois de ver um cara chamado Antetokounmpo levar a franquia ao Olimpo (rá!) do basquete, por que não selecionar alguém chamado Sandro Mamukelashvili? Não sei se é mais legal o sobrenome de mil sílabas ou ele chamar SANDRO.

Nascido em Nova York durante uma visita de férias dos pais a uma tia, Mamukelashvili se mudou para a Geórgia, onde a família já vivia, ainda bebê. Foi na Geórgia, quando o território ainda fazia parte da União Soviética, que a família teve seu primeiro contato com o basquete: Ira Gabashvili, a AVÓ de Sandro, foi capitã da seleção soviética de basquete nos anos 1960.

Mamukelashvili foi criado na Geórgia até a adolescência, quando se mudou para a Itália para jogar basquete. Ficou poucos anos lá, porém, já que logo se mudou para os EUA para atuar na Monteverde Academy, escola que já citamos mais cedo nessa análise e que é conhecida por formar seleções com os mais badalados nomes da cena colegial do basquete americano. Além de Mamukelashvili, aquele time de Monteverde tinha o ala RJ Barrett, hoje titular do NY Knicks. No caminho, ganhou a tutelagem do maior nome da Geórgia no basquete: Zaza Pachulia! “Fomos assistir a um jogo dele e ele me apresentou aos jogadores do Golden State, como Steph Curry. Nunca vou esquecer dessa experiência na vida, Zaza é como se fosse um irmão mais velho”, disse o ala.

Na Universidade de Seton Hall, Mamukelashvili teve um desenvolvimento raro. Foi de ter média de DOIS pontos no seu primeiro ano para 17,5 no último, indo de reserva a jogador finalista ao prêmio de melhor ala de força de todo o basquete universitário. Na Summer League Mamukelashvili foi bem, mas sem grande destaque. Na pré-temporada, por outro lado, chamou a atenção de todos com uma partida de 20 pontos e 11 rebotes contra o Brooklyn Nets. Ele parece ter bom controle de bola e qualidade no drible para um ala/pivô de 2,06m e tem chance de ganhar espaço no banco dos atuais campeões ao longo da temporada.

Com a ÚLTIMA escolha no Draft, o Bucks pegou Georgios Kalaitzakis, jovem promessa compatriota de Giannis. O ala foi tetracampeão grego e da Copa da Grécia pelo Panathinaikos, mas jogava pouquíssimo pelo clube. Talvez seu maior feito tenha sido ser cestinha do último Europeu Sub-19 pela seleção grega, mas a verdade é que mesmo os olheiros da NBA viram pouco de Kalaitzakis em quadra. Conhecemos ele um pouco mais na Summer League, onde foi bastante ativo comandando o ataque do Bucks, mas sem tanta efetividade. O arremesso ainda não é tão calibrado e ele não teve tanta facilidade em vencer duelos individuais para atacar a cesta, o que deixou seu jogo mais burocrático. Deve passar o ano todo na G-League treinando para um dia ultrapassar Thanasis Antetokounmpo e se tornar o segundo melhor grego do elenco.


O RESTO

O Draft 2021 foi estranho por concentrar tantas escolhas nas mãos de poucos times: Miami Heat, Dallas Mavericks, LA Lakers, Minnesota Timberwolves e Phoenix Suns trocaram todas as suas escolhas antes ou durante o Draft. Isso não quer dizer, porém, que essas equipes não terão novatos, já que os times podem contratar jogadores que não foram draftados a qualquer momento.

Um exemplo é o LA Lakers, que vai contar com Austin Reaves nesta temporada. O ala tem cara de jogador do “High School Musical”, mas foi bem na Summer League, teve bons momentos na pré-temporada, tem acertado os arremessos de longe e, segundo dizem, não para de perguntar sobre tudo e sobre todos para Rajon Rondo. É a chance de aprender, né? Também teremos Daishen Nix, já citado no texto, indo para o Houston Rockets. Ele jogou a última temporada na G-League e era para muitos o melhor nome disponível ao fim do Draft. A maioria dos não draftados está em Two-Way Contracts, acordos em que o atleta passa a maior parte da temporada na liga de desenvolvimento e apenas um período com o time principal.


TOP 15 – AS MAIORES FORÇAS NOMINAIS DO DRAFT 2021

15- Usman Garuba
O nome GARUBA não só é gostoso de falar como parece uma palavra que se não fosse sobrenome, poderia ser o que bem entendesse: Já viajou para Garuba? Eu não misturo vodka com Garuba, fica muito forte.

14- Luka Garza
Tenho uma queda por nomes que parecem super fortes em outra língua mas que em português ficam suaves, como o amigo Lucas Garça. O oposto também acontece, como o fluído Isaiah Livers, muito melhor que nosso Isaías Fígados.

13- Moses Moody
Combo de iniciais iguais, sobrenome temperamental de agência de risco. Complexo.

12/11- Miles McBride e Trey Murphy
Apenas os tiras Murphy e McBride podem enfrentar o crime nas ruas de uma grande cidade.

10- Nah’Shon Hyland
O apelido “Bones” deixa tudo mais legal, mas esse nome tá aqui porque eu leio Nah’Shon como se fosse a Dona Armênia falando “no chão”.

9- Santi Aldama
Pra mim isso aí era nome de vinho. Não bebo, mas respeito.

8- Cade Cunningham
Iniciais repetidas como a de um bom super-herói. Primeiro nome curto, segundo nome de artista. Referência a site de busca brasileiro dos anos 90.

7- Jonathan Kuminga
Às vezes eu leio o nome e acho que estou conjugando o verbo Kumingar, às vezes eu leio e lembro que o nome do meio dele é Malango. Malango Kuminga! Se a palavra gingado fosse proibida, eu proporia sua substituição por Malango Kuminga.

6- Corey Kispert
Iniciais diferentes, mas com sonoridade igual. Nome de super herói secundário que hoje em dia ganharia um spinoff de qualidade duvidosa.

5- Franz Wagner
Se eu tivesse que inventar um nome em alemão, do nada, no improviso, provavelmente seria Franz Wagner.

4/3- Josh Primo e Chris Duarte
Desde James Rodriguez, Jackson Martínez e Fredy Guarín que eu defendo os nomes que misturam inglês e espanhol/português. É ESTILO demais num nome só, é o que faz do beisebol o esporte mais poderoso do mundo na Força Nominal. Josh e Chris não são os primeiros nomes ideais para a brincadeira, mas vou aceitar por hoje. Na temporada que vem compensamos com Mojave King!

2- James Bouknight
Deus deu para ele o corpo de um jogador de basquete, seus pais deram o nome de um escritor de romances policiais.

1- Sandro Mamukelashvili
Dizem que o apelido dele é Mamu, mas só imagino a comunidade brasileira o chamando de Sandrão da Massa.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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