Algumas pessoas perguntaram da análise do Draft 2015 e podemos garantir que, sim, vamos fazê-la. Basicamente nosso blog começou com uma análise de Draft e somos anualmente zoados por erros do passado, não há razão para acabar com a tradição. O problema é só tempo, esse mês de trabalho tem sido especialmente pesado, por isso pedimos paciência. A temporada só começa em Outubro, até lá teremos textos sobre o Draft, sobre todas as trocas e contratações. Juro por Zach Randolph!
Claro que vocês preferem ler sobre tudo isso quando elas acontecem, por isso que vou pegar o pouco tempo que tenho livre hoje para falar de algo novo. O Houston Rockets acertou uma troca com o Denver Nuggets para ter Ty Lawson! Em troca, mandaram Nick Johnson, Kostas Papanikolaou, Pablo Prigioni, Joey Dorsey e uma escolha de 1ª rodada de Draft.
A troca de Ty Lawson era esperada há algum tempo, faltava saber para onde ele iria e o que viria em troca. Desde que Lawson foi um dos melhores armadores da NBA naquela temporada em que o Nuggets conseguiu 57 vitórias e a 3ª melhor campanha do Oeste, tudo foi abaixo para o time e para ele. O armador brigou com o técnico Brian Shaw, foi um dos principais nomes do boicote ao treinador, foi detido ao menos três vezes (dizem que pode ter sido quatro) por dirigir bêbado e agora acabou de entrar num programa de reabilitação devido aos problemas com bebidas. Sua fama à la Allen Iverson de não ter o menor interesse por treinos não ajuda, e a gota d’água foi quando ele brincou publicamente que iria para o Sacramento Kings quando o Nuggets anunciou a escolha de Emmanuel Mudiay no Draft 2015.
Não havia clima, ele queria ir embora e não estava ajudando ninguém. Mas mesmo não jogando seu melhor basquete, Lawson acabou a última temporada ainda como um ótimo pontuador, ainda com excelente média de assistências e ainda como um dos caras mais rápidos de toda a NBA. Se o Nuggets não conseguiu mais valor em troca, foi porque o resto da liga sabe usar o desespero de um time em trocar um jogador para fazê-lo sair mais barato.
No fim das contas o Houston Rockets agradou com um pacote de jogadores que o Nuggets pode dispensar e aliviar a folha salarial sem problemas, caras como Dorsey e Prigioni devem vazar rapidinho. O promissor Nick Johnson pode ficar no banco de reservas e ser uma aposta para o futuro, mas deve ter sido a escolha de 1ª rodada do Draft que fez a troca ser fechada. Para ajudar de imediato, vejo muito valor em Kostas Papanikolaou, que teve bons momentos como ala criador de jogadas no Rockets. Depois ele acabou perdendo espaço no time, especialmente porque não é grande arremessador, mas o Nuggets, cheio de pontuadores no elenco, poderia usar alguém que, para variar, pensa antes em passar a bola. Pensando no futuro, somar alívio salarial com uma escolha de Draft é tudo o que um time em reconstrução procura.
Para o Rockets, a troca tem seus riscos, não há dúvida. Mas por que não arriscar? No negócio eles não perderam nada de essencial na equipe e Lawson tem uma característica que todo mundo sabia que o time precisava: ele cria jogadas. No último ano o Rockets só conseguia fazer o ataque funcionar quando James Harden estava envolvido no lance. Quando ele ficava fora as coisas desandavam e eles tinham que ou confiar nos 85 anos de experiência de Jason Terry, nos rebotes ofensivos de Terrence Jones e Dwight Howard ou, no fim do ano, até nos passes do sempre inconstante Josh Smith. Deu certo em momentos dos Playoffs, mas difícil confiar seu sucesso nisso. E quando Smith decidiu aceitar um contrato menos lucrativo para ir ao Los Angeles Clippers, ficou ainda mais claro que o Rockets precisava desesperadamente de alguém que tirasse o peso da criação das costas de Harden. Só Tom Thibodeau pode achar saudável que alguém tenha que jogar tanto tempo e fazer tanta coisa pelo time durante todos os jogos da temporada.
Com Lawson em quadra, Harden pode se esconder um pouco do lado oposto da bola, jogar como arremessador, se mexer sem a bola. Os dois podem trocar funções como criadores dependendo de quem está os marcando, escolhendo atacar o melhor matchup possível. O time também pode se organizar para que sempre ao menos um deles esteja em quadra, para que sempre joguem com alguém que possa fazer o básico do ataque deles, um pick-and-roll na cabeça do garrafão que leve a uma infiltração e, de lá, o passe, a cesta ou, claro, o lance-livre.
O lado ruim da troca também não é difícil de imaginar. Não precisa de muito para Ty Lawson se incomodar com o esquema tático, o técnico, os companheiros de time, a fase da lua, a comida servida no avião. Posso estar imaginando coisas, mas soa realista pensar em Lawson resmungando porque não tem arremessos o bastante no final das partidas. E tem tudo o que falamos antes, seu problema recente com o álcool e os treinos preguiçosos.
Dentro da quadra, Lawson, assim como Harden, está longe de ser conhecido por sua defesa. Embora Harden tenha melhorado muito nesse quesito na temporada passada, especialmente na parte do ESFORÇO, não é um gênio da função e nada garante que Lawson irá dar esse esforço extra em nome do time. A presença dele na equipe também tira minutos preciosos de Patrick Beverley, o melhor defensor de perímetro do elenco do Rockets. Não duvido que Kevin McHale use muitas vezes os três juntos, até porque o que não falta é time baixo para dar essa opção, mas não é todo dia. Mas se ano passado eles foram uma das melhores defesas da NBA mesmo com Dwight Howard machucado, por que não poderiam fazer o mesmo com Lawson no grupo? Defesa é mais coletivo do que individual, dá pra fazer funcionar se Lawson se esforçar.
Por fim, preocupa um pouco que o aproveitamento de arremessos de Lawson, especialmente dos 3 pontos, tem caído nos últimos anos. Pode ser natural, já que o próprio Nuggets como um todo jogou mal nas últimas temporadas, mas pode ser um declínio do jogador. Na carreira, porém, ele tem 37% de acerto da linha dos 3 e isso já é acima da média da NBA. O bastante para os estatísticos de Houston mandarem ele arremessar umas 200 bolas por jogo. Mais um cara que infiltra e arremessa de longe pode ser fundamental para jogar o Rockets na cola dos favoritos do Oeste. Se não der certo, o que também é possível, não é como se fossem sentir muita saudade de Pablo Prigioni e Nick Johnson.
Outro ponto a favor do risco é a necessidade de melhorar o time. Pense nos outros favoritos do Oeste: o Golden State Warriors manteve o time dominante e campeão da temporada passada; o Spurs contratou LaMarcus Aldridge e David West; o Clippers trouxe Paul Pierce, Josh Smith e Lance Stephenson; o OKC Thunder terá Kevin Durant de volta e até o Grizzlies reforçou o banco com Matt Barnes e Brandan Wright. O mínimo que o Rockets poderia fazer seria aproveitar um bom nome do mercado e ir atrás. Agora é aprender a lidar com Lawson para fazer dar certo.