Passando a bola e entregando a paçoca

Já aviso desde já que este NÃO é um texto sobre o Golden State Warriors, mas foi inspirado por eles. Assistindo ma última quinta-feira a mais um capítulo do duelo entre Warriors e Oklahoma City Thunder, fiquei novamente frustrado ao ver como o time de Kevin Durant e Russell Westbrook joga mal no último período. Esta derrota foi a DÉCIMA deles em que entraram no último quarto com a liderança, pior marca da NBA e que os deixa perto de times jovens e inseguros como o Philadelphia 76ers e o Minnesota Timberwolves. Considerando que o OKC Thundert tem 20 derrotas na temporada, quer dizer que metade de seus resultados negativos vieram com uma virada nos 12 minutos finais.

Thunder

É claro que nem todas as viradas são grandiosas ou constrangedoras, a estatística pode englobar lideranças de 1 ou 30 pontos, mas não deixa de ser curioso que tantas vezes o time esteve perto de vencer e entregou a paçoca. E fica mais estranho porque, como já dissemos em um podcast, dois dos oito melhores quintetos da NBA em saldo de pontos são do OKC Thunder: um é o time titular, o outro é o time titular com Dion Waiters no lugar de Andre Roberson. Não são justamente esses quintetos que fecham os jogos? Por que perdem tanto? O Vitor Camargo, nosso parceiro do Two-Minute Warning com quem conversei sobre o assunto, colocou mais alguns dados perturbadores sobre as tropeçadas do Thunder:

“Isso também não é um fenômeno recente ou surpreendente. Ao longo da temporada, Oklahoma City tem o segundo melhor ataque da NBA e terceiro melhor Net Rating (saldo de pontos por 100 posses de bola), mas quando chegamos nos finais dos jogos isso cai por terra. Em quartos períodos, Oklahoma tem apenas o décimo melhor ataque, e é um fraquíssimo 19th em Net Rating. Pegando apenas o final dos jogos – o famoso crunch time – e definindo nosso parâmetro como 3 minutos finais de jogos separados por 5 pontos (para mais ou para menos), os números são ainda piores: O Thunder tem o 13th melhor ataque e o oitavo PIOR Net Rating da liga. Para efeito de comparação, o Net Rating do time nessas situações é de -10.6 – exatamente o mesmo que o Philadephia 76ers tem na temporada 2015-16 da NBA.”

É preciso deixar claro que o time não é ruim. Ainda tem uma das melhores campanhas da NBA e esses apagões de último quarto apenas servem para os deixar um degrau abaixo de San Antonio Spurs e do citado Warriors. A situação do Thunder é o sonho de 90% das franquias atuais, mas pouco para quem está desesperado (e perto) de um título por tantos anos. Sempre que falamos de problemas do Thunder, portanto, estamos levando em consideração esse patamar de exigência. Já sabemos que são bons, já sabemos que estão entre os melhores, mas o papo é pra título. Como disse Kevin Durant nessa semana, após terem perdido uma liderança de 22 pontos para o LA Clippers, “estamos nos enganando se achamos que basta jogar assim”. Segundo ele, “é o bastante para a temporada regular, mas não para um time campeão”.

Feita essa ressalva, podemos descer o pau. Nos últimos anos, nós (e todo mundo com um pouco de senso crítico) pegamos no pé do técnico Scott Brooks por montar um time com tão pouca imaginação no ataque. Enquanto Spurs, e depois Warriors (e até o Heat), encantavam o mundo com movimentação de bola intensa e jogo bonito, o Thunder vivia e morria nas suas sequências de jogadas individuais de Kevin Durant ou Russell Westbrook. Como os dois estão no topo do topo da cadeia alimentar da NBA, costuma funcionar, mas contra outros times de elite eles ficavam expostos nos momentos de baixa. E quando uma de suas estrelas se machucava, o que aconteceu com desconfortável frequência nas últimas três temporadas, faltava um esquema tático que sustentasse o nível do time lá em cima.

Foi com isso em mente que a franquia mandou Scott Brooks embora e contratou para seu lugar Billy Donovan. Desde o primeiro dia ele disse que iria tentar implantar um ataque com mais passes e movimentação, um verdadeiro esquema ofensivo e não um ‘showcase’ do talento individual de suas estrelas. Acho que ninguém esperava Durant e Westbrook arremessando menos, mas talvez algo acontecendo de verdade antes desses chutes. No começo foi uma decepção, eles pareciam EXATAMENTE o mesmo time. Atacavam do mesmo jeito, defendiam do mesmo jeito, nem parecia ter um comandante novo. Com o tempo fomos percebendo algumas mudanças, especialmente envolvendo mais pick-and-rolls e menos jogadas de isolação com Westbrook, obrigando outros times a reagir, trocar defensores e abrir espaço para os passes do armador. Embora ele ainda seja um trem em alta velocidade, nunca pareceu tanto um ~armador clássico~ como nessa temporada.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Ele passa a bola, mas só depois de ser WESTBROOK”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/03/Westbrook.jpg[/image]

O dedo de Billy Donovan também começou a ser visto em momentos específicos, como na própria derrota na prorrogação para o Golden State Warriors, quando ele decidiu por manter Andre Roberson em quadra nos minutos finais e o obrigou a participar do ataque (!). Péssimo arremessador, Roberson é o cara que a defesa ignora nos minutos finais para abafar a dupla Durant/Westbrook, além de ser onde o adversário “esconde” seu pior defensor. O Warriors deixou Steph Curry “marcando” Roberson a distância, poupando seu armador e o usando para possíveis dobras de marcação, então Donovan respondeu chamando Roberson, e não um dos pivôs, para fazer os bloqueios para Westbrook. Como a filosofia do Warriors é a de sempre trocar a marcação quando alguém fica parado num corta-luz, isso deixava o pequeno Curry marcando a locomotiva Westbrook. Em mais de uma vez o Warriors respondeu dobrando a marcação no armador, que achou Roberson livre sob a cesta.

Mas os resultados estão aí para mostrar que esses ajustes não foram o suficiente para que o time perdesse a sina de derreter nos minutos finais de jogos. Ainda parecem tentar arremessos difíceis demais, parecem previsíveis e não conseguem nunca se decidir entre que formação é a ideal: Dion Waiters/Anthony Morrow na posição 2 e Enes Kanter no pivô para ter uma ameaça extra no ataque e evitar dobras? Ou Andre Roberson na posição 2 e Steven Adams no pivô para não serem explorados na defesa? É o “problema de rico” que abordamos no começo da temporada. 

O meu palpite é que não há resposta certa para essa questão do quinteto, varia muito do adversário e da situação. Kanter é um péssimo defensor, mas ele pode não comprometer tanto se for possível escondê-lo defendendo alguém que não é chamado para os pick-and-rolls do outro lado, ou se o Thunder confiar que sua defesa de perímetro é capaz de evitar muitas infiltrações. O turco compensaria com rebotes ofensivos e cestas rápidas no garrafão, seu entrosamento com Westbrook é impressionante. Não acho que essa seja necessariamente a melhor aposta (especialmente contra o Warriors), mas foi só um exemplo. Donovan tem que usar a temporada regular para testar essas formações e descobrir como cobrir os seus defeitos, afinal não é possível mais mudar o elenco.

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Aquele momento em que o botão de passe é mais importante que o de chute”][/image]

A minha receita de solução para o OKC Thunder é mais esquisita: copiem o Portland Trail Blazers. Nenhum outro time da NBA nessa temporada combina tanto dois fatores que parecem quase excludentes: ter duas estrelas que arremessam quase todas as bolas e um basquete coletivo onde todos são envolvidos. Como bem disse Kevin Arnovitz num podcast com Zach Lowe, da ESPN, eles tem posses de bola complexas, com todos os jogadores se movimentando, com funções claras e ativas, e NENHUM passe. Tudo envolve Damian Lillard conduzindo e finalizando o lance, mas isso não significa que outros caras não participaram. O Blazers também sabe variar quando CJ McCollum ou Lillard comandam o ataque, para deixar o outro jogador atuando sem a bola, e passam o bastante para que os Maurice Harkless, Allen Crabbe e Meyers Leonard da vida nunca fiquem fora de ritmo dentro do jogo. O modo “deixem Lillard dominar o mundo” deles ainda envolve todo o time se mexer com intensidade e uma finalidade que obrigue o adversário a se mexer, responder e eventualmente deixar a vida da estrela mais fácil.

Essa estratégia é bem mais fácil de ser alcançada em um parágrafo escrito do que numa quadra de basquete, onde você precisa pensar, ensinar, treinar e executar esses princípios, mas é uma solução. Jogadas desse tipo iriam cobrir dois defeitos do Thunder, o primeiro já citado do time ser previsível e de todos amontoarem Durant e Westbrook nas posses de bola finais, e outro que eu acho que é pouquíssimo comentado até nos EUA: o time é PÉSSIMO passando a bola. E isso fica mais claro quando eles enfrentam Warriors e Spurs, times que costumam reunir sempre 4 ou 5 excelentes passadores ao mesmo tempo na quadra. Às vezes eles se movimentam como os melhores, mas a estagnação acontece porque um passe sai errado ou demora mais do que deveria para deixar a mão de quem está controlando o lance. Contra boas defesas, e aí somos obrigados novamente a lembrar da derrota na prorrogação para o Warriors, quantas vezes eles não inventaram de dar um passe para o garrafão e entregaram a bola na mão do adversário? É curioso isso porque sempre criticamos a falta de passes e movimentação de bola do time nos minutos finais, mas quando tentaram passar a coisa não pareceu mais bonita.

Às vezes desvalorizamos os passes como algo que todos sabem fazer, é o botão mais simples e que nem exige nosso talento e esforço no vídeo game. Damos real valor apenas àquelas assistências muito fora da curva, ousadas e bonitas. Mas o jogo é feito de passes simples (e rápidos!) que mudam a cara de todo um sistema ofensivo. E basta um idiota que passe a bola no pé do companheiro para estragar um lance inteiro. Sem bons passes é inútil pedir um ataque mais complexo ao Thunder, seria frustrante do mesmo jeito.

A questão fundamental para o OKC Thunder nesse momento é complicada: a 45 dias do fim da temporada regular, que identidade eles têm? E mais complicado, qual é a que eles querem assumir? Vão tentar se morfar nesse time que passa a bola nos minutos finais, algo que não deu certo nas últimas tentativas mas que é o que os grandes times de hoje têm feito? Vão ser a potência defensiva que joga no contra-ataque? Vão insistir no jeito que está, talvez apenas mudando o posicionamento ou até os nomes dos role players em volta da dupla de estrelas? O resto da NBA parece que sacou o OKC Thunder nos minutos finais, falta eles fazerem a mesma coisa.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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