Phoenix Suns: dono excêntrico, muitos erros e algum otimismo

Devin Booker é uma máquina de fazer pontos. Ele já marcou 70 em uma partida aos 20 anos de idade, saltou de média de 13 pontos por jogo como novato para 22 no segundo ano e, agora, aos 22, já marca 27 pontos por partida. Nesta temporada, apenas James Harden, Paul George, Stephen Curry, Kevin Durant, LeBron James, Kawhi Leonard e Joel Embiid o superam no quesito. É a nata da NBA.

Na última semana ele marcou 59 pontos contra o Utah Jazz, 50 contra o Washington Wizards e, neste sábado, mais 48 contra o Memphis Grizzlies. O mundo deveria estar babando sobre o menino, mas meio que damos de ombro. Todos esses jogos, dois deles contra times muito fracos, acabaram em derrota do seu Phoenix Suns, que amarga mais um ano na lanterna do Oeste. Esse time tem solução?

Apesar de Booker estar marcando pontos sem parar, ele caiu muito no seu aproveitamento nos arremessos de 3 pontos. Dos 38% da temporada, caiu para 32% neste ano, abaixo da média geral da liga. Para entender a queda podemos analisar os números mais a fundo: há duas maneiras de arremessar uma bola, ou você já está driblando e de repente para para chutar (o chamado pull-up shot) ou você recebe a bola e, sem colocar ela no chão, já arremessa (esse recebe a alcunha de catch-and-shoot).

Até pela ausência de um real armador de ofício no elenco, Booker tem arremessado mais pull-ups que catch-and-shoots nessa temporada, ao contrário dos anos anteriores. Acontece que seu aproveitamento nesses arremessos de 3 criados exclusivamente por ele é de só 28%, um número PÉSSIMO. Nos catch-and-shoots, por outro lado, seu aproveitamento pula para bons 38,5%. Certamente isso vem da decisão do técnico Igor Kokoskov de usar mais Booker como armador principal, iniciando as posses já com a bola na mão.

Embora tenha sido legal ver Booker desenvolver seu lado criador de jogadas ao longo do ano, sempre pareceu faltar alguém para auxiliá-lo na função. Até James Harden, mestre supremo de fazer tudo sozinho, pareceu melhor quando ganhou a ajuda de Chris Paul para dividir responsabilidades.

E não é só a gente que pensa nisso: a uma semana do começo da temporada, o então General Manager do time, Ryan McDonough, foi mandado embora. O mundo da NBA ficou surpreso com a decisão do dono Robert Sarver na época. Managers são normalmente demitidos ao fim de uma temporada para que que seu sucessor construa um novo time durante a offseason. Por que mandar embora um cara logo depois dele escolher um novo técnico, decidir quem o time selecionaria no Draft e contratar Free Agents? O que se reportou meses depois foi que Sarver agiu por impulso. Ao ver seu time jogar terrivelmente mal na pré-temporada e sem um armador de calibre no elenco, decidiu mandar McDonough para a rua.

O Phoenix Suns desta temporada foi mais notícia pelos bastidores do que pelo desempenho em quadra. O momento em que o time foi mais discutidos por torcedores e comentaristas internet afora foi quando o Kevin Arnovitz, jornalista da ESPN, lançou um apanhado de casos bizarros envolvendo o dono Robert Sarver e a “disfuncional diretoria” da franquia.

A matéria mostra como Sarver é um dos donos mais presentes e ativos que a NBA conhece. Enquanto alguns só ficam nos camarotes e eventualmente aparecem para aprovar ou reprovar decisões importantes, ele está o tempo inteiro em cima do time participando do dia-a-dia. A questão é: isso é bom ou ruim? Costuma ser bom quando o dono se mostra interessado e disposto a ouvir e ajudar, mas fica ruim quando a intervenção serve só atrapalha o trabalho dos outros.

Segundo Arnovitz, praticamente todo mundo que trabalhou no Suns nos últimos 15 anos tem uma história sobre o dono do time. Ele já puxou pivôs de lado no vestiário para ensiná-los como fazer um corta-luz, já enfrentou treinadores para criticar as substituições do time e chegou a entrar na sala dos técnicos no intervalo de um jogo para dizer como eles deveriam defender um armador que estava jogando bem contra eles no primeiro tempo. Até o fantástico Grant Hill já foi alvo de broncas do técnico porque ele tinha tomado 15 pontos de Vince Carter em um jogo de 2012.

Uma história, porém, que supera todas essas. Contei ela em um Filtro Bola Presa para assinantes e reproduzo abaixo:

Entre as  histórias contadas que fazem Robert Sarver parecer um dono desastroso para a franquia, uma se destaca e vale por todas as outras. Para entender essa história só preciso das duas informações antes:

  1. Nos EUA se usa muito o termo G.O.A.T. para se referir a quem é o melhor de todos os tempos em alguma atividade. É uma sigla para Greatest Of All Time (Melhor de Todos os Tempos). Mas goat também significa “bode” em inglês.
  2. Em um evento para celebrar o recorde de pontuação de Diana Taurasi, estrela do Phoenix Mercury da WNBA, o time adquiriu diversos bodes vivos, uma brincadeira para chamá-la de a melhor de todos os tempos.

Dito tudo isso, vamos ao causo:

Quatro anos depois de nomear Ryan McDonough como General Manager, Sarver trouxe bodes vivos do evento de Diana Taurasi e os colocou no escritório de McDonough. Era pra ser tanto uma pegadinha como uma mensagem motivacional: o Suns deveria encontrar um GOAT próprio, alguém que domina o jogo como Taurasi. Os bodes, sem saber de sua conotação metafórica, defecaram sobre todo o escritório do General Manager.

Sim, amigos. O dono do time colocou BODES VIVOS no escritório do General Manager e os animais, claro, cagaram em todo lugar. Por histórias como essa que todo mundo que deixou a franquia tem falando mal da equipe e desejando nunca voltar. Desde Amar’e Stoudemire e Goran Dragic, passando por Steve Nash e Grant Hill, a maioria dos que tinham tudo para ficar por lá decidiram se afastar.

Ir mais um pouco para o passado, porém, mostra que nem sempre Sarver foi vilão. O Phoenix Suns vivia uma fase ruim em 2004 quando foi comprado por um grupo liderado por Sarver, que fez fortuna primeiro no mercado financeiro e depois com imobiliárias. Ele chegou no time contratando as pessoas certas e despejando dinheiro para transformar a franquia: ele trouxe Bryan Colangelo como General Manager, acreditou nas loucuras do estreante técnico Mike D’Antoni e não hesitou em liberar uma grana pesada para tirar Steve Nash do Dallas Mavericks. No primeiro ano da “Era Sarver” o Suns revolucionou a NBA e virou modelo de franquia por ao menos sete ou oito anos. Foi inovador no uso de tecnologia, estatísticas e chegou a ganhar uma aura mágica por sua equipe médica que recuperava qualquer caso perdido de lesão que chegava em suas mãos.

Para quem acompanhou essa época é até estranho ver que o Phoenix Suns não é um time ruim hoje pelos altos e baixos comuns da NBA, mas porque os bastidores não funcionam. Desde a saída de D’Antoni em 2008, o time já teve ONZE técnicos e quatro General Managers.

É curioso ver que Robert Sarver não foge das suas responsabilidades. Enquanto Jeannie Buss, dona do LA Lakers, diz que a imprensa e as “fake news” atrapalham o time, Sarver aceitou ser entrevistado para uma matéria que iria contar todos os seus podres e disse que errou mesmo:

“Olhando para trás percebi que tentei usar a mesma fórmula que usei nos meus negócios. Contratei jovens e tentei ser um mentor para eles. Nos meus outros negócios isso deu certo, neste  pareço ter subestimado os desafios e as responsabilidades das posições de gerência na NBA de hoje e o nível de experiência que ela exige”.

O momento em que as coisas parecem ter desandado de vez no Phoenix foi na Trade Deadline de 2015. No ano anterior o time tinha planejado um passo para trás para se reforçar via Draft, mas as coisas deram certo demais e eles chegaram a 48 vitórias no ano. Eles então se animaram e resolveram reforçar a equipe contratando Isaiah Thomas, que estava sobrando no Sacramento Kings. O time ficou então com três armadores ao mesmo tempo: Thomas, Goran Dragic e Eric Bledsoe. Por mais que dois pudessem passar tempo em quadra juntos, três era demais e o técnico Jeff Hornacek nunca achou uma solução.

Quando chegou a data-limite de trocas daquela temporada, eles então mandaram Dragic para o Miami Heat, Isaiah Thomas para o Boston Celtics e ficaram só com Bledsoe. O time piorou, os jogadores que vieram nos negócios não se deram bem, Bledsoe implorou para sair do time algum tempo depois e desde então, ironicamente, o time sofre para achar um armador decente.

Outra ironia: o time finalmente foi mal em 2015 e pode retomar aquele plano de ter muitas escolhas de Draft. Desde então gastaram suas escolhas principais com Dragan Bender, Marqueese Chris e Josh Jackson, todos com desempenho muito abaixo do esperado. Até quem joga bem, como o novato DeAndre Ayton, ainda apanha dos críticos por não estar brilhando como Trae Young e Luka Doncic, escolhidos depois do pivô.

O plot twist dessa história vem do fato de que, talvez, o Phoenix Suns se dê muito bem depois de tanta bobagem. A parte final da temporada do Suns está longe de ser brilhante, mas já vimos alguns jogos bem impressionantes e há duas semanas chegaram até a ganhar 5 de 7 jogos disputados, incluindo vitórias sobre Miami Heat, Milwaukee Bucks e Golden State Warriors. Nesses jogos vimos Kelly Oubre como ótimo defensor de perímetro, Booker imparável no ataque, Tyler Johnson –contratado via troca no meio da temporada– finalmente ajudando na armação e Ayton no seu melhor momento da sua primeira temporada.

Vale uma pausa para dizer que embora DeAndre Ayton não tenha brilhado como novato, ele fez uma boa temporada, melhorou de pouco em pouco e só não chamou mais a atenção porque é difícil para um pivô de seu estilo, que não dribla nem joga no perímetro, ser protagonista na NBA atual.

É um quarteto muito bom, muito jovem e em um time que ainda vai ter espaço na folha salarial para boas contratações na offseason e provavelmente mais uma escolha no Top 5 do próximo Draft. O time também tem um bom técnico e James Johnson, famoso PARÇA de LeBron James como jogador, pode se revelar um bom General Manager. Tem sido uma década difícil, de mais erros que acertos, mas a NBA é montada para que mesmo os piores times estejam sempre a poucos acertos de voltar à relevância. Pode ser agora.

A única questão agora é dar esse próximo passo RÁPIDO. Devin Booker já assinou uma riquíssima extensão de contrato por mais cinco anos, mas Anthony Davis está aí para mostrar que essa nova geração não está disposta a ficar jogando anos de basquete de alto nível em times toscos e não são vínculos de contrato que vão os parar. Nesta temporada o ala-armador já deixou claro que queria nada menos do que brigar por Playoffs.

Ou ele enxerga alguma melhora, ou a crise vai chegar no grande trunfo da equipe. É hora de otimismo, mas com cautela.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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