O sábadão dos Playoffs foi de começos e fins: primeiro tínhamos o Jogo 1 da série entre Toronto Raptors e Philadelphia 76ers para dar início aos duelos entre a real nata da Conferência Leste, depois o decisivo Jogo 7 entre Denver Nuggets e San Antonio Spurs para decidir o último confronto ainda vivo da primeira rodada.
Começamos pelo Leste, onde o Raptors recebeu o Sixers no Canadá e resolveu que cansou dessa história de MALDIÇÃO do Jogo 1. O Raptors dominou o jogo desde o primeiro minuto, ficou na frente a partida inteira, soube responder aos bons momentos eventuais do rival e saiu de quadra com vantagem na série. Esta é a 17ª série de Playoff da vida do Raptors e apenas a TERCEIRA VEZ que eles ganham uma Jogo 1, curiosamente uma das outras vezes também foi contra o Sixers:
Raptors in Game 1:
vs. 76ers: 2-0
vs. everyone else: 1-14— Dan Feldman (@DanFeldmanNBA) April 28, 2019
O segredo para essa vitória do Raptors ficou claro desde o primeiro quarto, quando Kawhi Leonard e Pascal Siakam marcaram nada menos que 30 dos primeiros 33 pontos do time. Taticamente não teve muito segredo, os dois recebiam a bola bem posicionados, aproveitavam que o resto do time abria para evitar as dobras de marcação e partiam para o ataque. O Sixers tentou Jimmy Butler na marcação de Kawhi, depois Tobias Harris e até Ben Simmons, mas ele jantou todo mundo. Foram 45 pontos com aproveitamento de 16/23 nos arremessos e uma aula grátis pra todo mundo:
Kawhi: 45 PTS (16-23 FG)
Butler: 10 PTS (4-12 FG)
Embiid: 16 PTS (5-18 FG)
Simmons: 14 PTS (7-8 FG)— Ballislife.com (@Ballislife) April 28, 2019
Um dos trunfos do Sixers na série era justamente poder jogar todos esses defensores diferentes sobre Kawhi. A ideia era deixar ele desconfortável e tentar descobrir eventualmente quem se dá melhor no duelo. Neste primeiro jogo o vencedor foi Simmons: Kawhi acertou 5 dos 6 arremessos que tentou quando marcado por Butler, 5 dos 5 sobre Harris e “apenas” 4 de 9 arremessos quando marcado por Simmons.
Após o jogo, Joel Embiid parabenizou Leonard e Siakam dizendo que “os melhores jogadores apareceram pra jogar” e disse que ele mesmo precisa jogar melhor. Faz sentido, já que ele só fez 16 pontos e acertou míseros 5 dos 18 chutes que tentou. Dá pra argumentar que ele foi o único do time com saldo de pontos positivo: +4 pontos com ele em quadra, enquanto o resto dos titulares foi negativo. Mas já que estamos nos aprofundando nos números, temos que dizer que o saldo foi de -10 quando Embiid dividiu a quadra com Marc Gasol. Embiid só acertou 1 de 8 arremessos quando marcado pelo espanhol.
Em seguida ele disse que talvez o time precise dobrar a marcação sobre os dois cestinhas, como o Raptors fez com ele ao longo do jogo. Há, porém, o problema dos arremessos de 3 pontos: o Raptors dobra sobre Embiid porque não tem medo dos arremessos de ninguém além de JJ Redick, já o Sixers pagaria um preço mais caro ao deixar Kyle Lowry, Danny Green e até Marc Gasol livres para arremessar.
Compare os dois lances do vídeo abaixo e vejam como Kawhi Leonard tem espaço para operar com calma e paciência enquanto Embiid sempre ataca alguém precisando enfrentar seu próprio defensor, alguém que está imediatamente atrás dele e outro vindo da linha dos três pontos para incomodá-lo:
A decisão do Sixers para o próximo jogo passa por decidir se eles querem ou não pagar pra ver se Kawhi e Siakam acertam tudo de novo. Boa parte dos arremessos dos dois foi contestado e Kawhi em especial fez arremesso difícil atrás de arremesso difícil. Isso vai durar quanto tempo? Ele é bom o bastante para acertar mais vezes, mas também é (ao menos dizem) humano e pode ter um dia de aproveitamento pior.
Ofensivamente o Sixers enfrentou os problemas de sempre: falta espaço, fluidez e todo rival entra em quadra querendo que o JJ Redick não fique livre por um segundo sequer. Os bons momentos do time aconteceram no fim do primeiro quarto e começo do segundo, quando responderam ao bombardeio de Kawhi/Siakam e no terceiro período, quando cortaram a vantagem na base das bolas de 3 pontos antes de desmontarem de vez. No primeiro caso méritos para a velocidade: Ben Simmons transformou raros erros do Raptors em pontos e até no ataque de meia quadra não hesitou para atacar o garrafão sempre que tinha chance:
No terceiro período foi quando JJ Redick acertou todas as suas cinco bolas de 3 pontos! Segundo o técnico Nick Nurse, do Raptors, o time apenas “perdeu” ele algumas vezes nos bloqueios. Mas vendo os vídeos parece que na verdade dois deles foram contra-ataques e três foram até bem contestados, com Redick simplesmente acertando chutes difíceis. Como o próprio Kawhi mostrou ontem, às vezes é isso que decide um jogo:
Eventualmente isso deve mudar ao longo dessa série, mas Kawhi Leonard NUNCA PERDEU para o Sixers em toda sua CARREIRA. Antes eram outros tempos, mas ontem ele pareceu de novo bem confortável em quadra e vai ser difícil parar o Raptors, que tem boa defesa e boa movimentação além dele, enquanto seu melhor jogador atropelar boas defesas desse jeito. Que as estrelas do Sixers tenham jogos acima da média para igualar isso aí.
No folclore da NBA se diz que não há duas palavras mais bonitas que “JOGO SETE”. Realmente a empolgação de saber que o vencedor de uma partida única segue em frente enquanto a temporada do outro acaba é empolgante demais, mas não dá pra ignorar que volta e meia essa importância toda se impregna nos jogadores de um jeito não muito agradável.
O Denver Nuggets não venceu o Jogo 7, o time sobreviveu a ele. A partida contra o San Antonio Spurs foi puro sofrimento ofensivo, com toques de tensão, pernas tremidas, infinitos erros, muitas faltas e até relógio do ginásio quebrado. Para se ter uma ideia, o Nuggets acertou apenas DOIS ARREMESSOS DE 3 PONTOS em toda a partida! Foi a ÚNICA vez nesta temporada que um time venceu uma partida acertando tão pouco de longe. Nos últimos cinco anos isso aconteceu em 46 ocasiões, três delas (contando ontem) nos Playoffs.
O negócio foi pesado desde o começo. O Spurs chegou na exata metade do primeiro quarto com apenas DOIS PONTOS marcados, um ritmo para marcar 16 pontos na partida inteira. Obviamente eles esquentaram um tiquinho a mais depois, mas nem tanto. Para surpresa geral, Rudy Gay (21 pontos) foi o cestinha do time e o responsável por não deixar o placar escapar logo de cara.
A solid effort from Rudy Gay in Game 7 for the @spurs & he was the @FanDuel Value of the Night.
His line was 21 PTS, 8 REB, 1 AST, 1 STL, 2 BLK & 2 3PTM for 40.1 #NBAFantasy points – returning 7.3x his $5,500 DFS salary!#NBAPlayoffs #GoSpursGo pic.twitter.com/e1oTCZ42On
— NBA Fantasy (@NBAFantasy) April 28, 2019
Do outro lado o Nuggets fez uma das partidas mais confusas que eu já vi. Nada além do PÉSSIMO aproveitamento dos arremessos indicava qualquer sinal de nervosismo. Mesmo com o elenco mais jovem dos Playoffs e um inédito Jogo 7 para quase todo mundo, o time começou o jogo confiante, em velocidade e trocando os passes mais bonitos deles em toda a série. Parecia até o time da temporada regular, mas com umas airballs no final:
Some crazy, fun passing by the #Nuggets results in Jamal Murray getting to the line. pic.twitter.com/CsNluKADy4
— Joel Rush (@JoelRushNBA) April 28, 2019
O Spurs não apareceu com tanta novidade tática, algo comum após seis confrontos contra o mesmo time. Eles estavam sendo seletivos nas dobras de marcação sobre Nikola Jokic, tentando forçar algo como o Jogo 6, quando ele marcou mais de 40 pontos mas perdeu porque o resto do time não teve chances de participar. Dessa vez o pivô sérvio até conseguiu um raro triple-double sem turnovers, com 21 pontos, 14 rebotes, 10 assistências e nenhum desperdício de bola, mas ele penou nas mãos de LaMarcus Aldridge e acertou só 9 dos 26 arremessos que tentou no jogo!
No segundo tempo os times até esboçaram um pouco mais de pontaria, mas foi na base do contra-ataque veloz tradicional que o = Nuggets abriu 18 pontos de vantagem. Em uma partida onde fazer dois pontos é um sacrifício, tudo parecia decidido, mas foi com as costas contra a parede que o Spurs jogou seu melhor basquete. De pouco em pouco até os minutos finais de jogo, o Spurs chegou a cortar a diferença para míseros DOIS PONTOS a 50 segundos do fim. Bolas de 3 pontuais de Bryn Forbes e alguns arremessos de DeMar DeRozan (17 pontos), outro que penou para marcar deram vida nova ao time.
Foi quando o Nuggets voltou ao seu bom e velho pick-and-roll para que Jamal Murray acertasse o arremesso decisivo:
JAMAL MURRAY GAME 7 DAGGER pic.twitter.com/m8Ss8jBqVt
— Bleacher Report (@BleacherReport) April 28, 2019
Precisando de um arremesso rápido para poder cortar de novo a diferença que havia voltado para quatro pontos, o Spurs atacou rápido com DeMar DeRozan. Ele girou para cima de Torrey Craig mas foi surpreendido por Jamal Murray, que tinha ABANDONADO Patty Mills livre do outro lado da quadra para atrapalhar a infiltração. Provou-se a decisão correta.
Com 28 segundos no relógio, desvantagem de 4 pontos e bola na mão do rival o Spurs deveria fazer uma falta para parar o jogo, certo? Certo? Gregg Popovich e TODOS SEUS ASSISTENTES gritaram isso, mas LaMarcus Aldridge não ouviu, não fez nada e o resto do elenco o acompanhou na apatia. Todos ficaram imóveis assistindo o Nuggets queimar tempo e garantir a vaga. Vale ver a bizarra sequência completa:
Foi BIZARRO. Não é que um jogador não ouviu e não decidiu por conta própria fazer nada, foram TODOS. Lá pelos 11 segundos o Popovich até desiste de continuar gritando de tão frustrado. E mesmo que a instrução não fosse uma falta, era ao menos para que uma marcação dupla tentasse forçar um erro de Jokic, algo que também não aconteceu. Inexplicável.
Na entrevista após o jogo Pop não quis se alongar no assunto: “Obviamente ele não ouviu”. Ponto.
“Obviously he didn’t hear anybody because he didn’t foul” – Popovich pic.twitter.com/oVvKXmngYR
— Ballislife.com (@Ballislife) April 28, 2019
Cruel para o torcedor do San Antonio Spurs que a temporada tenha acabado assim, com um jogo feio, amarrado e onde o time teve dificuldade para marcar pontos, tudo isso poucas horas depois de Kawhi Leonard ter se provado mais uma vez uma máquina ofensiva que parece impossível de ser parada nos seus melhores dias. O que passou, passou, mas é difícil esquecer…