Resumo da Rodada 28/5 – Jogo dos 27 erros

O que parecia inevitável no começo da temporada, menos óbvio ao longo do ano e em sério perigo de não rolar na última semana, aconteceu: o Golden State Warriors superou um de seus mais complicados desafios nos últimos anos e vai para a Final da NBA pela quarta vez seguida. Com as costas contra a parede depois de estar perdendo a série por 2 a 3, por duas vezes superou começos ruins e desvantagens em dígitos duplos para virar o placar, vencer o Houston Rockets por 101 a 92 e garantir mais um encontro com o Cleveland Cavaliers.

O começo da aventura do Jogo 7 foi marcado por ausências permanentes e temporárias. Como esperado, Andre Iguodala e Chris Paul não se recuperaram a tempo de suas lesões e não jogaram. E com poucos minutos de jogo, Klay Thompson fez TRÊS FALTAS e teve que sair da partida para não se complicar ainda mais. O time que contava com o “quinteto da morte” para salvar a temporada estava em quadra com Kevon Looney e Nick Young tentando parar um time que vinha babando por uma vitória.

Os primeiros minutos de James Harden em quadra foram de brilhar os olhos. Para um jogador que tem apanhado nos últimos anos por não ter seus melhores jogos quando seu time está à beira da eliminação, era importante começar quente e foi o que ele fez: cavou as faltas em Thompson, atacou a cesta sem enrolação e acabou o primeiro quarto com 14 dos 24 pontos do Rockets. O resto do time não estava tão quente, mas compensava com uma defesa FEROZ que fez o Warriors parecer até assustado com a intensidade da partida. Foram SEIS desperdícios de bola só no primeiro quarto, alguns de cair o queixo. Que tal Clint Capela marcando Steph Curry e Klay Thompson na linha dos três, evitando passes e roubando a bola? Ou Trevor Ariza com seus braços longos impedindo passes de entrarem no garrafão? Até o próprio Harden estava tão focado na defesa que nem deixou Kevin Durant receber a bola para explorar o matchup com ele!

Era o pavor do Warriors aparecendo de novo: como não fugir do seu consagrado estilo de jogo se não conseguem dar meia dúzia de passes sem arriscar um turnover? E como contornar isso com menos minutos de Klay Thompson, um dos caras que recebem esses passes para finalizar?

O jogo ameaçou deslanchar a favor do Rockets no meio do segundo período, quando a vantagem chegou em QUINZE pontos. Foi quando Steve Kerr tentou fazer o ataque funcionar usando seu quinteto mais baixo, com Draymond Green de pivô. A ideia era ter um time mais ágil na defesa, com menos mismatches a serem explorados por Harden e com capacidade de sair jogando em velocidade. Resultado? O Houston Rockets arregaçou as mangas, atacou o garrafão com GOSTO, forçou faltas e pegou muitos rebotes ofensivos, três deles só com o TEORICAMENTE baixo PJ Tucker. Sabe o clichê que diz que um time está QUERENDO GANHAR mais do que o outro? Era o que parecia:

Nesse momento da partida o Rockets estava tão agressivo que o Harden sozinho tinha mais infiltrações tentadas no jogo do que o time inteiro do Warriors:

No puro desespero, o Warriors começou a tentar pressionar Harden na hora da bandeja, que é basicamente um pedido de passe para Clint Capela enterrar a bola. Cobertor curto total:

Nada no jogo indicava uma reação do Warriors. O Rockets tinha o melhor jogador do jogo, a vantagem no placar, a defesa dominante, um adversário pouco inspirado e a torcida gritando como se não houvesse amanhã. A esperança do atual campeão era que a MÍSTICA do 3º período aparecesse.

Eu não sou otário de acreditar em mística, mas poucos minutos depois o State Warriors estava virando o jogo com passe do Jordan Bell por baixo das pernas:

Quando o time que não conseguia passar a bola para o lado começa a dar passe por baixo das pernas é sinal de PERIGO para o rival. Como DIABOS essa reviravolta se deu tão rápido?!

A primeira coisa que aconteceu foi a perda de intensidade da defesa do Rockets. É possível ver isso em dois lances que o comentarista Ryan Nguyen separou no Twitter. Ele mostra como o Warriors, para fugir das trocas de marcação do Rockets, apelou para o “slip screen“, que é quando um cara finge que vai fazer um corta-luz, mas já DESLIZA em direção à cesta antes que a defesa saiba que é hora de trocar. Foi a mesma estratégia utilizada pelo Utah Jazz para resolver o mesmo problema da defesa TROCA-TUDO-O-TEMPO-TODO do Rockets. No primeiro tempo Durant faz o slip screen com Curry, mas a defesa do Rockets está ligadaça e mantém um corpo ligado a Durant, que é obrigado a fazer um arremesso bem difícil:

No segundo tempo é a vez de Draymond Green fazer esse slip screen. Ele, porém, fica livre sem resistência e faz um floater fácil sobre Ariza, que também não faz muito para contestar o arremesso:

É bem difícil manter aquela intensidade defensiva por 48 minutos, especialmente com uma rotação de jogadores que já é curta e que fica ainda menor com a ausência de Chris Paul, mas ela é necessária. Quando o Warriors vê mais espaço para os passes, faz uma cesta atrás da outra e ganha confiança.

Uma alternativa para o Rockets, nesse caso, seria continuar marcando pontos lá no ataque. Como eles tinham a vantagem no placar, trocar cestas não é de todo mal, especialmente se forem algumas bolas de 3 pontos. Se as infiltrações renderem faltas e lances-livres, melhor ainda! Vamos ver como eles se saíram:

Essas imagens seriam as que eu usaria se só tivesse um minuto para fazer este resumo da rodada. Do miolo do segundo período, que foi logo depois deles terem aberto os 15 pontos de vantagem, até a metade do quarto, quando o jogo parecia perdido, o Rockets foi surrado por 59 a 34. Neste tempo só cobrou 7 lances-livres (fez 4) e ERROU TODOS OS VINTE E SETE ARREMESSOS DE 3 PONTOS que tentou! Para surpresa de ninguém, é um recorde. Nenhum time antes na história dos Playoffs havia errado tantos tiros de longe em sequência.

Na hora senti que o Golden State Warriors tinha dado um TURBO na sua ajuda defensiva para evitar mais infiltrações de Harden, bandejas fáceis e passes para enterradas de Capela. Isso abre espaço para passes para a linha dos 3 pontos, mas aí era confiar nas pernas para correr lá, contestar o chute e torcer para o erro. Por um lado parece que deu resultado, mas por outro, ao ver o vídeo dos 27 erros, dá pra perceber que muitos foram completamente sem marcação. Se você gosta de tijolo, confira comigo:

Algumas imagens parecem de TREINO! Eles simplesmente erraram. Teve esforço e disciplina do Warriors, mas não o bastante para explicar tanto erro assim.

Esses dois Jogos 7 podem fazer muita gente repensar a estratégia dos 3 pontos na NBA, ou ao menos parte dela. Os finalistas Warriors e Cavs estão aí para mostrar que elas são ótimas para vencer, mas Boston Celtics e Houston Rockets se despedem da temporada em dias de aproveitamento MUITO abaixo do padrão deles. As estatísticas bancam que todos os times têm dias bons e dias ruins, mas que no longo prazo vale a pena. Só é hora dos times decidirem qual é o plano de emergência para quando não existe longo prazo. É JOGO 7! Rockets e Celtics deveriam continuar chutando e seguir torcendo para que o equilíbrio estatístico apareça ainda naquela partida? Ou deveriam abrir mão da estratégia de jogo que usaram em TODOS OS JOGOS do ano? E a pressão de um jogo decisivo teve influência nesses números? É algo para que os times discutam internamente.

No caso do Rockets incomodou um pouco mais porque James Harden é ótimo atacando a cesta e Eric Gordon estava num dia mais do que inspirado em suas infiltrações. Quando o fôlego e a confiança do Barba EVAPORARAM no segundo tempo, era só das mãos de Gordon que o Rockets conseguia gerar algum fio de esperança. Mas ao invés de atacar, insistiu nos tiros de longe e errou, como Harden errou em seu vício de querer cavar faltas.

Com tantos arremessos errados, aí virou festa da velocidade. Aconteceu o que já tinha acontecido tantas vezes durante essa série: um lado erra demais e o outro vira uma máquina de contra-ataques. 23 a 6 para o Warriors em pontos de transição no Jogo 7:

Esse jogo em velocidade traz o melhor do Warriors: as bolas de 3 pontos de Steph Curry, Kevin Durant em velocidade contra algum pobre defensor que está ANDANDO DE COSTAS, Klay Thompson achando buracos na defesa para arremessar de 3 pontos. Pode chamar de avalanche, tsunami, tempestade, chuva, qualquer coisa. O ataque do Warriors quando funciona assim é um fenômeno da natureza: você sabe que vem, consegue prever até QUANDO vai aparecer, mas não há como impedir:

A presença de Chris Paul não seria garantia de sucesso, mas ele poderia evitar erros de passe que atrapalharam o time e garantido suas tradicionais cestas de meia distância para estancar a sangria durante as 27 bolas de 3 erradas em sequência. E mesmo com ele fora, bastaria que dois ou três desses arremessos tivessem caído para que o jogo fosse outro. Se Trevor Ariza, o mais experiente dos jogadores em quadra pelo Rockets, não tivesse errado TODOS os seus DOZE arremessos no jogo, ainda daria para sonhar.

E claro que não vou esquecer do nosso amigo Danilo, que está de luto e me deixou aqui com esse resumo. Entre todas as pequenas coisas que poderiam ter salvado o Houston Rockets ontem, que tal NÃO COLOCAR Ryan Anderson no jogo? Mike D’Antoni sabe das suas limitações, por isso que o ala sumiu da rotação. O desespero pelas bolas de 3 pontos foi tamanho que lá foi o ala jogar um Jogo 7, no meio do TURBILHÃO do Warriors. O resultado foi desastroso: saldo de -12 pontos nos exatos 2:52 minutos em que ficou em quadra no final do terceiro quarto.

O Rockets vencia por TRÊS PONTOS ainda quando Anderson entrou na marca de 4:34 do 3º período. Quando ele saiu definitivamente do jogo, na marca de 1:42 do 3º quarto, era o Warriors que liderava por NOVE. De todos esses pontos, “apenas” 5 foram diretamente na cara de Anderson, não é como se toda a culpa do mundo fosse dele, mas não deixa de ser simbólico que o jogo tenha escapado de vez nos minutos em que ele estava em quadra:

São muitas pequenas coisas que se tornam demais. O manager Daryl Morey disse o ano todo que acreditava ter montado o time para bater o Golden State Warriors e acho que ele tinha razão, faltou muito pouco. Somando temporada regular e Playoffs foram 5 vitórias para cada lado, mas vai para a decisão a equipe que não cometeu erros nos últimos 24 minutos do último jogo.

Entendo que muita gente esteja frustrada com o resultado, já vi até quem diga que nem vai assistir a decisão, mas espero que tenha sido só a emoção do momento falando. Mesmo que os vencedores de cada lado tenham sido os mesmos, o percurso foi árduo e diferente. Reclamar que o final é sempre igual parece levar a um extremo muito distante o esporte como entretenimento, como se um Grande Roteirista estivesse falhando na hora de entregar finais melhores. Esporte é jogo e, dentro das regras, tudo pode acontecer, até quatro finais seguidas. E mais do que vencedores diferentes, temos que torcer por um processo interessante de se assistir. E foi: dois Jogos 7 decidindo as finais de conferência pela primeira vez desde 1979; dois visitantes vencendo apesar do aproveitamento histórico de 80% dos donos da casa em Jogos 7; Warriors e Cavs perdendo por 2 a 3 suas séries e atrás no placar no jogo final.  Se eles conseguiram superar tudo isso só nos resta aplaudir e esperar o Episódio IV.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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