Ao fim do Jogo 1 da série entre Boston Celtics e Milwaukee Bucks, quando o time de Brad Stevens encontrou um jeito de anular Giannis Antetokounmpo, o ex-jogador Paul Pierce foi na televisão e cravou: “Está acabado”. Mal sabia ele que a previsão estava certa, mas do avesso. A partir de então o Celtics não venceu mais, o Bucks dominou a série, venceu os jogos seguintes com relativa facilidade e na noite de quarta construiu um 116 a 91 para mandar Kyrie Irving e companhia para as temidas férias.
Nos últimos jogos da série comentamos aqui no Resumo sobre como o Celtics estava se desmontando ao longo das partidas. Assim que o plano de jogo começava a dar um pouco errado, quando ficavam um pouco atrás no placar ou o Bucks tinha uma boa sequência, tudo de bom que o haviam feito até então era abandonado. Buracos surgiam na defesa e o ataque virava um festival de apressadas jogadas individuais. O técnico Brad Stevens parecia tentar prevenir mais um desmanche: “Nós estamos fazendo um bom trabalho. Estamos fazendo o que combinamos fazer, que é proteger o garrafão. Quando o jogo se acalmar, estaremos em uma ótima situação. Mantenham isso.”, disse ele durante um pedido de tempo mostrado pela TV ainda no primeiro quarto.
É claro que não adiantou nada. É difícil saber qual é a primeira peça do dominó que cai em situações assim, mas no Jogo 5 pareceu ser o ataque. O Celtics não conseguia fazer a bola cair na cesta de jeito nenhum no primeiro tempo: tivemos infiltrações de Jayson Tatum bloqueadas, malabarismos de Kyrie Irving que ficaram no aro, tentativas do desaparecido Gordon Hayward de finalmente participar da série e nem os sempre confiáveis chutes de meia distância de Al Horford estavam entrando. O jogo só não saiu completamente do controle porque Marcus Morris e Marcus Smart se destacaram na defesa e geraram alguns poucos e importantes pontos de contra-ataque. Mas foi só.
A diferença era de 13 pontos no intervalo e no segundo tempo só cresceu quando as outras peças do dominó foram caindo junto: Irving tentou salvar o time sozinho, o ataque deixou de trocar passes e eventualmente até a forte defesa do Celtics começou a ter buracos no garrafão, exatamente do jeitinho que Brad Stevens implorou para que não acontecesse. O lance abaixo mostra todo o absurdo da situação: Marcus Morris e Al Horford não se entendem sobre quem deve marcar quem, qual dos dois sobe até a linha dos três, quem fica no garrafão e aí, lá atrás, George Hill corta em direção à cesta e ENTERRA EM UMA PONTE AÉREA. Juro que nunca tinha visto o George Hill enterrar assim e agora ele faz todo jogo…
I had no idea George Hill had this in him! pic.twitter.com/E9cR0o3QBg
— BBALLBREAKDOWN (@bballbreakdown) May 9, 2019
No fim das contas o Celtics cedeu nada menos que 44 pontos no garrafão, 15 bolas de 3 pontos e ainda passou pelo constrangimento de ceder CINCO REBOTES DE ATAQUE na mesma posse de bola justo na hora em que precisavam desesperadamente dar um empurrão final para sobreviver:
Celtics trying to get a defensive rebound. "The better team". #CelticsvBucks pic.twitter.com/0alGmwJGs1
— Mac Traverse (@MacTraverse) May 9, 2019
Foi um desastre. No fim das contas o Celtics acertou apenas 31% dos seus arremessos no jogo! É o nono pior aproveitamento do time em toda sua rica história nos Playoffs, a pior marca desde 1977. E lembram que Kyrie Irving disse no último jogo que mesmo com mau aproveitamento ele deveria ter arremessado 30 vezes ao invés de 22? Bom, ele não cumpriu a promessa. Tentou 21 chutes, acertou só SEIS. O único jogador com ao menos 50% de aproveitamento foi Morris, que acertou 4 dos 8 arremessos que tentou.
E foi assim, de forma melancólica, que acabou a temporada do Boston Celtics. O time entrou na temporada como amplo e irrestrito favorito a vencer a Conferência Leste, mas viveu uma temporada cheia de altos e baixos, com brigas internas, rumores, especulações e um sem número de pessoas insatisfeitas com sua função. Na entrevista coletiva pós-jogo, Brad Stevens assumiu sua parcela de culpa, dizendo que é o técnico quem deve fazer todas as peças do time funcionarem juntas e que ele não conseguiu isso este ano.
Ele tem certa razão, mas os jogadores são protagonistas na NBA. Eles podem e devem agir pelo bem do grupo e do time, não só ficar esperando o técnico salvar todo mundo com um discurso. No Celtics desse ano o que observamos foi muita gente querendo ser o dono da coisa toda e nenhum acordo entre as partes. Em fevereiro, em uma das más fases do time na temporada, Kyrie Irving chegou a dizer que as derrotas não iriam prejudicar o time nos Playoffs porque “eu estou aqui”.
Kyrie Irving said this loss is behind him. Said he’s not concerned the Celtics’ struggles will leak into the playoffs. Why? “Because I’m here.”
— Jay King (@ByJayKing) February 24, 2019
O armador praticamente se autointitulou líder da equipe e não cansou de falar que ele já tinha disputado mil Playoffs, que já tinha jogado trocentas finais e tinha um título da NBA no currículo. O problema é que Irving não ganhou o título de líder de seus companheiros, não fez muito para ganhar a confiança deles (críticas públicas raramente vão fazer isso) e ainda por cima deu para trás na hora de se comprometer a ficar na franquia por mais tempo. Como seguir um líder que briga e dá chilique na imprensa se o perguntam se ele planeja ficar no Celtics ou se sonha com o NY Knicks?
O time foi corroído por muita expectativa e não por falta de liderança, mas excesso dela. Todos queriam mandar, todos queriam as coisas do seu jeito. As coisas pareciam bem nas vitórias, mas as derrotas expunham o pior de todos. Não é à toa que a campanha do time nesses Playoffs foi só de sequências: cinco vitórias consecutivas seguidas quatro derrotas seguidas.
Nada disso é necessariamente eterno: Jaylen Brown e Jayson Tatum são jovens e devem amadurecer, Gordon Hayward ainda pode se recuperar, Kyrie Irving pode aprender com seus erros e Brad Stevens também. A questão é: entre a Free Agency de Irving e o desejo de trocar por Anthony Davis, quais desses estarão de verde na próxima temporada?
No duelo entre Golden State Warriors e Houston Rockets, nunca o atual bi-campeão da NBA pareceu tão vulnerável. Com menos de um minuto de jogo e precisando segurar uma magra vantagem de quatro pontos, o Warriors estava em quadra sem Draymond Green, sem Kevin Durant e, claro, ainda sem DeMarcus Cousins. Estavam dependendo de Shaun Livingston e Kevon Looney para evitar uma derrota que poderia custar toda a temporada. Se eles sobreviveram? Sim, mas o alívio é só temporário.
O jogo começou do jeito que o técnico Steve Kerr pediu na coletiva de imprensa após o Jogo 4, com o time criando espaços para poder usar mais Klay Thompson. Ele marcou 17 pontos só no primeiro tempo, fez chover com bolas de longa distância em contra-ataques e o Warriors parecia ter tudo sob controle. Lembra dos rebotes ofensivos de PJ Tucker arrasando com tudo nas últimas partidas? No primeiro tempo o Rockets pegou apenas UM rebote de ataque contra OITO do Warriors, que viu Andre Iguodala, Draymond Green e Kevon Looney atacando a cesta sem medo de se atrasar na volta para a defesa.
KLAY GAME? 🔥
Thompson is scorching. 12 points (5-6) already pic.twitter.com/dFAC2YOvuX
— Bleacher Report (@BleacherReport) May 9, 2019
A vantagem chegou a 20 pontos, mas ficou em 13 no intervalo. E tudo isso estava acontecendo com Steph Curry novamente frio no ataque, errando bandejas e irreconhecível da linha dos 3 pontos. O principal culpado era o próprio Rockets, que não conseguia tirar nada do seu ataque além das cestas de sempre de James Harden e algumas bolas da zona morta de PJ Tucker. Chris Paul seguia quase sem marcar pontos, Austin Rivers não entrou bem e a maior válvula de escape do time, Eric Gordon, errou os OITO primeiros arremessos que tentou na partida.
Só que aí aconteceu o mesmo que em TODOS os outros jogos dessa série: quem estava atrás resolveu que queria dar emoção. Caiu uma bola de longa distância de Iman Shumpert, outra de Harden na posse de bola seguinte, Gordon finalmente entrou no jogo e quando fomos ver a diferença estava em um ponto. Durant foi então para sua bola de segurança e… se machucou:
Kevin Durant goes to the locker room after suffering an apparent non-contact injury on lower leg pic.twitter.com/JCLv3szwz8
— Bleacher Report (@BleacherReport) May 9, 2019
A lesão assustou. Ele se machucou sem encostar em ninguém e olhou para trás como se tivesse sido chutado, exatamente a mesma reação que Kobe Bryant, Rudy Gay e DeMarcus Cousins já disseram ter sentido quando machucaram o tendão de aquiles. O ala foi DIRETO para o vestiário e por longos DEZESSEIS MINUTOS ninguém sabia o que tinha acontecido. Como disseram no Twitter, a qualquer momento poderia vir uma informação de que ele iria voltar para a quadra ou de que ficaria fora da NBA por um ano. Só isso.
O The Athletic conta que até o acesso aos corredores na frente do vestiário ficou fechado nesses minutos. Passaram por lá apenas o General Manager Bob Myers, o dono do time Joe Lacob, o assessor de imprensa do Warriors, o empresário do jogador Rich Kleinman e, dos atletas, DeMarcus Cousins e Quin Cook, amigo de infância de Durant. Todos saíram sem falar uma palavra.
Enquanto isso o jogo ia rolando. O Rockets estava quente e no embalo do corte da liderança, Klay Thompson não marcava uma cesta havia dez minutos e Steph Curry tinha míseros nove pontos. Uma derrota e o Rockets iria para Houston com vantagem de 3 a 2. Méritos aí para James Harden: imediatamente após a lesão, ele mirou a jugular e fez dois pontos, roubou uma bola, fez mais três pontos, deu uma assistência para Eric Gordon marcar de longe e ainda cavou uma falta para bater dois lances-livres no último ataque do período. O Rockets só não assumiu a liderança porque Steph Curry também percebeu o peso do momento, atacou a cesta e fez bandejas consecutivas para estancar a sangria e deixar o placar EMPATADO.
O último período foi um exemplo máximo daquilo que já disse algumas vezes em podcasts: o mesmo time ganhar sempre não é o problema, o ruim é se não vemos essas equipes e jogadores sendo desafiados. Ontem o Warriors foi muito desafiado. “Deu pra ver no rosto de Durant que era sério. No tempo técnico nos olhamos, conversamos sobre o que aquele momento representava para nosso time e que dependeríamos de todos”, disse o Curry depois do jogo. E ele assumiu o controle do ataque, foi para cima, forçou e ACERTOU arremessos e comandou o ataque como nos tempos pré-Durant, com pick-and-rolls, passes para Draymond Green e muita movimentação sem a bola. É um desafio fazer isso contra o estilo de defesa do Rockets, mas era a única opção. No fim das contas Curry marcou nada menos que 16 dos seus 25 pontos depois da lesão.
Enfim chegou a notícia de que Kevin Durant não tinha um problema no tendão de aquiles, mas um estiramento na panturrilha direita e que não voltaria para a partida. Alívio só temporário, o jogo ainda tinha que ser vencido. A vantagem do Warriors seguia pequena e o último golpe veio quando Draymond Green cometeu sua sexta e última falta a 1:14 do fim da partida. Sem três de seus All-Stars em quadra, o Warriors precisou de um pouquinho de todo mundo: Andre Iguodala fez ótima defesa sobre James Harden, eles conseguiram ao máximo evitar as trocas de marcação ao longo do último período e conseguiram assim tirar a bola da mão do Barba. Kevon Looney, que tanto apanhou no último jogo, conseguiu um toco, um rebote ofensivo e a última assistência do jogo que foram essenciais na reta final.
Depois de fechar o terceiro quarto em modo MATADOR, Harden tentou apenas três arremessos em todo o último quarto. Mérito da defesa do Warriors, mas também porque o ataque não foi o problema do Rockets no fim da partida. Nos últimos SEIS MINUTOS de jogo o Rockets só não pontuou em três ocasiões: o toco de Looney em Paul, uma falta de ataque de Paul e um arremesso CERTO de PJ Tucker, mas dado com o pé fora da quadra. A sequência inteira onde isso aconteceu, aliás, é maluca: Bola de 3 de Draymond, turnover, bola de 3 de Klay depois de rebote ofensivo de Looney. Foi o minuto que decidiu um período tão disputado:
A situação do duelo agora lembra muito a própria série entre Rockets/Warriors da temporada passada. Em 2018, foi Chris Paul quem se machucou no fim de um apertado Jogo 5 em que o Rockets venceu e abriu 3 a 2 na série. Se aproveitando do desfalque rival, o Warriors venceu os dois últimos jogos e passou para a Final da NBA.
Ao longo da temporada, em média, estiramentos na panturrilha provocaram ausências de 20 dias dos machucados. O próprio Durant, porém, já ficou só uma semana parado com uma lesão parecida em 2017. É improvável que ele volte nessa série e o Rockets, mesmo com as costas contra a parede, nunca esteve tão perto de alcançar seu objetivo de derrubar o melhor time dos últimos anos.
Durant previously strained his right calf during the 2017-18 season and missed three games. The average missed time for a calf strain in the NBA this season was 7 game (roughly 19 days).
— Jeff Stotts (@InStreetClothes) May 9, 2019