Vamos começar uma campanha? Ela vai ser assim: não importa se o Golden State Warriors se torne campeão ou não, não importa se o Cleveland Cavaliers vire essa série ou não. Não importa se o título é justo ou até roubado. Só, por favor, vamos ter pelo menos um joguinho disputado? Depois de duas GOLEADAS do Warriors sobre o Cavs, ontem foi a fez de LeBron James comandar uma SURRA do seu time. Três jogos, três lavadas do time da casa. Final de NBA não deveria ser hora de garbage time, mas é o que estamos vendo.
O Nylon Calculus reparou em algo que nosso grande amigo Rebote já tinha percebido também. Será que não estão rolando lavadas demais nos Playoffs deste ano? A impressão é comprovada pelos números. Pela primeira vez nos últimos 20 anos tivemos mais jogos decididos por 20 pontos a mais do que por 6 pontos ou menos.
Não acho que isso esteja acontecendo por algum motivo em especial, pode ser só uma anomalia estatística que eventualmente teria que acontecer nesse nosso mundo governado pelo Deus da Probabilidade. Mas, no fim das contas, tanto faz o motivo, é chato. Se teve um lado bom, porém, foi ver que o autor da vitória fácil dessa vez foi o outro time, aí assim pelo menos o placar da SÉRIE fica apertado!
O Cleveland Cavaliers finalmente apareceu para jogar basquete. Como apontamos no nosso post para assinantes, muitos dos erros defensivos deles nos primeiros jogos da série foram grosseiros e, pior, repetidos. O Warriors fazia jogadas quase idênticas e jogadores importantes, como JR Smith ou Kyrie Irving, cometiam os mesmos erros toda vez. Nessa altura do campeonato eram erros imperdoáveis.
Vou copiar um exemplo do post para assinantes aqui para ilustrar o que estou dizendo:
Veja como os próximos dois lances são idênticos, com um jogador do Warriors fingindo que vai fazer um corta-luz para deixar seu companheiro livre mas, de repente, desistindo da ideia e correndo, nas costas do seu defensor, para baixo da cesta. Dá certo com Harrison Barnes e, depois, com Draymond Green
Precisando de cestas no jogo de ontem, o Warriors foi para a mesma jogada, mas reparem como o nível de atenção é outro e dessa vez JR Smith consegue ler o lance e interceptar o passe que ia para Green:
Essa é uma habilidade que você precisa ter para conseguir fazer o Warriors sofrer: forçar turnovers. Se você deixar que esses caras arremessem em toda posse de bola, eventualmente as bolas vão começar a cair. O Cavs leu a receita do OKC Thunder e conseguiu colocá-la em prática, o que é para poucos. Defesa forte, agressiva, cheia de empurrões, puxões e tudo no limite do permitido pela arbitragem para forçar os erros, incomodar os passes e travar dribles.
Com a bola na mão era pedir para que Kyrie Irving e LeBron James fizessem a melhor imitação possível de Kevin Durant e Russell Westbrook. Tinham que atacar rápido, sem hesitar e sempre usando suas qualidades, o drible no caso de Irving, a força da infiltração no caso de LeBron, para tentar deixar a defesa do Warriors um passo para trás. O ex-técnico e comentarista Jeff Van Gundy gosta de dizer que se você para o seu drible ou movimento em um ataque contra o Warriors, eles já ganharam a posse de bola. Mesmo que você marque os pontos, terá sido do jeito deles. Tudo o que a defesa montada por Steve Kerr deseja é que o adversário, ao encarar as trocas de marcação e a velocidade de sua defesa, pare um segundo para pensar no que fazer. Isso dá tempo para a cobertura se montar, as dobras chegarem, as linhas de passe ficarem interditadas. É preciso jogar com intensa velocidade para conseguir atacá-los. O problema? Quantos times conseguem atacar, sem hesitar e com velocidade, contra uma defesa boa e mesmo assim não cometer duzentos turnovers? Poucos, nem o próprio Cavs consegue sempre, mas ontem o fizeram.
Veja como nesse lance, por exemplo, Kyrie já chega no ataque sabendo o que quer, então consegue usar bem o bloqueio de Tristan Thompson, aproveita bem sua vantagem na velocidade contra Andrew Bogut e espera a hora certa para acionar Richard Jefferson, sem dar tempo que Draymond Green consiga uma cobertura mais eficiente:
Esse ataque brutal liderou uma vantagem de 30 a 10 no placar. Foi quando Kyrie Irving teve alguns dos minutos mais inspirados que eu já vi num começo de jogo. Vários grandes jogadores vão esquentando durante jogos, Steph Curry é o deus do terceiro período, mas COMEÇAR o jogo assim? Raro, e Irving quase definiu o jogo com seus 16 pontos nos primeiros minutos de partida. E vamos sair um pouco do papo analítico e falar só como tarado em basquete: poucas coisas hoje na NBA são mais bonitas de ver do que Uncle Drew driblando por aí.
O problema é que não é fácil manter essa intensidade. Não só porque cansa, mas também porque não dá pra ter um elenco inteiro que voa atleticamente para isso. No segundo quarto o Cavs começou a pensar mais pra atacar, passou a querer arremessar logo de cara sem antes sequer criar um espaço com um drible ou uma infiltração, foi um prato cheio para que o banco do Golden State Warriors, infinitamente melhor que o do Cavs na série, cortasse a diferença para 8 pontos.
O lance abaixo, salvo por um rebote ofensivo de Tristan Thompson, é um exemplo de quando o Cavs pensa demais, hesita demais e executa de menos. Pouco aconteceu até uma infiltração torta de LeBron James desse errado:
A má fase, porém, durou pouco. Na volta do intervalo vimos mais uma obra-prima desse time do Cavs. O terceiro período deles foi impecável:
Até achei que o Golden State Warriors veio mais preparado, embora não tão inspirado, para o terceiro período se comparado com o começo do jogo, mas uma coisa que não deu certo o jogo inteiro começou a dar resultado para o Cavs de repente: os arremessos de média e longa distância de LeBron James, vejam só, renasceram das cinzas!!! O Warriors está, explicitamente dando todo o espaço do mundo para LeBron arremessar, assim como o San Antonio Spurs sempre fez quando o enfrentou, deixando na mão dele o que fazer com toda essa tal liberdade. Com boa vantagem no placar, time confiante e a torcida gritando, LeBron resolveu voltar a arremessar e sua precisão foi chave para destravar, de novo, o ataque do Cavs.
A tempestade perfeita do Cavs teve ainda a participação de outros dois titulares: JR Smith, além de mais ligado na defesa, acertou 5 bolas de 3 pontos. Seu aproveitamento é importante para fazer a tal agressividade de LeBron e Irving renderem também assistências, não só pontos. Já Tristan Thompson, praticamente NULO nos primeiros jogos da série, finalmente fez o Warriors pagar um pouco por jogar com time baixo: foram 7 rebotes de ataque, todos no primeiro tempo! Com Irving e LeBron pontuando de maneiras diversas, JR Smith punindo o adversário de longa distância e Thompson dominando o garrafão, aí o Cavs parece mais o time que levou o Leste nas costas.
Estão sentindo falta de alguém? Sim, Kevin Love NÃO JOGOU! Ele deu lugar a Richard Jefferson no time titular, que ajudou bastante o Cavs a ser esse time mais veloz e dinâmico que foi menos explorado na defesa e mais assertivo no ataque. Sem ter passado no protocolo de concussão da NBA, Love foi barrado do jogo inteiro, mas tem tudo para atuar no Jogo 4. E aí vem a questão que deve estar martelando a mente de Tyronn Lue. Será que o time é capaz de jogar do mesmo jeito com Love no grupo? Ou como ele é mais pesado e frágil na defesa talvez seja a hora de usá-lo vindo do banco? Considerando a atuação dos reservas certamente não faria mal ter mais talento por lá quando LeBron e/ou Irving estiverem descansando, mas, por outro lado, pode ser uma dor de cabeça bem fora de hora colocar um cara desse nível no banco.
Pelo lado do Golden State Warriors é hora de lembrar da série contra o OKC Thunder. O Draymond Green deixou claro após o jogo de que ele achava, sim, que sofreram bullying do Cavs no jogo. Foram intimidados desde o começo, com o poder ofensivo, com a defesa física, com o jeito de defender, e aceitaram a condição. Curry até passou pela humilhação de tomar toco quando o jogo NÃO ESTAVA VALENDO!
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— SportsCenter (@SportsCenter) June 9, 2016
O Thunder fez isso muito bem e vimos, com muita surpresa, um Warriors sem confiança e apático naquela série. Esse Jogo 3 de ontem lembrou um pouco daqueles momentos, especialmente quando vimos Steph Curry desconfortável em quadra, errando dribles e com problemas de excesso de faltas desde os primeiros minutos de jogo. O Warriors precisa muito dele, especialmente fora de casa, e ontem ele foi péssimo.
Pode parecer uma contradição visto que esse é um time alegre, empolgado e que adora uma correria, mas um dos segredos para a virada contra o Thunder foi a frieza. A partir do Jogo 5 daquele duelo o Warriors passou a simplesmente executar o seu plano de jogo: respondia defesa dura com defesa dura, não abaixava a cabeça depois de tomar contra-ataque e continuava com o plano de jogo de Steve Kerr, sempre focado em não cometer turnovers, passar a bola com precisão, sem displicência, e insistir em atacar os pontos fracos do adversário até eles desmoronavam. Foi com essa frieza que eles conseguiram fazer o Thunder (ou mesmo o Cavs nos primeiros jogos) dessem aquela cambaleada na confiança e no ritmo, e é aí que eles podem colocar o sorriso no rosto e ir para o abate.
Se os três primeiros jogos foram combinações perfeitas pesando para cada time, agora queremos uma para o nosso lado de torcedor: que tal o Cavs jogando com essa intensidade, o Warriors mais concentrado, LeBron James ainda acertando os arremessos e Steph Curry finalmente jogando essa final como o MVP que é? Imagina isso tudo acontecendo NO MESMO JOGO! Acho que merecemos.
PRÓXIMO JOGO
A próxima partida acontece na sexta-feira, às 22h, com transmissão da ESPN
PATRIOTAS DO DIA
Que tal a torcida toda cantando o hino nacional antes do jogo? Multidões fazendo coisas em sincronia, sem ensaiar, sempre vão me assustar muito mais do que emocionar, mas foi legal.