[Resumo da Rodada] Brasil vence no sufoco

E aí amigos, estão inteiros? Sobreviveram? Como estão lidando com todas essas emoções olímpicas? Os Jogos são especialistas em despertar alguns sentimentos que temos escondidos, de nos emocionarmos com histórias de atletas que não conhecíamos, sofrendo com dramas que não imaginávamos e que de repente estão na TV no grande momento de suas vidas.

Nesta última terça foi a vez da seleção do Brasil dar esse momento de emocionar todo mundo que só assiste basquete de 4 em 4 anos. Se bem que para nós, que vemos de mais perto, pode ter sido até mais emocionante, como mostram o nosso querido Roby Porto e o Hélio Rubens.

No duelo entre dois derrotados da primeira rodada, Brasil e Espanha jogaram com a urgência que esse tal ~grupo da morte~ exige: atenção desde o começo do jogo e muita intensidade. Todo mundo está no mesmo nível e todos os jogos tem tudo para serem resolvidos em detalhes e aleatoriedades.

Para o Brasil a melhor notícia foi ver o time conseguir mesclar intensidade e vontade sem, dessa vez, os irritantes turnovers da primeira partida. Nas estatísticas a diferença foi mínima, 13 erros na estreia, 10 ontem, mas os números do primeiro jogo só foram salvos pelo ótimo segundo tempo, já que só a primeira etapa daquele jogo contra a Lituânia o time teve NOVE desperdícios de bola. Como lembramos, foi quando deu tudo errado.

As melhores posses tiram o contra-ataque do adversário e os forçam a enfrentar a defesa de meia quadra do Brasil, que é a melhor característica do time. Às vezes o Rubén Magnano força a barra em umas defesas por zona e nem sempre a defesa do Brasil, como vimos nos dois jogos, é rápida o bastante para cobrir o arremessador em jogadas de pick-and-roll ou pick-and-pop. Mas de qualquer forma, em geral, é uma defesa disciplinada, bem posicionada e que não cede rebotes de ataque.

Os piores momentos do Brasil contra a Espanha foram quando a intensidade, aquela característica que dessa vez não atrapalhou o ataque, fez a defesa parecer pior: foram MUITAS faltas, que levaram a Espanha a bater 33 lances-livres! Para sorte do Brasil, o time europeu fez só 66% de suas tentativas, com destaque para Pau Gasol, que fez só 5 dos 12 chutes, incluindo dois erros no minuto final, quando ele poderia fazer a vantagem do seu time pular de 1 para 3.

Com o erro, o Brasil teve uma última posse de bola para vencer o jogo, e aí a vontade, raça e intensidade compensaram um péssimo ataque. Atrás no placar, a seleção segurou a bola por muito tempo, gastando tempo do relógio sem fazer nada acontecer. Demorou para Marcelinho Huertas finalmente começar um pick-and-roll com Nenê, que acabou com um pouco recomendável arremesso desequilibrado do armador. Mas Marquinhos, inteligente, aproveitou que Nikola Mirotic o perdeu no boxout para garantir o tapinha vencedor. Nessas horas tem que montar no rebote ofensivo sem dó mesmo (não existe transição defensiva no último segundo), e deu pra entender porque Tom Thibodeau não tinha paciência com o espanhol/montenegrino no Chicago Bulls.

Nenê segue sendo o melhor jogador do Brasil desde o início da fase de preparação, e sua defesa em Pau Gasol foi chave para a vitória. Usá-lo bastante no ataque, no fim do jogo, também foi legal, embora ele como foco do ataque crie as mesmas questões que ter Huertas com a bola por muito tempo: é preciso que o resto do time se movimente, se esforce, bons passadores só são úteis se seus companheiros fazem sua parte. Alex é o melhor do Brasil nessa movimentação sem a bola, porém não é o melhor em finalizar depois que recebe o passe.

Foi bonito, foi. Foi intenso, foi. Mas é só o começo.


No outro jogo interessante da rodada do ~grupo da morte~, a Argentina superou a Croácia para se tornar o único time invicto da dupla de vencedores da estreia. No terceiro período a Argentina deu a entender que iria deslanchar, mas viu uma reação dos europeus no último quarto só pra mostrar que tá todo mundo no mesmo nível mesmo.

Embora o armador Facundo Campazzo tenha jogado muito bem e Luis Scola tenha sido o cestinha do time pela milésima vez, fica muito claro como é Manu Ginóbili o cara capaz de fazer a Argentina passar de “bom time organizado” para algo de outro nível. Neste jogo, passou só 19 minutos em quadra e viu seu time fazer fazer 15 pontos a mais que a Croácia nesse tempo. Ele teve problemas de faltas, não teve números espetaculares (13 pontos, 2 assistências), mas seus passes rápidos e infiltrações inteligentes que fazem a defesa adversária se perder.

Ah, e ele é o técnico também:

Pela Croácia eu só espero ver cada vez mais OLHARES DA MORTE de Mario Hezonja:

Tá bom, também espero ver mais de Dario Saric, que depois do toco da vitória sobre Gasol embalou com uma atuação de 19 pontos, 10 rebotes e 7 assistências contra a Argentina. O time é bom, mas a irregularidade dentro de um jogo custa caro nesse grupo.

No jogo final, que deveria ser uma lavada, a Lituânia até que sofreu um bocadinho para bater a Nigéria. Foi um sofrimento meio calculado, porém, com os europeus sempre conseguindo os pontos nas horas que parecia que a Nigéria poderia engrossar.
A coisa mais estranha e curiosa da Lituânia é como eles conseguem fazer o sistema ofensivo deles ser totalmente sobre Jonas Valanciunas e, ao mesmo tempo, não ser NADA sobre Jonas Valanciunas. Explico: existe sempre a preocupação de envolvê-lo no lance, seja num pick-and-roll, no garrafão ou forçando uma troca para que ele seja marcado por alguém mais baixo, às vezes bem perto da cesta. A Nigéria reagia com intensidade a Valanciunas, fazendo trocas e dobras para evitar que ele recebesse a bola, e então os lituanos respondiam de volta com um passe a mais, rotação de bola, para que outro pontuasse. No fim das contas o lituano participou muito do jogo, apanhou um bocado (especialmente no segundo tempo), mas saiu de quadra com míseros 10 pontos e 5 arremessos tentados. Números discretos pra quem exerce função tão central.
Ah, já são dois jogos com a Lituânia beirando os 40% de acerto na linha dos 3 pontos. São um bom palpite para melhor time em aproveitamento de longe nessa Olimpíada, o que faz a diferença.

No grupo A, a SENSAÇÃO continua sendo a Austrália, que bateu a Sérvia por QUINZE pontos de vantagem depois de ter atropelado a França na estreia. O jogo não foi tão fácil quanto o placar indica, mas nos minutos finais, quando estávamos todos preparados para ver mais um final emocionante, os australianos embalaram uma sequência insana de grandes jogadas e grandes defesas.
O MAESTRO do time foi ele, o grande Matthew Dellavedova, que de jogador mais sujo da NBA se tornou o Chris Paul do Sul no Rio. No fim da partida ele achou Joe Ingles para as bolas de 3 pontos, Aaron Baynes nas pontes aéreas e Patty Mills para o chute que acabou o jogo. Nem é piadinha com o cara secundário da NBA, ele realmente acabou com o jogo e tem sido um dos melhores jogadores do torneio:

Os outros dois jogos do grupo não tiveram a MENOR graça. A Venezuela, como já disse no podcast, é um time organizado, bem treinado e chegou aí com méritos, batendo bons times de Argentina e do Canadá no caminho. Mas não tem talento individual para bater de frente com os EUA ou as potências europeias.
O jogo do ~Dream Team~ (paguei de portal da WEB agora) contra os venezuelanos valeu mesmo pra gente ver o Paul George esquecer, por alguns segundos, que ele não está no luxuoso mundo de servos da NBA:

A partida final, entre França e a China foi um ótimo sonífero para mais um fim de dia olímpico: não é fácil assistir basquete, tiro com arco, esgrima, levantamento de peso, judô e torcer pelo nosso Brasilzão de meu deus o dia todo. Meu olho fechou assim que a França começou a abrir no segundo quarto. Acordei sem remorso e nunca mais quero ver um jogo dessa seleção chinesa.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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