[Resumo da Rodada] Chute nas bolas

Depois que o OKC Thunder venceu o primeiro jogo da série contra o Golden State Warriors, era possível pensar que o time de Russell Westbrook e Kevin Durant ia bater de frente com o atual campeão pra valer. Mas aí veio o Jogo 2 e Steph Curry liderou uma paulada sem dó que resolveu a partida antes do fim do 3º período. Tudo voltou ao normal e o Warriors é o melhor time do mundo, certo? BUM! Lá vem a série mais pirada do ano para jogar tudo para o alto: este domingo viu UMA LAVADA do Thunder sobre o Warriors, que coloca o time das 73 vitórias contra as cordas pela segunda vez no confronto.

Como é típico da análise imediata, a internet está pirando com esse confronto. Num dia o OKC Thunder se tornou o maior favorito ao título, no outro o Warriors mostrou ser mais completo. Durante o jogo de ontem, vi no Twitter o pessoal exaltando a versatilidade do elenco do Thunder e parabenizando o manager Sam Presti pelas trocas que fez. O caos chega até a quem só precisa ficar sentado batendo em teclas. Eu fico com os que não sabem nada:

O jogo começou parecendo a batalha disputada que a maioria esperava durante um bom tempo. Com altos e baixos, os dois times jogaram bem até o miolo do segundo quarto. O Warriors manteve a defesa que usou no último jogo, deixando o marcador responsável por Andre Roberson na cobertura da defesa. O problema dessa vez é que esse jogador foi o pequeno Steph Curry que, depois de cometer uma falta logo no primeiro minuto de jogo, acabou nessa função para correr menos risco de uma segunda falta comprometedora. Isso ajudou Roberson a perder a timidez.

O ala dessa vez não teve medo de participar do jogo e foi presenteado também com passes bem melhores. Vejam no lance abaixo como Roberson faz um bloqueio para Kevin Durant receber a bola, depois outro para que Durant avance, e então ele sai para receber o passe e logo acha Serge Ibaka na zona morta para um arremesso sem marcação:

Se vocês repararam, outra coisa diferente está acontecendo aí também: depois de não ter dado lá muito certo no primeiro jogo, o técnico Billy Donovan resolveu tentar de novo o seu small ball, com apenas Ibaka de jogador de garrafão, cercado de jogadores de perímetro, nesse caso Russell Westbrook, Durant, Roberson e Dion Waiters. Com um quinteto baixo e veloz, o tipo de time que foi surrado pelo Warriors todas as vezes ao longo dos últimos dois anos, o Thunder abriu 13 pontos de frente.

Mas foi só o Warriors ganhar alguns rebotes a mais e marcar umas cestas fáceis que Donovan não quis mais arriscar e logo foi para sua dupla de bigodudos com Steven Adams e Enes Kanter. Por incrível que pareça, não deu certo. A marcação de Adams em Andre Iguodala não deu resultado porque esse era, pelo menos a princípio, um daqueles dias que Iggy estava inspirado no ataque: acertou arremessos de longa distância, infiltrou, criou para os outros. Ou seja, leu a ideia do Thunder de “esconder” Adamas nele na defesa, e o fez pagar. Foi com ele em quadra que o Warriors empatou o jogo.

Na jogada abaixo Iguodala assume a função de Klay Thompson em uma jogada que eles costumam rodar em cobranças de lateral. Assim ele obriga o grande e pesado Adams a correr em círculo pela quadra e tentar passar por bloqueios para marcar uma bola de 3 pontos. Simplesmente impossível. Nem sempre Iguodala acerta, é verdade, mas dessa vez foi preciso:

Foi um interessante jogo de movimentos e contra-movimentos dos dois técnicos, de diversos bons jogadores e com várias jogadas de efeito. Tudo lindo, mas eu pauso para lembrar de uma coisa: em algum podcast dessa temporada, antes mesmo dos Playoffs, lembro de dizer que via esse time do Golden State Warriors desmontando se algum de três hipotéticas coisas acontecessem: (1) algum jogador-chave, ou todo banco, se acha grande demais e quer ser estrelinha em outra franquia, e o time não consegue reposição a altura; (2) uma lesão grave em um jogador importante ou (3) Draymond Green pira na batatinha, briga com todo mundo e estraga o clima no time mais de bem com a vida da NBA.

Isso quase aconteceu durante essa temporada, justamente em Oklahoma City, quando ele tomou uma bronca de Steve Kerr por forçar arremessos e simplesmente SURTOU no vestiário, gritando de uma maneira que jornalistas nos corredores do ginásio puderam ouvir e reportar. Ele fez mimimi, parou de arremessar, mas tudo foi curado com AQUELE arremesso de Steph Curry. O próprio Green reconheceu após o Jogo 2, ao responder questões sobre sua intensidade em quadra, que ela era “sua bênção e sua maldição”. Ele é bom porque é intenso, mas ele estraga grandes momentos pelo mesmo motivo.

Dito tudo isso, informo que pelo SEGUNDO jogo seguido, ele acertou AS BOLAS de Steven Adams numa jogada. AS. BOLAS. Se foi obviamente sem querer na partida passada, dessa vez é totalmente passível de outra interpretação. O lance é estranho e embora eu prefira acreditar que um jogador não chute o saco do outro de propósito, entendo quem vê isso como proposital: o Warriors tinha tomado 8 pontos seguidos após empatar o jogo em 40, Green deu uma chacoalhada sem controle e a elevação da perna parece além do necessário.

E se o jogo já estava difícil naquele momento, com Dion Waiters VOANDO (pois é!) e o Warriors errando tudo, ficou pior. A torcida entrou no jogo, Steve Kerr ficou maluco de raiva com a arbitragem, o elenco do Warriors parecia meio abalado e desligado olhando para o telão, brigando com os árbitros (sem lá muita convicção) e o que se seguiu foi um MASSACRE. Não há outra palavra. Esses jogos são tão táticos quanto mentais, e após esse lance do Draymond Green a coisa pendeu para o lado do Thunder nos dois aspectos.

Ao contrário do que a gente pensava (uma frase comum nessa série), a formação baixa do Thunder que citei acima, voltou e deu certo por um período longo de tempo sem apanhar na defesa. O entrosamento do Thunder nas trocas de marcação foi algo que, sinceramente, nunca tinha visto esse elenco fazer tão bem. No lance abaixo é possível ver como o Thunder não briga com nenhum corta-luz, eles simplesmente aceitam e vão trocando quem marca quem, sem deixar espaços para o Warriors atacar. Ele só aparece quando Roberson resolve arriscar ficar na frente de Draymond Green e não tem equilíbrio para interceptar o passe, mas aí Green mostra como foi a noite do Warriors depois do chute no saco…

Essa formação baixa do Thunder, além de render na defesa, acabou sendo a mais indicada para esse raro momento onde o Golden State Warriors não conseguia acertar nem os arremessos fáceis.  Como deu pra ver na continuação do lance acima, erro é sinônimo de contra-ataque, que acaba em enterrada.

A jogada abaixo mostra Draymond Green na sua pior versão, a irritada que quer resolver tudo sozinho. Ele lê seu matchup contra Kevin Durant como uma vantagem (irreal) e força uma infiltração difícil. Ele até é capaz de acertá-la, mas não sei se era o melhor arremesso numa situação onde o time precisa de uma bola de segurança. Depois, na defesa, Green recua demais, não para o drible de Waiters e deixa o armador adversário criar toda a situação para atacá-lo como quer:

Em outro lance, Draymond Green parece ainda mais fora do jogo quando simplesmente esquece quem está marcando. Vejam que primeiro ele faz certo e deixa Andre Roberson livre enquanto faz a cobertura para segurar uma possível infiltração de Westbrook, mas por que DIABOS ele defende o arremesso de Roberson com tanta agressividade? Eles QUEREM que Roberson arremesse, não é?! Mas Green esquece disso e vai tão seco na bola que o jogador do Thunder tem a chance de fazer uma das poucas coisas que sabe no ataque, aí só põe a bola no chão e acerta a bandeja:

E quando finalmente uma jogada do QUINTETO DA MORTE do Warriors dá certo, aí Kevin Durant resolve mostrar porque é um dos melhores jogadores do nosso querido planeta:

Como aconteceu no jogo anterior, mas a favor do Warriors, o Thunder precisou de apenas uns 5 minutos de vacilo do adversário para soltar sua besta interior e dilacerar com a partida. Amamos jogos disputados, mas temos que entender que quando existe poder de fogo assim, goleadas podem acontecer. Até porque depois disso, com a diferença na casa dos 20, é que caras secundários começam a se achar gênios e acertam aqueles arremessos que jamais fariam em um jogo fora de casa, perdendo por 5.

Após o jogo os jogadores do Warriors pareciam californianamente relaxados como sempre. Frustrados, mas sem clima pesado. Segundo o técnico Steve Kerr, foram desatentos e lentos na defesa, como no Jogo 1, o que novamente os puniu com MUITAS faltas e cedeu lances-livres ao adversário: 37 ao longo do duelo! Kerr também repetiu que o Warriors voltou a pecar por fugir da identidade deles: quiseram apressar algumas jogadas, forçar arremessos antes da hora, passar pouco a bola para ver se faziam o sangramento parar na marra.

Até concordo com a análise de Kerr, mas não é preocupante que ele disse a mesma coisa após aquele péssimo segundo tempo do Jogo 1? Esse é o tipo de coisa que deveria ser corrigido e pronto. O Warriors só vai jogar da maneira correta quando estiver em situações em que não pode perder? Eles se safaram de placares adversos no ano passado contra Memphis Grizzlies e Cleveland Cavaliers, mas nenhum desses times parecia tão poderoso quanto esse OKC Thunder. E nenhum parece lidar tão bem com as suas armas. Se algo deve assustar o Warriors, mais do que a diferença em 30 pontos no placar, é o fato da formação indefensável deles, o tal QUINTETO DA MORTE, não ter sido efetivo contra o quinteto baixo do Thunder.

Por fim ainda existe uma preocupação extra: será que Draymond Green vai ser suspenso? No Jogo 3 entre Toronto Raptors e Cleveland Cavaliers também rolou porrada nas bolas, e Danthay Jones recebeu um jogo de suspensão por atacar a região sensível de Bismack Byiombo. E o histórico além dessa situação recente não é boa para o Warriors. Como aponta o Sam Amick do USA Today, Dwyane Wade foi suspenso quando acertou Ramon Sessions em 2012, assim no caso do incidente de Dennis Schroeder com DeMarcus Cousins em 2103,  no de James Harden com LeBron James no fim da temporada passada e também o de Marcus Smart com Matt Bonner. O padrão da liga é ver esse tipo de lance como intencional (ou ao menos evitável) e punir com um jogo. Seria péssimo para a série porque esperamos essa época do ano para ver os melhores em quadra, mas punição é punição.

Se acontecer, veríamos o Warriors jogando sem um de seus jogadores mais importantes, fora de casa, contra um embalado Thunder para evitar um quase irreversível 1 a 3 no placar. É a chance que Durant e Westbrook esperam há muito tempo…


RODADA DO DIA

Cleveland Cavaliers @ Toronto Raptors (21h30, ESPN)

LESÃO TESTICULAR DO DIA
Um caso que não gerou suspensão, ironicamente, foi um dos mais graves dos últimos tempos. Durante essa temporada Manu Ginóbili passou quase um mês fora por uma “grave lesão nos testículos” após tomar uma joelhada de Ryan Anderson. Ele teve que ser carregado para fora da quadra e foi levado imediatamente para uma cirurgia. Encerro o post por não conseguir escrever só de imaginar a dor…

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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