[Resumo da Rodada] Desespero em Boston

Os três jogos desta terça-feira tinham cenários iguais: Celtics, Raptors e Clippers jogavam em casa e precisavam se recuperar de derrotas, também em casa, na primeira partida dos Playoffs. Não precisa nem coletar estatísticas da história da pós-temporada para saber que times que perdem os dois primeiros jogos em seu ginásio estão em maus lençóis. Parece exagero, mas a sensação de vida ou morte começa cedo nessa fase do campeonato!


O primeiro time a tentar salvar sua pele foi o Toronto Raptors, equipe mais do que acostumada a jogar essa segunda partida sob enorme pressão e que deveria bater o jovem Milwaukee Bucks. Assim como no Jogo 1, o time canadense não falhou na hora da agressividade, mas pelo menos dessa vez acertou mais chutes. O foco do ataque no primeiro quarto foi Jonas Valanciunas, pivô que foi mero coadjuvante no primeiro duelo. Todos os previews alertavam sobre como essa era uma série em que Valanciunas poderia ser bem utilizado, já que ele não seria tão explorado por um adversário que o obriga a marcar arremessadores fora do garrafão e seria defendido por uma criança muito magra. Depois de ver essa criança, Thon Maker, fazer a diferença no Jogo 1, Valanciunas resgatou seu ego com uns bons lances logo de cara.

Mas embora o pivô tenha recuperado alguma relevância no começo do jogo, foi novamente renegado depois. Sua defesa de pick-and-roll é fraca demais e mesmo quando está lá dentro do garrafão, não intimida ninguém. Veja como Giannis Antetokoumnpo nem o leva em consideração na hora de botar a bola na cesta:

No fim das contas o técnico Dwayne Casey preferiu usar Serge Ibaka como pivô ao lado de Patrick Patterson no garrafão, e também decidiu deixar PJ Tucker marcando o Greek Freak ao invés de DeMarre Carroll, que passou mais tempo no banco que na quadra. Deu certo! O ala segurou o grego a 24 pontos em 24 arremessos e Ibaka fez a diferença com 16 pontos, 7 rebotes, 6 assistências, 2 tocos e um saldo incrível de +13 com ele em quadra.

Mas o Raptors é o Raptors. Estamos nos Playoffs, eles estão em casa e claro que eventualmente tudo o que estava certo ia dar errado. A boa diferença que eles montaram derreteu em poucos minutos com muita agressividade de Giannis e alguns contra-ataques bem executados. Um improvável arremesso de 3 do grego empatou no último minuto um jogo que parecia ganho. Como disse o técnico Jason Kidd após a partida, era um jogo fácil de entregar (eles já tinham roubado um jogo fora, estavam bem atrás, poderiam relaxar), mas a equipe mostrou vontade de vencer e defesa forte nos últimos minutos:

O Raptors acabou se salvando com Kyle Lowry, esse sim livrando a sina da pós-temporada e voltando a jogar em alto nível como se fosse temporada regular: 22 pontos, 5 assistências, 3 roubos e o arremesso que MATOU o jogo. O Raptors ainda não passou confiança, mas nesse Jogo 2 tiveram ótimos momentos e viram seus três principais jogadores, Lowry, DeRozan e Ibaka, jogarem em alto nível. Ótimo sinal, precisam repetir fora de casa agora.


Quem também salvou a pele foi o LA Clippers, que igualou a série contra o Utah Jazz em Los Angeles. O time de Chris Paul dominou o jogo do começo ao fim e a impressão era de que o jogo estava sendo uma lavada. Mas se o Clippers dominava a energia do jogo, as jogadas de efeito e até o plano tático, era só olhar para o placar pra ver que o Jazz sempre se mantinha uns 6 ou 7 pontos atrás, ameaçando uma virada a qualquer momento. E não é como se a torcida do Clippers seja a mais confiante do mundo também…

O tempo entre os Jogos 1 e 2 foi bom para Doc Rivers planejar um esquema tático mais propício para essa série completamente nova sem Rudy Gobert, um dos melhores defensores da NBA. Desde o primeiro minuto de jogo o Clippers tratou de entrar no garrafão rival a qualquer custo. Foram infiltrações, as tradicionais pontes aéreas e muitas jogadas de Blake Griffin de costas para a cesta, sempre saindo com velocidade da defesa para estabelecer posição perto da cesta e logo atacar:

O plano, no papel, é bem óbvio: aproveitar que o Jazz está jogando com um time baixo e (ao menos agora) sem um grande bloqueador de arremessos, para entrar lá dentro do garrafão e puni-los com bandejas e enterradas. O plano só não deu mais certo porque o Utah Jazz começou a congestionar o garrafão, abrindo mais espaço no perímetro, e o Clippers não conseguiu a mesma precisão lá de fora. Jamal Crawford errou os 5 chutes de 3 que tentou, JJ Redick errou os 2 que arriscou e no total o time como um todo fez só 6 de 20 tiros de longa distância.

A má pontaria do Clippers de longe fez o Jazz ficar no jogo, mas os visitantes também não estavam lá muito inspirados. Enquanto Gordon Hayward (20 pontos, apenas 5/15 arremessos) e George Hill (12 pontos, 5/12 arremessos) não embalarem, o time vai sofrer demais para marcar pontos. Veremos o ajuste de Quin Snyder para proteger seu garrafão nas próximas partidas.


Mas teve um time que não conseguiu se salvar… sim, o Boston Celtics perdeu DE NOVO em casa e agora o Bulls poderá VARRER os verdinhos se vencer os dois jogos em Chicago nos próximos dias. A única outra vez que um time classificado em primeiro perdeu as duas primeiras partidas em casa para um oitavo colocado foi o Phoenix Suns de 1993, que conseguiu virar pra cima do LA Lakers depois do susto. Naquela época a primeira rodada era melhor-de-cinco jogos:

Os números contando todos os times que já começaram com um 0-2 em casa, independente da posição na temporada regular, não animam muito:

No preview dessa série nós explicamos a razão para que muita gente acreditasse que esse duelo poderia render uma zebra: o time do topo não tinha um bom histórico em Playoffs e nem contra outros bons times da sua conferência ao longo da temporada; do lado da zebra estava uma equipe que teve alguns flashes de brilho e que traz no elenco três jogadores experientes e com MUITO talento.

Mas no preview nós também NÃO abraçamos essa ideia, acreditando que o Celtics tinha um ótimo ano de experiência depois dos Playoffs do ano passado e que eles mereciam a confiança, especialmente contra um time totalmente desorganizado e sem identidade: há poucas semanas o Rajon Rondo mal jogava e o Dwyane Wade estava cortado pelo resto da temporada por lesão! Apostar no Bulls era colocar muitos ovos na cesta da “experiência e nome”, que é algo que VALE MUITO, mas que só te leva até certo ponto.

Mas o bom dos Playoffs é que você tem apenas um adversário de cada vez e pode ter uma boa estratégia só para ele. Para um time confuso e irregular como o Chicago Bulls, isso parece ter ajudado. Eles parecem ter um plano bem treinado de como parar o Celtics e seus jogadores –agora a experiência conta– estão sabendo executar bem. Qual é esse plano? Apertar, apertar e apertar o Celtics até alguém fazer uma cagada.

Quando Isaiah Thomas tenta usar um pick-and-roll para atacar a cesta, ele sofre pressão fortíssima dos dois adversários envolvidos na jogada, que tentam tirar seu arremesso, infiltração e ao menos atrapalhar o passe:

E quando o pequenininho sai da quadra o Bulls sobe a marcação até bem além da linha dos 3 pontos e simplesmente NÃO RESPEITA NINGUÉM. Eles estão fazendo um dos times que mais chuta de 3 pontos ser obrigado a infiltrar, e os verdinhos estão fazendo isso sem confiança alguma…

Costumo dizer que maldições no esporte só existem quando os envolvidos no jogo acreditam nela. Se os jogadores do Clippers acreditam que tudo dá errado com eles, certamente vão reagir mal quando estiverem numa situação limite. Neste momento não estamos falando em maldições centenárias como no beisebol, mas parece que os jogadores do Celtics (e os do Bulls!) estão acreditando no papo de que um time ainda é jovem e não provou nada e que o outro é experiente e “dá um jeito de ganhar”.  O líder da conferência está jogando com aquela hesitação de quem não está seguro que pode mesmo vencer.

O Celtics precisa ultrapassar essa barreira da confiança para ter alguma chance. Só com confiança eles podem acertar os arremessos de 3 pontos que sabem criar, passar com mais velocidade para achar os espaços e conseguir aproveitar as infiltrações, algo que não estão sendo capazes de fazer. O vasto elenco do time parece bem mais magrinho quando Marcus Smart é desafiado a arremessar (e não acerta nada!), e Jae Crowder e Jaylen Brown ficam afobados e irritados. Os times precisam ser punidos pela marcação forte que fazem em Isaiah Thomas, que, aliás, também precisa mostrar mais: ele está segurando demais a bola e demorando para tomar decisões. O ataque rápido, especialmente logo depois de receber um passe, é o que o faz ser tão difícil de ser defendido.

Mas o que vai ser um desafio mesmo para o Celtics vai ser parar o ATAQUE do Chicago Bulls. Estranho dizer isso depois dessa temporada? Sim, sem dúvida, mas é o que rolou nos dois primeiros jogos. Com atuações muito boas e agressivas de Rajon Rondo e Jimmy Butler, eles estão entrando no garrafão do Celtics com certa facilidade. Por razões óbvias, a defesa do time de Brad Stevens tem fechado o garrafão e deixado alguém menos perigoso livre, esse é o time que não sabe arremessar de longe, afinal, não é?

Mas no primeiro jogo foi Bobby Portis, que os matou com 18 pontos. Ontem foi, acreditem, Robin Lopez fez uma porrada de arremessos de meia distância para punir a defesa verdinha. É o típico lance que parece ser tudo o que a defesa quer, até que ele começa a entrar uma vez, duas, três, quatro…

Na defesa o Celtics precisa decidir se muda seus planos ou se acredita que daqui a pouco os coadjuvantes do Bulls vão começar a errar. Do outro lado eles precisam movimentar a bola com mais velocidade (e propósito) para que seus caras secundários comecem a pelo menos fazer cócegas no adversário.

Enquanto os dois times ficam decidindo suas estratégias, o Twitter lembra de como os dois times ficaram MUITO próximos de fazer uma troca por Jimmy Butler há menos de dois meses. Será que o Celtics fez bem em segurar a escolha do Brooklyn Nets e Jae Crowder, que dizem ser o que o Bulls pedia pela sua estrela?

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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