[Resumo da Rodada] Duas varridas, um joelho e uma prorrogação

O fim de semana acabou com os dois primeiros eliminados dos Playoffs. Como previsto por todos, o San Antonio Spurs varreu o Memphis Grizzlies de volta pra casa, e o Cleveland Cavaliers venceu mais uma dura batalha contra o Detroit Pistons para dar a LeBron James sua 17ª vitória consecutiva em jogos de primeira rodada.

Nada de novo no roteiro de Spurs/Grizzlies: o Spurs parece estar jogando uma partida aleatória de temporada regular, o Grizz luta a cada posse de bola. Depois de um tempo a liderança está em 5, você se distrai olhando algo no Twitter e pula para 10, uma ida ao banheiro e Boban Marjanovic está enterrando para levar a diferença do time visitante a 25 pontos. Se teve algo de diferente nesse jogo, foi a pitada de COPA LIBERTADORES. No meio do segundo quarto, caiu a energia na região central de Memphis e o jogo ficou uns 10 minutos parado até os refletores voltarem a funcionar com toda potência. Problemas elétricos ou ESTRATÉGIA MALICIOSA do vale-tudo copeiro da sudamérica? Vocês respondem.

O Spurs ganha um bom tempo para descansar e se preparar taticamente para enfrentar Kevin Durant e Russell Westbrook na próxima fase. A despedida do Memphão da temporada também teve suas emoções. Vince Carter, Chris Andersen e outros jogadores se envolveram com a torcida, que balançou seus lenços amarelos e agradeceu o esforço de um time que todos sabiam que não ia a lugar algum. O que faz essa galera pegar chuva e frio por uma derrota certa? Está aí uma torcida que gosta pra valer do seu time, algo raro na NBA de torcidas de turistas.

Após o jogo, foi marcante ver o técnico Dave Joerger se emocionar e chorar ao falar dos seus jogadores e das dificuldades da temporada. Pra gente o Grizzlies é só uma história legal do nosso time-mascote, para ele, é sua vida e seu trabalho. Contestado no começo da temporada e com a corda no pescoço, Joerger deu a volta por cima e consegue sair valorizado. Um ano comprometido por lesões poderia ser a desculpa perfeita para uma demissão, como foi com Scott Brooks no OKC Thunder, mas ao invés disso um grupo de veteranos que não precisava provar nada pra ninguém se uniu a pirralhos da D-League para mostrar algum serviço.

O elenco também conseguiu algumas coisas. Lance Stephenson, que fez 26 pontos ontem, teve seus melhores momentos desde que saiu do Indiana Pacers. Chris Andersen provou que ainda pode render alguns minutos em quadra, JaMychael Green mostrou ser um baita jogador e até Vince Carter, quase QUARENTÃO, se despede com 17 enterradas da temporada. Sempre há algo bom no meio da enfermaria Grizzlies


Dá pra acreditar que a última vez que LeBron James perdeu um JOGO (não uma série) de primeira rodada foi quando o Miami Heat deixou escapar um joguinho para o New York Knicks em 2012? Depois disso seus times varreram Bobcats, Bucks, Celtics e agora Pistons.

Embora a gente saiba que LeBron é o motor e a alma desses times, nessa série dá pra colocar boa parte do mérito nas costas de Kyrie Irving, que fez uma série espetacular. O armador do Cavs encerra os 4 jogos com médias de 27.5 pontos, 47% de acerto geral dos arremessos e obscenos 47% de acerto nos arremessos de 3 pontos. Isso inclui aquela bola matadora no Jogo 3, um arremesso do meio da quadra no último segundo do terceiro quarto do Jogo 4, e mais uma bola que decidiu a partida no minuto final neste mesmo Jogo 4.

O Detroit Pistons fez um bom trabalho em geral contra o Cavs, mas pecou por não ter margem grande para erros. Eles não podem se dar ao luxo de errar 5 arremessos de 3 pontos seguidos nos minutos finais, de não ter um reserva a altura de Andre Drummond para quando ele erra os lances-livres e precisa ir pro banco. Não tem como compensar uma INVASÃO DE GARRAFÃO quando o pivô, finalmente, acerta um deles. O Cavs pode errar porque LeBron cria pontos do nada, Kyrie faz cestas impossíveis e até JR Smith salva posses de bola onde tudo deu errado.

Não poder errar por não ter o talento necessário é mortal quando o time é feito basicamente de pirralhos estreando em Playoffs. Todos os jogadores devem estar se culpando por alguma bobagem até agora, desde Drummond e os 10 rebotes ofensivos que cedeu ao longo do jogo até Reggie Jackson, que tinha tudo para infiltrar e empatar o jogo no último segundo, mas preferiu tentar cavar uma falta num arremesso de três pontos e falhou. Fica para o ano que vem.

Apesar de Irving ter chamado mais a atenção na série, que tal esses números de LeBron James? Basicamente é só ele entrar em quadra que o jogo se transforma:


A partida disputada em Houston entre o Rockets e o Warriors pode acabar sendo a que decidiu o campeonato. Saberemos em breve após um mero raio-X. É ele que vai indicar se a lesão de Steph Curry é grave e quanto tempo ele deverá ficar longe das quadras. O lance é até meio bobo: o armador ESCORREGA no suor de Donatas Motiejunas, que havia acabado de rolar no chão, e cai de um jeito todo esquisito.

O azar é inacreditável, não dá pra ser mais aleatório que esse lance. E isso que esse foi o primeiro jogo de Curry após ter perdido as últimas duas partidas com uma outra lesão, no tornozelo, sofrida no primeiro jogo dos Playoffs. Sem piada, é de doer o coração ver uma das temporadas individuais mais espetaculares DE TODOS OS TEMPOS correr o risco de não ter um final digno, dentro de quadra, por causa disso. Vamos torcer para não ter sido nada, mas lembra muito Derrick Rose se machucando logo no primeiro jogo dos Playoffs de 2012 após ter levado o Chicago Bulls à melhor campanha do Leste naquele ano.

Após o primeiro tempo acabar empatado em 56 a 56, a saída de Curry mudou o jogo de uma maneira inesperada. O Warriors foi melhor durante boa parte do primeiro período, mas viu uma reação do Rockets, que respondeu com uma apresentação de gala de James Harden (13 pontos, 4 rebotes, 6 assistências e 4 roubos só no primeiro tempo), que de repente começou a distribuir o jogo como se fosse Steve Nash no seu auge. Foram pontes aéreas para Dwight Howard, lançamentos de quarterback em contra-ataques e jogadas bem tramadas com Michael Beasley, que veio do banco para comandar a reviravolta. Ele realmente se encontrou como esse stretch four pontuador vindo do banco, é o Mareese Speights do Rockets e vive seu melhor momento na carreira.

O Warriors cometeu erros, viu vários de seus jogadores com problemas de falta e não teve grande ajuda de Curry, que acertou somente uma das 7 bolas de 3 pontos que tentou antes de sair machucado. O jogo só foi para o intervalo empatado porque essa equipe é monstruosa de boa e Andre Iguodala estava com a pontaria certeira.

Veio a lesão no último segundo, os times foram para os vestiários e, na volta, no banco, Curry recebeu a notícia de que não iria poder voltar ao jogo. Ele agachou e começou a chorar. Uma atitude rara para quem raramente mostra emoções, mas logo ele foi abraçado por Draymond Green, que disse para ele ir para o vestiário, para que ninguém o visse assim, e garantiu que o time venceria o jogo. O que se seguiu foi um dos maiores massacres dos últimos tempos: o Warriors marcou QUARENTA E UM PONTOS no 3º período, transformou um jogo empatado em uma surra de 20 pontos. No caminho, sem seu melhor arremessador em quadra, quebrou o RECORDE DA HISTÓRIA dos Playoffs com 21 bolas de 3 convertidas em um jogo. O Rockets apenas olhou, de queixo caído, a defesa feroz, os rebotes e as trocas de bola no contra-ataque.

Não sei se rola título, é possível que não dê nem pra bater o LA Clippers, mas é impressionante que eles sejam capazes de tudo isso sem seu melhor jogador em quadra. O clima no vestiário, segundo narrado pelo Ethan Sherwood Strauss da ESPN, era um misto de preocupação, concentração e foco. Andrew Bogut mandou a rela: “Não quero ser insensível com Steph, mas ainda temos um jogo pela frente e queremos vencer”.


Para fechar o domingo falamos da melhor série desta primeira rodada, o duelo entre Boston Celtics e Atlanta Hawks. Desta vez com bônus: PRORROGAÇÃO e vitória do Celtics. Cada time venceu os dois jogos que vez em casa, mas ambos passaram perrengues para isso. Os verdinhos ficaram bem perto de perder na noite de ontem, mas conseguiram se salvar e nos salvar: ao menos um duelo tem que ir longe nessa primeira rodada!

O nome da partida, até os minutos finais pelo menos, foi Paul Millsap. Lembra que disse no preview da série que ele era o tipo de jogador que poderia decidir um jogo com uma atuação de 40 pontos? Foi ontem. Meteu 45, acompanhados de 13 rebotes, 2 roubos e 4 tocos. Apenas o 9º jogador da história dos Playoffs a somar 45+13 num jogo. Pena que foi o único a aparecer no ataque ontem para o time…

A atuação de Millsap fica com uma mancha, porém, porque ele foi incapaz de finalizar o serviço no último quarto. Com o jogo praticamente empatado, a torcida pegando fogo e todo mundo nervoso, o cestinha da partida estava sendo marcado por… Marcus Smart? Que Brad Stevens gosta de fechar jogo com seu SUPER SMALL BALL de jogadores anões em todas as posições, a gente já sabe, mas ter as BOLAS de deixar um armador no mano-a-mano com Millsap, nos minutos finais de um jogo que, se perdido, seria praticamente o fim da temporada verde? Isso foi surreal. Mas vejam só, o Hawks tentou 10 arremessos onde Smart era o marcador principal de quem executou o chute. O resultado foi esse aqui: Bazemore 0/3, Korver 0/1, Sefalosha 0/1, Millsap 1/5.  UM acerto em DEZ arremessos. E nem estamos contando as vezes que Smart defendeu tão bem que o Hawks nem conseguiu colocar a bola na mão de seu cestinha.

O esforço defensivo do Hawks ainda quase que foi em vão porque Jeff Teague, que vinha tendo um jogo bem ruim e estava encostado no banco, voltou no minuto final para incorporar ele, o PLAYOFF TEAGUE™. Foram só 4 arremessos certos em 18 tentados, mas dois dos precisos foram de 3 pontos, para virar a partida, no minuto final:

Não fosse uma bandeja de Isaiah Thomas a 10 segundos do fim, Teague seria o herói de Atlanta hoje. Ele ainda teve mais uma chance, mas aí esbarrou na grande parede do Hawks no ano, vencer nos segundos finais:

Essa aberração de arremesso final de Teague foi o DÉCIMO TERCEIRO arremesso errado seguido do Hawks nessa temporada em situações de ganhar ou empatar um jogo no último segundo. E essa foi a NONA derrota seguida do time em prorrogações. A partir da décima está oficialmente liberado o uso do verbo “amarelar”.

Além dos dois times ficarem seguidamente tendo bons momentos e, logo depois, respondendo com coisas novas, fica tudo mais interessante quando não sabemos quem vai ser o herói do dia. Ontem Jonas Jerebko e Smart chamaram a atenção, mas Evan Turner e Isaiah Thomas já brilharam. Pelo Hawks, todos os titulares já tiveram seus momentos de heroísmo, e até Mike Scott e Dennis Schröder já viveram algum protagonismo. Impossível prever qualquer coisa nessa série onde todo mundo brilha, erra e onde todo mundo é capaz de defender todo mundo e não existem mismatches.

Placar geral da série até agora em jogos: 2 a 2. Em pontos está 389 a 388 para o Hawks. Cheirinho de Jogo 7!


RODADA DE HOJE

Charlotte Hornets  @ Miami Heat (20h, League Pass)

Dallas Mavericks @ OKC Thunder (21h, SporTV)

LA Clippers @ Portland Trail Blazers (23h30, SporTV)


UFC DA RODADA

Steph Curry dá uma de Carlos Boozer e comemora uma cesta socando a cara do árbitro

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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