Resumo da Rodada – Finais da NBA: Jogo 5

Maior símbolo do Toronto Raptors nesta década e protagonista de todo o processo de reconstrução da equipe nos últimos anos, Kyle Lowry teve nas mãos o arremesso do título. Não só da mera vitória no Jogo 5, mas de todo o campeonato. Mas Draymond Green correu como se sua vida dependesse disso, raspou a unha na bola, desviou sua trajetória e salvou a temporada do Golden State Warriors. E quer saber? Essa deve ser a terceira ou quarta coisa mais comentada hoje, um dia depois de um dos jogos mais memoráveis da história das Finais da NBA.

A grande notícia do Jogo 5 era que Kevin Durant iria retornar após 33 dias longe das quadras desde aquela lesão na panturrilha durante a série contra o Houston Rockets. Tudo indicava que ele não estava completamente pronto para o retorno, mas já estava treinando e a decisão foi a de arriscar. Segundo o técnico Steve Kerr, Durant não teria restrição de minutos, mas provavelmente iria mesclar períodos curtos de jogo e de descanso.

Era a arma do Warriors para tentar mudar uma série em que nada caminhava a seu favor. Foram quatro jogos de domínio do time canadense, que agora iria voltar para casa com uma torcida apaixonada, elenco confiante e um país inteiro esperando a confirmação do primeiro título de um time do país na NBA.

O retorno do Velho Warriors

A presença de Durant fez Steve Kerr imediatamente correr para a sua formação favorita, o QUINTETO DA MORTE com Steph Curry, Klay Thompson, Andre Iguodala, Kevin Durant e Draymond Green. A formação sem um pivô tradicional é uma das coisas que fez o Warriors ser o Warriors ao longo dos últimos cinco anos. Antes era com Harrison Barnes no lugar de Durant, mas a ideia é a mesma: um grupo leve, rápido e agressivo em que todo mundo pode marcar qualquer adversário, as dobras de marcação podem ser rápidas e o ataque pode ser mais espaçado, leve, fluído e difícil de ser defendido.

Com a lesão de Kevin Durant e a ausência de outros bons alas no elenco, o Warriors até agora na série não tinha usado um quinteto mais baixo em qualquer partida. Até porque eles teriam que fazer isso e lidar com Marc Gasol, Pascal Siakam e Serge Ibaka lutando como doidos pelos rebotes de ataque.

Os primeiros seis minutos do Warriors no jogo foram os melhores do time na série, talvez com exceção àqueles 18-0 que fizeram no terceiro período do Jogo 2. Os passes saíram rápidos, Curry teve espaço para se movimentar sem a bola, o garrafão não estava entupido de jogadores e o time conseguiu jogar com velocidade. As primeiras cestas do jogo, especialmente a primeira de Durant, mostram a movimentação constante, a habilidade de sair rápido da defesa para o ataque e como os espaços aparecem dentro de uma defesa que até outro dia parecia impenetrável:

Defensivamente o Warriors teve dificuldade de lidar com Marc Gasol, que venceu o duelo individual com Draymond Green para fazer pontos fáceis e dominar os rebotes. Mas de certa forma isso também é um pouco como o velho Warriors: jogue a bola no seu pivô e deixe ele brincar, vamos ver quem leva essa. Alguns minutos depois o Warriors já começava a abrir vantagem no placar independente dos pontos do espanhol.

A diferença só foi diminuir quando o jogo voltou a ficar parecido com o resto da série. Então primeiro Iguodala foi para o banco, logo depois Durant e aí entraram Kevon Looney, Shaun Livingston e os problemas das quatro partidas anteriores voltaram ao Warriors. Agora Curry tentava infiltrar e lá, ao invés de espaço, se encontravam algumas dúzias de braços incomodando seus dribles e passes. Os desperdícios de bola começaram a se acumular e a virar contra-ataques para o Raptors.

Durant acabou voltando ainda no primeiro quarto assim que o Raptors empatou a partida. Durant impediu rebotes ofensivos, deu toco em Pascal Siakam e com ele em quadra o Warriors abriu os seis pontos de vantagem que levou para o período seguinte. No fim das contas foi esse o único quarto vencido pelo time em toda a partida!


A queda de Kevin Durant

Após a pequena pausa entre quartos, Durant se sentiu pronto para começar o segundo. A decisão foi importante porque ele dá poder de fogo para um grupo que estava sofrendo nos últimos jogos. O quinteto de quatro reservas mais Klay Thompson estava sendo amassado pelo Raptors nos últimos jogos e a mera presença de Durant é mais que só  “titular extra” no grupo, mas um novo arsenal de jogadas que podem ser executadas.

Uma delas é o bom e velho MANO-A-MANO. E foi assim que ele atacou Serge Ibaka no fatídico lance…

Um close do lance é até doloroso de assistir, mas dá detalhe de como foi forte a lesão:

A princípio a torcida do Toronto Raptors vibrou com o lance, o que é de uma babaquice sem tamanho e que não condiz com a fama dos canadenses serem bonzinhos e incapazes de ofender alguém, mas logo Kyle Lowry, Danny Green e Serge Ibaka pediram para a galera baixar a bola e Durant pode deixar a quadra sob aplausos.

Antes do jogo houve uma discussão sobre a chance de Kevin Durant se machucar. A repórter Doris Burke disse antes da partida que Steve Kerr afirmou que não havia “preocupação de lesões a longo prazo ou problemas com o tendão de aquiles” e que havia apenas o risco dele sentir dores na panturrilha já lesionada. Não demorou muito depois do fim do jogo para vir a notícia dura: a lesão é nova, aconteceu mesmo no tendão de aquiles e tudo indica que Durant deve passar ao menos os próximos NOVE MESES de molho. O golpe foi pesado e acusado por Bob Myers, General Manager do Golden State Warriors que estava segurando o choro ao falar da situação após a partida:

Essas coisas não têm necessariamente um culpado, mas é impossível que Myers não se sinta mal com o ocorrido. No Jogo 3 o Warriors barrou Klay Thompson, que queria jogar, por causa de uma lesão muscular na coxa. Então é claro que também foram cuidadosos com Durant, que tem vontade própria e sua própria equipe de conselheiros e médicos que poderiam ter barrado sua volta. É óbvio que ninguém imaginava isso acontecendo e acredito que até imaginavam que uma lesão séria não fosse um risco real, mas foi o que vimos ao vivo no meio de um jogo que poderia decidir o título da NBA.

De pé, Durant foi levado ao vestiário com a ajuda de Andre Iguodala e Steph Curry, que disse apenas ter sentido que “era a coisa certa a ser feita” ajudar o amigo no percurso. O discurso dos jogadores e de Steve Kerr após o jogo mostram um misto de orgulho, culpa e tristeza por terem visto Durant sacrificar o corpo para tentar ajudar um time em apuros. E ver ele jogar tão bem nos poucos minutos que ficou em quadra dá aquele gostinho do que poderia ser e não vai.

O impacto da lesão vai além do imediatismo: Durant era um dos principais nomes do mercado de Free Agents. New York Knicks, Brooklyn Nets, LA Clippers e tantos outros times já estavam se coçando para uma oferta ao jogador. Se confirmado o rompimento do tendão de aquiles, Durant deve voltar apenas no fim da próxima temporada regular e nem sabemos em qual condição física. DeMarcus Cousins está aí na nossa frente para mostrar como esse retorno é ingrato. O FiveThirtyEight fez há algum tempo um levantamento para mostrar como a recuperação é lenta e que o primeiro ano pós-lesão costuma ser sofrido. E aí, que time vai oferecer 30 milhões de dólares por ano para um jogador de quase 31 anos com um tendão de aquiles rompido?

É bem possível que Durant simplesmente use seu Player Option no contrato para ficar mais um ano no Warriors. A decisão é só dele, o time não pode contestar nem se quisesse e ele garante 30 milhões de dólares antes de virar Free Agent na próxima temporada. Ou seja, o efeito dominó desse tendão vai longe no mercado da NBA.


Frustração e Disciplina

A resposta pós-lesão do Golden State Warriors foi contraditória e ao mesmo tempo compreensível. O time mesclou momentos de pura frustração com outros de disciplina tática. Às vezes víamos ataques muito bem trabalhados onde Steph Curry usava diversos corta-luzes para ficar livre na linha dos três, mas o time time também cometeu cinco desperdícios de bola só no segundo quarto e QUINZE no jogo. Na defesa, inúmeras faltas e apagões deixaram o Raptors seguir pontuando mesmo nos seus piores momentos.

Cansamos de ver situações em que alguém no Warriors ficava reclamando de falta no ataque e simplesmente não voltava para a defesa, uma atitude inaceitável para qualquer time que deseja vencer um jogo de Playoff. No lance abaixo vemos que Klay Thompson reclama (com razão) de uma falta no seu arremesso e não volta nunca para marcar. Combine isso com uma defesa preguiçosa de Steph Curry e Fred Van Vleet tem um arremesso completamente livre que erra por puro azar:

Outro personagem importante no jogo pós-Durant foi DeMarcus Cousins. O pivô não só sumiu do time titular com a volta do companheiro como nem entrou no jogo até a lesão: primeiro veio Kevon Looney do banco, depois Andrew Bogut. As falhas defensivas de Cousins nos jogos anteriores parecem ter pesado e ele foi chutado da rotação.

Mas a saída de Durant mudou tudo: sem poder de fogo no ataque, Kerr buscou Cousins no banco e mandou ele ir ganhar sua vaga de volta. O pivô pisou em quadra e fez SETE PONTOS seguidos em menos de um minuto e meio para dar vida a um time que tinha tudo para entrar em desespero. Logo depois ele deu um passe bonito para uma cesta de Draymond Green e o Warriors respirou por alguns minutos.


Raptors sempre no jogo

Já o Raptors teve seus momentos de nervosismo e reação. No primeiro tempo o time só acertou duas bolas de longa distância (as duas de Marc Gasol, por incrível que pareça) mesmo que várias tenham livres e bem construídas. Na defesa, Danny Green sofreu perseguindo Curry e Fred VanVleet, quando entrou no seu lugar, cometeu duas faltas no armador do Warriors enquanto ele arremessava de três pontos. Também um erro imperdoável para quem quer bater um adversário tão difícil.

Por outro lado, o Raptors tem marcado esses seu Playoff por muita resiliência e paciência. Mesmo nos piores dias dos seus arremessos eles conseguem não sofrer grandes sequências de pontos, não ficam muito atrás no placar e dão um jeito de sempre ficar a alguns bons minutos de se recuperar no placar. Ontem isso se deu na base de muitos lances-livres e rebotes ofensivos: o Raptors cobrou VINTE E SETE lances-livres (13 a mais que o Warriors) e pegou 13 rebotes de ataque. Depois de um Jogo 4 preciso nos arremessos de média e longa distância, o Raptors meteu 54 pontos dentro do garrafão no Jogo 5! Eles dão um jeito.

Mas mais impressionante é como o time acerta essas coisas sempre na hora certa. Responderam rápido quando Durant saiu de quadra no primeiro período e no terceiro e quando chegaram a ficar 14 pontos atrás, responderam com uma sequência de 10 a 0 para não deixar a maionese desandar. Méritos aqui para Kyle Lowry, que voltou a ser agressivo e aproveitou todas as chances que teve de atacar Kevon Looney ou DeMarcus Cousins em infiltrações:


 

Kawhi Leonard e o Pedido de Tempo

Vivo no jogo, o Raptors chegou nos últimos minutos do último quarto precisando de uma pequena explosão ofensiva para virar o placar. Ela veio das mãos do sempre genial Kawhi Leonard, é claro. Em quatro posses de bola consecutivas ele fez duas bolas de 3 pontos e infiltrou duas vezes para acertar arremessos curtos. Os lances foram DOMINANTES: ele fez parecer que Andre Iguodala, DeMarcus Cousins e Klay Thompson são juvenis. O clima era de título:

Reparem bem no placar. De repente seis pontos de vantagem, pouco mais de TRÊS MINUTOS no relógio, torcida enlouquecida e o Warriors com dificuldade de encontrar arremessos no ataque e sem saber o que mais jogar para cima de Kawhi Leonard. Discreto em boa parte do jogo, às vezes jogando até de forma coadjuvante, Kawhi não tinha colocado o jogo debaixo do braço até então. E com Serge Ibaka de novo arrasando no garrafão, com Van Vleet finalmente quente de três pontos e Lowry atacando os mismatches, era complicado para o Warriors fazer aquelas dobras de marcação exageradas e no começo das posses de bola que vimos nas primeiras partidas.

Depois dos arremessos acima, Steph Curry tentou uma bola de 3 pontos, errou e então o técnico Nick Nurse surpreendeu com um pedido de tempo. Normalmente é o time que está perdendo que pede para parar o jogo durante uma sequência dessa, mas dessa vez foi o cara que acabou de conseguir a virada que quis conversar. Por que? Nurse responde:

O que ele diz é que o time ainda tinha QUATRO tempos para pedir, mas que os times só podem pedir dois deles nos últimos três minutos de jogo, então dois iriam expirar. Ele decidiu então parar a partida para que o time respirasse um pouco. Eu não acho a ideia absurda: entendo que dá vontade de nunca parar quando as coisas estão dando certo, mas às vezes é melhor conter o embalo pedir uma jogada bonitinha vinda de um tempo ao invés de deixar alguém “só ver se ainda está quente”. Por outro lado, é preciso perceber que o adversário também está cansado e precisando respirar e que há o risco de um ajuste do outro lado aparecer após essa parada.

Após o tempo Kawhi Leonard de novo pegou a bola e atacou sozinho, mas dessa vez Klay Thompson foi mais preciso, disciplinado e contestou de maneira magnífica o arremesso do rival. O Warriors estava vivo.


A Virada

Precisando de pontos para logo empatar o jogo, Steve Kerr voltou do tal pedido de tempo com Quin Cook no lugar de Iguodala. Mais cedo Cook também havia sido o escolhido para substituir Cousins no único momento da série em que o Warriors jogou com seu quinteto baixo mesmo sem Kevin Durant em quadra.

A jogada ensaiada que vem para eles é precisa: Steph Curry finge um pick-and-roll com Draymond Green para atrair a marcação dupla. Enquanto isso o próprio Green corre para fazer um corta-luz para Klay Thompson, que recebe a bola e ao invés de arremessar usa um novo corta-luz do companheiro para ficar livre e cortar a diferença. Bom uso de Cook,  arremessador competente, na zona morta para prender a atenção de Norman Powell:

No ataque seguinte é a vez de Curry fazer seu estrago e empatar o jogo. Já com Iguodala de volta, Curry usa um corta-luz de Cousins para receber a bola na linha dos três pontos e meter um arremesso difícil. Marc Gasol não dobra para não deixar o pivô rival livre sob a cesta, e Klay ocupa outros defensores do outro lado da quadra para que ninguém embole a quadra:

Por fim, Curry usou toda sua GRAVIDADE para criar o arremesso final. Vejam como os cinco jogadores do Raptors estão fechando o garrafão quando ele infiltra pelo lado direito, aí os passes VELOZES de Iguodala e Green conseguem achar Klay Thompson livre do outro lado da quadra para fintar Kawhi Leonard e virar o jogo:

O minuto depois disso não foi sem drama. Marc Gasol errou uma bandeja, o Warriors cometeu um turnover ao VOLTAR QUADRA e Kyle Lowry cortou a vantagem para um ponto com uma infiltração sobre DeMarcus Cousins. Depois disso o próprio pivô do Warriors fez uma falta de ataque bem boba antes do Raptors ter sua última posse de bola. Kawhi Leonard tentou atacar a cesta, mas o Warriors dobrou a marcação sem medo dessa vez com Klay e Iguodala, obrigando o ala a passar a bola para VanVleet, que então achou Lowry para um arremesso difícil que foi desviado levemente por Draymond Green. FIM DE JOGO!


E agora?

A decepção do Toronto Raptors é gigantesca. Tinham vantagem no placar e no moral a três minutos do fim de um jogo em casa. Deixaram escapar a chance e agora precisam de novo vencer o atual bicampeão fora de casa ou então enfrentar o CAOS que é todo Jogo 7. Enquanto o isso o Golden State Warriors sobrevive aos trancos e barrancos: Kevon Looney sentiu tanta dor na clavícula quebrada que não voltou ao jogo depois que saiu no terceiro quarto, a lesão de Durant deixou todo mundo com clima de velório e o bom momento de Cousins no primeiro tempo foi logo apagado pelos erros defensivos no final. Simplesmente falta elenco.

Mas apesar da frustração o Raptors deve manter a frieza e saber que seu plano está dando certo. O time tem sido o melhor ao longo da série, o grupo está mais inteiro e o Warriors segue com problemas de encontrar um quinteto de confiança, de impedir bons ataques do Raptors e de criar com consistência no ataque. Deu pra sobreviver uma vez, mas dá mais duas? A esperança de mudança deles era Kevin Durant, que agora não volta mais.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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