Diz a lenda que os Playoffs são aquele momento onde as estrelas devem jogar como estrelas. Não quer dizer que é a hora de não tocar a bola para ninguém e querer resolver tudo (viu James Harden!), mas é quando ele deve ser sempre protagonista. Os adversários são mais difíceis, estão mais bem preparados e qualquer derrota pode ser fatal. Não dá pra sossegar.
Depois de dois jogos bem mais ou menos, era a hora de Isaiah Thomas mostrar que era a estrela desse time do Boston Celtics. Ano passado ele foi um interessante achado, a um bom preço, do General Manager Danny Ainge. Nesta temporada, virou All-Star. Faltava um grande momento nos Playoffs. Pois foi num jogo-chave, em que a derrota significaria eliminação certa, que o baixinho fez um dos melhores jogos de sua carreira: 42 pontos, 5 bolas de 3 pontos e apenas um turnover. Super agressivo com a bola na mão, Thomas em muitos momentos do jogo deixou Marcus Smart ou Evan Turner, que virou titular, iniciarem boa parte dos lances. Ele estava lá para fazer pontos.
Em uma época onde todo mundo joga em mais de uma posição, e num elenco com outros criadores de jogadas, não me incomoda que um armador jogue pensando mais em pontuar do que em criar para os outros. Isso só cria um perigo: ou ele acerta os arremessos, ou sua contribuição para o time é nula. Na noite de sexta-feira, isso não foi um problema. Liderado por Thomas, o Boston Celtics venceu o primeiro quarto por 37 a 20. No jogo 2, a marca dos 37 pontos havia sido alcançada só no final do SEGUNDO QUARTO! O único ponto ruim do jogo do armador foi a agressão IDIOTA sobre Dennis Schröder. Uma suspensão poderia custar a série…
A defesa do Boston Celtics, uma das melhores da temporada, ainda vive altos e baixos na série. Em alguns momentos se perderam nas trocas de passes, em outros foram batidos no mano-a-mano, especialmente por Jeff Teague (23 pontos) e Dennis Schröder (20 pontos), que fizeram bandejas quando tiveram vontade. Por outro lado, FECHARAM o garrafão no momento crucial da partida: no último quarto, após o Celtics ter perdido todos os 17 pontos que tinha construído de frente, se recuperaram numa sequência de jogadas impressionantes. Primeiro Paul Millsap errou uma bandeja fácil após ser incomodado pelo MINÚSCULO Isaiah Thomas, logo depois Al Horford tomou um TOCAÇO de Marcus Smart em uma bandeja que parecia certa. Na posse seguinte, Teague não conseguiu aproveitar um mismatch contra o desengonçado Jonas Jerebko, outro que virou titular, e deixou o relógio de posse de bola estourar.
A jogada de Smart, aliás, é um resumo da EXPERIÊNCIA SMART: ele acha que arremessa bem e não está perto disso, mas é capaz das jogadas defensivas mais impressionantes do planeta
Ele também se consagrou ontem com o MELHOR FLOP DA TEMPORADA! Como bem disse Kyle Korver após o jogo, “eu não sou tão forte assim”:
Marcus Smart still doing what he does best…. https://t.co/LC8nqciqr5
— Kansas Jayhawk Fans (@FansOfKU) April 23, 2016
Não faltou esforço ao Boston Celtics, mesmo quem não estava bem no ataque contribuiu na defesa. Melhor exemplo foi Jae Crowder, que DE NOVO está mais para o lado Tony Allen do espectro de arremessos. Foi só 1 acerto em 11 tentativas, mas devidamente compensado por 3 roubos de bola e 8 rebotes. A batalha dos rebotes, aliás, ficou mais igual dessa vez: 7 ofensivos para os dois lados, 37 a 34 nos de defesa para o Celtics.
No primeiro jogo de Playoff realizado em Detroit nesta década, o time da casa de novo fez jogo duro, mas de novo foi dominado pelas super estrelas do Cleveland Cavaliers no último quarto. Lembro claramente de escrever os Resumos da Rodada dos Playoffs do ano passado e de sempre falar as mesmas coisas do duelo Cavs/Celtics: o jogo parecia disputado, com estratégias interessantes dos dois lados, mas um dos times tinha muito mais talento para fazer a diferença. E geralmente o fazia no quarto final. Dá pra copiar e colar tudo aqui.
Se a diferença de talento bruto é clara, ficou ainda mais quando, no período final, o técnico Stan Van Gundy foi obrigado a tirar Andre Drummond (17 pontos, 7 rebotes) de quadra porque ele estava sofrendo faltas propositais e, claro, errando bisonhamente seus lances-livres. Não ter Drummond em quadra incomoda nos rebotes de ataque e defesa e tira espaço de Reggie Jackson nos pick-and-rolls, é muito prejuízo para um time com uma margem de erro tão pequena. O grande lance do POETA na partida foi, no fim das contas, uma bela de uma cotovelada na JUGULAR de LeBron James. Pena que LeBron é feito de titânio, seguiu no jogo e dominou a partida [bocejo] de novo.
O SBNation fez um texto com uma compilação divertidíssima: uma década de jogadores secundários que se envolveram em confusões de trash talk com LeBron James. DeShawn Stevenson o chamou de ‘superestimado’ nos seus tempos de Washington Wizards, Brandon Jennings garantiu vitória do Milwaukee Bucks sobre o Miami Heat, Joakim Noah mandou um “still a bitch” e Lance Stephenson teve o infame SOPRO DA MORTE.
O assunto veio à tona porque o novato Stanley Johnson resolveu abrir o bico: disse que ele havia entrado na cabeça de LeBron, que o incomodava e que eles eram iguais dentro de quadra. O pirralho esqueceu que todos esses citados acima têm uma coisa em comum: perderam. Quem teve sucesso marcando LeBron James nos últimos anos, como Kawhi Leonard e Andre Iguodala, são caras dos mais quietos e disciplinados da NBA. Ficar quieto, focado e RALAR A BUNDA tem dado muito mais resultado que um mero trash talk contra o King James.
O Detroit Pistons sofreu com as bolas de 3 do Cavs e cederam 8 rebotes de ataque a Tristan Thompson, mas o time fez seu melhor jogo na série. Destaque especial para os míseros 7 turnovers do time ao longo do jogo todo, que foi a chave para se manter próximo no placar, e para a sensacional defesa de Kentavious Caldwell-Pope sobre Kyrie Irving. O potencial defensivo do trio Caldwell-Pope, Stanley Johnson e Tobias Harris é imenso, mas ainda fica mais no mundo das ideias do que na realidade.
Na jogada que sacramentou a partida, quando o Cavs abriu 7 pontos de frente em uma jogada onde só tinham 0.7 do relógio de posse de bola para arremessar, aconteceu uma clara falta de comunicação entre Aaron Baynes (preocupado demais em não deixar a cesta livre para LeBron), Tobias Harris (que ficou quieto sem apontar quem deveria ficar com Kyrie após parar no bloqueio) e Marcus Morris (que não entendeu ainda o que era pra fazer).
É possível para o Detroit Pistons conseguir roubar uma vitória em casa e pelo menos não ir embora dos Playoffs tão rápido, mas para isso vão precisar de algumas coisas a mais. A primeira é deixar Andre Drummond mais tempo em quadra, para apanhar menos nos rebotes. A segunda é ver Reggie Jackson ter um dia de Isaiah Thomas e dar um boost ofensivo para a equipe. Ele não jogou mal na série, mas também passou longe de ter uma partida fenomenal. Na atual diferença de qualidade entre esses dois times, falta o sensacional no Pistons.
Lembra da excelente fala de Matt Barnes sobre o último duelo entre San Antonio Spurs e seu Memphis Grizzlies? O ala disse que a equipe foi a um tiroteio armada apenas com uma COLHER. O pessoal da comunicação da equipe e criou uma campanha dizendo que agora eles vão levar TUDO O QUE TEM. O que inclui um garfo, uma faca sem ponta, um canivete e, claro, uma colher.
Everything we got! #WeHungry #BelieveMemphis pic.twitter.com/IMqsn0PSZD
— Memphis Grizzlies (@memgrizz) April 22, 2016
O Memphão da massa conseguiu nos orgulhar nesse Jogo 3. É ÓBVIO que perderam, mas fizeram tudo o que foi possível para disputar boa parte do quarto período com o jogo quase empatado. Em vários momentos parecia até que os times estavam no mesmo nível, mesmo que um precisasse do JaMychael Green para fazer seus pontos e o outro de LaMarcus Aldridge.
Os três primeiros quartos acabaram quase empatados, vantagem de 71 a 70 para o Grizzlies. Essa superação do time se deu principalmente pelo quase empate na briga dos turnovers (9 do Grizz, 8 do Spurs) e especialmente pelos rebotes de ataque, onde o time da casa somou DOZE em 3 quartos, contra 5 do Spurs. Não à toa o o Grizzlies conseguiu 18 pontos de segunda chance no jogo contra UM, apenas UM, do Spurs. Não fosse um rebote ofensivo que virou lance-livre, o Spurs não teria marcado pontos de segunda chance num jogo inteiro! Não lembro disso acontecer antes, muito menos vindo de um time que VENCEU a disputa.
De qualquer forma, no último quarto o Grizzlies sofreu com a defesa mais intensa do Spurs e com a pressão de ter que fechar o jogo. Após errar pouco ao longo do jogo, cometeu 5 turnovers em poucos minutos e apanhou nos contra-ataques. A jogada símbolo do quarto, porém, nem foi um turnover propriamente dito, só uma decisão imbecil. Lance Stephenson forçou um arremesso de 3 pontos de muito longe, horrível, que deu bico de aro. Ao invés de voltar para a defesa, deu alguns passos para frente e fez cara de tonto. Enquanto isso, Kyle Anderson, que havia contestado o arremesso, já tinha corrido para o ataque, onde recebeu um passe de David West para enterrar a redonda.
Segue a prova do crime:
O nome do jogo foi Kawhi Leonard, que fez APENAS 32 pontos, 7 rebotes, 6 bolas de 3 pontos, 5 tocos, 4 roubos de bola e NENHUM turnover. O jogo foi lento e o Grizzlies, mesmo com as dúzias de rebotes de ataque, deu apenas 82 arremessos. CINCO deles foram destruídos por Leonard, outros 4 nem aconteceram porque o melhor jogador de defesa do ano roubou a bola antes. E ele, sozinho, acertou mais arremessos de longa distância que todo o time de Memphis. Seus 13 pontos no último quarto quase igualaram os 16 que o TIME TODO da casa fez nos últimos 12 minutos. Se isso não é decidir um jogo, não sei o que é. O moleque é monstruoso.
O que o Memphis Grizzlies ganhou no jogo? JaMychael Green está fazendo seu nome na NBA, Matt Barnes, Vince Carter e Zach Randolph ganham a admiração pelo esforço infinito. Mas é o mascote SuperGrizz que deu show:
GRIZZ DON'T DO IT! OH MY GOODNESS!!! pic.twitter.com/pf4fytPSVu
— Phillip Dean (@PhillipDean1) April 23, 2016
RODADA DE HOJE [23.4]
Toronto Raptors @ Indiana Pacers (16h; League Pass)
Miami Heat @ Charlotte Hornets (18h30; SporTV)
OKC Thunder @ Dallas Mavericks (21h; ESPN)
LA Clippers @ Portland Trail Blazers (22h30; SporTV)
VERGONHA DO DIA
Segundo o repórter Jason Lieser, que cobre o Miami Heat, um jogador da equipe TEM CERTEZA que o nome do armador do seu time é GORDON Dragic. Não Goran, Gordon. E não foi uma coisa que saiu errado uma vez, ele acha isso mesmo.
Wasn't a misspeak, either. This person definitely thinks he has a teammate named Gordon.
— Jason Lieser (@JasonLieser) April 22, 2016