[Resumo da Rodada] Kyle Lowry foi herói por um segundo; Warriors é indestrutível

Um dos temas destes Playoffs é a montanha-russa mental e emocional do Toronto Raptors. Pelo terceiro ano seguido, perdem jogos importantes em casa e parecem APAVORADOS nos momentos mais tensos da pós-temporada. De alguma forma, porém, sobreviveram à primeira rodada e, depois de 15 anos, o Canadá recebeu nesta terça um jogo de segunda rodada. O que vimos no Jogo 1 da série entre Raptors e o Miami Heat, porém, foi mais do mesmo: a torcida mais envolvida da NBA, os jogadores mais assustados e sequências inacreditáveis de “não sei como eles conseguiram” e “é claro que não iam conseguir”.

Aconteceu desde o começo do jogo, quando o Raptors iniciou o jogo com o herói do Jogo 7, o novato Normal Powell, como titular no lugar de Patrick Patterson. O técnico Dwane Casey abraçou o small ball, assim como fez o próprio Miami Heat desde que deu à Luol Deng a posição 4, e os dois foram para a briga com apenas um homem de garrafão cada. Aparentemente confiantes e com um time veloz, o time do Canadá partiu pra cima do Heat e fez pontos rápidos atacando a cesta e até conseguindo faltas em Hassan Whiteside. Sem o pivô adversário podendo ser agressivo nos tocos, parecia o cenário ideal para DeMar DeRozan e Kyle Lowry infiltrarem sem parar, identidade deles ao longo do ano.

Até porque as bolas de 3 dos dois nesses Playoffs são, estatisticamente, uma ideia pior do que mandar Andre Drummond para a linha de lance-livre:

Mas é claro que o Raptors, que já havia perdido os seus últimos SEIS jogos de abertura de série, não iam simplesmente fazer o que todo time decente faz e começar uma disputa com o pé direito. O sistema ofensivo foi para o espaço, e no terceiro quarto o disputado jogo virou totalmente para o lado do Heat, que contou com Goran Dragic inspirado e Luol Deng, de novo, com pontaria perfeita. O maior pesadelo do Raptors retornou: estavam atrás no placar, no último quarto, e não podiam mais errar.

Dessa vez Normal Powell não foi herói e quase não jogou no período final, ao invés disso foi a vez do jogador mais consistente do time nos Playoffs, Cory Joseph, tomar a quadra ao lado do poder de fogo de Terrence Ross, Kyle Lowry, DeRozan e Jonas Valanciunas. A formação mais ofensiva possível do Raptors conseguiu superar suas limitações defensivas para fazer o impossível, transformaram uma diferença negativa de 5 pontos a 40 segundos do fim (quando Dragic acertou a bola de 3 que parecia ter decidido o jogo) em um empate.

Depois desse lance, Joseph errou um arremesso sem marcação e Lowry, após pegar um rebote de ataque, tomou um tocaço de Wade. O Raptors precisou fazer falta e viu Justise Winslow levar a diferença para 6 pontos. O Raptors, com 22 segundos apenas para tirar esses 6 pontos, viu um AIRBALL de Lowry. Era o time DERRETENDO de novo! Mas aí a sorte começou a mudar: Luol Deng errou feio ao tentar andar para bater o lateral, como se fosse um fundo-bola pós cesta, quando na verdade era um lateral comum e ele não podia correr por aí.

A posse de bola mudou de lado e Cory Joseph fez uma rápida bandeja após a cobrança do lateral.

Depois de mais uma falta e dois lances-livres certos do novato Josh Richardson, Ross errou um arremesso de três pontos, mas o Raptors ganhou uma segunda chance quando o mesmo Richardson não conseguiu segurar o rebote e jogou a bola para lateral. Ross aproveitou o presente e cortou a diferença para 3 pontos a 6 segundos do fim.

Se tantos erros e segundas chances já foram estranhas, que tal essa? Deng então erra mais uma cobrança de lateral, que acaba vai longe de Dwyane Wade e cai na mão de Ross, que sofre falta.

Ele acerta um dos dois lances-livres e corta a diferença para dois. O time imediatamente faz a falta em Hassan Whiteside após o rebote, que então acerta um dos dois lances-livres do qual tinha direito e deixa o jogo com a diferença em 3 pontos, a 3 segundos do fim. O Raptors não tem um pedido de tempo para avançar a bola até o meio da quadra…

O resultado desse arremesso foi, de verdade, a polícia de Toronto achando que o barulho da cidade em polvorosa eram TIROS! Isso que dá uma cidade pouco acostumada com os sons reais da violência (e da vitória no esporte).

Por que narrei e mostrei tudo desses 40 segundos finais? Para deixar mais claro que para esse MILAGRE que Kyle Lowry sequer ter chance de acontecer, outros tantos MILAGRES tiveram que rolar antes. Em sequência. Eles precisaram de dois laterais errados do experiente Luol Deng, um rebote escorregado da mão de Josh Richardson e dois lances-livres perdidos, tudo em QUARENTA SEGUNDOS, para ter a chance de, num arremesso  DO MEIO DA QUADRA, empatar o jogo. E deu certo!!!

O que qualquer time decente faz numa situação dessa? Honra a chance que os deuses do basquete ofereceram e simplesmente ANIQUILA o seu adversário na prorrogação, certo? Aproveita a frustração do adversário de ter jogado uma vitória no lixo, usa o barulho da torcida e o tal do ~momentum~ do jogo a seu favor e atropela tudo logo de cara.

Mas é o Toronto Raptors. Em casa. Em um Jogo 1.

Ao invés de montar no bom momento, viraram um time de gelo. Não marcam pontos pelos primeiros QUATRO MINUTOS da prorrogação e viram o Heat, pouco a pouco, abrir 8 pontos de frente. Queriam duas viradas milagrosas no mesmo dia? Pois quase conseguiram! Com mais um lateral mal cobrado por Deng, que Wade não conseguiu segurar, o Raptors estava a 10 segundos do fim, com a bola na mão, precisando de três pontos para empatar. Mas aí Wade foi Wade. Raptors foi Raptors.

O Toronto Raptors tem qualidades. Gosto de ver que DeMar DeRozan, por exemplo, perdeu a timidez e mesmo que mantenha o mal aproveitamento, está, desde o Jogo 6 da última série, arremessando tudo o que pode e atacando a cesta sem pensar duas vezes. Ele errar é ruim, mas sua agressividade abre portas ofensivas. As infiltrações, por exemplo, fizeram Whiteside se mexer e deram espaço para Jonas Valanciunas marcar 24 pontos e 14 rebotes:

Mas nem seus melhores dias e nem o resto do elenco inteiro é capaz de compensar a PÉSSIMA fase de Kyle Lowry. Sua bola milagrosa do meio da quadra foi o único arremesso de três pontos que ele fez em 7 tentativas, acertou só 3 de 13 arremessos no jogo, além de cometer 3 turnovers. Não conseguiu sequer ir uma vez à linha do lance-livre.

Seu aproveitamento nos Playoffs está em 30% nos arremessos, 16% em 3 pontos (!!!). Ele não parecia confiante nem DEPOIS que acertou o maior arremesso da vida. Aliás, foi? Porque o Tas Melas, do The Starters, torcedor do Raptors, disse uma coisa legal quando o Zach Lowe, da ESPN, o perguntou se a virada espetacular contra o Indiana Pacers no Jogo 5 estava entre os melhores momentos da franquia: “Só será se a gente ganhar a série”. Foi legal, mas perder depois de novo um Jogo 7 apagaria o charme. Quase zerar uma prorrogação depois de alcançá-la de maneira tão gloriosa só deixou, no fim das contas, a experiência mais dolorida.

Ontem, após a partida, Lowry ficou até depois da meia-noite arremessando sozinho no ginásio. Ele diz que sua lesão no cotovelo já está curada, alguns dizem que ele joga com dor. Nós, vendo de longe, não sabemos a causa, mas estamos vendo um resultado constrangedor.


Enquanto a gente assistia a prorrogação em Toronto, o segundo jogo da noite começava em Oakland e qual não foi nossa surpresa quando mudamos de canal e lá estava o Portland Trail Blazers com mais de 10 pontos de vantagem sobre o Golden State Warriors!

O time de Terry Stotts veio preparado para o Jogo 2 e apresentou tudo o que podiam para complicar a vida do Warriors: para conseguir dar mais espaço para Damian Lillard e CJ McCollum, que sempre recebiam marcação dupla quando seguravam muito a bola, o Blazers tentou emplacar contra-ataques, e conseguiu. Por incrível que pareça, o time marcou 19 pontos de contra-ataque no jogo contra apenas 8 do Warriors! Mérito combinado de boa defesa e qualidade no rebote.

Também é preciso dar aquela moral para os coadjuvantes. Assim como na série contra o LA Clippers, eles estão aparecendo para jogar. Al-Farouq Aminu foi imparável no primeiro período, acertou bolas de longa distância e, quando finalmente respeitaram seu arremesso e foram contestá-lo, aproveitou para infiltrar, enterrar e gritar:

O jogo pareceu que ia mudar quando o Golden State Warriors colocou primeiro seus reservas, depois embalou com algumas formações seguidas de puro small ball. Sem Andrew Bogut em quadra, montaram aqueles quintetos super nanicos e partiram para a defesa pressão, com turnovers forçados e intensa movimentação de bola. Por um instante Stotts tentou responder na mesma moeda, com Aminu de pivô marcando Draymond Green, mas um rápido MASSACRE o fez voltar com Mason Plumlee, que estancou a ferida. Uma constante nesse jogo: Warriors corta a diferença, Stotts pede tempo e o Blazers faz uma cesta rápida com uma jogada bem desenhada pelo treinador.

No terceiro período o jogo parecia que ia para o lado do Blazers mesmo. Klay Thompson errou diversos arremessos, fez falta de ataque e acabou até tomando uma rara falta técnica por reclamação. Enquanto isso, Damian Lillard entrou naquele modo DEUS que ele costuma incorporar de vez em quando. Ele pedia um bloqueio e antes que a marcação dobrada chegasse, a bola já estava voando para alguns de seus DEZESSETE pontos no terceiro quarto.

Começou então o último período e duas mudanças mudaram toda a dinâmica da partida. Primeiro Steve Kerr resolveu apostar em Festus Ezeli, que nem tinha jogado no primeiro tempo, como pivô, abrindo mão de Andrew Bogut, que não tinha velocidade para atacar o pick-and-roll de Lillard. E depois Stotts, pensando no fim do jogo, resolveu dar um descanso para sua estrela apesar do jogador dizer que estava bem e pegando fogo.

Foi o começo do fim…

Nesse mar de opções que é o elenco do Warriors, nesse caso descobrimos que Ezeli era o ideal. Ele foi alto e atlético o bastante para pegar os passes altos de Draymond Green no garrafão e finalizar, fez 8 pontos em 9 minutos no quarto.

Também garantiu rebotes na defesa, deu tocos e, mais importante, conseguiu pressionar o pick-and-roll do Blazers no perímetro. Quando Lillard ou McCollum chamavam o pivô para o bloqueio, ao invés de ganharem espaço como faziam quando atacavam Bogut, tinham um cara ágil que fechava o espaço do arremesso e era capaz de acompanhar a infiltração.

Abaixo separei três lances do último quarto onde ele faz toda a diferença: primeiro força Aminu a infiltrar e tira qualquer espaço para finalização ou passe, depois, por duas vezes, obriga Lillard a se livrar da bola sem nem sequer ter a opção de finalizar a jogada. É incrível a capacidade atlética de Ezeli de pressionar um jogador, forçar o passe e ainda recuperar sua posição no garrafão:

E sabem como é esse Warriors, né? A defesa encaixa e aí de repente eles são confiantes o bastante para se tornarem o melhor ataque do mundo. Todos contribuíram do seu jeito: Andre Iguodala com uma enterrada num rebote ofensivo…

Klay Thompson voltou a acertar bolas de 3 pontos…

…e Shaun Livingston fez miséria com seu jogo de único-armador-da-terra-que-vive-de-post-up:

Por fim, Draymond Green (17 pontos, 14 rebotes, 7 assistências, 4 tocos) mais uma vez foi a alma do time: ele que deus os passes para Ezeli, apareceu na cobertura para tocos decisivos, apareceu para pontuar e, claro, provocar. Depois de uma cesta de Klay Thompson, SUGERIU ao banco do Blazers que era hora de pedir um tempo:

A realidade do Portland Trail Blazers é essa: não podem errar, não podem acumular muitos minutos sem uma resposta tática, precisam dos seus jogadores secundários e precisam que Steph Curry continue assistindo os jogos de longe. Não é uma tarefa fácil, mas ontem até pareceu ser possível. Se repetirem a dose na próxima partida, com uma resposta tática à presença de Ezeli no garrafão, podem ainda deixar a série interessante. Vencer, porém, parece demais.


RODADA DO DIA

Altanta Hawks @ Cleveland Cavaliers (21h, SporTV)


HOME RUN DO DIA

Ontem teve Home Run de Trayce Thompson pelo LA Dodgers! 

Não conhece? Ele não é splash, mas é mais brother do Klay Thompson que Steph Curry. Na entrevista pós-jogo, Klay se mostrou orgulhoso do feito do irmão caçula:


MASCOTE DO DIA

Em uma das cenas mais ESPETACULARES  da temporada, o mascote do Toronto Raptors conseguiu a piada perfeita para provocar Dwyane Wade

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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