Pessoal, vamos nos lembrar da razão de sempre colocarmos o OKC Thunder um degrau abaixo de Golden State Warriors e San Antonio Spurs ao longo da temporada? Primeiro a defesa deles era beeeeem, como dizem na AMÉRICA, pedestre. Nada de mais, nada de menos. Depois, eles eram especialistas em se perder durante os jogos. Às vezes a defesa MORRIA, às vezes o ataque virava bateção de cabeça. Quando eram espetaculares, pareciam time campeão, mas faltava a consistência nesse alto nível que os seus concorrentes demonstravam.
Pois aqui estamos, no miolo de maio, e o OKC Thunder embalou uma sequência de 5 vitórias nos últimos 6 jogos, todas contra Spurs ou Warriors, com três sucessos seguidos fora de casa. Repito, são 3 vitórias seguidas em ginásios que, somados, tinham visto apenas 3 vitórias de visitantes em 82 jogos (41 de cada time) na temporada regular. Se nossa dúvida era se o OKC Thunder poderia alcançar e manter o seu pico de performance no momento mais crítico da temporada, esse questionamento já está no olho da rua.
É isso mesmo, o OKC Thunder venceu o Golden State Warriors em Oakland para abrir uma das finais de conferência mais esperadas dos últimos tempos! Como deve ser padrão ao longo dos próximos (seis?) jogos, a partida foi bem disputada até o minuto final. E vamos tentar entender a razão pela qual o atual campeão cedeu a virada para os visitantes.
Esse confronto passa por três questões principais, e possivelmente todos os jogos vão passar por essas mesmas batalhas:
Os quintetos mortais
O Golden State Warriors tem o seu conhecido QUINTETO DA MORTE, em que Draymond Green joga como pivô, Andre Iguodala entra no lugar de Andrew Bogut e se junta a Steph Curry, Klay Thompson e Harrison Barnes. É um grupo onde todos arremessam, todos passam, todos defendem e todos correm sem parar. É o time do CAOS, o que força turnovers, sai em velocidade, passa de um lado para o outro antes do adversário ver o que está acontecendo e é ele mesmo que definiu a final do ano passado contra o Cleveland Cavaliers. Neste Jogo 1, o técnico Steve Kerr fechou o primeiro tempo com esse grupo. Em poucos minutos, o quinteto conseguiu um saldo de pontos de +8 e aumentou a vantagem do Warriors para 13. A jogada que melhor mostra como é difícil se manter dentro do jogo contra esse quinteto é essa aqui:
Você acha que está mandando bem, mas não está…
Mas veja que Serge Ibaka, que deu a enterrada, é o único jogador de garrafão em quadra. Para enfrentar o time baixo do Warriors, Billy Donovan decide, sabe-se lá por qual razão, acompanha no ~downsizing~ do seu grupo. Não deu NADA certo.
O Thunder, por outro lado, descobriu sua própria versão de um grupo imbatível há pouco tempo. Acontece quando Enes Kanter entra em quadra ao lado de Steven Adams e Dion Waiters dá uma opção extra de ataque no lugar de Andre Roberson. Nestes Playoffs, esse grupo tem pegado 56% dos rebotes ofensivos possíveis, um número mais do que surreal. Russell Westbrook pode tentar o arremesso mais estúpido que quiser, a chance de rebote de ataque é GIGANTE.
Contra o Spurs, o Thunder conseguiu usar esse grupo por mais tempo porque eles não tinham ninguém para explorar as dificuldades defensivas de Kanter, a dúvida era se o pivô turco conseguiria passar tanto tempo em quadra contra o ataque feroz do Warriors. Bom, esse foi o primeiro ataque do Warriors quando Kanter veio do banco e pisou em quadra pela primeira vez:
E mais tarde, no terceiro quarto, teve uma mais feia ainda:
Enes Kanter should probably close out quicker on Steph…https://t.co/xuAS5gu66M
— The Cauldron (ICYMI) (@CauldronICYMI) May 17, 2016
Então se devemos pensar para uma razão de Donovan ter arriscado ir com seu time mais baixo ao invés do time GIGANTE dos Porn Towers que acabou com o San Antonio Spurs, provavelmente o medo de ver Kanter explorado falou mais alto. Só que não funcionou…
REBOTES
Uma das vantagens de usar Kanter e Adams ao invés de qualquer dupla com Serge Ibaka é que o congolês joga muito longe do aro e não tem mostrado o mesmo talento para conseguir rebotes de ataque e nem para pontuar perto da cesta como seus companheiros. Ibaka virou um arremessador de média e longa distância, o que é útil, mas que não tem causado tantos problemas para os adversários quanto a atividade dos Irmãos Bigode.
É pedir demais que o OKC Thunder tenha, ao longo de uma série de 7 jogos, aproveitamento melhor que o Warriors. Por isso é essencial que o Thunder consiga rebotes de ataque, seja para pontuar, seja para retardar o contra-ataque do seu oponente. Para isso era preciso deixar os gigantes em quadra, mesmo com o risco deles serem torturados no pick-and-roll de novo. A troca fez diferença: no primeiro tempo foram apenas 2 rebotes de ataque para o Thunder, no segundo tempo foram OITO. O tamanho também rendeu 4 tocos no segundo tempo, ao invés dos 2 do primeiro. Não houve um minuto sequer da segunda etapa em que o Thunder não tivesse dois do trio Ibaka-Adams-Kanter em quadra.
No quarto período Donovan foi inteligente ao só colocar Kanter em quadra quando Steph Curry estava no banco, assim o Warriors passou a usar menos o pick-and-roll e chegou a ficar SEIS posses de bola seguidas sem sequer utilizar os jogadores que estavam sendo marcados pelo turco. Quando Curry voltou e teve a chance de tirar proveito da situação, Draymond Green se precipitou com um arremesso forçado:
Depois disso, para fechar o jogo, Donovan acabou voltando para a formação mais tradicional com Serge Ibaka. Funcionou na defesa, mas o ataque ficou estagnado como na temporada regular, sem rebotes de ataque e o time só venceu o jogo porque tinha conquistado a liderança no começo do último quarto, com Kanter em quadra. Depois de um começo terrível, ele deu a volta por cima, conseguiu ficar em quadra e até saiu com saldo de pontos positivo.
TURNOVERS
Uma das maneiras mais fáceis para o Warriors usar a velocidade do seu quinteto ultra rápido é forçando erros e saindo na correria. Quando o adversário volta correndo para parar as bolas de 3 pontos, nem tem tempo de se preocupar quem está marcando quem. É nessas horas que fica ainda mais fácil acabar naqueles confrontos MORTAIS onde Steph Curry está mano-a-mano com um pivô desengonçado.
Pois depois de cometer péssimos 10 turnovers no primeiro tempo, sendo 3 de Russell Westbrook e 4 de Kevin Durant, o time de Billy Donovan cometeu apenas UM mísero desperdício de bola em toda a segunda etapa. O quinteto da morte que fechou o primeiro tempo ATROPELANDO os baixinhos do Thunder, não conseguiu repetir o feito contra o time alto do Thunder no segundo tempo. Não forçaram erros, perderam rebotes e viram a vantagem virar farofa. O ataque do Warriors não é o mesmo sem a correria, sua defesa não tem os mesmos números se não finaliza o trabalho de contenção com um rebote defensivo. Depois de ser dominado em todos esses quesitos no primeiro tempo, o Thunder respondeu rápido e conquistou a vitória.
Uma outra coisa importante também aconteceu para essa virada a favor do OKC Thunder: depois do time cobrar 10 lances-livres no primeiro tempo (e só fizeram 4…), eles cobraram impressionantes 16 apenas no terceiro período, e acertaram 13. Sendo difícil lidar com a defesa do Warriors, é uma boa conseguir tantas faltas assim. Os pontos são fáceis, impede o adversário de sair correndo, coloca uns jogadores importantes do outro time em problema de falta, só existem pontos positivos. E aí o mérito deve ir para Russell Westbrook, que colocou a bola embaixo do braço e decidiu que era hora de resolver o jogo. Fez do jeito dele, sem pensar muito, com mais vontade e talento que qualquer coisa, mas dá certo. O vídeo abaixo mostra como a defesa do Warriors estava despreparada para lidar com algo que todo mundo sabe que vai acontecer:
Após a partida os jogadores do Thunder pouco comemoraram a vitória, bem diferente da celebração agressiva de quando venceram o Jogo 2 em San Antonio. Os jogadores do Warriors, por outro lado, também não pareciam abatidos. O discurso foi de que eles sabiam como deveriam jogar para vencer, apenas precisavam executar.
Não duvido deles, o Warriors tem mesmo todas as armas para vencer e mostrou muitas delas no primeiro tempo avassalador. Mas não é um mero acaso que o Thunder foi o primeiro time na temporada a virar um jogo no qual o Warriors foi para o intervalo vencendo por mais de 10 pontos: eles não vão desistir, não vão parar de atacar e vão dar o bote em qualquer vacilo. Essa série não é brincadeira.
Cada rebote ofensivo é importante, cada turnover, todo lance-livre cedido à toa, todos os minuto que cada time consegue ter saldo positivo com seus quintetos ideais. Tudo vale. Não é situação do clichê de “jogo decidido nos detalhes”, mas sim o caso de dois times com poder de fogo monumental para marcar muitos pontos em pouco tempo.
E já que toda posse de bola vale, que tal os árbitros ajudarem? Tá difícil esse ano…
I am SHOCKED that an NBA ref missed a travel call. SHOCKED! https://t.co/BC6YKVWYlf https://t.co/bsGMciRynG
— Big Cat (@BarstoolBigCat) May 17, 2016
RODADA DO DIA
Toronto Raptors @ Cleveland Cavaliers (21h30, ESPN)
GRAPHIC NOVEL DO DIA
Ao que tudo indica, Kareen Abdul-Jabbar, além de ser o maior pontuador da história da NBA, piloto de avião e colunista de jornal, também escreve roteiro de histórias em quadrinhos. Segundo uma matéria do Hollywood Reporter, ele está escrevendo uma série sobre Mycroft Holmes, o irmão mais velho de Sherlock Holmes.