[Resumo da Rodada] O adeus da geração argentina

Sem nosso glorioso time da casa para movimentar a torcida nas quartas de final do basquete masculino, o time que mais poderia mexer com os brios das arquibancadas era a Argentina. E foi. A combinação para o jogo das quartas de final formava o cenário para o jogo mais emotivo e com envolvimento do público: os barulhentos argentinos iriam ver possivelmente a última atuação de Manu Ginóbili, Luís Scola e Andrés Nocioni com o time nacional; os não-argentinos iriam lá torcer contra e para assistir Kevin Durant, Carmelo Anthony e o time com mais celebridades na Olimpíada.

Se a atmosfera do ginásio era sensacional, faltava o jogo ser bom também. Poderia a Argentina repetir o feito de 2004 e eliminar a seleção americana? Era pouco provável, mas uma sequência de três vitórias apertadíssimas dos EUA nos fazia acreditar que existia ao menos uma chance de zebra.

A chance foi confirmada nos primeiros momentos da partida, quando Facundo Campazzo encarnou seu Steph Curry interior para MASSACRAR a defesa americana com dribles, roubos de bola e floaters tão altos que Stephon Marbury acharia exagerado. Mas não importa, ele estava passando por cima de DeAndre Jordan e liderando a Argentina a uma vantagem de 10 pontos no placar.

Certamente não parecia sustentável. A vantagem veio no embalo da torcida e num ritmo de jogo absurdo, com muita agressividade na defesa, turnovers forçados e contra-ataques. Era o clássico plano americano funcionando para a anciã equipe argentina. Os EUA conseguiram voltar para o jogo colocando DeMarcus Cousins no lugar de Jordan para fazer pontos fáceis no garrafão (como fez Nenê contra Scola) e principalmente colocando a bola na mão de Kevin Durant. Foram bolas de 3 pontos, bons passes e até um euro step que deveria ser proibido para caras tão grandes. Durant, sozinho, cortou a vantagem da Argentina e deixou o jogo empatado ainda no primeiro quarto.

Depois disso os EUA conseguiram se soltar no jogo. Sem a pressão incômoda de estar atrás do placar, algo que certamente atrapalhou contra a Austrália, por exemplo, Paul George começou a acertar jogadas, Kyrie Irving soltou uns dribles, os turnovers caíram e logo a desvantagem de 10 virou vantagem de 5, 10, 15, 20… o jogo já era.

Sem Campazzo inspirado como nos minutos iniciais, a Argentina perdeu a capacidade de agredir a defesa dos EUA. Manu Ginóbili poderia ser esse cara, mas com quase 40 anos nas costas fica difícil de fazer isso mais do que um par de vezes por jogo (mas quando acontece, é lindo!)

Os EUA ainda erraram um bocado de rotações defensivas, especialmente no primeiro tempo, mas é mais fácil de se recuperar quando não existem tantos bloqueios, um armador agressivo ou muitos arremessadores. Rever a histórica vitória de 2004 é também um jeito cruel de lembrar que o time de hoje não corre tanto, não passa tão rápido e não se movimenta sem a bola com tanta velocidade e fluidez depois de 12 anos.

Uma das maiores gerações de um país conseguiu se estender, na raça e no amor de jogar junto, por anos a fio. Mas não foi renovada a altura: a tempestade perfeita criou um timaço histórico e encantador, mas que vimos, de 4 em 4 anos, ficar menos eficiente e menos eficiente. A despedida é a primeira vez que esses caras ficam fora das semifinais. Foi bom enquanto durou.


Antes da histórica despedida de um dos times mais icônicos deste século vimos outro bem mais novo em ação no Rio, um que vai escrevendo a sua história. Se tem um time que joga um basquete bonito, veloz e inteligente nessa Olimpíada, que em alguns momentos até lembra a boa e velha Argentina, é a Austrália. A intensa movimentação dos seus jogadores sem a bola fez mais uma vítima, a Lituânia. No podcast até comentamos que os europeus estavam fazendo um ótimo trabalho em usar sua defesa para tirar o pior dos seus adversários, mas nesse caso não rolou.

Depois de uma AULA de basquete no primeiro tempo, comecei a ver o segundo achando que a defesa física da Lituânia iria ameaçar uma virada no começo do segundo. Pois a primeira posse de bola viu uma série de bloqueios na cabeça do garrafão que viraram, depois de um passe maroto de Andrew Bogut, uma bandeja de treino, sem marcação. O jogo foi uma surra e a Austrália é o time mais legal de assistir e o mais convincente destes Jogos até aqui.

Não houve adaptação defensiva da Lituânia que fizesse com que australianos não ficassem livres. Reparem como não há nenhuma ajuda lituana na hora de ler esse bloqueio duplo de Aron Baynes para Patty Mills, numa jogada que Bogut trouxe na mochila do Golden State Warriors:


 

Também houve goleada no duelo entre Espanha e França. O jogo era emocionante no papel pelos elencos e pelo histórico recente, mas as atuações fracas da França nesses Jogos se repetiram e os espanhóis não perdoaram. Pararam para pensar que, depois de perder nos últimos segundos para Croácia e Brasil, a Espanha simplesmente ANIQUILOU, em sequência, Lituânia, Nigéria, Argentina e França? Nenhum deles sequer fez cócegas!

Dessa vez Pau Gasol, que parece estar com alguma lesão, não jogou muito bem. Mas quando esteve em quadra foi usado para começar o ataque espanhol e fazer as coisas acontecerem. Ao contrário da Argentina, não falta gente no elenco espanhol para criar pick-and-rolls, agredir a defesa e obrigar o adversário a reagir, se movimentar e, claro, errar:


Só um joguinho dessas quartas de final não foi uma lavada histórica, foi o tenso duelo entre Croácia e Sérvia. A partida foi boa, disputada, teve empurrão, mão na cara, discussão após o apito final e uma tensão no ar. Mas não se preocupem, não desbancou para as ~cenas lamentáveis~.

Pela Croácia, finalmente Mario Hezonja apareceu para jogar e foi o cestinha do time entre os jogadores normais, com 16 pontos. Não coloco na conta o cada vez mais espetacular Bojan Bogdanovic, que fez incríveis 28 pontos para ganhar ainda mais frente na lista de cestinhas do torneio com 25 de média, 4 a frente de Mills. Ele foi o grande nome do jogo e parecia que o nome da vitória também, até que, no terceiro quarto, a maionese desandou por completo. A parcial foi vencida por 34 a 14 pela Sérvia!

Os dois times não são destaques de regularidade ao longo do torneio, mas o baixo da Croácia nesse jogo foi baixo demais para sobreviver a uma partida disputada assim. Errar no ataque e se afobar na defesa é abrir espaço para Milos Teodosic, que arremessou muito mal, mas distribuiu 10 assistências por meio da defesa croata. Na hora da baixa não houve Hezonja, Bogdanovic ou Dario Saric que salvasse. O último, aliás, não apareceu para jogar e saiu do jogo buscando seu cantinho no Troféu Sinceridade 2016:

Será que “last pussy” é uma expressão croata? Não parece bom e ele não parece feliz.

A Sérvia ainda não me convenceu no torneio, mas é um dos times mais capazes de deslanchar numa partida. Já fizeram em outros jogos, inclusive na reação contra os EUA, e quando conseguem embalar um jogo em volta de infiltrações de Teodosic e passes para Miroslav Raduljica (que deu A ENTERRADA do torneio sobre Saric) perto da cesta, as coisas funcionam.


Uma semifinal terá a reedição das duas últimas finais olímpicas, Espanha x EUA; do outro lado a Austrália tenta vencer a Sérvia pela segunda vez no torneio. Palpites, caros leitores?

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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