[Resumo da Rodada] Steph Curry volta quente; Heat vive, mas mata o basquete

Ele. Voltou. Um dia depois da imprensa americana cravar que Steph Curry vai mesmo ganhar o seu segundo prêmio seguido de MVP, o armador do Golden State Warriors voltou para resgatar o seu time das garras do perigoso Portland Trail Blazers, que dominou e venceu o Jogo 3 da série para cortar a vantagem do atual campeão para 2-1.

A gente não sabia muito bem o que esperar dessa partida em Portland, várias questões pipocavam na cabeça: (1) Curry está de volta por estar em perfeitas condições ou só o bastante para quebrar um galho?; (2) quanto o Jogo 3 foi o Blazers sacando como passar da defesa do Warriors e quanto foi acertar arremessos difíceis?; (3) qual o limite da confiança dos jogadores secundários do Blazers?; (4) como DIABOS isso já está 16 a 2 para o Blazers?!

Foi assim, sem a gente perceber, que o time da casa ATROPELOU o atual campeão nos primeiros 6 minutos de jogo. Enquanto nossos olhos sangravam vendo a prorrogação entre Miami Heat e Toronto Raptors, o jogo começou com tudo na costa Oeste. Tudo isso com Steph Curry no banco, já que o técnico Steve Kerr decidiu que ele viria do banco e atuar, no máximo 25 minutos.

Quando o armador entrou no jogo, o Warriors conseguiu estancar o sangramento. A diferença que chegou a 16 pontos foi caindo aos poucos e mesmo antes do fim do primeiro período já parecia que seria “apenas” um jogo difícil para o Warriors, mas não a surra à lá Cavs/Hawks que se ensaiou nos primeiros momentos. Mas não que Curry estivesse voando em quadra, longe disso. Hesitou de alguns arremessos de 3 pontos, preferiu uns de meia distância, cometeu uma falta boba em CJ McCollum logo de cara e levou a torcida ao delírio com um air ball num arremesso. Errou seus NOVE primeiros arremessos de 3 pontos! Era esse tipo de coisa que a gente falava sobre ele voltar antes de um eventual Jogo 1 contra Spurs/Thunder, tem que tirar a poeira!

O problema é que esse jogo também não parecia dos melhores para só tirar a poeira de uma estrela. Do outro lado o Blazers seguia dando muita dor de cabeça. Como eles faziam isso? Sendo uma das melhores reproduções do que faz o próprio time de Steve Kerr! Tudo começa com Damian Lillard, que obriga a defesa adversária reagir sempre com mais de um jogador, sempre com muita agressividade, para impedir que ele tenha aquele milissegundo para matar uma bola de longe. A mera existência de Lillard batendo a bola na quadra de ataque já faz a defesa gravitar a seu redor. Aí calha que ele tem um Mini-Me do seu lado, e também um grupo de CAPANGAS que de repente resolveu acreditar em tudo o que a mãe sempre disse na infância: você é lindo Al-Farouq. Você pode tudo o que sonhar, Mason. Claro que você também sabe arremessar, Baby Crabbe!

Em teoria é lindo deixar esses caras resolveram os pepinos do time num jogo tenso de Playoff, mas o que fazer quando eles dão conta do recado? Foi uma vez contra o Clippers. Aí duas. Um pouquinho mais. De repente já são quase duas séries de Playoff inteiras em que uma rotação toda de jogadores está constantemente jogando em alto nível. Ao acertar 39% de suas bolas de 3 nesses Playoffs, Al-Farouq Aminu deixa de ser o contrato-piada-overpaid-ridículo de 1º de Julho de 2015 e passa a ser um dos alas modernos que fazem tudo e que todo time precisa. Às vezes ele, às vezes Plumlee, fazem o papel de alas versáteis que Draymond Green executa no Warriors.

O Warriors cometeu o mesmo erro do Clippers durante quase todo o jogo, pagou pra ver e viu:

Sério, eles apanharam:

A situação do Warriors não pareceu muito melhor quando Shaun Livingston sofreu uma falta que não foi marcada, se revoltou e aí pensou que estava num filme do Tarantino. Você não diz que o árbitro é um motherf****r sem pagar o preço, Shaun, não importa o que diz a carteira dele. Foi para o vestiário mais cedo…

O ponto é que o Warriors não é um time bom. Não é um time em boa fase. É uma equipe historicamente espetacular, acima da média, experiente e campeã. Esse tipo de time DÁ UM JEITO. E tudo passou a entrar nos eixos quando Steph Curry começou a se esquentar no ataque, Klay Thompson apertou sua defesa, calibrou a mão e Draymond Green passou a simplesmente tomar conta de tudo o que acontece na defesa. Tudo.

Uma jogada resume o que aconteceu, com Green fazendo um milagre para tirar pontos certos de Plumlee, Curry puxando o contra-ataque e Klay finalizando uma bola da zona morta. Foi a bola da primeira virada!

O jogo seguiu nessa toada, com os dois times se matando na defesa e os ataques, de alguma forma, conseguindo marcar pontos sem parar. O último quarto foi marcado por bolas importantes, cestas surreais e nós, espectadores, falando, ao menos umas 14 vezes “agora já era” depois de uma grande estrela fazer uma jogada que a gente julgava ser a decisiva. Para quem não viu o jogo, foram lances desse NAIPE:

Reparem na situação, no placar e no relógio. E pense que estávamos vendo isso depois de assistir um jogo Tele-Sena entre Raptors e Heat, onde parecia que ia ganhar quem fizesse menos pontos.

Calhou que nem Curry e nem Lillard acertaram seus últimos arremessos e fomos para a prorrogação. É lá que os técnicos dizem que não tem muita estratégia, mas o bom e velho “execution“. Todo mundo sabe o que o outro vai fazer, ganha quem executar melhor. E aí o Warriors se mostrou mais pronto que o Blazers: de um lado da quadra Thompson GRUDOU em Lillard, Andre Iguodala virou carrapato de CJ McCollum e os dois resolveram a parada sozinhos, sem dobra de marcação, sem forçar eles a passar a bola. O Blazers topou a brincadeira e quis apelar para o mano-a-mano, mas não deu certo. Outra boa ideia foi “esconder” Curry na marcação de Allen Crabbe.

Reparem nesse lance como CJ McCollum só tem uma chance, no miolo da jogada, de encontrar Mason Plumlee em um passe arriscado, mas não aproveita. Depois disso é dominado por Iguodala. Sem as dobras, o Blazers tem mais dificuldade e achar espaços.

Em outro lance, quando finalmente Lillard decide partir para uma jogada com Plumlee, tem a bola roubada por Draymond Green. Deu certo o jogo todo, falhou quando não podia.

Essa é a hora que lembramos que esse senhor Draymond Green entrou para os livros de história na noite de ontem. Com seus 21 pontos, 9 rebotes, 5 assistências, 4 roubos e 7 tocos, ele se tornou apenas o décimo jogador na história dos Playoffs a alcançar ao menos 4 em todos esses quesitos no mesmo jogo. E foi só o terceiro, se juntando a Hakeem Olajuwon e Chris Webber, a ter alcançar 5 em todos, menos em um. Se ele tivesse um roubo a mais, se consagraria como o primeiro da história a ter um Five-By-Five em um jogo de Playoff.

Ao mesmo tempo que ele fazia isso, seu companheiro mais famoso, Steph Curry, que já tinha extrapolado HÁ DÉCADAS o seu limite de 25 minutos em quadra, era o responsável pela parte ofensiva da brincadeira. Ele marcou nada menos do que DEZESSETE pontos na prorrogação. Maior marca da HISTÓRIA da NBA em prorrogações, somando aí temporada regular e Playoffs. E ele não só marcou pontos, o fez com estilo! Foram bolas de 3 pontos após dribles impressionantes, de longe, bandejas, contra-ataques, o pacote Curry completo. Ele estava meio baleado? Sim. Precisou de mais de meio tempo pra voltar ao normal? Não. Ele voltou!

Série decidida? Draymond Green garante que sim:


Dá até desgosto falar do jogo que aconteceu antes desse clássico instantâneo dos Playoffs. Por incrível que pareça, a série entre Toronto Raptors e Miami Heat consegue ter 3 prorrogações em 4 partidas e ainda deixar torcedores insatisfeitos. Difícil, né? Mas eles estão aí para mostrar que são capazes de tudo.

Por mais que a defesa dos dois times sejam realmente boas e isso prejudique placares muito altos, não dá pra perdoar o que vemos no setor ofensivo dessa série. O Zach Lowe da ESPN resumiu bem isso em seu podcast: de um lado é Dwyane Wade segurando a bola até faltar 10 segundos no relógio de posse de bola e aí ele inventa algo; do outro é a mesma coisa, mas Kyle Lowry e DeMar DeRozan se revezam no trabalho de ficar driblando do nada até lugar nenhum enquanto eles decidem que jogada imbecil vão tentar.

Foi bonito ver Lowry renascer e dominar o Jogo 3, mas ontem voltou ao normal: 2 arremessos certos em 11 tentados! Pelo menos recuperou sua confiança para atacar a cesta e assim conseguiu 9 assistências. Triste é saber que o resto do time inteiro deu apenas TRÊS assistências. TRÊS!!!! Não é só aproveitamento baixo não, é pouco passe também. É tudo de ruim que pode existir num ataque.

Existe uma razão extra para essas infiltrações de Kyle Lowry acontecerem: Hassan Whiteside, machucado, não jogou. O Heat deu alguns minutos para Amar’e Stoudemire de pivô, outros para Josh McRoberts e alguns para Udonis Haslem, mas nenhum é um pivô ~natural~ e nenhum ficou em quadra para os últimos minutos do jogo e prorrogação. Lá foi small ball total e, vejam só, o Raptors teve mais dificuldades para encontrar o garrafão assim do que quando tinham os caras maiores. No fim das contas, se não é pra ter um defensor como Whiteside, melhor jogar com os alas baixos que trocam de marcação o tempo todo.

Outra razão para as poucas assistências do Raptors também envolvia um pivô machucado: Jonas Valanciunas não deve mais atuar nessa série por ter torcido o tornozelo. Logo ele que vinha sendo o grande nome do time nos últimos jogos. Sem ele, Bismack Biyombo foi titular, nosso glorioso Lucas Bebê atuou por 13 minutos (com pouco impacto na partida) e, por fim, o técnico Dwane Casey também jogou tudo pro alto e deixou só Patrick Patterson como “”””””pivô”””””. Tudo nanico. Aliás, se alguém acha que times baixos são sinônimo de ataque mais eficiente, esse jogo é a exceção que confirma a regra.

Te dou uns dados:

  • O Raptors acertou apenas 39% de seus arremessos gerais
  • O Heat acertou apenas 1 de 16 bolas de 3 pontos
  • Tanto Warriors quando Blazers deram 328 passes em seu duelo; o Raptors passou a bola 287 vezes
  • O Heat não foi tão mais desapegado, foram 299 passes
  • Dwyane Wade é, de longe, o cara que mais pontua sem precisar de assistências nesses Playoffs:

Pelo menos os jogos feios tem momentos de humor. Como quando, com todos morrendo de tensão, Goran Dragic toma a clássica BOLADA NO QUEIXO

Lembrando que ele já perdeu dentes TRÊS VEZES em quadra, tomou uma cotovelada no jogo passado (deram falta do Dragic) e já apanhou até de seu compatriota Sasha Vujacic.

Nesse jogo, o final-feio-eletrizante teve Dwyane Wade salvando o Heat do buraco nos últimos segundos com uma bandeja decisiva pra cima de DeMarre Carroll

Gostei da decisão de Erik Spoelstra de não pedir tempo após o arremesso errado de Cory Joseph. Dwane Casey tinha deixado em quadra um quinteto bem ofensivo, sem nenhum jogador capaz de criar sombra no garrafão para parar Wade. Pedir tempo daria a chance de Biyombo voltar a quadra e tiraria a oportunidade desse ataque em transição.

Por outro lado, Casey não precisava ter tirado Biyombo de quadra se a sua grande jogada desenhada era ver CoJo batendo a bola até o último segundo possível. Acho que o armador canadense tem sido o melhor e mais regular jogador do time nesses Playoffs, mas ele tem sido bom justamente por não tentar ser um faz-tudo no mano-a-mano. Mas temos que entender também que Kyle Lowry havia deixado o jogo alguns minutos antes, com 6 faltas, e que DeRozan, com 4 acertos em 17 arremessos tentados, chegou a ser afundado no banco durante longos minutos importantes por pura incompetência.

Na prorrogação o modelo continuou parecido: o Heat no small ball total, trocava a marcação a cada tentativa de corta-luz do Raptors, que pouco passava a bola e, com a pressão do grupo atlético Heat, também não conseguia mais nem infiltrar sem cambalear. Joe Johnson, que deu incríveis 4 tocos em TODA A TEMPORADA, deu mais 2 só na prorrogação. No ataque Wade segue com sua mania de excluir os outros da brincadeira, inclusive Goran Dragic, mesmo que o esloveno faça excelentes jogadas quando finalmente tem a chance de participar do jogo. De qualquer forma, Wade acertou bolas decisivas de novo, roubou bola de Terrence Ross na saída de bola DE NOVO e só não resolveu o jogo mais cedo porque os DEUSES DO BASQUETE estão realmente tirando uma com a nossa cara nessa série:

Sério, gente…

Enxergo assim esse duelo, como esse lance. Uma bola parada no aro que pode cair pra qualquer lado, mas parece que nunca vai cair e que vamos ver esses jogos feios até o mundo virar poeira. Engraçado e triste ao mesmo tempo. Quero ver Lowry bem de novo, quero ver o Heat tocando a bola. Mas se não rolar, que pelo menos a gente siga com a emoção dos jogos apertados.


RODADA DO DIA

OKC Thunder @ San Antonio Spurs (21h30, ESPN) 


RECORDE ULTRAPASSADO DO DIA

Vale lembrar que o antigo recorde de mais pontos em uma prorrogação, 15, era de Earl Boykins. Do alto de seu 1,65m, marcou 15 de seus 18 pontos no tempo extra de uma vitória do Denver Nuggets sobre o Seattle SuperSonics em 2005.

Como não achei vídeo desse feito, ficamos com ele dando uma aula em Tim Duncan


ENTREVISTA DA DÉCADA

Terry Stotts, honrando a história do Portland Trail Blazers, disse que os dois times jogaram duro, deram tudo de si e que o importante são os três pontos. Salve Rasheed Wallace!

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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