A partida de ontem entre OKC Thunder e San Antonio Spurs foi uma daquelas capazes de produzir dúzias de sentimentos e reações ao longo de seus 48 minutos. A vitória e classificação do Thunder, sob o barulho ensurdecedor da torcida, enquanto todos especulavam sobre a aposentadoria de Tim Duncan me deixaram meio biruta. Aos poucos, fui perdendo a noção tática do confronto. Claro que entendo o básico, como as estratégias do Spurs para parar a dupla Durant/Westbrook, ou como o Thunder apostou em jogar alto com Enes Kanter e Steven Adams juntos para continuar dominando os rebotes de ataque, e preferiram ter opções de passe sob a cesta do que Serge Ibaka espaçando a quadra para os arremessos.
Mas muito mais do que isso eu não vi. Ou melhor, vi e não sei explicar da onde veio: por que os reservas do Spurs foram incapazes de uma mínima contribuição em toda a série? Chegando ao cúmulo de fazer DOIS PONTOS no desastroso primeiro tempo deste Jogo 6, que custou a série. E Pop tentou todo mundo: Boban Marjanovic (autor desses pontos), Kevin Martin, David West, todos tiveram chance. E por que o Spurs errou tantos arremessos sem marcação? Segundo dados da NBA, o Spurs acertou 16 de 40 arremessos sem marcação no jogo; o Thunder acertou 16 de 33. Por que o time parou de passar a bola com a velocidade característica? O que raios aconteceu com LaMarcus Aldridge? Todo o mérito do OKC Thunder, que finalmente juntou estratégia e concentração ao talento técnico e poder físico espetacular do seu elenco, mas mesmo assim não consigo deixar de reparar que o Spurs não entregou tudo o que poderia.
O misto de sentimento envolve justamente essas duas coisas. Por um lado eu estava realmente feliz de estar vendo, FINALMENTE, o melhor OKC Thunder em muito tempo. Possivelmente sua melhor versão desde a primeira contusão de Russell Westbrook, no ano seguinte à troca de James Harden. Deu raiva, ao longo da temporada, ver seus lapsos defensivos (apenas a 13ª melhor defesa do ano!), a preguiça de tentar algo mais complexo no ataque, a má vontade de envolver os jogadores secundários. Era um time com o potencial para ser histórico como o Golden State Warriors e o San Antonio Spurs, mas parecia sem a cabeça para ir mais longe. Como que se o que tivessem fosse o bastante. As inúmeras viradas que tomaram em quartos períodos eram exemplos óbvios dessa falta de foco em executar a melhor versão do time. O fato deles resmungarem em entrevistas que essa “reputação” de fracassar em últimos quartos nunca aconteceu e que era “coisa da imprensa” é uma bobagem, elas eram reais. Aconteceram! Existem os registros, os vídeos, tudo aconteceu e não foi uma vez só! Eles jogarem bem agora não é “calar os críticos”, não é “provar que estavam errados”, é, na verdade, melhorar. É disso que deveriam estar orgulhosos. Depois de muito tempo vimos o OKC Thunder mostrar sinais de evolução, individual, tática e mental.
A evolução individual é óbvia em casos como o de Steven Adams, que foi o melhor jogador de garrafão nessa série ao dominar os rebotes dos dois lados da quadra e fechar o garrafão para qualquer tentativa do Spurs. Além disso, mostrou ótimas mãos para segurar os passes e finalizar dentro de um garrafão que o adversário tentou, sem sucesso, inundar.
Steven Adams cuts to the basket off assist from Dion Waiters (his 4th) Thunder UP 29-23 in Game 6. https://t.co/50dCIAFjR3
— OKC THUNDER (@okcthunder) May 13, 2016
O desempenho ofensivo de Andre Roberson no Jogo 6 foi só um truque cruel do deus do basquete para punir os coadjuvantes do Spurs por não jogar bem, mas é digno de aplauso que o pior jogador de ataque do Thunder, que só joga por ser um MONSTRO na defesa, acerta 3 bolas de 3 e faz 14 pontos.
Mas também vi uma evolução de Russell Westbrook e Kevin Durant, que poucas vezes antes foram tão sensíveis ao ler a atuação da outra estrela do time. Eles estão sempre juntos e parecem se gostar bastante, mas dentro de quadra às vezes batiam cabeça. Quantas vezes não vimos Durant pegando fogo e, de repente, Westbrook não acha que é hora dele chutar umas 5 bolas seguidas também ao invés de passar a bola? Pode ter sido algo pequeno amplificado pelas vitórias, mas senti Durant deixando Westbrook tomar conta do Jogo 5 quando ele entrou em modo ATÔMICO. No Jogo 4, por outro lado, Westbrook parece que aceitou sentar no banco de passageiro por minutos importantes do último quarto e só procurar os outros para pontuar. Ao longo de todo esse ano suas assistências parecem mais como passes mesmo, não como aqueles “preferia-arremessar-mas-você-sobrou-livre” que ele fez ao longo da carreira.
É quase mágico ver um time vir junto para esse nível. A imprensa esportiva tem essa mania, especialmente com times campeões, de listar as contribuições bonitinhas de cada atleta, como se os 15 do elenco tivessem dado uma parte de si para o troféu. Mas não é estratégia narrativa falar da contribuição de Adams, Roberson e de como Durant e Westbrook estão no auge. E parece mesmo mentira dizer que Enes Kanter esteve longe de comprometer o time na defesa, mas é isso mesmo que aconteceu. Tudo de uma vez. Contra a melhor defesa (de longe) da temporada regular. Acontece de vez em quando e por isso que é legal!
O meu episódio favorito do podcast Radiolab é um chamado “Games”, onde se discute a razão de gostarmos de esportes ou jogos em geral. Em determinado momento se discute a tendência quase universal da torcida pela zebra. Alguns estudos, diz o podcast, fizeram comparações usando FORMAS GEOMÉTRICAS completamente despidas de significado social, e as pessoas mesmo torciam para a forma mais fraca. Se uma bola parecesse sofrer e demorar mais para subir um triângulo, as pessoas tinham mais simpatia e torcida por ela do que pelo hexágono que subia o triângulo facilmente. Nos identificamos (ou queremos nos identificar) com quem supera obstáculos ao invés daqueles que conseguem tudo facilmente?
Mas aí aparece o outro lado: um entrevistado diz que nada acaba mais com ele do que ver um favorito derrotado. A decepção de ter sido melhor antes, saber ser melhor, conviver com a pressão de garantir o resultado e, depois, ver tudo isso para o ralo é simplesmente pesada demais. Eu me identifico com essa parcela, menor, segundo as pesquisas, dos torcedores. Por mais que adore uma história de Leicester e choraria com o Toronto Raptors campeão, existe um balde gelado de frustração ao ver alguém grandioso não fazer o que sabe. De ver alguém que sabemos que é espetacular não finalizar a formalidade da vitória e do título.
Foi isso que senti ontem ao ver o San Antonio Spurs ser ESMAGADO pelo OKC Thunder no segundo período. Não foi só uma derrota, foi constrangedor. Foram as enterradas, os roubos, as bolas de 3, era tudo tão certinho e eles pareciam tão mais rápidos, fortes e confiantes que todos os adversários, que dava vontade de parar tudo, correr para as ruas e gritar, para todo mundo ouvir, que aquele não era o Spurs. É um lapso, gente, não era assim antes, eu juro! Espera mais um pouco, espera o próximo quarto, o próximo jogo, o ano que vem. E aí vinha a agonia final: VAI TER ANO QUE VEM PARA O SPURS?
Bom, vai ter. Com LaMarcus Aldridge, Kawhi Leonard e Danny Green existe um belo núcleo. Gregg Popovich parece que não vai embora tão cedo e eles parecem ser favoritos para atrair Mike Conley. Mas não vai ser AQUELE Spurs. Afinal, será que Tim Duncan fica? Manu Ginóbili eu duvido muito, Tony Parker ainda aguenta mais um pouco. Eles não têm tour de despedida e #TimmyDay, talvez um release saia pra imprensa numa terça de manhã em agosto informando que Duncan não volta e pronto.
A cabeça foi pirando ao longo do segundo tempo. Tim Duncan foi o melhor jogador do Spurs, basicamente o único com um saldo de pontos relevante quando esteve em quadra (+12) e fez seu melhor jogo na série com 19 pontos. Ele jogou assim era por que não queria se aposentar zerando um jogo de novo? Só não queria perder? E por que Popovich não o tirou de quadra com o jogo já decidido? Qual o significado oculto desse ato?! Já tinha perdido a cabeça. O simbolismo do jogo acabar, pra valer, num toco sobre Duncan foi demais pra mim.
Not with a bang, but with Ibaka. pic.twitter.com/ZjqezZ31wE
— Hardwood Paroxysm (@HPbasketball) May 13, 2016
Não sabia se ficava feliz pelo Thunder, triste pela temporada histórica do Spurs ter virado uma derrota feia numa série bem xoxa deles (depois de DOMINAREM o Jogo 1, o que deixa mais estranho) e simplesmente deixei pra lá. A série já era, o Thunder já pensa em como repetir a dose contra o Warriors, e a gente fica por aqui pensando se deve fazer homenagens ao Spurs ou só mandar um “até novembro” para ver tudo se repetir perfeitamente pelo vigésimo ano seguido.
RODADA DO DIA
Toronto Raptors @ Miami Heat (21h, ESPN)
MERDA DO DIA
Só no último jogo da temporada que Gregg Popovich descobriu como fazer as entrevistas do meio do jogo acabarem mais cedo: só falar “merda” ao vivo em rede nacional
Gregg Popovich is too real. ??https://t.co/HRD3zK7inA
— NBA SKITS (@NBA_Skits) May 13, 2016