A excitação do último dia de trocas já passou para vocês? Para mim ainda não, embora tenha sido levemente substituído pelo choque de ver como o Cleveland Cavaliers ATROPELOU o Boston Celtics na estreia do quarteto de Jordan Clarkson, Larry Nance Jr, Rodney Hood e George Hill. Claro que há a chance de ter sido só um DESABAFO PERFORMÁTICO de um monte de gente que estava insatisfeita ou ansiosa por uma nova oportunidade, mas foi bem impressionante. O tempo irá, eventualmente, mostrar as dificuldades de montar um time novo no último quarto de temporada.
Por enquanto vou tentar me focar ainda nas trocas que aconteceram na última quinta-feira e o que elas significam para a NBA. Se você perdeu a lista completa é só clicar aqui!
Para o nosso imediatismo basquetebolístico que está ansioso para os Playoffs, provavelmente nenhuma troca além daquelas do Cleveland Cavaliers irá causar impacto na liga. É bem possível que a maioria dos times envolvidos em negócios, aliás, nem se classifique para a pós-temporada. As suas negociações, porém, são ótimos indicadores do que está valendo ou não no mercado da NBA.
O que mais escutamos nas últimas semanas foi “Time X está colocando jogador Y no mercado em troca de escolhas de 1ª rodada de Draft”. Passaram os dias e apenas uma escolha foi negociada: o desesperado Cavs mandou a sua escolha do ano que vem para ter Clarkson e Nance. E mesmo assim eles fizeram questão de manter a escolha do Brooklyn Nets, bem mais valiosa, que eles tinham conseguido na troca de Kyrie Irving há alguns meses. A verdade é que ninguém está abrindo mãos de escolha de Draft nessa altura do campeonato.
Como vocês devem lembrar, o teto salarial da NBA disparou há duas temporadas quando a receita da liga cresceu devido a um novo e bilionário contrato de televisão nos EUA. Com mais espaço para contratar jogadores, os times se esbaldaram e torraram grana em jogadores médios e até em uns bem fracos. A desculpa que todos nós aceitamos era que esse era apenas o primeiro ano de um aumento substancial que iria continuar por anos a fio: os salários que pareciam caros naquela hora iriam parecer normais nos anos seguintes. Então passou um ano, a NBA calculou suas receitas e a triste realidade chegou avisando que o segundo aumento seria bem mais discreto do que o imaginado.
Vejamos isso em números: o teto salarial da NBA em 2015-16 era de 70 milhões de dólares. De uma hora para a outra pulou para 94 milhões em 2016-17 e, quando os times esperavam mais um aumento parecido, ele subiu apenas para 99 milhões em 2017-18. De uma hora para a outra, pagar 18 milhões por ano para Allen Crabbe e Luol Deng passou de “estranho” para “desastroso”.
Times que gastaram demais naquele ano, como o Memphis Grizzlies e o Portland Trail Blazers, viraram os exemplos perfeitos de times EMPACADOS, que não conseguem fazer praticamente nenhuma negociação ou contratação porque já estouraram o teto salarial. O Blazers só se mexeu nessa data-limite de trocas da última quinta-feira para DOAR um jogador para o Chicago Bulls: eles mandaram Noah Vonleh e mais dinheiro em troca dos direitos de Milocan Rakovic, um cara de 32 anos que foi a ÚLTIMA escolha do Draft de 2007, nunca pisou na NBA e que hoje está atuando na gloriosa liga da SUÍÇA de basquete. Ele só foi envolvido no negócio porque as regras da NBA dizem que os dois times devem mandar alguma coisa num negócio, e esse foi o jeito do Bulls só cumprir tabela. Por mais que Vonleh não seja lá grande coisa, só um um time desesperado abre mão de jogador (e mais dinheiro!). E o Blazers estava nessa condição porque precisava cortar salário para não ultrapassar o luxury tax, o teto salarial ACIMA do teto salarial que obriga os times a pagarem multas pesadas.
Para um time como o Blazers e o Grizzlies, portanto, tem algo mais valioso do que uma escolha de Draft? É um jogador novo, escolhido por você, com salário já pré-determinado, bem menor do que o padrão atual da liga e que está preso ao seu time por ao menos quatro anos de pura pechincha. Nessa brincadeira o Grizzlies acabou sendo um dos grandes perdedores dessa Trade Deadline: eles deixaram tão claro que queriam trocar o ala Tyreke Evans que até deixaram de colocar ele nos jogos, dada a “distração” das negociações e o risco de uma lesão. Aí chegou a hora do vamos ver, ninguém ofereceu a escolha de 1ª rodada que eles queriam e o Grizzlies morreu com a carta na mão. Dizem que o Denver Nuggets ofereceu Emmanuel Mudiay e uma escolha de 2ª rodada de Draft e que outros times (Celtics, Wizards, Sixers) ofereceram DUAS escolhas de 2ª rodada, mas o Grizzlies queria porque queria uma de 1ª rodada e não topou. Foi um negócio desastroso porque agora eles nem tem condições de renovar com o jogador na próxima temporada: a folha salarial do time já está estourada e por ele estar na equipe há apenas um ano, o time só pode extrapolar o teto até certa medida, provavelmente uma medida menor do que Evans irá pedir no mercado.
A situação lembra um pouco a do Atlanta Hawks, que é um time montado para PERDER nesta temporada e que só está pensando no Draft do próximo ano para se reerguer. Faz sentido para eles continuarem com jogadores como Marco Belinelli, Ersan Ilyasova e Dewayne Dedmon? NENHUM, mas o time foi incapaz de fazer um pacote com eles que contivesse o que eles queriam: cortar salário e uma escolha de 1ª rodada de Draft. Calhou que, como o Grizzlies, não fizeram nada e um dia depois já estavam dispensando Belinelli por nada.
A coisa está tão feia, que ultimamente as escolhas de 1ª rodada estão sendo usadas por times que querem se livrar de contratos ruins! O Blazers abriu mão de uma escolha para adoçar o pacote e mandar Crabbe para o Brooklyn Nets. Mesma estratégia (e mesmo time recebedor) usada pelo Toronto Raptors para tirar DeMarre Carroll da folha de pagamentos. Em outras palavras, só time desesperado está trocando escolhas de Draft.
Outra coisa interessante desta deadline foi ver jogadores que serão Free Agents Restritos (aqueles que podem testar o mercado, mas que o seu time tem o direito final a igualar a oferta) na próxima temporada: Rodney Hood e Elfrid Payton foram trocados, já Marcus Smart ficou só na negociação pesada, mas sem conclusão, do Boston Celtics. De um lado vimos Utah Jazz e Orlando Magic desanimados com a perspectiva de quanto Hood e Payton vão custar daqui uns meses, de outro vemos o Cleveland Cavaliers e o Phoenix Suns dispostos a um aluguel bem curto de seus serviços para ter o direito de renovar com os caras na próxima temporada. Estes três, somando Smart ao grupo, são casos complicados de jogadores que chegam a um momento de renovação sem que a liga tenha uma imagem definida do que eles são: Payton vai se desenvolver em algo além disso? Há esperança de regularidade na vida de Hood? Smart é mais um que vai desaparecer quando sair das asas do técnico Brad Stevens?
Se não fosse a extravagância do Cleveland Cavaliers, todos só iríamos estar falando de como os times estavam parados na NBA. Uma parte está emperrada em maus negócios, outra com medo de fazer maus negócios. É impossível não pensar que é tudo consequência daquele louco verão de 2016. A NBA propôs ao Sindicato dos Jogadores que o teto salarial aumentasse aos poucos, para que todos os times se preparassem para isso, mas os atletas viram isso como uma manobra para tirar dinheiro deles. Uma bobagem: calhou que agora essa grana foi apenas mal dividida entre eles mesmos. Enquanto Evan Turner e Timofey Mozgov ganham quase 20 milhões de dólares, Lou Williams, que vem das duas melhores temporadas da sua VIDA, acabou de acertar uma extensão de contrato com o LA Clippers por uma média de 8 milhões anuais, e ainda sem garantia de que irá receber tudo no terceiro e último ano de acordo.
Este negócio, aliás, talvez tenha sido o definidor da atual realidade do mercado da NBA. Vimos um jogador que está tendo os melhores números da carreira aceitar uma extensão de contrato que irá o pagar um salário MÉDIO da NBA meses antes dele virar Free Agent e poder pedir o que quiser de qualquer um. Os jogadores e empresários estão assustados com o pouco espaço na folha salarial das equipes e as franquias traumatizadas cautelosas na hora de gastar. Vale lembrar que além do Cleveland Cavaliers, ansioso por aproveitar LeBron James enquanto pode, a única outra equipe a negociar uma escolha de 1ª rodada nas últimas semanas foi o New Orleans Pelicans logo após a lesão de DeMarcus Cousins: times desesperados ainda são a válvula de escape para chacoalhar a liga.