Troca de 12 lados

O último dia para trocas nesta temporada é quinta (6), mas alguns times decidiram não esperar os 45 do segundo tempo. Seja por já acharem o que queriam, seja por desejo de ter mais tempo para fazer ainda mais negócios, mas nada menos que QUATRO equipes movimentaram DOZE jogadores na madrugada desta quarta. Antes que a gente comece a análise, veja o que cada time levou no negócio:

HOUSTON ROCKETS: Robert Covington (Wolves) e Jordan Bell (Wolves)

ATLANTA HAWKS: Clint Capela (Rockets) e Nenê (Rockets)

MINNESOTA TIMBERWOLVES: Malik Beasley (Nuggets), Juan Hernangomez (Nuggets), Evan Turner (Hawks), Jarred Vanderbilt (Nuggets) e a escolha de Draft de 2020 do Brooklyn Nets (via Hawks)

DENVER NUGGETS: Gerald Green (Rockets), Noah Vonleh (Wolves), Shabazz Napier (Wolves), Keita Bates-Diop (Wolves) e a escolha de primeira de Draft do Houston Rockets

Segundo a ESPN, essa é a maior troca da NBA desde 2000, quando Patrick Ewing deixou o New York Knicks rumo ao Seattle Supersonics em um negócio que envolveu ainda outros dois times e mais onze jogadores. Vamos analisar o que motivou cada time e quais os próximos passos para cada um deles?


Robert-Covington

HOUSTON ROCKETS

O Houston Rockets do General Manager Daryl Morey é um dos times mais desapegados da NBA. Anos atrás eles desejavam  Dwight Howard como parceiro ideal de James Harden numa época onde a combinação armador-pivô era o sonho de consumo de todo mundo. Eles foram lá, convenceram o grandalhão a não renovar com o LA Lakers e montaram um forte time que chegou até a final do Oeste em 2015. Mas pouco tempo depois perceberam que ele não só não estava jogando tão bem como conseguiam quase a mesma produção do jovem e barato Clint Capela. Adeus Dwight, que recebeu apenas proposta simbólica de renovação.

O mesmo desapego foi visto com Chris Paul nesta última temporada e com tantos outros jogadores de menor impacto que foram negociados. O time não tem pudor de trocar peças importantes e o fez de novo agora ao mandar embora Clint Capela, que até outro dia era celebrado como um dos jogadores fundamentais para o estilo que o time jogava. O cara dos corta-luzes e alvo das pontes aéreas de Harden de repente foi trocado sem substituto imediato. O que mudou nestes últimos meses?

O modelo tático Rockets mudou nesta temporada. Com cada vez mais dobras de marcação sendo usadas contra Harden, o técnico Mike D’Antoni começou a solicitar menos corta-luzes de Capela para ele, já que levar o pivô lá seria levar junto um segundo defensor, deixando a tal da dobra ainda mais fácil. Em 2017-18, o Rockets ficou em na lista de times que mais usavam o pick-and-roll para finalizar jogadas, na temporada passada o time caiu para a 23ª colocação e neste ano está em ÚLTIMO. Mas mesmo sem os corta-luzes, Capela ainda é importante para a pontuação do time: ele marca quase 14 pontos por jogo e é o LÍDER da NBA em pontos vindos de cortes em direção à cesta. Ou seja, é como se jogasse no pick-and-roll mesmo sem a parte do pick:

A ideia ainda é parecida, é colocar o pivô adversário na posição quase impossível de ter que parar Harden e Capela ao mesmo tempo. É uma combinação mortal e muito usada: a única que rendeu mais bandejas ou enterradas que ela foi a já conhecida e temida conexão entre Lou Williams e Montrezl Harrell.

A questão principal aqui é que essa função é tão simples que não precisa ser feita por Capela. Muitos outros pivôs ou até alas nem tão altos podem ficar nessa posição de dois em um. E, melhor, eles podem fazer isso até na zona morta, rendendo talvez um tão desejado arremesso de três pontos. Com o pivô suíço machucado nas últimas semanas, o Rockets chegou ao extremo de não colocar nenhum jogador de sua posição em seu lugar e a passar partidas inteiras sem que qualquer cara de mais de DOIS METROS de altura em quadra! É o small ball levado às últimas consequências. Os resultados? Cinco vitórias e nenhuma derrota.

É claro que não dá pra saber como seria não ter pivô contra qualquer time. Daria para parar o LA Lakers e seu time gigante? O Denver Nuggets com Nikola Jokic e Paul Millsap? O Utah Jazz de Rudy Gobert? Não sabemos, mas o Rockets é um time disposto a arriscar. E ajuda o plano que eles tenham feito isso para conseguir Robert Covington, que é um excelente defensor, com bom aproveitamento de arremessos de longa distância e que já foi muito usado ao longo da carreira para defender jogadores mais altos. É o jeito do Rockets tentar melhorar seu setor defensivo, ganhar mais uma opção nos tiros de 3 pontos e deslanchar o  small ball extremo. Uma troca com a cara de Daryl Morey: ousada, exagerada e corajosa. O time só quer ganhar o título, então não há medo de mudanças drásticas se o cenário anterior parecia que não ia dar em nada.

Mas o time não terminou o serviço ainda. O Rockets tem espaço na folha salarial para receber mais jogadores nessa mesma troca caso outros times queiram se envolver e é possível que eles ainda tragam um outro pivô, mesmo que de menos renome que Capela, para ter mais opções especialmente nos Playoffs. No próprio negócio eles já trouxeram Jordan Bell, que pode fazer essa função. Depois de um primeiro ano de carreira animador no Golden State Warriors, Bell se perdeu dentro e fora da quadra. Não renovou com o time da Califórnia e caiu no banco do pobre Minnesota Timberwolves. Nos seus melhores dias ele emulava muito bem Draymond Green no ataque e dava tocos avassaladores na defesa, no papel funciona ao lado de Harden. Falta consistência e alguma leitura de jogo, mas talvez o estilo direto e simples do Rockets jogar possa voltar a tirar o melhor do ainda jovem jogador. E ele tem mais de dois metros de altura!


Capela2

ATLANTA HAWKS

O Atlanta Hawks é uma das decepções da temporada. Nem tanto por não ir para os Playoffs, mas por conseguir ser pior que New York Knicks e Cleveland Cavaliers. Como é possível?! Mas ao contrário desses rivais de fim de tabela, o time ainda pode olhar para seu elenco e se animar: Trae Young é um fenômeno ofensivo, DeAndre Hunter tem crescido ao longo do ano, Cam Reddish melhora seus números a cada mês, Kevin Huerter é um bom arremessador e John Collins, discretamente, está beirando médias de 20 pontos e 10 rebotes nesta temporada. Falta muita defesa, amadurecimento e nem todos os jogadores vão evoluir como nos sonhos do time, mas é uma base jovem e com talentos diversos.

A chegada de Clint Capela se encaixa perfeitamente para tudo o que o time busca: o pivô tem rodagem e experiência, mas ainda é jovem e com 25 anos não fica tão longe do resto do elenco. Ele já se mostrou um bom defensor, área onde o Hawks mais sofre, e sua capacidade de ser útil no pick-and-roll vai ser muito bem explorada com Trae Young na armação. E melhor ainda: o custo para adquiri-lo foi o contrato expirante do não usado Evan Turner e uma escolha de Draft do Brooklyn Nets que deve cair lá pela posição 16 ou 17 no próximo Draft. Nada mal para render um pivô titular e bem estabelecido na liga.


Nuggets

MINNESOTA TIMBERWOLVES

A única troca que o Minnesota Timberwolves quer fazer é por D’Angelo Russell, mas às vezes outras precisam ser feitas antes. Não é segredo para ninguém que o General Manager Gersson Rosas vê no armador uma chave para dois problemas: (1) a armação do time e (2) a insatisfação de Karl-Anthony Towns. E nesse segundo ponto qualquer demora é crucial, o time não quer sofrer de novo o que já passou com Kevin Garnett e Kevin Love nos últimos 15 anos.

Só que eles não conseguiram levar Russell do Nets na última offseason e agora sofrem para dar tudo o que o Golden State Warriors está pedindo. Não sabemos com detalhes o que é, mas provavelmente uma combinação de alívio salarial, bons ativos e algum jogador que possa ajudar o time a vencer tudo na próxima temporada, quando voltam Stephen Curry e Klay Thompson. Dizem que o Warriors gostaria de levar ao menos duas escolhas de Draft do Wolves no futuro próximo, algo que poderia deixar o time de Towns engessado para construir o resto do elenco no entorno de Russell, Towns e a aposta Jarrett Culver. E ainda tem a questão Andrew Wiggins: algum salário gigante precisa sair para o de Russell chegar. O Warriors está disposto a tentar salvar a reputação do ala canadense? Muitas perguntas que essa troca ainda não responde.

Talvez o Wolves tenha visto esse negócio apenas como um bom negócio em si: Malik Beasley é um bom arremessador que finalmente deslanchou na temporada passada e que não tinha espaço no elenco do Denver Nuggets, mesmo vale para Juancho Hernangomez. Ou tudo isso foi acreditando que o contrato expirante de Turner e uma escolha de Draft a mais poderiam colocá-los mais próximo de Russell? Trocas que visam passos seguintes são sempre difíceis de julgar, mas conseguir uma escolha de primeira rodada e dois bons (embora não ótimos) alas por Robert Covington parece um bom negócio. Muitos times queriam ele, mas o que dizem é que ninguém estava abrindo o bolso com ofertas imperdíveis.


DENVER NUGGETS

Muita gente não entendeu o motivo do Nuggets entrar no negócio. Eles perderam dois reservas confiáveis e receberam em troca jogadores com pouquíssima rodagem na NBA (Keita Bates-Diop), de posição que eles não precisam (Shabazz Napier e Noah Vonleh) ou que estão machucados e não vão jogar (Gerald Green).

Mas é importante lembrar de duas coisas aqui: o time ganhou uma escolha de primeira rodada quase de graça por fazer parte da confusão toda. E escolhas de Draft são sempre importantes para fazer negócios.A ideia difícil de tirar Jrue Holiday do New Orleans Pelicans nesta quinta-feira certamente passa por mandar escolhas de Draft no negócio. Além disso, com a ascensão de Michael Porter Jr. os dois trocados tiveram seus poucos minutos de jogo ainda mais reduzidos. O último motivo já contempla o futuro próximo: tanto Beasley quanto Hernangomez teriam que receber as chamadas qualifying offers ao fim dessa temporada para ficarem no time. Juntos, seus novos salários no próximo ano custariam cerca de 9 milhões de dólares ao Nuggets. Vale mesmo a pena para caras que jogam tão pouco? Eles podem fazer falta nos Playoffs (lembraremos desse negócio se algo der muito errado), mas no longo prazo foi interessante transformá-los em algum ativo mais barato e negociável antes de perdê-los na offseason.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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