Wolves vs Wolves

No meio de uma tediosa quarta-feira de fim de offseason, um daqueles dias em que NADA deveria acontecer na NBA, uma bomba veio do Minnesota Timberwolves: o dono do time Glen Taylor anunciou a demissão do General Manager Gersson Rosas. Na nota, curta e seca, nem sequer um agradecimento pelos serviços prestados e muito menos uma explicação do motivo que o levou a mandar embora o arquiteto do elenco que daqui a menos de uma semana inicia os treinos para a temporada 2021-22.

Demissões de managers acontecem, é claro, mas não costumam ser assim. Rosas assumiu a gerência do time no meio de 2019 e por mais que tenha sido muito ativo na função, é pouco tempo para um General Manager colocar em prática seu plano. Considerando todas as lesões, trocas e dificuldades dos últimos dois anos, dá pra dizer que só agora Rosas iria poder testar de fato o time que montou ao redor de Karl-Anthony Towns, D’Angelo Russell, Malik Beasley e Anthony Edwards. Além da demissão rápida, o timing é estranho. Se Taylor estava insatisfeito com as decisões de Rosas há mais tempo, por que deixá-lo operar nesta offseason? Há algumas semanas ele estava aí trocando por Patrick Beverley, assinando com o argentino Leandro Bolmaro e renovando contratos com Jarred Vanderbilt e Jordan McLaughlin.

E tem mais ingrediente estranho nessa história: esse é o último ano de Taylor como dono do Wolves. Ele já vendeu a franquia para Marc Lore e Alex Rodriguez e irá entregar as chaves do ginásio na temporada 2022-23. Por que mandar embora o General Manager a tão pouco tempo de ir embora? Nesta quarta mesmo, horas antes de ser mandado embora, Rosas estava tendo reuniões e tomando decisões. E tudo isso com a sombra da troca de Ben Simmons rondando. Todos os jornalistas nos EUA cravavam até ontem que o Wolves era o time mais ativo em conversas com o Philadelphia 76ers para tentar levar o insatisfeito armador. Algo muda agora? Vale lembrar que Rosas foi discípulo de Daryl Morey, hoje manager no Sixers, nos tempos de Houston Rockets.

A notícia foi tão louca que até a maior estrela do Wolves foi pega de surpresa:

Só algumas boas horas depois do choque que algumas coisas começaram a ser reveladas. Segundo Jon Krawczynski e Shams Sharania, do The Athletic, havia uma certa tensão entre membros da gerência do time há um tempo, o bastante para o veículo estar trabalhando em uma matéria sobre o tema há semanas. A demissão os obrigou a soltar rapidamente parte da apuração para explicar a história. Segundo o texto, a demissão “é a culminação de meses de avaliação sobre a liderança de Rosas”. Eles afirmam que Taylor ouviu muitos funcionários insatisfeitos com a maneira com que o manager tratava os subordinados, como exigia muito trabalho e dava pouco descanso e como excluía muitos deles dos processos de tomada de decisão. “Ele não é quem eu pensava que era”, chegou a dizer um membro da comissão que veio junto com Rosas em 2019. A demissão do técnico Ryan Saunders no meio de uma viagem do time, a dispensa do olheiro Zarko Durisic que trabalhava na franquia há duas décadas e a decisão de contratar o treinador Chris Finch sem sequer entrevistar assistentes técnicos do próprio time antes também renderam inimigos internos.

Por outro lado, o texto afirma que há entrevistados negaram os problemas. Alguns lembraram que a tensão no Wolves é resultado da venda da franquia para novos donos. O time vive péssima fase na quadra e todos sabem que novos proprietários costumam querer mudar tudo e trazer pessoas novas. A incerteza com o futuro acabou, segundo eles, prejudicando a todos. Por fim, a matéria cita algo inusitado: “Nos últimos dias, a organização descobriu que Rosas, que é casado, manteve relações íntimas e consensuais com uma pessoa que trabalha na franquia, o que deixou muitos funcionários desconfortáveis”. Será que essa foi a gota d’água?

Quem assume o comando das operações do Wolves de maneira interina é Sachin Gupta, engenheiro de formação que trabalhou na ESPN e lá criou o brinquedo favorito de todos nós, a Trade Machine. Além disso ele já atuou como assistente de Morey (e Rosas!) no Rockets, ao lado de Sam Hinkie no Sixers e com Ed Stefanski no Detroit Pistons. Há alguns meses, Gupta foi chamado para voltar ao Rockets, mas Rosas não o liberou, dizendo que não poderia perder alguém tão próximo para um rival logo antes do Draft e da Free Agency. A crise foi revertida e Gupta decidiu ficar no Wolves mesmo quando foi finalmente liberado meses depois, mas alguns membros da franquia ouvidos pelo The Athletic lembraram do fato como exemplo da inabilidade de Rosas de lidar com seus companheiros de Front Office.

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Ao ver a notícia, a minha reação inicial era só de mandar um “Wolves sendo Wolves” e seguir o dia. A franquia coleciona fracassos desde que o mundo é mundo. O primeiro texto do Bola Presa, em 2007, foi sobre um fracasso do Wolves. Discutimos a troca que levou Kevin Garnett ao Boston Celtics, onde seria campeão já na temporada seguinte. Lembro até hoje da conversa que tive com o Danilo antes da publicação: a ideia era ter uma coluna chamada “Bola Presa” em que cada um de nós assumiria um dos lados da discussão para argumentar. Um iria defender que o Celtics se deu melhor, outro que o Wolves teria mais sucesso no longo prazo. A coluna nunca teve uma segunda edição porque logo de cara percebemos que muitas vezes, como nessa, alguém teria que bancar o ator na argumentação. Era óbvio que o Wolves era o perdedor da história, sempre foi assim.

Embora trocas de estrelas aconteçam, aquela era especialmente dolorida para o Wolves. Eles tiveram a BÊNÇÃO de ter na mão um dos maiores jogadores de todos os tempos e não conseguiram NADA com isso! Foram SETE ANOS seguidos caindo na primeira rodada dos Playoffs, depois a solitária temporada de sucesso alcançando a final do Oeste em 2004 e só. Garnett já passava dos 30 anos de idade e não tinha o que mostrar de sucesso coletivo no currículo. Um dos maiores atestados de incompetência em gerenciamento de time na história da NBA.

Muito aconteceu no mundo, na NBA e no Bola Presa desde 2007, mas as derrotas do Wolves seguem sendo uma constante. O time foi para os Playoffs apenas uma vez desde 2004 e coleciona situações em que monta um elenco animador e junta jovens promessas só para depois quebrar a cara de maneira espetacular. Foi assim no grupo liderado por Al Jefferson, na Era Kevin Love, nos longos anos esperando Ricky Rubio virar uma estrela e depois com Tom Thibodeau e Jimmy Butler falhando em levar Andrew Wiggins e Karl-Anthony Towns ao próximo patamar. O time pareceu ótimo por meia temporada, sofreu com lesões e depois derreteu com Butler humilhando todos em um treino e exigindo troca. É a síntese de como nada dá certo por lá.

Quando um time é campeão, é natural celebrarmos primeiro todos jogadores e, depois, um pouquinho, a comissão técnica. E só. Ninguém dá parabéns para o bilionário que ficou batendo palma no canto. Mas a verdade é que esses caras tem um trabalho muito importante: não estragar tudo nem deixar que outra pessoa estrague. Times como Wolves, Sacramento Kings e NY Knicks mostram como donos e demais forças dos bastidores são importantes. Eles mostram como a incompetência mina as chances de um time ir pra frente por décadas mesmo em uma liga que premia o fracasso com o Draft. Mesmo quando tentou fazer a coisa certa ao demitir um chefe que aparentemente perdeu o controle da franquia, Glen Taylor fez na hora errada e do jeito errado. Não dá pra fazer na semana do training camp e ter sua estrela descobrindo tudo via Twitter. O Wolves continua com o promissor trio de Towns, Russell e Edwards, segue com chances de levar Simmons e pode contratar um novo GM melhor que Rosas, mas é na troca de dono da próxima temporada que está a real esperança do time se salvar de si mesmo.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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