🔒Como o Warriors se preparou para LeBron e Kyrie

Na decisão da última temporada, o Cleveland Cavaliers achou uma fórmula nem tão secreta para derrotar o poderosíssimo Golden State Warriors. Ela parecia tão perfeita que conseguia, ao mesmo tempo, com pouco esforço, atacar tudo o que incomoda o adversário: desgastava Steph Curry fisicamente enquanto tirava proveito do fato dele não ser o melhor defensor do time; forçava a cobertura defensiva do Warriors, abrindo espaço para rebotes de ataque; e ainda é um estilo de jogo lento, normalmente à prova de turnovers, que impede o adversário de adotar a sua costumeira e mortal correira de contra-ataques.

O plano consistia em entregar a bola para LeBron James ou Kyrie Irving, pedir um corta-luz de JR Smith ou qualquer outro jogador que estava sendo marcado por Curry e então atacar o então MVP da liga. Eles fizeram isso sem pudor, em muitas posses de bola, e conseguiram todos os efeitos descritos acima. O campeonato, aliás, foi decidido assim:

Então uma das perguntas fundamentais dessa série era: como raios Steve Kerr e Mike Brown iriam planejar um contra-ataque para evitar esse ataque?

É preciso lembrar que outros times já tentaram isso, mas é algo que só é eficiente porque LeBron James e Kyrie Irving são dois dos melhores jogadores de toda a NBA nesse ataque no mano-a-mano. Segundo dados da NBA.comIrving foi o 3º jogador que mais marcou pontos nessas jogadas de isolação na temporada, atrás apenas de Russell Westbrook e James Harden. LeBron foi o, atrás de Carmelo Anthony. Então não é como se toda equipe tivesse elenco para fazer o que eles fazem, e nem todos –talvez só o Rockets com Harden– tem a combinação de um cara capaz de atacar dessa forma no mano-a-mano, achar bons passes se receber marcação dupla e ainda ter a sorte de contar com um elenco recheado com bons arremessadores. Então embora bonito no papel, poucos times podem executar essa blitz ofensiva de pick-and-rolls contra o Warriors, que em geral costuma se safar apenas trocando a marcação a cada bloqueio.

Para quem quiser entender melhor essas trocas –os switches— que o Warriors faz, vale ver este texto do Cleaning The Glass. Abaixo, por exemplo, ele mostra como o Warriors troca a marcação no pick-and-roll para evitar ataques à cest, e depois ainda faz mais trocas longe da bola para corrigir matchups que possam o prejudicar no futuro:


A primeira estratégia do Warriors para parar esse lance, como bem observou o nosso amigo Vitor, do Two-Minute Warning, foi a de fazer Curry utilizar a tática do hedge-and-recover toda vez que fosse envolvido em um pick-and-roll, principalmente nos que tinham LeBron James atacando.

O hedge é quando o defensor (Curry) do jogador que faz o corta-luz (JR Smith) dá um passo além desse corta-luz, fechando o espaço de quem tem a bola (LeBron). Mas ao invés de ficar por lá, assim que LeBron dá uma recuada por falta de espaço, ele corre de volta para defender seu jogador, é o que chamamos de recover. Enquanto isso, o defensor de LeBron (geralmente Durant ou Iguodala) dá a volta por baixo de Curry e retoma a marcação.

No lance abaixo podemos ver as duas abordagens do Warriors no mesmo lance. Primeiro a abordagem tradicional deles, a troca. Quando o bloqueio envolve Durant e Iguodala, eles trocam sem pensar duas vezes. Quando envolve Curry, o armador apenas faz esse hedge, obriga LeBron a fazer um caminho mais longo e vê Durant se recuperar na defesa e forçá-lo a um passe difícil.

Essa estratégia só é possível com Curry atento, RÁPIDO e com boa comunicação na defesa. E mesmo assim há um lado negativo, enquanto Curry se recupera para alcançar seu defensor original e Durant/Iguodala passam por baixo do corta-luz, LeBron fica com muito espaço para arremessar de 3 pontos. Cabe a ele melhorar o aproveitamento:

Abaixo temos seis lances onde Curry faz o hedge e evita enfrentar LeBron James no 1-contra-1. Nesses casos não é o fim da jogada para o Cavs, mas eles acabam perdendo tempo, esforço e acabam no mesmo lugar, no meio da quadra,  sem o matchup desejado e com menos tempo no relógio.

Mas, como dissemos, isso exige comunicação. Em um lance um pouco mais complexo, o Cavs fez um pick-and-roll imediatamente após um outro pick-and-roll e Curry se perdeu na hora de voltar ao seu defensor. Iguodala não entendeu se deveria ter ficado com LeBron e Pachulia não saiu para a ajuda. Um caos que acabou com uma enterrada sem marcação:


Mas em alguns momentos o Cavs conseguiu os duelos que queria, com alguém sendo marcado só por Curry. Às vezes o Warriors foi obrigado a fazer essa troca, outras vezes tentaram atacar Curry lá perto do garrafão, jogando de costas para a cesta. Nesses caso vimos a segunda estratégia do Warriors, a dobra agressiva de marcação. Ela aconteceu até quando Curry não estava envolvido, foi mais frequente no garrafão e geralmente sobre jogadores que não passam tão bem a bola, como Kyrie Irving ou Tristan Thompson. Contra LeBron até aconteceu, mas é mais arriscado por ele poder passar a bola por cima da defesa. O Cavs não lidou bem com essa blitz agressiva…


O Cavs percebeu logo que atacar Curry não estava dando tanto resultado e resolveu adotar um outro plano de ataque. Eles passaram a priorizar os mesmos pick-and-rolls, mas dessa vez visando os que envolviam os jogadores mais altos, especialmente Zaza Pachulia, o que fez até Mike Brown passar um tempo com James Michael McAdoo em quadra. Os grandões tem menos velocidade para fazer o que Curry faz, às vezes são obrigados a aceitar a troca de marcação e ainda costumam deixar espaços para passes para o meio do garrafão, algo bem explorado por LeBron James.

Em um caso extremo nessa brincadeira o Cavs encontrou seu matchup DOS SONHOS, um pick-and-roll envolvendo Curry e Pachulia. Aí é cesta!


Um outro fator decisivo no Jogo 1 foi a qualidade do Warriors na defesa individual. Diversas situações que acabaram em pontos de LeBron ou Irving nos últimos três jogos da final do ano passado, dessa vez não deram em nada. Destaque para Klay Thompson, que compensa a má fase no ataque com defesas ESPETACULARES sobre todo mundo, desde Irving até lá no garrafão contra o maior e mais pesado Kevin Love. Mas também tivemos Kevin Durant parando LeBron, Draymond Green defendendo meio mundo e até Curry se virando bem demais quando foi obrigado a encarar seu rival de posição:

O Cavs PRECISA arrancar mais pontos desses duelos individuais ou simplesmente mudar de estratégia e arrancar mais pontos de jogadas montadas de outras maneiras. Uma saída talvez seja, ao menos de vez em quando, usar jogadas um pouco mais complexas. Separei duas bem interessantes: a primeira é uma tirada do playbook do falecido David Blatt, que envolve uma série de passes e cortes na linha dos três pontos até que Irving se solta e enfrenta um despreparado Pachulia:

A outra é uma que parece que vai ser um pick-and-roll, mas acaba sendo um bloqueio para liberar Irving, que recebe a bola já na corrida, nas costas da defesa, e faz uma bandeja fácil para seus padrões:


Mas se isso anima os torcedores do Cavs, separei também duas posses de bola simplesmente PERFEITAS do Golden State Warriors, daquelas que mostram como marcar pontos contra esse time é muito difícil.

Nessa primeira Irving tenta ir no mano-a-mano contra Iguodala, que não deixa o armador sequer arremessar! Ele ainda consegue jogar a bola para LeBron, que então tenta suas chances contra Durant e também é engolido. Quantos times conseguem ter uma dupla de defesa de perímetro tão boa assim?!

E pior, nesse caso eles nem poderiam tentar o pick-and-roll com Curry porque ele estava marcando Kyle Korver, que não tem essa característica de ser o cara do bloqueio. Acaba sendo o matchup perfeito para “esconder” o armador na defesa.

Por fim, temos uma jogada daquelas para botar no vídeo que mostra a razão pela qual Draymond Green tem tudo para ganhar o prêmio de melhor defensor do ano. Vejam se vocês conseguem sacar tudo o que ele faz nos poucos segundos do lance abaixo:

Assim que a jogada começa, Green reconhece que eles vão para o pick-and-roll de LeBron James e JR Smith, para tentar a comentada troca com Steph Curry. Então ele indica para Kevin Durant, que estava marcando Kevin Love, para ele trocar e ir marcar JR Smith. A ideia do Cavs é imediatamente anulada porque, como vimos acima, Durant e Iguodala trocam entre si sem problema algum.

Nesse caso, Curry ficaria encarregado de defender Love, que parece uma má ideia a princípio, mas não nesse caso, já que Love está lá parado na zona morta. O jogador do Cavs se toca da situação e então corre para o garrafão, onde ele poderá tirar proveito da diferença de altura. Inteligente, LeBron vê a mesma coisa e lança o passe. Mas Draymond Green foi o cara que ESCOLHEU E DIRECIONOU esse matchup, ele sabe dos riscos e está lá na sua posição de LÍBERO para correr para a interceptação do passe. Simplesmente impecável. Ele leu uma jogada que não o envolvia, direcionou seus companheiros para quebrá-la e depois agiu para evitar a única coisa que o Cavs tinha para explorar.

Existem saídas para o Cavs. Nenhuma delas é fácil.

Torcedor do Lakers e defensor de 87,4% das estatísticas.

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