[Preview] Finais da NBA – Warriors x Cavs

É amanhã! Finalmente teremos as tão aguardadas Finais da NBA entre Cavs e Warriors, completando uma narrativa de que toda a temporada seria apenas pretexto para que pudéssemos assistir às duas equipes se enfrentando novamente. Começamos nossa cobertura desse confronto com um post imperdível sobre a trilogia, já que será a primeira vez que duas equipes se enfrentarão três vezes seguidas nas Finais da NBA. Mas agora é hora de nosso tradicional preview, contendo os pontes fortes e fracos das duas equipes, como explicar o confronto para seus amigos e parentes leigos, e dando nosso palpite que uma certa ~maldição Bola Presa~ sempre tem o costume de contradizer.


Golden State Warriors x Cleveland Cavaliers

Não caia no mito de que temos em confronto dois estilos ou filosofias opostas: em termos de basquete, as duas equipes são mais parecidas do que imaginamos à primeira vista. Ambas são duas POTÊNCIAS OFENSIVAS que apostam massivamente nas bolas de três pontos. Embora o Warriors tenha se estabelecido como o melhor ataque da temporada regular – melhorando ainda mais nesses Playoffs, rumo a 115 pontos a cada 100 posses de bola por jogo – o que o Cavs conseguiu nessa pós-temporada é fora de série: são incríveis 120 pontos a cada 100 posses de bola, 10 pontos a mais do que alcançou na temporada regular.

Em termos táticos, o Warriors ainda representa o que há de mais avançado e azeitado em todo o basquete mundial: os jogadores não param de se movimentar sem a bola e o time lidera toda a NBA em jogadas de contra-ataque (19% de suas jogadas totais) e em jogadores que arremessam vindos de algum corta-luz (13% de suas jogadas totais). Essa combinação torna a equipe quase impossível de ser defendida e permite ao Warriors ser a equipe com mais arremessos livres dados por jogo nessa temporada. Suas sequências de pontos são famosas, já que bastam algumas bolas de três pontos seguidas por alguns contra-ataques certeiros e as diferenças no placar alcançam patamares difíceis de serem perseguidos pelos adversários.

Tenha o parágrafo anterior em mente ao lembrar que o Cavs teve um ataque AINDA MAIS PODEROSO do que esse nesses Playoffs (5 pontos a cada 100 posses de bola A MAIS por jogo é bastante coisa), o que é ainda mais surpreendente se levarmos em consideração que o ataque do Cavs na temporada regular esteve 10 pontos abaixo disso. Mas ao invés de fazer isso com corta-luz e movimentação constante, o Cavs alcança esse grau de excelência liderando a NBA em jogadas em que o atacante com a bola fica isolado no mano-a-mano contra o defensor (12% de suas jogadas totais), acertando suas bolas de três pontos num ritmo frenético e, claro, colocando a bola nas mãos de LeBron James.

Aproveitem, crianças: estamos vendo estatisticamente a melhor pós-temporada da carreira de LeBron James, com sua maior média de pontos e sua melhor porcentagem nos arremessos de três pontos. Fizemos um post especial só sobre os motivos de LeBron ter melhorado suas bolas de longa distância, mas não foi apenas ele: Kevin Love, cheio de altos e baixos em sua passagem pelo Cavs, acertou praticamente 50% de suas bolas de três nesses Playoffs. Dado importante, bem próximo daquilo que acontecia com o Rockets e seu ataque baseado no perímetro: quando o Cavs converteu 16 ou mais bolas de três pontos nessa temporada, venceu 19 partidas e perdeu apenas 3. Com LeBron acertando essas bolas e criando espaço para Love, Kyle Korver, JR Smith e Channing Frye no perímetro, todos com muitos minutos nessa pós-temporada, o Cavs é um time extremamente difícil de ser batido.

Esse é o motivo dessa série ser muito difícil de analisar a partir dos duelos individuais. De um lado o Warriors não PERMITE duelos individuais, com corta-luzes constantes que forçam a marcação adversária a trocar a marcação, explorando quaisquer mismatches (jogadores mais altos ou mais baixos marcando o jogador errado) ou qualquer adversário que esqueça de fazer a rotação defensiva (oi, Kyrie Irving):

(vejam Irving tirar um cochilo enquanto Avery Bradley passa atrás dele, que engraçado)

Do outro, o Cavs oferece duelos individuais IMPOSSÍVEIS de serem marcados, como LeBron James e Kyrie Irving, dois dos melhores jogadores de isolação de todos os tempos, de modo que os adversários precisam dobrar, triplicar ou marcar por zona para diminuir seu poder ofensivo. Quando isso acontece, outros jogadores do Cavs ficam livres ou passam a ser marcados pelos jogadores errados.

Se esse jogo acontecesse uns 20 anos atrás, teríamos Kyrie Irving e Stephen Curry sempre marcando um ao outro e poderíamos arriscar um veredito sobre quem está se saindo melhor no confronto. Hoje em dia isso é impossível: o Cavs tentará esconder Kyrie Irving na zona morta marcando jogadores secundários do elenco adversário e o Warriors tentará puni-lo com movimentação constante e muitas infiltrações sem a bola como a que vimos no vídeo acima. Da mesma forma, Stephen Curry ficará escondido longe de Irving quando for sua vez de defender, atuando apenas na interceptação das linhas de passe e pouco na defesa individual. Estamos falando de duas equipes que são potências ofensivas e elas devem ser capazes de impor seus estilos de jogo e conseguir os arremessos que desejam na maior parte das vezes, de maneiras que inviabilizem a noção tradicional de um duelo posição-contra-posição.

Nesse cenário, o banco de reservas tem uma importância essencial: manter as movimentações do Warriors e as opções de arremesso do Cavs sem comprometer as outras áreas, impedindo que algum jogador adversário possa ficar “escondido” na marcação de alguém que pouco participa no ataque. O banco do Warriors já provou ser mais sobre o esquema tático do que sobre o talento real de seus envolvidos – sob o comando do técnico Steve Kerr, vimos a carreira de JaVale McGee ser ressuscitada e jogadores como Ian Clark e Patrick McCaw parecerem gente importante. O banco do Cavs, que na temporada regular era famoso por perder as lideranças obtidas pelo quinteto titular – com as estatísticas mostrando que eles de fato tomavam mais pontos do que faziam – tomou a ÁGUA DO PERNALONGA™ nesses Playoffs e não apenas pontuam mais do que apanham como também foram capazes de dar uns sufocos no banco do Celtics e seu elenco ultra-profundo. Tudo isso significa que, para além dos duelos individuais, não faltarão opções e saídas ofensivas para as duas equipes, no que tem tudo para gerar jogos de placares elásticos que servirão como demonstração do que a NBA faz de melhor na hora de pontuar. Tragam os coleguinhas para testemunhar o zilhão de cestas inevitáveis.

A coisa começa a ficar mais complicada e menos animadora quando pensamos que as defesas que lidarão com esse enorme arsenal defensivo são, ao contrário de tudo que vimos acima, bastante desequilibradas. Se voltarmos à temporada regular, enquanto o Warriors manteve a segunda melhor defesa da Liga – e a melhor defesa contra arremessos de três pontos – o Cavs esteve sempre entre as DEZ PIORES defesas da Liga. Lembra daquela história de que o Cavs ganha quase sempre quando faz 16 bolas de três pontos? Pois bem, o Warriors só tomou mais de 14 bolas de três pontos UMA VEZ nessa temporada e mantiveram seus adversários consideravelmente abaixo da média de aproveitamento em três pontos da NBA nessa temporada. Mas para o bem dessas Finais, vamos IGNORAR a temporada regular do Cavs e aceitar que eles ligaram aquele botãozinho do “agora está valendo” que nunca ninguém consegue ligar tão em cima da hora. Nos Playoffs, a defesa do Cavs melhorou sensivelmente e está acima da média da NBA na temporada, ou seja, entre as 15 melhores; pode não parecer uma melhora tão grande, mas ao menos mostra que eles estão EVOLUINDO EM TEMPO REAL, de modo que podemos esperar que as melhores atuações defensivas da equipe aconteçam ainda nessas Finais.

Ainda assim, é o Cavs quem terá que fazer as mais duras escolhas defensivas dessa série: o que fazer com Kyrie Irving, Kyle Korver, Channing Frye e Tristan Thompson para não expô-los defensivamente? Kevin Love já mostrou que embora não seja um grande defensor, consegue enganar o suficiente para que não valha à pena se focar apenas em atacá-lo. Por outro lado, Tristan Thompson vira sempre um alvo muito fácil, com os jogadores do Warriors arremessando sobre ele no perímetro em qualquer troca de marcação que ele permita. Korver, Frye e Irving serão obrigados a caçar adversários por toda a quadra e, em situações individuais, serão driblados ou forçados para dentro do garrafão, de modo que o Cavs terá que limitar seus minutos ou criar um sólido esquema para defender atrás deles, na cobertura.

Para o Cavs é igualmente importante manter os arremessadores em quadra – o ataque depende disso – e Tristan Thompson no garrafão o máximo possível. Na partida em que o Cavs venceu o Warriors nessa temporada regular, o Cavs pegou 18 rebotes de ataque, 6 deles vindos de Thompson. A maior fragilidade do Warriors é que para ser o melhor time da NBA nos contra-ataques, todos os seus jogadores precisam estar sempre prontos para a transição, impossibilitando a luta pelos rebotes defensivos. Não dá para arrumar esse buraco sem abrir mão de uma parte essencial do ataque e do ritmo da equipe, de modo que a não ser que Tristan Thompson pegue trocentos rebotes ofensivos, o Warriors sequer cogitará mudar o esquema. Na outra partida dessa temporada regular em que o Warriors venceu o Cavs por incríveis 35 pontos, o Warriors conseguiu VINTE E TRÊS rebotes A MAIS do que o Cavs, ou seja, nem sempre é necessária uma forte defesa e box-out. Quando o Cavs é pego fora de posição, erra a cobertura na defesa e não roda a bola o bastante no ataque, os rebotes caem nas mãos do Warriors e então Tristan Thompson não tem muito a oferecer para a equipe.

No garrafão, o Warriors pode contar com a melhor defesa da carreira do Draymond Green nos Playoffs e com seu sangue frio no clutch time – bizarramente ele é o jogador mais eficiente dessa pós-temporada nos dois minutos finais de qualquer partida. Seu maior talento está em defender na cobertura, tapando os espaços para infiltrações enquanto outros jogadores tentam atrapalhar o infiltrador. Para o Cavs, o ideal seria puni-lo passando a bola nas infiltrações para os jogadores que Green precisa abandonar, ou então forçando Green a marcar LeBron James e, claro, cometer faltas no processo.

Esqueçam o baixo aproveitamento de Klay Thompson nesses Playoffs, ele – além de Durant, Curry, LeBron, Kyrie Irving – são pontuadores natos que, dadas as oportunidades, podem decidir jogos inteiros sozinhos. Contar com o erro de qualquer um deles não é viável, não é um plano tático plausível. É por isso que em meio a tanto talento ofensivo, o que deve decidir a série serão os planos defensivos. Certamente o Cavs entra um passo atrás nesse quesito mas, com uma defesa que erro menos e seja capaz de esconder suas limitações (até para poder usar esses jogadores limitados no ataque), poderá tornar a quadra equilibrada. Se serão capazes de colocar isso em prática, descobriremos nos próximos jogos – com comentários táticos constantes por aqui, claro.


PARA LEIGO VER

O Warriors é formado por um monte de moleques criados pelo próprio time que, contra tudo que se esperava, deram certo DEMAIS. Some a isso um planejamento de longo prazo, um monte de nerds estudando novas maneiras de jogar basquete e um técnico descolado que provavelmente usa entorpecentes e o Warriors se tornou o time que todo mundo quer ser e para o qual todo mundo quer jogar. Aí Kevin Durant, uma das grandes estrelas da Liga e que jogava num dos poucos times que tinha chance de derrubar o Warriors, resolveu que queria mesmo é se divertir e foi jogar com seus antigos rivais, ganhando um salário gordo no processo porque o Warriors deu sorte na vida. Um bando de caras meio zé-ninguém que se descobriram fodões e jogam basquete dando risada e receberam ajuda de um dos poucos que poderiam pará-los parece ser uma receita perfeita para torná-los OS VILÕES da NBA atual. Pense num grupo fracote de um jogo de videogame que vai ganhando muitos pontos de experiência, fica completamente overpower e aí seu rival super-poderoso descobre que eles parecem muito legais LÁ NO CORAÇÃO e resolve ir apoiá-los, formando uma espécie de Liga da Justiça que dá risada e morde seus protetores de boca. Sem esse tal de Durant, o Warriors já tinha conseguido a melhor campanha DA HISTÓRIA da NBA, com ele então é como se a Liga da Justiça conseguisse o Um Anel. Dá medo e para poder dormir à noite com a garantia da continuidade do cosmus, muita gente preferiria que eles fossem desintegrados por um raio cósmico.

Mas apesar de tanto poder, eles foram parados na temporada passada por LeBron James, que tinha perdido para eles na temporada anterior. Você que não conhece basquete não pode falar isso em voz alta sob risco de apanhar na rua, mas é possível que esse carinha termine a carreira acima de Michael Jordan. Ele cansou de perder sozinho, foi ser campeão junto de uns amigos (parece a história do Durant), mas depois voltou fofamente para casa tentar ser campeão na sua cidade natal com um elenco mequetrefe. Só que o elenco não era tão mequetrefe assim e quando a confiança dos Warriors caiu um pouquinho, LeBron e seus amigos pularam com tudo e foram campeões numa das viradas mais impressionantes da história dos esportes. De quebra ainda encerraram uma maldição que assolava todos os esportes em Cleveland. Pense num herói solitário descobrindo que tem amigos poderosos que ele mal conhecia, destruindo uma maldição terrível que assolava a sua região e matando a Liga da Justiça no processo. Só que agora, para fechar a trilogia épica de filmes bregas, o solitário LeBron que de solitário não tem nada, vai ter que vencer também o Um Anel num grupo que já era em si poderoso demais.

Vai torcer para o LeBron vencer todas as estatísticas e expectativas e mais uma vez derrotar o time superior? Ou vai torcer para o grupo de ex-fracassados que se tornaram o maior poder da galáxia e tiveram adição de um carinha que era muito fodão e que só queria vencer com os amiguinhos e foi criticado por não querer lutar sozinho? Que filme, amigos. Aposto que o Durant será interpretado pelo Selton Mello.


MALDIÇÃO BOLA PRESA

As estatísticas, os números, o bom-senso, o senso-comum, as leis da física e toda nossa experiência empírica nos obrigam contratualmente a dizer que o Warriors leva essa. Seria VERDADEIRAMENTE ESTRANHO se não levasse – mas até aí, temporada passada foi ESTRANHÍSSIMA e o Cavs levou. O problema é que nenhuma das duas equipes foram de fato desafiadas nesses Playoffs, então sequer podemos ter um critério de comparação para imaginar o que vai acontecer quando essas duas equipes estiverem dando o melhor que puderem. Acertando a defesa, o Cavs pode levar essa série longe – é bem possível imaginar a equipe de Cleveland se aproveitando de DERRETIMENTOS PSICOLÓGICOS do adversário para empurrar essa série para 7 jogos e vencer lá, já que Jogos 7 em Finais são famosas TERRAS DE NINGUÉM. Mas se a defesa do Cavs não der certo, se o Cavs não conseguir impor Tristan Thompson e se os arremessadores não conseguirem ficar tempo suficiente em quadra, não seria nada fora da curva o Warriors vencer essa série em 5 jogos. Ou seja, aproveitem enquanto podem porque a série pode ser curta. Se não for, aí os deuses do basquete nos deram o presente da defesa cavaliersiana e teremos um fechamento inesquecível de trilogia. Preparem-se!

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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