[Resumo da Rodada] Como o Mar Vermelho

Um primeiro quarto físico, brigado, disputado, com lances de efeito, grandes jogadas coletivas e individuais. Um primeiro quarto bonito que, entre mortos e feridos (incluindo o plano de jogo do Cavs, que foi logo de cara privada abaixo), terminou com o Warriors vencendo por apenas 5 pontos. Será que finalmente teríamos a série que merecemos? Um duelo de alto nível em que o Cavs, mesmo aos trancos e barrancos, tornaria a partida disputada até os momentos finais, quando tudo pode acontecer?

Nah. No segundo quarto, o Cavs que já parecia no limite começou a soltar fumaça. Kevin Durant assumiu o jogo e começou a alargar a vantagem. Os 8 pontos a mais para o Warriors no placar ao fim do primeiro tempo escondiam como o Cavs estava se segurando pela pontinha dos dedos. Bastaria um peteleco para que a dignidade desabasse. Um quarto e um Stephen Curry depois, o jogo já estava inteiramente encerrado. Se os titulares pisaram em quadra no quarto período foi apenas porque não é bem visto abandonar um jogo das Finais até os minutos derradeiros. A promessa de um jogo disputado – aquele que seria capaz de dar significado a toda essa temporada – foi adiada para o próximo confronto com mais de 20 minutos faltando para o término do jogo.

Esse fim já estava anunciado ali no primeiro quarto quando o Warriors pegou OITO rebotes ofensivos contra apenas três do Cavs. Enquanto Tristan Thompson terminou o período com um mísero rebote (e apenas 4 no jogo INTEIRO) , JaVale McGee já tinha 4 rebotes, 3 deles ofensivos. Falamos bastante em nosso preview da série como Tristan Thompson dominar os rebotes de ataque era essencial não apenas para dar novas chances de arremesso para o Cavs, mas também para impedir que o Warriors corresse para o contra-ataque, obrigando o adversário a lutar pelos rebotes defensivos. Da mesma maneira, avisamos que quando o Cavs está mal posicionado na defesa, com os jogadores tendo que cobrir uns aos outros fora do posicionamento pretendido, o Warriors arruma rebotes de ataque que são completamente mortais nas mãos de um time que acerta tantos dos seus arremessos, especialmente na linha de três pontos. Os rebotes de ataque do Warriors no primeiro quarto dedavam, portanto, que o Cavs estava se atrapalhando na defesa, que o Cavs foi incapaz de marcar McGee quando estava preocupado em parar os arremessadores adversários, e que o Warriors ganhou novas chances de arremessar num quarto em que começaram errando bolas razoavelmente livres de três pontos – erros que não duraram muito tempo. Do outro lado, Tristan Thompson não garantir rebotes de ataque contra McGee, Zaza Pachulia e Draymond Green permitiu que o Warriors corresse para o contra-ataque em INTENSIDADE TOTAL, forçando a defesa do Cavs a enfrentar o famoso cobertor curto: ou marcava o jogador correndo com a bola, ou perseguia os arremessadores para a zona morta. Dica: não importa o que tenham escolhido, deu sempre errado.

A defesa do Cavs é bastante digna no mano-a-mano e brilha especialmente nos momentos em que pode ser física e agressiva, empurrando, contestando e perseguindo seus adversários. Quando precisa tomar decisões rápidas de posicionamento, no entanto, nada para eles é simples, automático ou natural: precisam parar para pensar ou reagem sem ter certeza do que estão fazendo. No primeiro contra-ataque que puxou, Kevin Durant correu completamente livre para a cesta enquanto a defesa do Cavs tomava a péssima decisão de fechar os espaços de arremesso no perímetro dos outros jogadores do Warriors. Parecia que Durant era Moisés abrindo o Mar Vermelho:

Por favor, destaque mais uma vez para a decisão de Kyrie Irving de FUGIR DALI CORRENDO sem nenhum critério ou sentido. Nessas situações, o Jazz e o Spurs já nos ensinaram nesses Playoffs que o menos pior é fazer falta, parar o contra-ataque e forçar o Warriors a um ataque de meia quadra ou a cobrar lances livres. Deixar um cara simplesmente correr pra frente e enterrar parece coisa de videogame.

Durant teve ainda OUTRA enterrada sozinho puxando contra-ataque, até que na terceira vez todos os jogadores fecharam nele e Stephen Curry recebeu a bola para acertar um arremesso de três pontos sozinho. Não foi o único: Curry acertou 6 bolas de três pontos, incluindo uma em transição espetacular quando a defesa do Cavs tomou a decisão de fechar o caminho para a cesta:

Nesse ponto Curry já estava ciente de que o único modo deles perderem o jogo era ser CHUTADO NA CABEÇA por alguém, de modo que ele até tentou se chutar sozinho, mas não alcançou. Destaque para o começo da jogada, com Andre Iguodala marcando Irving, que foi obrigado a abrir mão da bola, e LeBron James sendo marcado por Kevin Durant a ponto de errar feio a bandeja e gerar o contra-ataque.

O plano do Cavs certamente era acertar bolas de três pontos e dominar os rebotes de ataque para impedir os contra-ataques do Warriors. O time começou acertando 4 bolas de três pontos no quarto inicial – justamente o que os manteve vivos na primeira metade do jogo – mas sendo dominados nos rebotes acabaram sendo atropelados pelos contra-ataques adversários. O pior é que mesmo em meia quadra a defesa do Cavs, que é o ponto fraco da equipe, não conseguiu funcionar razoavelmente: não souberam como impedir Curry de infiltrar, ninguém fez sombra em Kevin Durant, e LeBron James teve muitos problemas sendo o “homem da cobertura”. O maior exemplo foi esse passe surreal de Curry que se aproveita de LeBron estar flutuando entre o perímetro e a cesta e permite que Durant tenha espaço suficiente tanto para arremessar quanto para infiltrar. LeBron escolheu contestar as duas coisas ao mesmo tempo e o resultado foi, claro, catastrófico:

A defesa do Warriors, por sua vez, foi impecável. Logo de cara ficou óbvio que qualquer corta-luz com LeBron James faria a trocação marcar POR UM MÍSERO SEGUNDO. Curry contestava LeBron momentaneamente e antes que LeBron pudesse se preparar para atacar, Curry já abandonava a posição para tapar algum buraco da quadra enquanto o defensor original do LeBron retomava a posição. Foi esperto porque obrigou tanto LeBron quanto o Cavs a tomar decisões rápidas no ataque ao invés de longas jogadas de isolação contra um defensor mais frágil, que é o que o Cavs adora. A princípio LeBron até se aproveitou do fato de que Curry ia abandoná-lo e tentou ser agressivo, mas a defesa do Warriors não errou, LeBron seguiu sendo bem marcado por quem retomava posição e, cansado, começou a forçar arremessos de média e longa distância – justamente aqueles que viram os contra-ataques mais FÁCEIS para o Warriors executar.

Klay Thompson teve de novo suas chances de pontuar mas errou tudo, incluindo uma tonelada de bolas embaixo da cesta, lugar em que o Cavs continua defendendo bem. Foram apenas 6 pontos para ele, modestos como os 7 pontos de Iguodala e os 9 de Draymond Green. Mas Durant esteve totalmente imparável com 38 pontos (fora os 9 rebotes e 8 assistências) e Curry somou 28 (além de 6 rebotes e 10 assistências). Exposto ao contra-ataque dos dois, dando-lhes espaço tanto para a infiltração quanto para o arremesso, tomando más decisões na defesa de transição, o Cavs só sobreviveu por um fio na base de bolas de três pontos e o talento individual de LeBron e Irving. Contra a boa defesa do Warriors, não é suficiente: bastaram as bolas não caírem um momento e LeBron errar um par de bandejas e o jogo foi pelo ralo.

Foi apenas a primeira partida e ainda dá tempo do Cavs colocar a cabeça no lugar e repensar todo o trabalho defensivo. É uma fileira de dominós: arrumando um elemento inicial (os rebotes) diversas outras áreas da quadra teriam sido MUITO, MUITO mais fáceis. Ainda assim, parece que muitos outros ajustes precisam ser pensados: LeBron não pode ficar flutuando como único defensor de cobertura e Curry impedir que LeBron infiltre com sua defesa de UM SEGUNDO é simplesmente INACEITÁVEL. Veremos o quanto disso pode ser arrumado até domingo. No fundo, o Warriors é favorito e o Cavs não precisa de pressa, pode ir se ajustando aos poucos até voltar a jogar em Cleveland. Mas como o abismo inicial foi grande demais, não será o bastante dar pequenos passos. A melhora precisa ser verdadeiramente grande.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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