A temporada de trocas parecia que seria intensa nas últimas semanas em que as negociações eram permitidas entre as equipes da NBA. Começou com Serge Ibaka indo para o Toronto Raptors, depois nos chocamos com DeMarcus Cousins deixando o Sacramento Kings a preço de banana rumo a New Orleans. A movimentação da peça mais valiosa das especulações faria o mercado deslanchar ou empacar? Calhou que empacou. Nada de Jimmy Butler ou Paul George mudando de lados, apenas Nerlens Noel foi um nome de mais impacto (mas longe de ser uma estrela ainda) a trocar de time, indo do Philadelphia 76ers para o Dallas Mavericks em troca de duas escolhas de segunda rodada e Andrew Bogut.
Agora pensemos: depois do Sixers discutir Jahill Okafor com cerca de 200 times nas últimas semanas, por que Noel é quem foi negociado? Não era Noel que, em teoria, tinha mais chances de funcionar ao lado de Joel Embiid? E não era melhor só segurar o rapaz ao invés de trocá-lo por tão pouco? O processo (o novo, não o do Sam Hinkie) não é sempre claro. Estamos ansiosos para analisar as trocas – e faremos isso -, mas nunca é demais lembrar que nesses casos estamos comentando quebra-cabeças incompletos.
Toda negociação envolve uma tonelada de variáveis que nem sempre fazem sentido para a gente num primeiro momento. Nem num segundo, na verdade. A famosa troca que levou Marc Gasol e Kwame Brown ao Memphis Grizzlies por Pau Gasol em 2008, por exemplo, foi motivo de piada por muitos anos até que finalmente o irmão caçula mostrou que era também muito bom. Hoje, olhando para trás, todos os movimentos que resultaram na melhor época da história do Grizzlies só foram possíveis porque eles fizeram a troca que, no dia, fez até Gregg Popovich dizer que a NBA deveria ter o poder de vetar alguma negociação.
Golpe de sorte? Um pouco, sem dúvida, mas em entrevistas recentes ao Adrian Wojnarowski, tanto o General Manager do Grizzlies, Chris Wallace, quanto o próprio jogador espanhol contaram detalhes da negociação da época: o GM era fã de Marc Gasol, viajou para vê-lo na Espanha e realmente acreditava que ele seria um grande nome. Sem nem consultar seu chefe, ofereceu uma grana preta para levá-lo à NBA. O pivô não estava nem um pouco a fim de sair, mas seu time na Espanha FALIU e ele se viu na chance de tentar algo novo na carreira. Wallace então teve que ir convencer o dono da franquia a pagar um salário muito maior que o normal para um novato, ainda mais um selecionado na segunda rodada. A coisa só fechou mesmo quando Pau Gasol ligou para o dono da franquia e cravou que o caçula poderia ser ainda melhor do que ele.
A história é interessante justamente por só sabermos dela completa agora. Na época as notícias saiam aos poucos, sem detalhes, e a gente ficava se perguntando as reais motivações e expectativas das partes envolvidas.
Sem saber de tudo ainda, ficamos com o que foi revelado. No caso de Cousins já sabemos que o manager Vlade Divac tinha uma proposta que ele considerava melhor alguns dias antes, e que ele fechou essa com o Pelicans por medo que elas só piorassem com a proximidade da data-limite de trocas. Essa informação também dá a entender que eles tinham decidido que renovar o contrato de Cousins ao fim deste ano, dando o famoso POTE DE OURO ao pivô, estava fora de questão. Também sabemos que o técnico Dave Joerger aprovou a troca e que o dono da equipe, o sempre palpiteiro Vivek Ranadivé, é fã de longa data de Buddy Hield e acredita que ele tem “potencial de ser Steph Curry“. Também sabemos que os outros times disseram ter dificuldade de contatar Divac por telefone, que nunca respondia, e que Dell Demps, manager do Pelicans, teve uma vantagem por conseguir se encontrar pessoalmente com Divac durante o All-Star Weekend em New Orleans.
Nenhuma dessas informações pesa a favor de Divac ou do Kings, que só pioraram sua reputação de franquia mais desfuncional da NBA, mas ao mesmo tempo não sabemos os planos táticos de Joerger, os bastidores do clima de Cousins no vestiário e o que o time planeja para Tyreke Evans, Hield e os pivôs Skal Labissiere e Willie-Caullie Stein, que tiveram seus melhores jogos na carreira logo na estreia da era pós-Cousins.
Em um dos últimos podcasts antes da trade deadline comentamos que os times com mais chance de se mexer eram aqueles cujos General Managers estivessem desesperados para mostrar serviço e manter o emprego. Isso aconteceu mesmo, como nos mostrou tanto o Washington Wizards quanto o Los Angeles Lakers.
Dona da franquia de Los Angeles que vive sua maior crise de resultados na história, Jeanie Buss viu a troca de DeMarcus Cousins como o fim da picada para a dupla Jim Buss (seu irmão e presidente de basquete) e Mitch Kupchak (o então General Manager). A demissão dos responsáveis por pensar a franquia a longo prazo no meio da trade deadline soou um pouco de desespero, mas depois pareceu como um caso de missão não cumprida. Eles deveriam trazer Cousins ou qualquer outra grande estrela para o time. Não só não o fizeram como viram a mais fácil de se conquistar ir embora por um preço que o Lakers certamente poderia pagar – aparentemente as negociações com o Kings quebraram quando a equipe de Los Angeles não quis nem conversar sobre uma possível troca de Brandon Ingram.
A reestruturação veio rápida com a contratação de Magic Johnson para presidir o time e de Rob Pelinka, antigo agente de Kobe Bryant (e que representava outros tantos jogadores na NBA) para a vaga de General Manager. A contratação de Magic busca certamente recuperar a moral do time, que está no ralo há algum tempo. O cara não é só identificado com o time e com a torcida, ele é uma das caras do basquete no PLANETA e respeitado por qualquer pessoa do ramo. Lady Bird disse que não negociaria Paul George de jeito nenhum, mas claro que não iria recusar ao menos uma ligação de Magic para discutir o tema e explicar o que pensa. Talvez com Magic Johnson, o Lakers consiga pelo menos voltar a ter ENCONTROS com os Free Agents? Acho que precisa mais que isso ainda, mas é um bom começo.
O perigo de ter Magic no time, porém, é deixar o time ainda mais olhando para o passado do que já estava. O Lakers parou no tempo acreditando que para ser campeão basta juntar estrelas, ter um grande pivô e atrair todos eles só dizendo “venha, somos o Los Angeles Lakers”. O time foi o último a ter uma equipe de estatísticas avançadas e a investir em tecnologia mesmo sendo a franquia mais rica. No draft onde o Lakers selecionou D’Angelo Russell, Magic deixou claro no Twitter que preferia Okafor porque era preciso começar o time com um grande homem de garrafão, algo que não faz mais sentido no basquete atual. Ter pivôs bons é ótimo, mas não essencial e nem é uma pedra fundamental da construção de um time. Também existe um medo de que o Lakers acredite que basta a presença de Magic para que a ~aura~ vencedora do time volte a atrair grandes nomes.
A contratação de Rob Pelinka como General Manager causou um pouco de polêmica por ele ser agente, mas não é um caso inédito e aqui não é CBF pro cara só querer ganhar dinheiro por fora. Se pararmos para pensar bem, um bom manager precisa de todos os talentos que um bom agente também precisa: conhecer promissores jogadores, boa capacidade de negociação, saber reconhecer um bom contrato, entender com detalhes todas as regras salariais da NBA, saber lidar com relatórios de scouts e boa capacidade de relacionamento com seus rivais. Não é garantia de sucesso, mas há a chance de dar certo, como deu para o também ex-agente Bob Myers no Golden State Warriors. Como acontece em outros times, porém, aqui Pelinka será o responsável pelas ações do dia-a-dia e toda grande decisão precisará do aval de Magic Johnson.
A primeira ação da dupla foi a mais ÓBVIA possível, mas que o grupo anterior ainda não tinha feito. Eles trocaram Lou Williams, um dos melhores reservas dessa temporada, por uma escolha de primeira rodada no próximo draft. Um reserva pontuador como Lou Williams não salva um time como o Lakers, no máximo ganha uns jogos sozinho e, no fim das contas, ATRAPALHA um time que precisa perder para ter mais chances de manter sua escolha no draft, já que se ficar fora do Top 3, a escolha do Lakers vai para o Sixers. A troca ainda garante ao menos uma escolha no ano que vem caso tudo dê errado nas bolinhas de pingue-pongue. O plano é bom não importa qual rumo o time tome: se quiser investir nos jovens, é bom aumentar a chance de conseguir mais alguém num draft que muitos acreditam ser forte; se querem trocar por uma estrela, é importante ter escolhas de draft para valorizar um pacote. Tenho ainda muitas dúvidas do que esperar da ERA MAGIC, mas nada mal começar com um primeiro passo óbvio e bom.
O time que recebeu Lou Williams está num caminho bem mais claro e também fez um negocio óbvio. O Houston Rockets precisava de ajuda para o seu banco de reservas, que ainda é um pouco magro demais. Lou Williams chega para fazer um pouco de tudo: ser mais um arremessador que abre a quadra ou até colocar a bola embaixo do braço e fazer o ataque funcionar nos poucos minutos que James Harden tira para respirar no banco de reservas. O jogador segue à risca a cartilha Daryl Morey/Mike D’Antoni e faz quase todos seus pontos em bolas de 3 pontos ou na linha do lance livre, é um encaixe tão perfeito que já chegou metendo 27 pontos logo em sua estreia com a camisa nova. No caminho o Rockets perdeu uma escolha de draft, que eles sempre gostam de manter, mas valeu o investimento já que o time está consolidado no Top 3 do Oeste e está só esperando um vacilo ou lesão em Oakland ou San Antonio para aprontar nos Playoffs.
Enquanto isso, lá em Washington o General Manager Ernie Grunfeld deu mais um passo para salvar sua pele. No último ano de contrato com o Wizards, ele precisa de uma grande temporada para alcançar a renovação. As coisas começaram bem mal, mas depois de um mês difícil, o novo técnico Scott Brooks acertou o estilo de jogo, a rotação do time e hoje o Wizards já está entre os melhores times do Leste, posição que muitos achavam que eles já deveriam estar desde o ano passado, após os ótimos Playoffs que tiveram em 2015. O sucesso recente do Wizards, porém, tem se dado com um enorme desgaste do time titular. John Wall, Bradley Beal e Otto Porter precisam estar sempre em quadra para a coisa não desandar, com Markieff Morris, Kelly Oubre Jr e Marcin Gortat completando o sexteto de confiança de Brooks. Para melhorar o banco, Grunfeld teve que gastar uma escolha de primeira rodada de draft, uma decisão mais fácil de ser tomada por alguém que pode nem estar no time para esse draft futuro! Quem veio em troca foi o croata Bojan Bogdanovic, cestinha dos Jogos Olímpicos do Rio, que fazia uma boa temporada no Brooklyn Nets. Embora ele tenha sido mais usado como um mero arremessador no seu começo de carreira na NBA, de uns tempos pra cá temos visto mais do seu arsenal: infiltrações, pick-and-roll e até uns arremessos que ele cria de costas para a cesta quando é marcado por alas mais baixinhos.
Embora o Wizards não tenha conseguido achar aquele armador de confiança para seus reservas, encontraram alguém que pode se encaixar facilmente no esquema tático e que pode dar tempo de descanso para Bradley Beal e Otto Porter. O preço caro de abrir mão de uma escolha de segunda rodada foi pago por eles terem se livrado do contrato de Andrew Nicholson, que ainda tinha mais 3 anos de vigência com média de 6 milhões por ano. Não é muito para os padrões atuais da NBA, mas DEMAIS para alguém que logo no primeiro ano de contrato já tinha caído fora da rotação da equipe. E isso num time de banco péssimo…
O Brooklyn Nets não deve estar salivando de excitamento ao ver Nicholson no seu elenco, mas o time tem uma folha salarial minúscula e esse era o preço a se pagar para pelo menos ver a cor do próximo draft. Fizeram o que deveria ser feito e ainda podem dar mais tempo de quadra pro bom Caris LeVert com a ausência de Bogdanovic no grupo.
Entre times desesperados, managers buscando salvar seus empregos e times farejando algum negocio que surge de última hora, a trade deadline sempre tem as suas surpresas. Vamos aos poucos comentando sobre algumas delas, mas irá demorar até sabermos de verdade os detalhes dos bastidores de cada uma.