>Dois esquecidos

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Fotos que fazem sentido não são mais tendência

Ontem eu estava muito interessado em assistir à partida entre o Philadelphia 76ers e o Memphis Grizzlies, para mim o grande jogo da noite. Tá bom que depois tive que me contentar em assistir ao excelente  Pacers x Heat na reprise, já sabendo do resultado e tudo o que aconteceu (tipo o D-Wade pegando fogo até começar a ser marcado pelo pirralho Paul George), mas não me arrependo tanto da minha decisão. Foi um belo jogo de duas das melhores equipes dos últimos meses na NBA. E, acredite, não é mais uma ironia nossa.

Se contarmos os jogos da NBA desde o Natal (25 de dezembro que eu me lembre) até hoje, o Grizzlies tem a terceira melhor campanha do Oeste, atrás apenas de Lakers e Spurs. E pense, já estamos no dia 16 de fevereiro, são quase dois meses, um terço da temporada, sendo um dos melhores times de uma conferência difícil e competitiva. Já o Sixers atravessa mais uma mudança de sistema tático, mas parece que está se achando. Também desde o Natal eles tem 15 vitórias e 11 derrotas, nada fora de série mas que se destaca na feia disputa pelas últimas colocações do Leste e que impressiona pela excelente defesa que o time adquiriu sob o comando de Doug Collins.

Começo pelo Sixers, um time bem estranho pelo número de jogadores que podem jogar em mais de uma posição e pela quantidade de mudanças táticas que tem feito ao longo da temporada. Depois de vê-los jogando algumas vezes nesse ano eu ainda não sei definir se o Louis Williams é um armador ou um segundo armador, ou se o Andre Iguodala é mesmo um point-forward ou se é exagero da imprensa americana. O Thaddeus Young é ala de força ou é só no papel? O Elton Brand joga de pivô mesmo sem ser pivô? Minha aposta é que o Sixers confunde os adversários por serem um time muito esquisito.

A formação inicial deles tem Jrue Holiday, Jodie Meeks, Andre Iguodala, Elton Brand e Spencer Hawes. No começo da temporada Jason Kapono, Andres Nocioni e Evan Turner estiveram na posição de Meeks, mas no fim das contas perceberam que era o calouro mais improvável que dava as bolas de três que o time precisava sem comprometer na defesa. As bolas de três eram essenciais para o time ter um jogo de meia uadra com mais opções, já que eles viviam de forçar turnovers e correr nos contra-ataques. Por um tempo a estratégia deu certo, mas não muito, o Iguodala era uma máquina de turnovers e o jogo se concentrava muito na mão dele. Decidiram então dar mais trabalho para o promissor novato Jrue Holiday e o time melhorou junto com a queda dos números do Iguodala, que passou a se focar mais na defesa e participar menos do ataque. Só era acionado mesmo nos contra-ataques, que apesar de não serem mais o foco ainda são ponto forte do time, terceiro da NBA na categoria. Foi nessa época que o Elton Brand, com alguns anos de atraso, começou a dar o resultado que o Sixers imaginava quando o tinha contratado: bons arremessos de meia distância, rebotes ofensivos e força embaixo da cesta. Na prática mesmo ele é o pivô do time enquanto o Spencer Hawes se movimenta mais em volta do garrafão mesmo sendo mais alto.

Mas de uns 10 jogos pra cá o time mudou de novo, com o Iguodala mais participativo e dando quase 8 assistências por jogo nesse período. Voltaram a dizer que ele é o tal point-forward, o ala que joga armando o time, o que resultou na queda dos números do Holiday. Mas eu não acho que é bem assim. Se eu fosse explicar rapidamente como joga o Sixers hoje, diria que eles jogam sem nenhum armador. Eles se baseiam em muita movimentação sem a bola e passes. É comum ver alguém segurando a bola na cabeça do garrafão e esperando alguém passar por alguns corta-luzes para receber a bola, quando ele recebe procura Elton Brand no garrafão ou espera alguém sair de outro corta para um passe. Não fosse os acessos de individualismo do Louis Williams quando vem do banco, eu diria que é o time que menos dribla na NBA.

Muitas vezes é o Andre Iguodala o cara que fica na cabeça do garrafão distribuindo os passes, o que resulta em muitas assistências (meu time de fantasy agradece), mas chamar isso de armar o jogo acho um pouco demais. Acho que é resquício da fama do técnico Doug Collins de usar alas para armar o jogo (fazia isso com Grant Hill no Pistons, por exemplo). Mas outras vezes é o Jrue Holiday, volta e meia até o Hawes recebe na cabeça do garrafão e por aí vai, é um jogo de passes em geral, sem alguém tomando conta do ataque. O curioso é que se você olhar os números individuais parece que tanto Holiday como Iguodala estão piores, mas os resultados do time estão cada vez melhores, é puro trabalho em equipe. O time que só fazia pontos na velocidade agora tem jogadas de meia quadra desenhadas, arremessadores de três (além de Meeks, até Holiday quando não está segurando a bola) e jogo dentro do garrafão com Brand novamente em boa fase.

Durante o jogo isso muda um pouco, principalmente com os reservas em quadra. Thaddeus Young e Louis Williams ainda jogam no esquema de velocidade e atacar a cesta a qualquer custo que reinava até o ano passado. É a síndrome de Jamal Crawford, tipo de coisa péssima para ser um plano de jogo mas que é perfeito para alguns minutos vindo do banco.

Mas o segredo do time mesmo tem sido a defesa. Nos últimos 15 jogos eles só deixaram o adversário chutar acima dos 50% de aproveitamento duas vezes e nos últimos 4 jogos seguraram os oponentes a 39% de aproveitamento, com o equivalente a 88 pontos a cada 100 posses de bola, número assustador que se fosse mantido por toda a temporada seria digno de melhor defesa da liga. Em números gerais eles tem a 9ª melhor defesa da NBA, mas considerando aí os dois primeiros meses que não foram grande coisa. Eles estão no Top 10 na maioria dos números defensivos, com destaque para o 6º lugar em bolas de três feitas pelo adversário por jogo. Sem contar a defesa individual, o trabalho de Iguodala sobre Manu Ginóbili foi essencial para a vitória sobre o Spurs, a mais importante do Sixers na temporada até agora. De repente o time parece ter futuro de novo e a ânsia de trocar Iggy ou Brand parece contida.

Porém, no jogo de ontem o Sixers foi vítima da sua própria armadilha. Sofreu 18 pontos de contra-ataques do Grizzlies, o 5º melhor time nessa categoria, duas posições atrás do Sixers, que só conseguiu emplacar 10. A principal razão foram os turnovers, a sufocante defesa de Memphis, que é a que mais força erros por jogo, manteve a sua média causando 16 desperdícios. A maioria veio no primeiro período, quando Mike Conley (mais de 2.7 roubos por jogo nos últimos 10 jogos) e Tony Allen (quase líder da história da NBA em porcentagem de roubos de bola) fizeram da vida do Sixers um inferno. A melhora de Conley e a chegada de Allen podem ser considerados os principais motivo da melhora defensiva da equipe que era só a 19ª melhor da NBA no ano passado e hoje é a 8ª em pontos cedidos a cada 100 posses de bola.

Ofensivamente o Grizzlies é quase o mesmo, os números são parecidos e o sistema também. Talvez agora o Mike Conley (cuja a milionária extensão parece bem menos burra do que todo mundo imaginava) seja mais participativo e o OJ Mayo tenha perdido muito espaço, mas a estrutura é a mesma. Eles basicamente vão empurrando a defesa adversária cada vez mais pra perto do garrafão, todos os passes são para chegar perto da cesta. Com isso Marc Gasol e Zach Randolph fazem uma sincronizada dança em que às vezes se posicionam bem embaixo da tabela para finalizar, outras na cabeça do garrafão para fazer jogo de dupla um com o outro ou simplesmente só abrem espaço para as infiltrações de outros jogadores. Se a infiltração dá errado lá estão os dois para pegar rebotes ofensivos, uma das principais armas do time, que não só rende novos arremessos como impede contra-ataques velozes. Nosso gordinho-mór Zach Randolph, aliás, é o segundo da NBA em rebotes de ataque com 4.7 por jogo (é muita coisa!), atrás por 0.1 de Kevin Love. 

Aliás, eu nunca vou enjoar de dizer como a ida para Memphis mudou a vida dele. É incrível como aquele jogador fominha e preguiçoso dos tempos de Portland e Nova York mudou. Ele luta pelos rebotes de ataque, dobra a marcação na defesa, rouba bolas e até (estou segurando a lágrima) passa a bola quando recebe marcação dupla! Nunca achei que ia viver para ver o dia em que Z-Bo lideraria um jogo (não só o seu time) em assistências como ontem, foram 7 e sem nenhum turnover. Você coloca ele do lado do Marc Gasol que é um grande passador e os dois fazem estragos na defesa adversária no maior estilo Gasol (o mais velho) e Bynum ou Odom no Lakers.

O grande desafio para o Grizzlies agora é manter o mesmo nível desses últimos dois meses. Eles acharam um padrão de jogo e uma rotação em que até em jogos sem Zach Randolph e sem Rudy Gay sobreviveram e venceram adversário difíceis. Como não acredito em maré de sorte tão demorada, apostaria que eles são pra valer. E a dificuldade do ano passado em segurar jogos quando estavam vencendo por muito acabou com a melhora de defesa.

Mas mesmo que o time continue vencendo, vá para os playoffs e faça bonito, não dá pra não pensar no futuro. Esse não é um time ainda completamente pronto e precisa melhorar. Como fazer no ano que vem quando Zach Randolph e Marc Gasol são Free Agents e os problemas financeiros da equipe podem impedir que se renove com os dois? E que pecado seria perder um deles e continuar pagando 5 milhões de dólares pelo OJ Mayo e mais 5 pelo Hasheem Thabeet? Nada contra os dois, o Mayo é um jogador que faz um pouco de tudo e teria espaço em muitos times da NBA, mas nesses 10 jogos em que estava suspenso não fez falta alguma ao time. Eles tem o regular Sam Young, o excelente defensor Tony Allen e ainda o novato Xavier Henry, que não faz feio sendo um segundo ou terceiro reserva. Ou seja, pra quê Mayo? Ele é o tipo de empregado que sai de férias e aí a empresa percebe que não precisa dele.

Já o Thabeet todo mundo sabe, o moleque foi para a NBA muito jovem, muito cru e nem é usado. O time já se dá bem sem ele e não vai fazer falta. Equipes que podem se interessar por esses dois não faltam, o Nets, vendo o fracasso de Travis Outlaw e finalmente percebendo (espero!) que Anthony Morrow não é bom o bastante para ser titular em um time de alto nível, adoraria o Mayo. Enquanto isso o Rockets está varrendo a NBA atrás de um novo pivô, talvez não fosse uma má idéia apostar no pirralho, botar ele pra treinar na offseason e ver no que dá. É melhor arriscar do que continuar com essa defesa horrível que tem hoje. E ainda tem outros times, é só vasculhar e trocar. Talvez trocar os dois por jogadores mais baratos ou contratos expirantes seja a única alternativa para o Grizzlies, que demorou tantos anos para voltar a ser um time relevante, não virar abóbora de novo no ano que vem.

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