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Pessoalmente acho as micagens de circo do All-Star sempre divertidas, o clima é de brincadeira, ninguém se leva muito a sério e querer assistir ao jogo com seriedade é como sentar pra assistir Chaves esperando uma análise sobre a efemeridade da vida em um filme iraniano. Mas confesso que meu momento favorito do fim de semana do All-Star é o jogo dos Rookies contra os Sophomores (ou “Novatos contra Segundo-anistas”, versão brasileira Álamo) porque costuma ser a junção ideal entre festança e jogo competitivo. Em geral temos relações de afeto com os novatos, vimos o começo de suas carreiras na NBA, escolhemos nossos favoritos, acompanhamos com atenção alguns mais secundários e esquecidos, e todos queremos ver o que podem fazer em um jogo leve e solto que não vale bulhufas e não tem amarras dos técnicos. Mas é sempre legal ver bons jogadores se empolgando num jogo disputado, tentando vencer, coisa que quase nunca acontece com os jogadores mais velhos que já estão calejados e sabem que não vale a pena se esforçar por bobagem. É por isso que só no Jogo dos Novatos podemos ver, ao mesmo tempo, o Blake Griffin dando enterradas depois de um passe picado em maior clima de pelada, e o John Wall se jogando nas cadeiras para salvar uma bola porque ele é pirralho e tem cocô na cabeça.
O jogo desse ano, no entanto, teve mais de palhaçada do que nas últimas vezes. Ninguém sequer fingiu defender, a maioria dos jogadores evitou até mesmo ficar próximos uns dos outros, como se tentar impedir uma cesta fosse muito indelicado. É claro que isso diz algo sobre o clima de festa, mas diz também sobre os jogadores envolvidos e sobre os dois convidados para as equipes técnicas, Amar’e e Carmelo. Defender não é a praia de nenhum dos novatos (Blake Griffin tem seus odiadores porque não defende lá essas coisas, o DeMarcus Cousins aproveitou que finamente tinha a bola em mãos e ficou só no ataque), e dentre os segundo-anistas os únicos acostumados a defender, como James Harden e DeJuan Blair, ficaram fascinados demais com a rara liberdade ofensiva (o Harden só vê o Durant atacar, o Blair tem que obedecer ao chato do Popovich). Com isso tivemos o maior placar da história do confronto, 148 a 140 para os novatos, e um ambiente perfeito para que o John Wall pudesse quebrar o recorde de assistências com 22. Seu estilo casa tão bem com esse clima de jogo que acabou levando o prêmio de MVP fácil, basicamente porque o Wizards também é um desses times que arremessa sem critério e finge que nunca ouviu falar em defesa.
O jogador que mais ameaçou o MVP do John Wall foi o DeMarcus Cousins. Por jogar num Kings que fede horrores, quase ninguém acompanhou o novato jogar e só ouviu falar das dores de cabeça que ele dá por não ter muita cabeça e ter reclamado recentemente por não receber a bola. Bem, ontem ele recebeu a bola do John Wall o tempo inteiro e não precisou passar para ninguém, nunca. O resultado foram 33 pontos, 15 rebotes, e a primeira enterrada fodona da noite:
Ele é bom, atlético, jogou um absurdo, mas quem colocou o show pra funcionar foi mesmo o John Wall. Blake Griffin, que teve uma noite discreta sendo bastante poupado porque vai jogar o All-Star Game (ou então os técnicos pensaram que ele já iria brilhar no domingo então era hora de dar espaço para os outros), teve seu grande momento justamente num passe surreal do John Wall. Não dizem que com o Griffin basta você tacar a bola pra cima que ele enterra? Bem, e se ao invés disso você tacar a bola PARA BAIXO?
O John Wall também teve um passe bacana usando a tabela para o Wesley Johnson (que jogou muito, basicamente em arremessos), mas o jogo já tinha acabado. Vamos usar nossa mentalidade futebolística e considerar que o jogo ainda estava nos acréscimos:
E o jogo teve mais John Wall, e não só nas assistências. Dessa vez o homem que mais enterrou, DeMarcus Cousins, é quem deu o passe para o João Parede enterrar:
Já pelos segundo-anistas, o destaque foi mesmo o DeJuan Blair por dois motivos: o primeiro é que ele deveria ter sido o MVP desse jogo no ano passado mas roubaram o prêmio dele. E o segundo é que ele joga no Spurs, então só sabe jogar sério. Quando tava todo mundo correndo de um lado para o outro, ele estava trombando com os adversários no garrafão. Quando todo mundo queria enterrar, ele passava pela defesa para bandejas comuns. O que importa é converter a cesta e sair com a vitória, né? Se você prestar atenção, no lance mais brincalhão do DeJuan Blair, em que ele jogou a bola na tabela para ele mesmo enterrar (e olha que ele nem tem joelhos, os dois já foram doados para ajudar nas enchentes do Rio), você verá um Gregg Popovich em miniatura sentado no ombro dele lhe dando um puxão de orelha:
Se você não viu o Popovich é porque você não é puro de coração, só isso. Por isso o DeJuan corria atrás dos outros jogadores na defesa, enquanto todos os contra-ataques do jogo tinham 3 jogadores atacando e nenhum defendendo. Tudo bem, tudo bem, ao menos esses contra-ataques ridículos permitiram uma enterrada genial do James Harden e de sua barba (os pontos são divididos meio a meio) que fizeram o Carmelo soltar uma cara de “alguém peidou e não fui eu” (ah, que delícia falar do Carmelo e não ter que citar boatos de troca, morram de inveja, outros sites de NBA!). Vale lembrar também que a outra enterrada legal do Harden ontem também foi livre, mas com 5 defensores parados olhando para a barba dele:
Só no final do jogo é que, com o placar empatado, as equipes começaram a se esforçar um pouco e tentar vencer, mas aí os novatos abriram vantagem rapidinho com um pouco de defesa e já era. Ao menos agora todo mundo conhece a cara de alguns novatos, sabemos que o Serge Ibaka não deveria estar no campeonato de enterradas (ele errou uma enterrada ridícula e converteu seus arremessos de três, acho que errou de evento), que a barba do James Harden deveria ir no lugar do Ibaka, que jogador do Spurs não sabe brincar e que John Wall, DeMarcus Cousins e Wesley Johnson chutam traseiros mesmo estando em dois dos piores times da NBA. Dá até vontade de que volte a temporada regular logo pra ver Kings, Wizards e Wolves com mais carinho, não dá? O maravilhoso mundo B da NBA, patrocinado pelo League Pass.
Mas antes disso, vamos acompanhar os eventos do sábado: torneio de habilidades, de arremesso de três pontos e de enterradas. Começa hoje, às 23h, e vamos cobrir tudinho no Twitter, com direito a gincana virtual para ganhar uns brindes. “Gincana virtual”, você se pergunta. É. Gincana. Virtual. Quem aparecer, verá.