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Ainda falta um time a ser comentado na nossa maratona de trade deadline, o Houston Rockets, que fez algumas mudanças importantes. O post sobre eles sai ainda essa semana, vai ser feito pelo nosso querido torcedor do Rockets, porque eu não vou me arriscar a falar mal do time dele e estragar a nossa amizade e o blog, né? E não é porque a data-limite de trocas chegou que não tem mais gente mudando de time, vários jogadores foram dispensados e começou uma corrida para assiná-los. Vamos ver hoje a primeira parte desse fim de feira chique.
Mike Bibby (do Wizards para o Heat)
Em uma era em que tanta gente chama atletas de mercenários sempre é uma surpresa quando alguém abre mão de muito dinheiro em nome de uma chance de jogar onde quer. Como quando o Gilbert Arenas recusou uma extensão de 120 milhões de dólares para assinar uma de “apenas” 100 milhões com o Wizards, foi aquele dia na história em que “humilde” e “100 milhões de dólares” estavam na mesma frase e não falavam de uma doação. Mesmo ele ainda tendo dinheiro para ter um aquário com tubarões, abrir mão de 20 milhões não é algo que vemos todo dia.
Com o Bibby não foi tanto dinheiro como com o Agent Zero, mas desistiu de belos 6 milhões de dólares para poder sair do Washington Wizards depois de uma bonita história de 29 minutos que rendeu uma emocionante homenagem. Ele recebeu o dinheiro que teria direito até o fim da temporada e simplesmente não irá receber um tostão da continuação do contrato no ano que vem, ficando livre para assinar com qualquer equipe. Ele não é mais o cara que jogava muito pelo Kings em 2002, nem o que deu um boost no Hawks em 2008, mas é bom. E é o único armador de alto nível no mercado. Em terra de cego quem tem um olho é caolho, mas se você precisa de um armador, é melhor um caolho do que um cego.
Em questão de dias o Miami Heat foi o escolhido. Vai ganhar o mínimo de um veterano, valor simbólico para os padrões da liga, mas foi para lá porque era o mais óbvio: Chance clara de título e garantia de ser titular. O Boston Celtics até tentou ir atrás dele e também seria uma chance de ser campeão, mas o futuro parece um grande banco de reservas quando você é substituto do Rajon Rondo. Para o Bibby, portanto, foi uma escolha fácil e perfeita.
Para o Miami eu acredito que não era a solução ideal que eles procuravam, mas devem estar agradecendo aos céus que ela apareceu. Diz a lenda que eles foram atrás de vários times em busca de armadores, mas alguns no Leste não querem ajudar ainda mais o Heat e os outros estão esperando receber em troca algo melhor do que o Mike Miller, a única peça de troca relevante que eles tem sem desmontar o Big 3. A minha crítica ao Bibby no Hawks era de que ele não era mais um armador, mas um arremessador, mas é justamente isso o que o Heat quer de seus armadores. Eles já se acostumaram a jogar com o LeBron James comandando o show ou revezando esse serviço com o Dwyane Wade, os dois gostam de ter a bola em mãos, os dois são bons passadores e só precisam de gente que saiba se movimentar e receber os passes para funcionar. Tá, o ataque poderia tentar ser mais complexo que isso às vezes, mas não é a realidade deles hoje. Para o jeito que eles executam o seu ataque o Bibby é perfeito, não só virou um simples arremessador como é um dos melhores nesse quesito. Segundo o SynergySports, um sistema que analisa a NBA por vídeo, ele marca 1.24 pontos a cada jogada de “catch-and-shoot“, aquela quando você só recebe a bola e arremessa. Essa é a 13ª melhor marca da NBA e a 2ª melhor entre os armadores. A jogada, aliás, poderia ser chamada James Jones, o ala do Heat soma duas estatísticas bisonhas na temporada: Não fez NENHUM ponto no garrafão e nunca fez uma cesta em que criou o seu arremesso, todas vieram de assistência.
O problema do Bibby seria na defesa. Não só o sistema defensivo é o forte e prioridade do Heat como a sua defesa de perímetro é onde eles se focam mais, será que ele não iria estragar tudo? Foi meu primeiro medo, mas depois de pensar, pesquisar e ler a opinião de gente por aí, acho que não vai ser uma grande coisa. Até porque o antigo titular era o Carlos Arroyo, que também não é nenhum gênio defensivo e nem por isso o sistema inteiro caía. O Arroyo, aliás, foi titular em 42 dos 49 jogos que jogou na temporada e agora foi dispensado para abrir lugar para o Bibby, qual será a sensação de um dia ser titular e no outro ser dispensado antes do bacon ambulante do Jamaal Magloire? Vai entender! Mas a gente lembra também de uns momentos nessa temporada, principalmente no começo, quando alguns armadores arrasaram com o Heat. Pois desde então, quando o time enfrenta uns Derons e Pauls da vida, é Wade ou LeBron que os marcam, deixando Arroyo, e agora Bibby, para alguém que ofereça menos riscos no ataque. Em uma eventual série de playoff contra o Bulls, por exemplo, eles podem deixar o Wade marcando o Derrick Rose e o Bibby com o Keith Bogans. Perfeito.
O blog sobre o Miami Heat na ESPN vai ainda mais longe e defende a defesa do Mike Bibby. E ele me convenceu; poderia até ser o elo mais fraco da defesa do Hawks, mas não é um cara inútil. Ele cita o fato da defesa do seu antigo time estar listada acima da média (13ª da NBA) nos últimos dois anos e que os números são melhores com ele dentro de quadra do que fora. Claro, o time poderia ser ainda melhor com outro no lugar do Bibby (provavelmente será com Hinrich) e tinha números inferiores sem ele porque seus reservas conseguiam ser piores, mas mostra que ele não é um cara com uma deficiência tão grande assim, dá pra ter uma defesa sólida com ele em quadra. Outra prova está quando se usa de novo o sistema SynergySports. Eles dão uma nota para toda jogada (toda maldita jogada em toda a bendita temporada regular!) onde o jogador está diretamente envolvido na defesa, somando essas análises Bibby é considerado um defensor “na média”, longe dos grupos da elite defensiva e dos queijos-suíços da NBA. E ele termina a sua argumentação mostrando que o maior defeito do Bibby na defesa é como ele marca o pick-and-roll, a única categoria onde ele é listado como “abaixo da média”, mas é justamente nesse tipo de defesa que o Heat é bom por ter alas bem velozes que sabem ser agressivos e impedir bem essa jogada. É algo que se defende em dupla.
O Mike Bibby não é perfeito, mas o Miami é um time atrás de pequenos detalhes para fechar um elenco que já é bom. Bibby não vai estragar nada e não tenho dúvida alguma que é melhor do que tudo o que eles tinham antes. Ótima contratação.
Troy Murphy (do Golden State Warriors para Boston Celtics)
Vocês não sabem como eu estou feliz por ele! O coitado do Troy Murphy faz jus àquela lei que leva o seu sobrenome. Ele chegou na NBA em 2001 e depois de uma década na NBA, mesmo jogando bem e sendo reconhecidamente talentoso, nunca jogou um minuto sequer de Playoff! Ele estava no Warriors em seus piores dias, saiu na troca do Stephen Jackson que foi o que levou o Golden State à pós-temporada. No Pacers, pegou a época pós-Artest, uma fase onde o mais próximo de sucesso que eles chegaram foi não ser o pior time da NBA inteira. Mas foi justamente para o pior que ele foi trocado na última offseason, o Nets, de onde foi trocado bem no dia que eles conseguiram seu melhor jogador desde Jason Kidd, o Deron Williams.
A troca o levou de novo para o fracassado Warriors. Parecia o destino do Murphy ser o jogador mais azarado da história, mas então uma luz finalmente bateu à sua porta e ele conseguiu negociar um “buyout” e ficou livre, poderia negociar com quem quisesse. Alguma dúvida que ele iria para um time muito bom? Ele disse que ficou entre Heat e Celtics, mas que escolheu o Boston porque “eu acho que me encaixo melhor no sistema deles”. Bom, nos dois times ele só teria que ajudar nos rebotes defensivos, coisa que o banco das duas equipes precisam, e abrir espaço com suas bolas de três. Pra mim é a mesma coisa nos dois lugares e com participação parecida, mas dane-se, o que importa é que ele finalmente vai estrear na pós-temporada! (embora não devamos subestimar o poder que o nome Murphy traz a alguém, contusões podem acontecer)
Para o Celtics foi uma boa ou má contratação dependendo do que você pensa que o time deles deveria ser. Tenho meus receios com essa idéia de ter muita gente abrindo espaços com bolas de três e mobilidade e menos jogadores de garrafão, eu prefiro ter mais pivôs fortes e defensivos. Para eles, assinar com Murphy é coerente com o novo plano e deve executar o que esperam do rapaz, mas não resolve o buraco no pivô aberto pela saída de Perkins, Erden e as contusões de Shaq e Jermaine O’Neal.
Jared Jeffries (do Houston Rockets para o NY Knicks)
Um monte de gente fez piadinha dizendo que o Knicks dispensou o Corey Brewer porque ele tinha o terrível hábito de defender. Do jeito que o D’Antoni é, faz sentido, mas em compensação a primeira contratação da equipe depois disso foi o Jared Jeffries, que estava no Houston Rockets.
Para quem não lembra, o Jeffries era do Knicks antes de ser trocado para o Rockets e naquela época era o maior curinga da NBA. Embora tenha sido trazido (e foi caro, como foi caro…) pelo Isiah Thomas, foi o Mike D’Antoni o seu maior fã. O técnico simplesmente procurava o melhor jogador da outra equipe e mandava o Jeffries marcá-lo, não importa se era o Kobe Bryant, o LeBron James ou o Dwight Howard, era mais ou menos como o Shawn Marion no Suns quando marcava o Tony Parker e o Tim Duncan no mesmo jogo.
Essa versatilidade está de volta e em um time que estava usando o diabo do Shawne Williams como titular e marcando os pivôs adversários, por isso as notícias davam a possibilidade dele ser titular já ontem contra o Hornets. Não foi, mas foi o primeiro a vir do banco e jogou mais minutos que o Ronny Turiaf, que começou o jogo no seu lugar. Eu vejo ele como um eterno improvisado, aquele cara que pode marcar todo mundo mas dificilmente é o ideal para marcar qualquer um deles, um tapa buraco que é símbolo de um time que está mais interessado em marcar pontos do que defender. Como o contrato é só até o fim da temporada, não existem riscos, pode ser uma boa para o time parecer melhor nos últimos meses e compensar um pouco da perda de tanta gente na troca do Carmelo Anthony.
Depois dessa tapada de buraco, no ano que vem eles tem a chance de decidir se investem no jogador para continuar ou se contratam coisa melhor. Para o Knicks é risco zero, para o Jeffries uma nova chance de ser relevante na NBA, de jogar para o técnico que mais gosta dele na liga e tentar garantir emprego para a próxima temporada. Depois da difícil decisão de mandar tanto jogador bom pelo Carmelo, essa foi fácil.
Al Thornton (do Washington Wizards para o Golden State Warriors?)
O Al Thornton tem uma história meio estranha na NBA. Ele entrou na NBA no Draft de 2007 e teve uma temporada de novato muito sólida e regular no Clippers (“sólido” e “regular” em uma frase para definir alguém do Clippers!), mas nunca evoluiu muito depois disso e acabou trocado a preço de banana no ano passado para abrir espaço na folha salarial da equipe de LA. No Wizards até jogou, mas nunca recebeu muita atenção e agora acabou sendo dispensado. Muita gente se revolta dizendo que as duas equipes estão em reconstrução e deveriam dar uma chance ao jovem jogador, mas é aí que está a armadilha que faz a história do Thornton parecer estranha: Ele não é tão jovem como todo mundo acha.
Apesar de ter chegado na NBA em 2007, ele o fez depois de jogar os 4 anos da faculdade, em que demorou para entrar. É nascido em 1983, mesmo ano de Devin Harris, Danny Granger (Draft de 2005), Ben Gordon (2004), TJ Ford (2003) e até o saudoso Dajuan Wagner (2002). Ou seja, apesar do pouco tempo de NBA ele não é jogador com idade que os times que hoje são jovens procuram. O jogador jovem que a gente acha que eles dispensam é, na verdade, um veterano sem experiência que não deve mais evoluir o seu jogo.
Ele, no fim das contas, só teve o azar de estar em times que querem investir apenas em pirralhos. Agora, porém, parece estar a caminho do Golden State Warriors, ainda não assinou, mas todos dão como quase certo. Lá ele deve ser um bom reserva para o Dorrell Wright e está em uma equipe que já fez seu processo de reconstrução com Monta Ellis e Stephen Curry e que agora busca justamente peças um pouco mais experientes (como Wright e David Lee) para tentar voltar aos playoffs. Sem moral por aí, Thronton saiu bem barato, mas seu histórico nos times errados esconde um bom talento. Foi uma boa contratação para o Warriors, que tem um dos bancos de reservas mais fracos da NBA e bom para o Thronton, que pela primeira vez está em uma situação que faz sentido pra ele.