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Ontem aconteceu um daqueles momentos bizarros que só o acaso pode proporcionar. Era o sorteio que definiria a ordem do próximo Draft da NBA envolvendo todos os times que não se classificaram para os playoffs nessa temporada, a única chance de um time vagabundo ser notícia no meio do mês de maio. Para quem não sabe, o sorteio dá mais chances para os times com pior campanha e menos para os que ficaram na beira dos playoffs, é um jeito de tentar equilibrar a liga. O sorteio é confuso, mas dá pra tentar simplificar em poucas linhas: cada time recebe diversas combinações de 4 números representando cada time e uma máquina (ou as Paquitas jogando cartinhas para o alto, não se sabe ao certo) sorteiam três combinações desses números, representando a primeira, segunda e terceira escolhas do próximo processo de seleção. Do 4 ao 14 não tem sorteio, vai de acordo com a campanha na temporada regular.
As probabilidades de cada time vencer o sorteio ontem eram essas:
1. Minnesota Timberwolves – 250 combinações, 25% de chance de ter a 1ª escolha
2. Cleveland Cavaliers – 199 combinações, 19.9% de chance
3. Toronto Raptors – 156 combinações, 15.6% de chance
4. Washington Wizards – 119 combinações, 11.9% de chance
5. Sacramento Kings – 88 combinações, 8.8% de chance
6. Utah Jazz (via Nets) – 63 combinações, 6.3% de chance
7. Detroit Pistons – 43 combinações, 4.3% de chance
8. Cleveland Cavaliers (via Clippers) – 28 combinações, 2.8% de chance
9. Charlotte Bobcats – 17 combinações, 1.7% de chance
10. Milwaukee Bucks – 11 combinações, 1.1% de chance
11. Golden State Warriors – 8 combinações, 0.8% de chance
12. Utah Jazz – 7 combinações, 0.7% de chance
13. Phoenix Suns – 6 combinações, 0.6% de chance
14. Houston Rockets – 5 combinações, 0.5% de chance
E é aí que o acaso entrou em ação. Como vocês devem estar sabendo desde ontem, quem garantiu a primeira escolha foi o Cleveland Cavaliers. O Cavs era o segundo time com mais chance, certo? Mas seria muito sem graça se isso acontecesse com as combinações que o próprio Cavs possuía, esses números não foram sorteados, mas ao invés deles foram para o primeiro lugar um dos 28 conjuntos de quatro dígitos que representava o Los Angeles Clippers, que mandou essa escolha para o Cavs em Fevereiro na troca que envolveu Baron Davis e Mo Williams. Os números que representavam o Cavs ainda ficaram atrás do Minnesota Timberwolves, que terá a segunda escolha, e do Utah Jazz, que também teve sorte, foi sorteado com a escolha que seria do New Jersey Nets e ficou em terceiro.
O quanto é legal a primeira escolha envolver dois dos times mais zoados dos últimos tempos? O Cavs foi a viúva do LeBron James por um ano todo e estava botando todas a sua fé nesse Draft, se borrando porque sabe que não será atraindo Free Agents que a franquia irá pra frente. Já o Clippers finalmente parece tomar um rumo com Blake Griffin, mas perde uma chance de ouro de conseguir outra primeira escolha com essa troca. Prato cheio pra gente tirar muito sarro do time mais zicado da história da liga. E a história é tão boa que até sentimentalismo esteve envolvido no drama. Cada time escolhe uma pessoa para representar a equipe durante o sorteio, pode ser um fã sorteado (como o Kings fez ano passado), um jogador do elenco (como o John Wall e o Kyle Lowry nesse ano) ou o General Manager da equipe, por exemplo. Mas o Cavs decidiu mandar o filho do dono Dan Gilbert, Nick, de 14 anos, que sofre de uma doença rara e absurda: neurofibromatose, que tem a simpática característica que também tem tudo a ver com o acaso, pode criar um novo tumor a qualquer hora em qualquer lugar do corpo. Nick estava lá para dar sorte e também para arrecadar 22 mil dólares para a fundação que pesquisa a sua doença. Dan Gilbert provavelmente não estava tão feliz desde quando teve a primeira escolha no saudoso Draft de 2003.
Essa é a salvação do Cavs? Difícil saber assim por antecipação, Draft é muito imprevisível, mas chance melhor que essa eles não teriam. O time não é rico para ficar pagando multas, tem um dono com uma imagem manchada após aquele papelão de dizer que o Cavs iria ganhar um título antes de LeBron James (em uma carta escrita em Comic Sans, por deus!) e nem é uma equipe com tradição vitoriosa para atrair outros Free Agents. A única chance deles era ter sorte no Draft, onde os coitados dos pivetes não têm direito de escolher onde jogar e eles agora tem a chance de ter o melhor jogador do próximo ano e ainda mais uma quarta escolha, que tem tudo para ser um bom jogador. Eu já tinha aprovado a troca deles pelo Baron Davis, veja o que escrevi na época:
“Sendo o pior time da temporada eles tem ótimas chances de ter a 1ª escolha no Draft do ano que vem e com todo o azar do mundo ficam pelo menos com a 4ª. Essa do Clippers, se nada de muito drástico acontecer, deve ficar entre a 7ª e 10ª. Ou seja, um ano após o término do namoro com o LeBron James eles tem uma escolha Top 5 e outra Top 10 para recomeçar um núcleo jovem no time, não é nada mal!”
No fim das contas ficaram com a primeira escolha mesmo, só do jeito mais bizarro e ainda conseguiram a quarta. Se o primeiro cenário era nada mal esse é o paraíso na terra. O Cavs realmente ganhou na loteria.
Mas e o Clippers, será que eles fizeram mesmo uma bobagem ao realizar a troca? Deveriam ter protegido a escolha para que ela ficasse no time caso fosse Top 3? O General Manager Neil Olshley responde:
“Nossa posição no Draft não seria nem a mesma se não tivéssemos feito a troca, então não é provável que teríamos mesmo essa escolha. Tinhámos 97% de chance de estarmos aqui hoje com o Baron Davis tomando 25% do nosso espaço salarial, a oitava escolha em um draft fraco e o sétimo jogador com menos de 23 anos no nosso elenco”. Ele tem a mais absoluta razão, é até estranho ver tanta razão saindo da boca de um dirigente Clipperiano! Qualquer vitória a mais ou a menos com o velho elenco e o sorteio já teria sido diferente, é ridículo ficar pensando nisso agora.
Sobre proteger a escolha caso fosse uma Top 3, ele disse que estava fora de questão durante a negociação, que o Cavs não teria finalizado a negociação nesses termos. Não há o que culpar então, os dois times fizeram o que tinham que fazer e foi o acaso, só ele, que pesou a balança a favor de Cleveland alguns meses depois. Alguém realmente surpreso que o Clippers ficou no lado azarado da troca?
A sorte também bateu na porta do Utah Jazz, o que deixou a troca do Deron Williams muito mais justa. Para quem não lembra, o Jazz mandou D-Will em troca de Devin Harris, Derrick Favors e duas escolhas de primeira rodada, essa 3ª escolha sendo uma delas. Nada contra o Harris, nada além do fato dele ser um shooting guard em corpo de armador, de não ter cérebro e um destino como 6º homem na NBA. E não quero condenar o Derrick Favors depois de uma temporada, mas esse primeiro ano dele não foi lá dos mais animadores. O Jazz conseguiu uma troca muito boa quando o futuro indicava que perderiam o Deron Williams por nada, mas não parecia ser nada que fosse colocar o time de volta nos playoffs em um futuro próximo. Mas agora, com essa terceira escolha, eles tem uma boa chance de já começar a reestruturar a equipe, até porque alguns dos principais nomes para o Draft são das posições 1 e 2, as mais carentes do Jazz. Eles ainda estão em reconstrução, mas essa justiça divina que equilibrou a troca dá uma perspectiva mais otimista para o nosso querido time dos mórmons. Um time com ótimos torcedores merecia essa bênção.
Para ver a lista de como ficou a ordem completa do Draft, primeiro e segundo round, eu recomendo o NBADraft.net. Lá você pode também ver a previsão de escolhas para cada posição e clicando nos nomes ler sobre cada um dos jogadores. É diversão garantida nos dias sem jogo de playoff.