>Versão 2.0 – Perdendo um jogo em 3 minutos

>

-Tenho nada a ver com isso não, véio

O Chicago Bulls leu o meu post “Como perder um jogo em 5 minutos” sobre o Oklahoma City Thunder e pensou: Challenge accepted. Precisaram de apenas 3 minutos para jogar uma liderança de 12 pontos no lixo e assim foram eliminados por 4-1 pelo Miami Heat, que vai para a final enfrentar o Dallas Mavericks. O placar está sendo chamado de “Gentleman’s sweep” (varrida de cavalheiro) na imprensa americana como se fosse uma varrida moral, com um time dando um joguinho de lambuja pro adversário só pra não ficar muito feio. Não é bem o caso, mas é um termo muito bom pra gente ignorar.

O que aconteceu foi que o Chicago Bulls ficou muito perto de vencer vários jogos, não só esse quinto, e simplesmente não conseguiu a mesma eficiência que o Miami Heat na hora de fechar. Se o Dallas precisou de uma combinação bem estranha de acontecimentos para a sua virada, o Heat também, LeBron James vinha tendo um aproveitamento bem mediano da linha dos três e em bolas longas de dois em toda série, enquanto Dwyane Wade não acertava um arremesso de três desde o dia 7 de maio. As duas coisas aconteceram em sequência ao mesmo tempo que o Bulls errava um arremesso atrás do outro, incluindo um lance livre que empataria o jogo nas mãos do Derrick Rose. O Bulls tinha uma marca de 53 vitórias e 0 derrotas em toda a temporada regular e playoffs quando liderava por mais de 10 pontos no quarto período, agora tem um doloroso 53-1.

A vantagem perdida foi bem diferente, mas o Bulls já tinha tido a experiência de perder um jogo apertado na partida 4 em Miami, quando o jogo foi para a prorrogação. Aquele foi um jogo bem estranho. Lembro de estar vendo e observar o Bulls tão acuado, penando para marcar pontos e os jogadores e a torcida do Heat tão dentro do jogo que depois de uma cesta empolgante pensei “já era pro Bulls”, aí olhei para o placar e vi que eles estavam na frente ainda! Mais tarde, antes da prorrogação começar, vi LeBron, Wade e Chris Bosh conversando e rindo na beira da quadra enquanto o Bulls parecia cansado, abatido e tenso. Cada um se expressa de um jeito e eu não estava esperando ver o Derrick Rose dando uma gargalhada, mas a minha impressão foi de que naquele momento o Heat já se sentia um time superior e que era questão de tempo até o placar da série e do jogo mostrarem aquilo.

Essa sensação me remete imediatamente ao antigo Cleveland Cavaliers do LeBron James contra o Boston Celtics no ano passado e até um pouco a série que o Cavs perdeu para o Magic em 2009. Nas duas ocasiões, como o Bulls hoje, o Cavs tinha o MVP da temporada, um cara que estava dominando completamente a liga, uma defesa sólida, forte, entre as melhores da liga e um elenco de apoio que mesmo que com algumas limitações tinha rendido a melhor campanha da NBA na temporada. E mesmo assim nessas duas séries, principalmente contra o Celtics, eles jogaram como se fossem o pior time mesmo quando estavam na frente. Jogaram tensos, sem confiança, com gente desaparecendo do ataque e com falhas defensivas que nunca tinham aparecido antes, o Carlos Boozer de hoje é o Antawn Jamison de ontem e, mais importante, Derrick Rose é LeBron James. O ala do Cavs também recebeu uma blitz da defesa do Celtics e começou a ver seus companheiros que tinham dado tão certo na temporada regular não darem conta do assunto nos playoffs, aí ficava aquela dúvida entre tentar envolver todo mundo ou carregar o time nas costas, entre ser fominha com três na marcação ou assistir o Kyle Korver ou o Mo Williams errando bolas de três pontos que são pagos para acertar. Nesse ano vimos o LeBron, mesmo em jogos apertados, gritando depois de enterradas, abraçando seus companheiros de time e jogando com a confiança que parecia faltar exatamente um ano atrás quando eles tomaram aquele vareio épico no jogo 5 contra o Celtics. LeBron não é mais ou menos macho/amarelão ou qualquer adjetivo que quiseram dar pra ele ano passado, a diferença é que nem ele acreditava que tinha o melhor time antes, agora ele tem certeza. Vemos essas séries e pensamos, como esses Cavs e Bulls da vida se viraram com esses defeitos durante os 82 jogos da temporada regular?

Bom, se viraram, mas não é como se ninguém soubesse dos defeitos. Quem faz parte do grupo de analistas de basquete que analisa o basquete ao invés dos resultados já sabia disso tudo, no caso do Cavs e no caso do Bulls. Não sabíamos até onde chegariam, se cairiam no meio do caminho, mas vimos os jogos e já comentamos sobre tudo o que aconteceu. Quando criticávamos o Chicago Bulls durante a temporada regular falamos muito de sua limitação ofensiva, de como tudo saía das mãos do Derrick Rose e que eles não tinham outro jogador com características de segurar a bola, driblar e criar jogadas além dele. O mais próximo disso era, bizarramente, o Joakim Noah. O pivô maluco é um excelente passador e o parceiro ideal de pick-and-roll do Derrick Rose já que pode, quando receber o passe, encontrar qualquer outro jogador em posição de arremesso, seja ele Carlos Boozer mais embaixo da cesta, Luol Deng na zona morta ou Kyle Korver correndo por aí. Foi com essa jogada que ele conseguiu 4 assistências no jogo 1 e 6 nos jogos 3 e 4 em Miami.

Mas o Heat teve uma boa resposta para isso quando deixou de marcar Noah quando ele recebia a bola na cabeça do garrafão. Cada um preferia ficar focado no seu marcador para não dar a opção de passe, fazendo Noah tentar infiltrar ou arremessar, o que dá errado em 90% das vezes. Foi um bom ajuste que tirou o Noah ofensivamente da partida, deixando Derrick Rose ainda mais sozinho. O Taj Gibson, excelente marcador que com um pouco mais de fama estará recebendo votos para times de defesa da temporada, só teve bom aproveitamento de arremessos em dois jogos, um deles o primeiro, quando fez a diferença para a vitória. Quem se salvou no ataque foi o Carlos Boozer, mas seus defeitos defensivos comprometeram do outro lado, não quero nem imaginar como estava a cabeça do Tom Thibodeau tomando essa decisão, era melhor deixar o bom defensor Taj Gibson e ficar sem opções de ataque ou viver com os erros do Boozer e ter alguém que faça pontos?

O Boozer é outro ponto que bastante gente apontou o dedo e que rendeu uma discussão interessante aqui no blog no começo da temporada. Nos acusaram de entrar em contradição quando na verdade somos pessoas diferentes com opiniões diferentes. E não é que, no fundo, eu e o Danilo estávamos certos ao mesmo tempo? O Danilo achava o Boozer um defensor horripilante que eventualmente comprometeria o time, eu dizia que ele era limitado, mas que como bom reboteiro e esforçado que é, não seria um impedimento para a equipe ser  uma potência defensiva como seu técnico imaginava. Boozer jogou, participou e não impediu o Bulls de ser a melhor defesa da temporada regular, mas o Miami Heat foi lá atrás do ponto fraco deles e explorou o Boozer até não poder mais nessa série. Atacaram ele individualmente com o Bosh, infiltravam pelo seu lado do garrafão, faziam o pick-and-roll com o cara que estava sendo marcado pelo Boozer… foi um massacre.

Ou seja, o Bulls perdeu porque não tinha ninguém para dividir a bola com o Rose, porque o Boozer defende mal e porque o elenco de apoio não estava num nível tão elevado assim. No fim das contas não foi tão inesperado assim, vai. Mas difícil pensar em outro time além de Bulls e Heat dominando o Leste em um futuro próximo, Knicks e Magic vão ter que correr demais para alcançá-los e imagino que o Derrick Rose terá sua chance de revanche. Fica para a offseason a missão de achar um segundo armador que saiba criar o próprio arremesso (será que o Jamal Crawford ou o Caron Butler aceitam ganhar pouco? Chris Douglas-Roberts pode ser a opção de emergência) e a contratação de um cientista maluco da Alemanha nazista que saiba como unir Carlos Boozer e Taj Gibson no mesmo corpo. Não deve ser muito difícil.

O que não podemos nunca esquecer é que o Miami Heat ganhou essa série na defesa. Não foi à toa que precisaram de algumas bolas milagrosas de suas estrelas (que são estrelas por acertarem bolas milagrosas eventualmente) para vencer jogos apertados. O Bulls, mesmo com o Boozer, não foi um queijo suíço e forçou o Heat a arremessos difíceis e situações bem complicadas no ataque, só não conseguiu usar isso a seu favor. Foram poucas as situações de contra-ataque geradas pela defesa, por exemplo, o que foi uma pena já que nos privou de maravilhas parecidas com essas:

Essa segunda enterrada foi chamada no Twitter (preciso muito começar a lembrar de quem fala as coisas por lá) de “o mais rápido que um homem já correu com uma bola de basquete na mão”.  Mas apesar das jogadas impressionantes, os contra-ataques foram raros e Rose foi praticamente anulado por LeBron James. O tamanho e a velocidade do LeBron não deixavam ele arremessar por cima e nem ele passar driblando, sem contar que qualquer corta-luz para evitar o confronto virava uma marcação dupla que fechava em cima do armador do Bulls. Não tem melhor exemplo do que a bola que poderia ter decretado a vitória no jogo 4:

Rose não teve opção e decidiu, mesmo com tempo no cronômetro e espaço, por um arremesso forçado, caindo pra trás e longe dos seus locais favoritos na quadra. E esse é um exemplo do que aconteceu o jogo todo, LeBron James merece todos os créditos defensivos por parar Derrick Rose nessa série, o que ele fez foi algo para ficar na história. E se a gente não estivesse tão ocupado odiando ele por ser um idiota egocêntrico (ninguém aqui está falando que ele não é), estaríamos construindo estátuas para cada uma de suas atuações. Mas como nossa base de leitores odeia o LeBron acho que é uma boa idéia fechar o post com esse vídeo:

Mais tarde ou amanhã eu publico aqui os vencedores da nossa promoção da adidas sobre a série Bulls/Heat. E o Danilo está preparando um post bem legal mais focado no ataque do Miami Heat para explicar essas duas últimas vitórias sobre o Bulls. Aguardem! Mas aguardem sentados, a gente é devagar.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.