>As poucas palavras de Splitter

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Splitter viu muita coisa estranha em seu primeiro ano de NBA

Sim, eu sei, faz tempo que a gente não escreve aqui. Mas as coisas estão corridas e não está fácil manter o ritmo. Por sorte (sorte?!) o mundo da NBA também anda tão lento que nem estamos deixando de acompanhar nada. Alguns jogadores estão cogitando ir para o exterior, pouquíssimos estão realmente assinando contratos, e a NBA e a associação de jogadores enrolam, enrolam e nunca se encontram para discutir pra valer o fim da greve. Tá parecendo briga de namorado em que um diz “se ele quisesse realmente falar comigo ele ligaria, eu que não vou ligar!”. E nessa quem fica deprimido no sofá comendo brigadeiro é a gente.

Nesse tempo de vacas magras, anoréxicas, vamos achando assunto por aí. O mais recente foi meio por acaso, antes do jogo de ontem entre Paulistano e São José pelo campeonato Paulista de basquete a seleção brasileira estava treinando no clube aqui da capital. Consegui, assim, uma rápida entrevista com o Tiago Splitter, o solitário representante da NBA na seleção brasileira.

Eu estava meio receoso em conversar com ele. Se tem uma coisa que ele não parece gostar ou nunca está disposto é dar entrevistas. Lembro ainda daquele “Bola da Vez” que ele participou na ESPN Brasil e que eu considerei um desastre, todas as perguntas, das mais interessantes até as mais tolas, viraram respostas curtas e que não inspiravam novos questionamentos. Nada de errado com isso, claro, tem gente que simplesmente não gosta de falar, não se sente à vontade ou que só diz algo realmente relevante se entrevistado por aquelas mágicas pessoas que tem um dom bizarro de fazer as pessoas se abrirem. Quem já assistiu algum documentário do Eduardo Coutinho sempre pensa durante o filme em como diabos ele faz as pessoas ficarem tão à vontade diante de uma câmera! Eu não tenho essa resposta, definitivamente não sou um grande entrevistador e por isso fui lá falar com o Splitter esperando pelo pior.

A entrevista, no fim das contas, foi como a própria primeira temporada do brazuca na NBA: não foi um desastre, mas também não foi nada de mais. Tentei puxar assuntos diferentes mas durante todo o tempo ele manteve o semblante sério (que não estava nada sério antes da entrevista, cheio de risadas enquanto combinavam o pôquer de mais tarde) e respondeu sempre o básico, o politicamente correto e, no fundo, o que a gente já sabia. Aliás, é esse um dos motivos que me fazem pensar que entrevistas com atletas são absurdamente superestimadas. Vira e mexe tem site aí se gabando de ter conversado com o atleta X, aí quando você vai ler é um monte de lugar comum. Não é culpa entrevistador, que certamente tentou tirar algo legal, nem do entrevistado, que diz o que quiser. A culpa é de tentar dar tanto valor para algo que não é tão interessante assim. Assistir a meia dúzia de vídeos do Splitter e fazer uma análise do jogo dele teria rendido bem mais comentários interessantes do que esse texto que vocês estão lendo agora.

Conversando sobre a sua primeira temporada, ele confirmou que o Spurs, até mais do que outros times da NBA, treinam muito pouco de maneira coletiva durante a temporada regular, explicando assim porque ele ficou fora da rotação do time por tanto tempo e porque às vezes parecia bastante perdido, principalmente no ataque, quando tinha chances em quadra. Ter se machucado durante a pré-temporada foi crucial e ele sabia disso, mas sem poder fazer nada a respeito apenas tentava compensar nos poucos treinos que tinha. Também não podemos esquecer de quando o Richard Jefferson disse que ele ficou perdidão lá na primeira temporada dele pelo Spurs, mesmo participado do período de treinos, e que todo mundo lá sempre dizia que a segunda temporada é mais fácil. Mas o próprio Splitter lembrou muito bem que o Gary Neal apareceu como novato e se destacou mesmo assim. Bom que ele que lembrou do Neal e não me obrigou a dizer o mesmo, iria parecer uma ofensa e o cara é bem grande.

Sobre os playoffs ele disse que o que o time concluiu ao fim da série contra o Grizzlies foi que o que pesou foi aquele jogo 1 que perderam em San Antonio. O resto da série foi parelho e com o time da casa vencendo os jogos restantes, o diferencial foi aquela estréia, jogo que o Manu Ginóbili não atuou por estar machucado (contusão que aconteceu em um inútil último jogo da temporada regular). Segundo o Splitter o time do Grizzlies mudou após aquela partida, ganhando muita confiança e passando esse sentimento para a sua torcida, que empurrou o time e fez os jogos em Memphis ainda mais difíceis do que seriam inicialmente. Sobre Zach Randolph, que Splitter teve que defender bastante, o comentário do brasileiro foi aquele típico elogio-crítica de quando você não quer admitir que seu adversário é tão bom assim. Ele reconheceu que o cara é cheio de recursos, mas também disse que chegou uma hora que qualquer coisa que ele jogasse para cima caía dentro da cesta.

Para a próxima temporada Splitter disse estar bastante focado no seu arremesso de meia distância. Afirmou que nunca foi seu forte, que provavelmente nunca vai ser, mas que tem treinado para adicionar isso ao seu arsenal ofensivo. Ele precisa mesmo, na NBA é muito importante para um pivô (especialmente para os que não são tão fortes, caso do brasileiro) ter algum jogo de fora para poder ser menos óbvio e assim ganhar espaço onde ele é mais eficiente, lá perto da cesta. Serge Ibaka virou uma das sensações da última temporada e fez o Thunder se sentir à vontade para trocar Jeff Green quando desenvolveu esse arremesso. Perguntei se isso era incentivo do Spurs, mas parece que não, desde o ano passado o trabalho individual com o Splitter tem sido geral, um pouco de tudo, sem foco em um tipo específico de defesa ou fundamento. Legal que o Splitter, portanto, tenha pessoalmente essa noção da importância de um arremesso de meia distância na NBA. E decepcionante que o Spurs não pareça tão perfeito assim, eles tem uma imagem a manter, afinal!

Perguntei também da influência do Tim Duncan em seu jogo, muita gente estava esperançosa de ver o quanto o brasileiro, que já é muito técnico, poderia aprender com um dos caras com mais recursos no garrafão na história do basquete. Mas pelo o que o Splitter me disse, não acontece tanto assim. A influência do Duncan parece ser mais em termos de comportamento do que qualquer outra coisa. O pivô brasileiro disse que seu companheiro de time está sempre tentando acalmar e tranquilizar a equipe em momentos mais complicados do jogo e pedindo tranquilidade na hora de finalizar as jogadas, para conter a afobação da ala mais nova do elenco de San Antonio. Mas é assim algo mais mental mesmo, nada de ensinar algumas manhas ou movimentos. Perguntei, no maior bom humor, se então a gente nunca veria ele aprendendo aquele arremesso usando a tabela patenteado pelo Duncan, Splitter nem esboçou um sorriso, me olhou com uma cara entediada e disse “Essa é uma jogada dele. Não é porque a gente treina junto que eu vou fazer também”. Tá aí o que a gente leva na cara quando tenta ser metido a engraçadinho.

Também conversamos sobre a troca do George Hill, que foi mandado para o Indiana Pacers em troca do novato Kawhi Leonard. Ele não quis se comprometer, disse que o Hill jogou muito bem ano passado, mas que entende que a diretoria do Spurs já procurava há algum tempo um ala com mais características defensivas. Nas entrelinhas eu percebi ele bastante satisfeito com a movimentação, ele até havia comentado antes de como a defesa tinha sido um dos problemas durante a temporada do Spurs. Deve ter ouvido muita bronca do Popovich por causa do Richard Jefferson, acredito.

Sem querer piorar ainda mais o humor do Splitter, dei por encerrada a conversa. Não acrescentou lá muita coisa ao que já sabíamos dele e de sua temporada no Spurs, mas valeu a tentativa. Agradeci, me despedi, desejei boa sorte para a seleção e pouco tempo depois estavam todos rindo de novo e falando da tal “noite do pôquer”. Pelo jeito ela acontece toda noite mas, por algum motivo que eu não saquei, ontem não iria rolar. Marcelinho Machado disse que estavam todos fugindo só porque ele sempre ganhava. Não sei se é verdade, mas eu apostaria que o Marcelinho blefa bastante, mas que às vezes tem uma trinca mesmo, uma a cada dez tentativas, talvez. Splitter, por outro lado, é a poker face por excelência, nem precisa das aulas do Tim Duncan pra isso.
….

Atualização: Muita gente nos comentários dizendo que pensava que o Splitter era um cara bacana e que estão decepcionados. Não é bem assim. Ele não respondeu muita coisa, é bem quieto, mas é o jeito dele, não parece ser marra. Tem gente que gosta de falar, tem gente que não gosta.

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