>Vamos combinar uma coisa: estamos apenas na primeira semana de janeiro, mas eu já estourei minha cota de falar mal do Orlando Magic. Definitivamente não adianta o Dwight Howard ter partidas fantásticas, como teve ontem contra o Bulls, se ele não estiver sendo usado do modo correto. Contra a defesa do Magic, que coloca Dwight em marcações individuais, todo mundo no Bulls fez o que bem entendeu: Derrick Rose destruiu com o jogo, Carlos Boozer não teve problemas no garrafão, Luol Deng voltou a ser o rei do arremesso de média distância e Kyle Korver comandou os arremessos de três pontos. Na defesa, o Bulls percebeu aquela verdade óbvia: se você garantir que o ataque dependa do Dwight Howard, o Magic vai privada abaixo. A defesa do Bulls foi uma coisa de louco, física, impecável, sem qualquer falha de rotação, e aí o perímetro do Magic saiu do jogo. Ryan Anderson, que vem salvando a honra da equipe nos últimos jogos, foi marcado fisicamente e parecia um garoto apanhando na escola, confuso e assustado.
O Bulls é montado para depender de sua defesa e deixar o Derrick Rose fazer o que quiser no ataque, mas quando o resto dos jogadores produz ofensivamente, cada um em sua especialidade, o Bulls parece simplesmente imbatível. O problema é quando a defesa bate cabeça (Noah e Boozer nem sempre se entendem) ou simplesmente falta perna, como é o caso da defesa do Hawks. A partida de ontem foi a primeira de uma jornada de 7 jogos em 9 dias para o Bulls, então o fôlego dessa defesa vai ser realmente colocado à prova. Pois é, o calendário é idiota.
O Knicks, também cansado, pelo menos dessa vez se negou a perder para time ruim. Chegou a estar 15 pontos atrás no placar simplesmente porque o Wizards entrou em quadra achando que era campeonato de 100 metros rasos, mas a equipe de Washington não tem cabeça para segurar vantagem alguma: é pelo menos o terceiro jogo que perdem após estar bem à frente no marcador. O pior é que foi uma excelente partida do Wizards, todo mundo correu, jogou com vontade, o elenco todo pareceu jovem e promissor, cada um do seu jeito. É uma equipe atlética, cheia de vontade, e com algumas jogadas geniais. Mas eles dão um jeito de perder e aí percebemos que são jogadores que terão potencial até os 40 anos, quando estiverem obesos comendo sorvete no porão da casa da mãe. O Knicks faz qualquer equipe parecer genial no ataque e o Wizards aproveitou disso, mas de resto não conseguem trabalhar juntos ou tomar boas decisões em quadra.
O Knicks é o time que eu gostaria de enfrentar se tivesse que gravar um jogo para mostrar no meu currículo, porque eles jogam com tamanha falta de vontade que basta dar uma corridinha e você já parece gênio. Ontem isso ainda foi pior porque o elenco parecia exausto e o Wizards só sabe correr mesmo. Carmelo acertou o arremesso da vitória e alegou, depois do jogo, que só foi um arremesso e não uma infiltração porque ele estava exausto e dolorido. A única exceção no Knicks é, pra variar, o novato Iman Shumpert, que continua vindo do banco mas está jogando minutos de titular. Aprendam com ele, galera.
Por falar em exaustão, o Hawks começou sua série de back-to-back-to-back (3 jogos em 3 dias) com uma tripla prorrogação contra o Heat – que eles perderam. Então como eles responderam a essa exaustão jogando no dia seguinte? Jogando mais uma prorrogação, dessa vez contra o Bobcats. Quão absurdo é isso? Ao menos eles ganharam dessa vez, entrando na prorrogação como se a vida deles dependesse disso, abrindo uma vantagem de 7 pontos logo de cara que o Bobcats simplesmente não conseguiu recuperar a tempo. A defesa do Hawks continua sofrendo com a falta de pulmão, mas o Josh Smith parece cada vez mais sólido e controlado, talvez ele tenha chegado naquele ponto em que está exausto demais para gastar energia fazendo besteira. Foram 18 arremessos e nenhum deles foi uma bola idiota da linha de três. Veremos como ele lida hoje com o último jogo da série de 3 seguidos, dessa vez contra o Bulls. Já comentei que o calendário é idiota?
Mas o Bobcats anda me surpreendendo positivamente: eles ainda fedem, mas Byron Mulles é um pivô de verdade (e que é muito mais legal por ter treinado na prisão durante o locaute) e Kemba Walker está realmente mostrando seu talento aos poucos. É uma equipe que começa a parecer um jovem time em reconstrução ao invés de uma equipe de quarentões falidos.
No duelo entre Lakers e Warriors, só deu Kobe: foram 39 pontos, o terceiro jogo seguido com pelo menos 30 pontos. O garrafão do Lakers continua sendo uma potência, mesmo com Bynum sendo tão pouco acionado, simplesmente porque ele e Gasol são grandes o bastante para assustar o elenco do Warriors inteiro, formado apenas por nanicos arremessadores de três. Se o Kobe chutar até a mãe, o garrafão do Lakers ainda vai fazer a diferença especialmente contra equipes como o Warriors, mas falta ainda encontrar um meio termo. O Warriors sem Stephen Curry (que torceu o tornozelo operado pela terceira vez desde que a temporada começou) não é um desafio de verdade.
A sexta ainda teve uma caralhada de outros jogos. O meu Houston apanhou do Thunder, com Kevin Durant destruindo a defesa mole do Rockets e o James Harden mantendo sua campanha de melhor reserva da NBA, inclusive assumindo a armação da equipe quando todo mundo está cansado do Westbrook jogar com uma venda nos olhos. Mas o que selou a partida mesmo foi a presença de Perkins e Ibaka, que anularam completamente qualquer jogo de garrafão do Rockets. O Scola apanhou tanto da forte defesa que se fosse UFC teria sido nocaute técnico no primeiro round.
Celtics e Pacers, por sua vez, ganhou o troféu de jogo mais fedido da última década. Credo. Lembrou um daqueles confrontos entre Pacers e Pistons nos anos 2000, em que só dava defesa e os jogos pareciam que iam acabar 1 a 0, mas com a diferença que nem Pacers nem Celtics jogaram lá muito bem defensivamente. O Celtics, em especial, errou tantas rotações defensivas que o Kendrick Perkins teria tido um aneurisma. O Pacers ainda marcou um pouco melhor, mas não foi grandes merdas. Ainda assim o Celtics conseguiu marcar apenas 25 pontos no primeiro tempo, foi medonho. Se o Ray Allen não estivesse encapetado (acertando 63% dos seus arremessos de 3 pontos na temporada), o troço teria sido ainda pior.
Mais do calendário medonho: depois de vencer o Lakers, o Blazers chegou em Phoenix às 4 da manhã para enfrentar o Suns e parecia que todo mundo tinha tomado um porre de pinga antes da partida. O Suns correu pela sua vida, mais até do que de costume, e o Blazers só faltou sentar no chão e fazer uma cruzadinha. O Nash dominou o ritmo do jogo, não errou nenhum arremesso e foi um passeio digno de pena. De relevante apenas que além do Marcin Gortat ter virado um cosplayer de Amar’e, o Markieef Morris está virando um excelente cosplayer de Channing Frye, muitas vezes até melhor do que o original.
A equipe-da-qual-não-falamos, aquela de Utah, teve uma noite dominante do Al Jefferson e venceu sem grandes problemas o Grizzlies, ainda sentindo a falta do Zach Randolph. O banco da equipe-da-qual-não-falamos está saindo melhor do que a encomenda, com boas partidas de Josh Howard, Earl Watson e Derrick Favors. No fundo, o Grizzlies anda apanhando muito pela falta de banco desde que o OJ Mayo desaprendeu a jogar basquete. Acho que o talento dele foi roubado pelo Tony Allen, que mais uma vez destruiu no ataque, foi o cestinha da equipe com 21 pontos e está até acertando aqueles arremessos longos dele que têm a pior mecânica do Universo conhecido.
Por falar em mecânica de arremesso bizarra, Leandrinho afunda cada vez mais no banco do Raptors, que ontem perdeu para o Nets. O motivo da queda do Leandrinho é que o José Calderon reaprendeu a jogar basquete de repente, de uma temporada para a outra. Não olhem agora, mas ele tem média de quase 10 assistências por jogo e apenas 1 turnover, é coisa de louco. O problema é que ele continua sendo uma mãe na defesa, serviu sopinha para o Deron Williams e o Raptors não teve chances.
O Sixers venceu fácil o Pistons, que cada vez mais percebe o talento de Greg Monroe e Jonas Jerebko mas tem que jogar todo o resto fora – é o processo de reconstrução mais desastroso que eu consigo recordar. Pelo Sixers, o Spencer Hawes continua sua trajetória para ser o melhor pivô do planeta e ganhar o concurso de melhor ser humano: ontem foram 14 pontos, 12 rebotes, 4 assistências e 2 tocos. É um monstro no ataque, na defesa, arremessa de 3 pontos e tem boa visão de jogo. Até o físico de faquir foi substituído por algo que lembra um criado-mudo alto. É o melhor jogador do Sixers na temporada, disparado, e acho que nem a mãe dele saberia explicar o que aconteceu.
O Nuggets continua com seu plano de todo-mundo-jogar-mais-ou-menos, e o legal é que funciona. Nenê voltou a jogar, melhor da lesão no pé, mas será que uma equipe sem estrelas em que todo mundo faz um pouquinho precisa pagar a grana que paga para o pivô brazuca? Não faz sentido. Ao menos o garrafão do Nuggets foi melhor do que o garrafão do Hornets, com Okafor e Kaman jogando juntos e se entendendo tão bem quanto palestinos e israelenses. O Denis e eu comentamos sobre a possibilidade de colocar os dois juntos no nosso podcast com o preview das equipes, mas essa experiência foi desastrosa. Se não bastasse, o Hornets ainda jogou sem Eric Gordon (que deve passar algumas semanas fora), então fodeu.
Para o final, reservei o duelo entre os dois armadores pirralhos, Kyrie Irving e Ricky Rubio. Os dois jogaram bem, nenhum colocou o jogo debaixo do braço e foi embora, mas o Cavs saiu com a vitória. É bizarro que, quando o Jamison acerta seus arremessos, o Cavs vira de repente um time de verdade. Pra mim esse time é a surpresa da temporada, achei que fossem feder muito mais e as vitórias sequer são porque o Irving está dominando, é mais pelo trabalho conjunto. Destaque para o Varejão também, que ontem torrou o saco do Kevin Love: foram 13 pontos, 12 rebotes, 5 assistências, 4 roubos e 2 tocos para o brazuca – estatísticas para deixar qualquer jogador de fantasy com água na boca. Mas é claro que o Kevin Love conseguiu mais de 20 pontos e mais de 10 rebotes, ele faz isso até durante o sono.
Meu maior medo com esse Cavs é que eles também começaram bem a temporada passada antes de desandar, perder a cabeça e ter uma das piores campanhas da história. Esse Cavs precisa manter a cabeça no lugar e ter paciência, só não sei se faz bem para a equipe depender tanto do Jamison, que já não tem idade pra brincar disso.
Pra acabar a rodada, a nossa defesa do Ricky Rubio: tá bom que ele perdeu o jogo, mas que culpa ele tem se as assistências dele vão parar na testa de quem está dormindo?
Pois é, o Rubio é bom demais para simples seres humanos desse planetinha azul.
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Fotos da rodada