>Tudo como antes

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Jason Kidd, na época em que não fazia um triple-double toda vez que ia ao banheiro

Eu costumava ser um rato de boxscores, acordando e correndo para ver como cada jogo havia sido. Então comecei a ler os recaps dos jogos mais importantes, ou seja, os resumos com os detalhes de cada partida. Em breve os recaps passaram a ser pouco profundos e passei a ler notícias em sites especializados o dia inteiro. Quando podia, acompanhava os jogos ao vivo através de um play-by-play, um relato escrito de cada jogada. É bem legal, é como se ao invés de assistir a um filme pornô você lesse um relato minuto-a-minuto de tudo que está acontecendo: “2:33 – Sylvia Saint baixou as calças; 2:34 – Sylvia Saint se apoiou na parede”. Uau, realmente muito emocionante e excitante!

Quando, através dos chineses desocupados, os jogos da NBA começaram cada vez mais a serem transmitidos pela internet, ficar acompanhando resumos frios e relatos soltos se tornou completamente sem graça. Sem assistir os jogos, dá para achar que o Zach Randolph é o melhor ala de força do mundo, que o Leandrinho deveria ser titular (se bem que não é hora de entrar nesse assunto) e que o Larry Hughes, que fez 40 pontos, deveria ser All-Star. Pra não cair no conto do vigário, nada melhor do que assistir com seus próprios olhos. E nada mais deprimente do que ter que voltar às informações frias.

Lá estava eu, mudando de casa, levemente desconfiado de que problemas com a internet poderiam me tirar algumas noites de sono. Desceu então uma força divina dos céus, a mesma que diz “acha ruim torcer pro Houston, então experimenta o Knicks”, e resolveu aumentar minhas dores de cabeça. Ao invés do meu computador fazer o tradicional “piri-pí” ao ligar, soltou um bruto “tururum” que meu sexto sentido (o mesmo que acha que o Spurs vai ser campeão todo ano) imediatamente reconheceu como a morte do meu HD. Sem computador em plena temporada de NBA?

A vida de um viciado é complicada. Pensei em me internar imediatamente numa clínica de reabilitação, mas quem eu estou querendo enganar? É claro que eu não sobriveria nela se não me mantivessem regularmente informado ao menos sobre os placares. Bolei alguns planos, arranjei alguns lugares e darei um jeito de assistir a vários jogos ainda, não muita coisa vai mudar. Mas os poucos dias em que fiquei de fora da internet, abandonando o Bola Presa e o mundo da NBA, foram o bastante para me deixar em pânico. Que coisas maravilhosas teriam acontecido? Que trocas absurdas teriam sido concretizadas? Quais jogadores teriam sido contundidos pelo Bruce Bowen?

De volta a um computador, é hora de se atualizar. Olha lá, meu Houston continua sendo o time mais quente da NBA, tendo vencido 8 partidas seguidas mesmo ainda jogando mais-ou-menos. O Shaq continua vestindo seu terno no banco de reservas e matando de ansiedade os bilhões de palpiteiros desocupados pelo mundo. O Miami Heat continua fedendo, mesmo com a mudança nos ânimos da equipe. Sheed e Ray Allen vão para o All-Star substituindo Caron Butler e Kevin Garnett, machucados. Ou seja, a NBA continua deixando Turkoglu de fora. Está tudo como antes na NBA, meus dias fora não fizeram muita diferença. A não ser por esse triple-double do Boozer, que não acontece todo dia. Será que o Jazz agora vai? E esse triple-double do Odom! Incrível como ele destrói quando se torna apenas mais uma peça num time e não um jogador fundamental.

E foi então que engasguei e descobri que Jason Kidd quase fora trocado. A troca mais legendária em toda a NBA quase aconteceu bem quando eu não estava aqui acompanhando. Safados!

A tal troca varia um pouco dependendo da fonte, mas seria basicamente Devin Harris, Maurice Ager, Diop, Stackhouse (que seria mandando embora e voltaria para o Mavs), Devean George, duas escolhas de draft de primeiro round e mais toneladas exorbitantes de dinheiro em troca de Kidd e Malik Allen. Alguns dizem que nosso ex-desconhecido do mês, Antoine Wright, também está na bagunça.

A troca só não aconteceu enquanto estive fora por causa do excelentíssimo senhor Devean George, que a vetou. Alguns estão xingando o homem, que impediu uma troca que supostamente tornaria o Mavs um dos maiores candidatos ao título, e outros estão louvando o cara por ter impedido o Dallas de mandar coisas demais em troca de alguém que não se encaixa perfeitamente no esquema da equipe. Questão de opinião. Pra mim, se o Dallas tivesse que mandar o ginásio deles em troca do possivelmente melhor armador das últimas décadas, deveriam fazer na hora.

Fiquei intrigado com as causas e os motivos que levaram George a ter tanto poder nas mãos e usá-lo para acabar com a troca, então fui pesquisar. Eu sou péssimo com matemática (só sei contar usando os dedos), passei na escola de favor, e nunca entendi nem de longe as bilhões de regras que compõe os tetos salariais dos times da NBA, então entendi apenas moderadamente. Parece que surgiu uma regra, anos atrás, permitindo que o Celtics reassinasse Larry Bird mesmo extrapolando o limite salarial da equipe. Desde então, jogadores com mais de 3 anos em suas equipes caem na regra “Larry Bird” e seus times podem reassiná-los por mais grana do que seria permitido. Jogadores que completem 2 anos em suas equipes (ou seja, sem terem sido trocados) caem na regra “Early Bird”, ou seja, uma regra parecida com a do Bird mas que acontece mais cedo. Jogadores nessas condições também podem ser reassinados mesmo com seus times extrapolando o limite, embora podendo passar menos do teto estipulado, e também têm a possibilidade de vetar trocas que o envolvam, justamente para manter seus direitos à condição de “early bird”.

Ou seja, Devean George bloqueou a troca porque está velho, acabado, lascado e mal pago, está na NBA tão de favor quanto eu quando passei em matemática, e a possibilidade de que seu salário não conte para o limite de cada time é sua esperança de que ele consiga ganhar uma bela duma graninha por mais uns anos. Sendo trocado para o Nets ele teria que aceitar uma mixaria (para seus padrões, claro, eu vivo com 10 reais e a grana do busão) e isso é algo que ele não quis aceitar. O mais ridículo, no entanto, é que o George chegou a pedir para ser trocado nessa temporada por não ter “minutos o bastante em quadra”. Mas é óbvio que foi só charminho porque uma troca acabaria com suas chances de ter uma carteira gorda apesar de suas inabilidades, tipo a Luciana Gimenez.

Devean George foi o clássico empata-foda. Em nome de suas verdinhas, não deixou seus amigos se divertirem, ganharem um jogador Hall da Fama e terem chances reais de ganhar um anel de campeão. A troca ainda deve acontecer, vão arranjar outro mané para ir no lugar do George, talvez um pacote de bolachas, o Eddie Jones ou até o Van Horn, que entrou nesse papo mas essa hora deve estar de pijama de bolinhas fazendo palavras-cruzadas e, se entrar em quadra, morre de reumatismo.

O que mais me intriga é justamente qual clima vai reinar em Dallas caso a troca não aconteça, ou ainda caso aconteça mas George continue por lá. Será ele vaiado ou aplaudido? Jogará muitos minutos ou se afundará no banco? Conseguirá ser reassinado como sonha ou, como o bom empata-foda que é, receberá uma fria da NBA nos moldes do Spreewell, que hoje não consegue emprego nem de caixa de supermercado?

Por enquanto, ainda não aconteceu nada, a troca voltou ao estágio da negociação. Mesmo sem computador, vou ficar ligado em tudo e assistir aos jogos de estréia de Shaq no Suns e, quem sabe, de Kidd no Dallas. Como se o Oeste já não fosse forte o suficiente…

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