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Existem alguns times na NBA que, não importa o que estejam fazendo, nunca recebem a admiração merecida. Todo mundo reconhece que estão jogando bem, que a equipe tem futuro, que são um dos melhores da Liga, mas ninguém nunca vai dizer que eles podem chegar até a ser campeões. Muitas vezes, isso é compreensível. O Sixers está em sétimo, ganhou de times fortes, mas quem em sã consciência vai dizer que eles podem ganhar um título? Se o Hawks vencesse 50 partidas, mesmo assim eles seriam os favoritos nos playoffs para serem eliminados na primeira rodada. Afinal, são o Atlanta!
Mas acho que já é hora de começar a considerar o Hornets como um dos favoritos ao título, e eu falo sério. Chega de dizer que eles são jovens, que o Chris Paul ainda não tem pêlo no saco, que o ginásio da equipe está sempre vazio, que na hora decisiva eles vão falhar miseravelmente. A vitória do New Orleans sobre o Spurs na noite de ontem foi mais do que a ocasional vitória em cima de um time bom. Foi uma vitória categórica em cima de um Spurs que jogou muita bola. E vamos ser sinceros por um momento: quando foi a última vez que você viu o San Antonio jogar bem e ainda assim perder a partida? Nunca? Foi o que eu pensei.
Duncan, Parker e Ginobili jogaram bem, como sempre. Mas acontece que o Hornets nem percebeu. David West e Tyson Chandler fizeram turnos marcando Tim Duncan e ambos se saíram muito bem. Chandler agora passou a ser o meu favorito para o cargo de melhor marcador do Duncan na NBA. O cara-de-cera não ficou confortável em nenhum momento na quadra, e o fato de que o Hornets não o marcou sempre do mesmo modo ajudou bastante. Depois de ver o ala do Spurs massacrar tudo quanto é time, cheguei à conclusão de que fazer uma marcação dupla em cima do homem no jogo inteiro é pedir para perder a peleja: ele irá fazer os passes certos e o San Antonio vai matar o jogo chutando de fora. O melhor a se fazer, o Hornets como um todo provou perfeitamente ontem, é colocar marcação dupla no Duncan apenas às vezes, aleatoriamente. E depois marcá-lo homem a homem dentro do garrafão. E depois empurrá-lo para fora. E depois… quem sabe? Duncan não sabia o que esperar e por isso, ainda que jogando de modo sensacional, não foi capaz de colocar o time nas costas quando foi necessário.
Enquanto isso, Chris Paul continuou sua campanha para MVP. Vendo ele estripar Tony Parker no ataque, é difícil não acreditar que ele possa levar o prêmio pra casa. Engraçado é que supostamente Paul e Parker são melhores amigos, mas como Parker tem a melhor esposa, é justo que Paul tenha o melhor jogo: parecia não errar arremesso algum. Aqueles que argumentavam (como eu) que o arremesso do Deron Williams era o que mais o diferenciava de Chris Paul, é hora de pensar duas vezes. O armador do New Orleans, pelo jeito, andou treinando.
Mas quem mais me chocou na partida foi justamente o David West que, voltando de contusão, jogou como nunca. Me lembrei até de um caso curioso, que foi quando o Brad Miller foi All-Star em 2003. Aquele pivô branco e incapaz do Pacers vai para um All-Star Game? Que diabos, para onde vai a credibilidade da Liga? Daqui a pouco até aquele reserva ridículo do Bucks, o Michael Redd, vai acabar sendo All-Star desse jeito!
Bem, calando a boca dos críticos, Brad Miller foi trocado na temporada seguinte para o Kings e se mostrou um dos pivôs mais completos da NBA, um excelente passador e um dos meus jogadores favoritos. Ou seja, tomei na cara. Sobre o Michael Redd, melhor nem comentar a respeito.
O David West foi o All-Star mais zoado dessa temporada, com quatrocentos bilhões de gordinhos sedentários e desocupados dizendo que o cara não joga nada e foi para o jogo das estrelas “de favor”. Em um maravilhoso Momento Brad Miller, West mostrou um arsenal ofensivo de deixar de boca aberta. Fez de tudo, jumper, fadeaway, floater, teardrop, tudo que tem nome gringo e esquisito ele acertou. A única coisa que ele não fez foi enterrar, o que me fez lembrar do Brad Miller mais ainda, aliás.
Com David West, Chris Paul e a defesa de Tyson Chandler, o Hornets não perdeu o controle do jogo nem por um segundo sequer. Foi apenas o grande nível do Spurs que os manteve vivos na partida, mas lá pro meio do terceiro quarto o time de San Antonio percebeu que se não fizesse alguma coisa a mais, não iria ganhar o jogo. O pessoal vai achar que é perseguição, que eu odeio só pelo prazer de odiar, mas quem assistiu o jogo vai poder me ajudar nessa: o Spurs resolveu simplesmente descer a mão. Pra começar, colocaram Bruce Bowen em cima do Chris Paul, o que resultou em um discreto empurrão num contra-ataque que nenhum juiz viu, e depois numa bola presa que acabou com um pé na cara. Dêem uma olhada no lance:
Trata-se de uma bola presa normal até quase o final do lance. Só quando você está pensando “bah, não foi nada, esse Danilo é um debilóide” é que o Bowen chuta a cabeça do CP3. Como se não bastasse, o armador sofreu faltas em sequência de Parker e Duncan, o Spurs fez trocentos flops, o jogo ficou subitamente físico e provocativo, e com a torcida de New Orleans fazendo muito barulho contra a sujeira e a arbitragem, era bem possível que o Hornets perdesse a cabeça. Os torcedores da equipe mais campeã da década que me desculpem, mas isso é uma tática constante. Que, dessa vez, não funcionou.
Chris Paul e seus amigos sobreviveram a tudo e ganharam com certa facilidade. Ganhar do Spurs em dia ruim, eu já vi. Mas desse jeito, nessas circunstâncias? Não vejo a hora de ver esse time nos playoffs.
Um caso parecido, mas inverso, foi o meu Houston Rockets. A vigésima vitória seguida veio contra o Hawks num dos jogos mais horripilantes que eu já assisti. E o conceito é o mesmo: o Houston ganhar jogando muito bem, eu já vi várias vezes. Mas o Houston ganhar jogando terrivelmente absurdamente assustadoramente mal? Essa é nova! O Rockets fez de tudo para perder e mesmo assim saiu vitorioso, o que prova uma calma, uma capacidade de vencer os jogos truncados, que vai ser essencial nos playoffs.
A próxima parada do Houston é contra o Bobcats e depois só no domingo, contra o Lakers. Será o primeiro colocado do Oeste enfrentando o segundo. Aliás, alguém percebeu que os times dos escritores deste blog estão encabeçando a Conferência Oeste mais difícil dos últimos tempos?
Pois é, bem que minha mãe dizia que começar esse blog ia ser útil para alguma coisa.