Muita gente ficou decepcionada com a falta de trocas na última semana, quando aconteceu o último dia de negociações da temporada. Mas o dia mais fraco teve uma consequência positiva para quem gosta de ver jogadores mudando de time: o mercado de dispensas está bombando!
Um dos motivos para não terem acontecido muitas trocas é que a maioria dos times não via muita vantagem em adquirir os chamados ‘contratos expirantes’. Até alguns anos atrás, era interessante trocar por jogadores que estavam no seu último ano de contrato, era um jeito de usar um jogador no seu time por algum tempo, geralmente um veterano, e de limpar o teto salarial no ano seguinte. Você troca caras de contratos longos por um que vai acabar e ganha flexibilidade. Mas, devido aos novos contratos de televisão que injetaram uns bons bilhões na liga, o teto salarial vai subir muito na próxima temporada e quase todos os times terão mais de 20 milhões de dólares livres para contratar. Com esse cenário tão lindo no futuro próximo, pra que abrir mão de jogadores em nome de espaço salarial?
Sem conseguir negociar veteranos em contratos expirantes na semana passada, os times estão então dispensando esses jogadores nessa semana. É possível economizar algum dinheiro dependendo do acordo, mas em geral a questão não é financeira. Explicaremos algumas motivações para essa dispensa ao comentar a PORRADA de jogadores que estão saindo de seus times. Quem conseguir time até o dia 1º de março pode ser inscrito para os Playoffs, então os próximos dias podem ser movimentados entre os times que buscam um último reforço.
Provavelmente o nome mais conhecido a ser dispensado foi Joe Johnson. O novo General Manager do Brooklyn Nets, Sean Marks, chegou e logo de cara se livrou de um dos maiores salários de toda a liga. Não é porque ele está jogando mal, apesar de não ser mais o cara que fazia 20 pontos por jogo há algumas temporadas, está acertando mais de 45% nas bolas de 3 pontos nos últimos dois meses e parece melhor fisicamente em relação a um fraquíssimo começo de temporada. O ponto é que isso não fazia mais diferença para o time de Brooklyn: nem o melhor JJ faria eles se tornarem um time bom. Trocá-lo também foi impossível devido ao que falamos antes sobre contratos expirantes valerem pouco, além de poucos times sequer terem hoje a capacidade de adquirir um contrato colossal como o dele.
O Nets poderia muito bem só esperar o contrato de Johnson acabar daqui alguns meses e seguir a vida na próxima offseason, mas duas razões levaram à dispensa: dinheiro e imagem. O dinheiro chegou em um acordo com o jogador, para poder deixar o time e tentar voltar a disputar os playoffs, Joe Johnson disse que abriria mão de 3 milhões de dólares em seus salários restantes. A outra razão, a imagem do time, foi um ponto usado por Sean Marks em uma entrevista ao Woj no The Vertical. Ele disse que, nos próximos anos, quer que o Nets seja visto como um lugar de excelência, um time onde os jogadores vão sabendo que lá serão bem tratados, respeitados, que terão a melhor equipe médica, de preparo físico, de nutricionistas. Sem escolhas de Draft pelos próximos séculos, sem jogadores jovens para trabalhar e sem um grande time para atrair Free Agents, uma das saídas pensadas por ele é a de ser uma franquia bem vista ao redor do mundo do basquete. Montar essa imagem leva MUITO tempo, mas é um bom começo tratar bem um jogador que jogou por uns bons anos por lá. O cara quer seguir a carreira e disputar os playoffs? Beleza, não vamos segurar, vamos dispensar, soltar uma nota agradecendo por tudo o que ele fez, um vídeo-tributo com seus melhores momentos e tchau. É uma parte MÍNIMA no trabalho hercúleo de criar uma imagem boa, mas não havia algo de diferente que pudesse ser feito a essa altura da temporada pelo manager recém-contratado.
Entre os cotados para assinar com Joe Johnson estavam o Cleveland Cavaliers, Boston Celtics, Houston Rockets, OKC Thunder, Toronto Raptors e até um retorno ao Atlanta Hawks, mas quem levou foi o Miami Heat. Sinceramente, não entendi o negócio. Se Joe Johnson quer disputar um título, por que escolher justamente a equipe que vive mais problemas no momento? Ninguém sabe ao certo se Chris Bosh poderá voltar a jogar nesse ano. Mesmo que o Heat possa pagar um pouco mais que o salário mínimo de veteranos, dinheiro não parece ser uma questão para JJ, senão nem teria deixado aqueles 3 milhões na mesa com o Nets. Por outro lado, o fato do Heat sequer ter ido atrás de Johnson quer dizer que eles devem estar otimistas em relação ao retorno de Bosh ou (isso soa loucura) acham que podem ir longe mesmo sem ele. Será que o Heat prometeu mais tempo de quadra? Vamos ver, por enquanto ainda achei uma escolha confusa dos dois lados.
Uma pena para OKC Thunder, Toronto Raptors e Atlanta Hawks, os três teriam muito uso para um bom arremessador que, por acaso, é o cara que mais acertou arremessos decisivos nos últimos anos na NBA
O interesse do Boston Celtics no Joe Johnson é explicado pelo próprio técnico Brad Stevens, que disse que queria ter mais um arremessador de longa distância no elenco. E é aqui que explicamos outra motivação em dispensar jogadores a essa altura do campeonato: abrir espaço no elenco. Os times da NBA têm 15 vagas para jogadores e, se já estão no limite, precisam dispensar alguém para fazer uma contratação. O Celtics se viu sem utilizar David Lee e querendo mais esse arremessador, então dispensou o ala para abrir espaço. Não o usaram com Joe Johnson, mas Kevin Martin deve entrar nesse mercado ainda neste fim de semana e o Rockets acabou de dispensar Marcus Thornton após sua troca com o Detroit Pistons ter sido cancelada.
O David Lee não vive sua melhor fase: ficou de lado no Golden State Warriors, foi trocado por quase nada e depois dispensado pelo Celtics. Por sorte existe o Dallas Mavericks, que vive um momento meio Memphis Grizzlies e está dando chances para as pessoas retomarem suas carreiras: está dando certo com Deron Williams e Raymond Felton, ainda não rendeu muito para JaValle McGee, mas aí está um time que não tem medo de dar uma chance para quem já foi bom um dia.
Ah, e como o Mavs tinha espaço para David Lee? Dispensaram John Jenkins, que logo foi contratado pelo Phoenix Suns, que já está em modo “vamos ver se alguém mostra serviço e garante emprego no ano que vem”.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Direto de Brown Deer para o Fear the Dear”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Novak.jpg[/image]
Algumas dispensas são simplesmente por pura falta de interesse em usar um jogador. Soa cruel, talvez até seja mesmo, mas nesses casos é até melhor para o atleta se ver como Free Agent (um bom eufemismo para desempregado) do que preso a uma equipe que não planeja colocá-lo em quadra. Aconteceu com o Denver Nuggets, que fez negócio com o OKC Thunder na Trade Deadline: eles mandaram Randy Foye e em troca receberam Steve Novak, DJ Augustin e duas escolhas de 2ª rodada no Draft. O Nuggets pegou Novak porque os salários precisavam bater, não porque queriam o jogador, então logo o chutaram. Melhor para o ala, que foi logo contratado pelo Milwaukee Bucks, o time da sua cidade, a equipe que ele cresceu assistindo. Nada mal para quem tinha tudo para encerrar o ano sem jogar!
Na sua primeira entrevista como novo jogador do Bucks, Novak contou empolgado que nunca deixou de ter uma casa na cidade e de como sua família estava em êxtase de tê-lo de volta lá perto. Calhou também de ser um time que tem como defeito as ÚNICAS coisas que Novak pode oferecer no basquete: experiência e bolas de 3 pontos. O time sente falta dos veteranos do ano passado e Novak pode garantir seu emprego para o ano que vem se exercer uma boa influência na molecada. Embora não tenha defesa para ficar em quadra por muito tempo, suas bolas de 3 podem ser bom desafogo para um dos ataques mais sufocados da liga. O técnico Jason Kidd, que jogou com Novak no NY Knicks e tem bom relacionamento com o jogador, não deve achar que seu time muda muito ao adquirir um role player de fim de banco, mas não é nada mal para uma época do ano em que, na teoria, não daria para se adicionar mais nada no elenco.
Para conseguir Novak, o Bucks dispensou Chris Copeland, que foi então contratado pelo Orlando Magic. Essa é uma oportunidade para explicar uma regra curiosa das dispensas: assim que um jogador recebe a dispensa, ele fica 48 horas disponível para que qualquer time abaixo do teto salarial e com espaço no elenco possa pegá-lo. Então não é que Copeland quis ir para o Magic, como Varejão quis ir ao Warriors, mas ele foi reivindicado pelo time nesse período. O porém da história é que o time que reivindicar o jogador terá de herdar o seu contrato inteiro. Só passadas essas 48 horas é que o contrato está encerrado e o novo time, que nem precisa ser alguém abaixo do teto salarial, pode oferecer qualquer valor ao atleta.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Levanto em conta essa temporada, Lawson não é o melhor jogador dessa foto =(“]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Lawson.jpg[/image]
Por fim, um último motivo para dispensar um jogador é o clássico “deu merda”. O Houston Rockets ainda não oficializou, mas todo mundo nos EUA dá como certo que Ty Lawson será chutado da equipe nos próximos dias. Em nenhum aspecto essa experiência Lawson/Rockets deu certo. Ele não se adaptou ao lado de James Harden, não fez muito mesmo quando Harden não dominava a bola, nunca pareceu confortável em quadra e é possível até especular que seus problemas fora de quadra, em especial com bebidas alcoólicas, sepultaram de vez o seu tempo como armador da franquia. A contratação de Lawson até o fim da temporada pode ser um bom indicador para a gente descobrir qual é o time mais desesperado desse fim de temporada regular.
No caso Joe Johnson/Nets, o time não tinha nem medo nem intenção de ficar pior. Como a escolha de Draft deles no ano que vem é do Boston Celtics, só os verdinhos que vibraram com a perspectiva do Nets perder ainda mais jogos até o fim do ano. Não é o caso do Los Angeles Lakers, porém, que PRECISA perder para se garantir entre as três primeiras posições do Draft. Nesse caso, a dispensa de Roy Hibbert, ainda não realizada, mas bem comentada, seria uma soma de todos os fatores: não deu certo, não interessa mais ao time, faz um favor para o jogador e ainda ajuda o Lakers a perder… se é que eles precisam de ajuda para perder.
Outros dispensados até aqui foram JJ Hickson pelo Nuggets, que está a caminho do Washington Wizards; Brian Roberts, que deixou o Miami Heat pelo Portland Trail Blazers; e Andrea Bargnani, que se deus quiser não vai mais jogar basquete na NBA. Nos próximos dias o Minnesota Timberwolves pode colocar Kevin Martin e Andre Miller no mercadão de veteranos, e Caron Butler pode deixar o Sacramento Kings e seguir o seu plano de jogar por todas as franquias da NBA na sua carreira. Algum nome que você gostaria no seu time ou é só sucata?