Na primeira parte, falamos das séries que começaram neste sábado. Hoje, falaremos das séries que começam no domingo. Veja o calendário aqui!
Cleveland Cavaliers (1) x Detroit Pistons (8)
Na temporada regular, o Pistons ganhou 3 das 4 partidas contra o Cavs, mas cuidado com a pegadinha: uma das vitórias do Pistons foi no último jogo da temporada regular, com só reservas em quadra; a outra foi sem Kyrie Irving, lesionado. Isso quer dizer que em condições normais de temperatura e pressão, com todo mundo em quadra, cada time levou um dos jogos. E se temporada regular não significa muita coisa, nesse caso aqui serve para nos lembrar que essa série é menos desequilibrada quanto parece.
É claro que o Pistons não entra em quadra com esperanças reais de título. A equipe que veremos é fruto de um processo de reconstrução razoavelmente recente, que só tomou a cara atual nas duas últimas temporadas sob comando do técnico-pizzaiolo Stan Van Gundy. Alcançaram a pós-temporada por pouco, ainda não estão inteiramente entrosados com o esquema tático e várias trocas aconteceram ainda nessa temporada, trazendo caras novas. Seria muito fora da realidade achar que o Pistons poderia competir de igual para igual com a melhor campanha do Leste. Mas o interessante aqui é que o estilo de jogo do Pistons é incrivelmente desconfortável para o Cavs – a derrota na temporada regular ocorreu com um LeBron frustrado com defesa forte em cima dele, seus companheiros cometendo muitos erros, e a usualmente ganha batalha pelos rebotes se tornando um fracasso incrível.
O Cavs é um time que chama jogadas para isolar LeBron e Irving, cada um de um lado da quadra, e que se aproveita do talento dos dois nas infiltrações para encontrar espaço para arremessadores do lado oposto da bola ou jogadores infiltrando nas costas da defesa. Além disso, o Cavs é razoavelmente eficiente em jogadas iniciadas no garrafão, fazendo uso de uma gama de jogadores altos que podem incomodar próximo ao aro, como LeBron e Kevin Love, eventualmente, e Timofey Mozgov com mais frequência. Esse tamanho gera também uma grande quantidade de rebotes ofensivos, onde o Cavs tende a desmontar de vezes seus adversários. A equipe, tanto no ataque quanto na defesa, é uma das melhores em rebotes na NBA.
Mas o Pistons é justamente uma das poucas equipes melhores que o Cavs nesse quesito – aliás, o Pistons é a segunda melhor equipe em rebotes ofensivos, perdendo apenas para o Thunder nesse quesito. Andre Drummond é um dos melhores reboteiros que já se viu e consegue, sozinho, alterar resultado de jogos só mantendo posses de bola viva ou garantindo a bola na defesa. O tamanho dele pode impedir que o Cavs use a tática de forçar a bola na mão de Mozgov para criar espaço no perímetro e certamente as infiltrações de LeBron e Irving vão sofrer mais resistência no aro do que contra a maior parte das outras equipes da NBA. Ou seja, dá pra esperar um Cavs mais incomodado do que seria normal numa primeira rodada dos playoffs.
Só não acredito que incomodar o Cavs seja suficiente para derrotá-los numa melhor de 7 jogos. O ataque do Cavs, embora seja estático demais às vezes, ainda tem uma quantidade enorme de peças importantes, especialmente nos arremessos de fora. Enquanto isso o Pistons tem um dos bancos mais pelados da NBA e um ataque bastante limitado, baseado no pick-and-roll de Reggie Jackson e Andre Drummond, algo cada vez mais eficiente desde que Jackson passou a arremessar com mais habilidade. Se o Cavs souber atrapalhar essa jogada, o Pistons terá poucas opções para pontuar. Se o Pistons atrapalhar LeBron, algo que o técnico Van Gundy já tem certa experiência em fazer, o Cavs ainda tem muitas outras coisas a fazer em quadra – ainda que fora de sua zona de conforto.
Fatores decisivos
Conseguirá Tristan Thompson vencer a luta pelos rebotes contra Andre Drummond? Se for o caso, Thompson se consagrará como a máquina de rebotes de que o Cavs precisa e a série muito, muito fácil. Se Drummond dominar a área pintada, aí a coisa ficará mais equilibrada e dependerá dos arremessadores do Cavs para se decidir. No ataque, o Pistons precisa que seus arremessadores convertam bolas de fora – algo que acontece muito pouco – para dar espaço para o pick-and-roll de Reggie Jackson. Também é importante vermos como Jeff Van Gundy vai esconder Tobias Harris na defesa, já que ele precisa ficar em quadra para criar arremessos no ataque mas defensivamente foi explorado com frequência por Kevin Love nos últimos confrontos entre os dois.
Maldição Bola Presa
Acho a série mais parelha do que deveria e acredito que o Pistons consiga ganhar até um par de jogos, mas LeBron nunca perdeu mais do que duas partidas numa série inaugural de playoff e não deve acontecer agora. No fim das contas, o Cavs tem um time muito mais profundo e deve levar a série sem maiores traumas.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Amaré fascinado por esse ombro”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Heat.jpg[/image]
Miami Heat (3) x Charlotte Hornets (6)
Apesar do Heat ter se classificado em terceiro no Leste, terminou a temporada regular exatamente com o mesmo número de vitórias que o Hornets, vencendo apenas nos critérios de desempate. Isso significa que a posição na tabela não pode nos enganar sobre quão parelha essa série será: provavelmente a mais equilibrada dessa pós-temporada, e a mais interessante do ponto de vista tático.
De um lado temos o Heat, que passou por trocentas reestruturações ao longo desta temporada. Quando parecia que o time finalmente tinha encontrado um padrão de identidade na era pós-LeBron, permitindo a convivência entre Wade e Goran Dragic, eis que Chris Bosh teve de novo seus coágulos no pulmão e foi afastado. Quando sua ausência começou a ser suprida taticamente, OITENTA MIL armadores do Heat se lesionaram, foram trocados, dispesados, abduzidos, evaporados, e aí começou tudo de novo. De repente chega Joe Johnson, contra todas as possibilidades, e tem que se encaixar no elenco. Terminar em terceiro lugar é um milagre frente ao número de adversidades, mas um atestado de que o time tem uma base tática sólida e a possibilidade de fazer tantas variações quanto necessárias frente às questões que se apresentam.
Do outro lado temos um time que demorou para encontrar uma identidade ao longo da temporada, mas que finalmente funcionou apenas quando colocou seu diferencial – o jogo de garrafão de Al Jefferson – lá no banco de reservas e se tornou um time eficiente no perímetro o suficiente para se aproveitar dos ataques à cesta de Kemba Walker. Aderir aos arremessos de três pontos tornou o Hornets um time mais perigoso e mais versátil, por poder explorar o jogo de Al Jefferson em momentos específicos de cada partida. É podendo se permitir mais variações táticas que o Hornets começou a deixar seus adversários para trás, ao invés de insistir com um único caminho no garrafão.
Além das variações na temporada, os dois times têm em comum o foco na defesa, com troca em corta-luz e muita cobertura, e o ritmo de jogo mais lento. O Heat é uma das equipes que joga mais devagar na NBA, mas o Hornets não fica muito atrás mesmo apostando mais nos contra-ataques e nas pernas de Kemba Walker. As diferenças da equipe ficam mesmo no perímetro: o Heat é um dos piores times nas bolas de três pontos e tem muita dificuldade de encontrar espaços no garrafão por conta disso, sendo obrigado a isolar próximo à cesta ou abusar de pick-and-rolls, enquanto o Hornets só engrenou quando se tornou um dos melhores times nesse tipo de arremesso. A previsão é que no duelo de defesas muito fortes e inteligentes, o Heat acabe sofrendo ainda mais para encontrar espaços para pontuar, enquanto o Hornets continue encontrando bolas de três pontos eventuais.
Fatores decisivos
O duelo entre Hassan Whiteside e Al Jefferson vai ser sensacional. Whiteside é a maior arma de pick-and-rolls do Heat e desafoga o ataque quando o resto não funciona, além de inibir infiltrações na defesa, mas não consegue lidar com o Al Jefferson no mano-a-mano. O Hornets pode explorar o jogo no garrafão com o Big Al, mas isso atrapalha os arremessos da equipe e compromete a defesa de pick-and-roll do outro lado da quadra. Além disso, o encaixe entre Wade e Dragic precisa funcionar: o Heat é melhor no pick-and-roll com Dragic, mas tende a precisar demais do jogo de costas para a cesta do Wade quando faltam espaços. Além disso, como o Heat defenderá o Hornets quando o time colocar dois armadores principais em quadra ao mesmo tempo para pontuar e fazer chover da linha de três?
Maldição Bola Presa
EU NÃO SEI! Não consigo opinar sobre essa série, tudo parece ser possível. A cada jogo devemos ver um nó tático diferente aparecer, novas abordagens sendo tentadas e muito possivelmente assistiremos a um jogo 7. Nessas condições, acho que é terra de ninguém. Acredito que o Heat ganhará jogos apertados, suados, e que o Hornets ganhará alguns jogos por muito, de lavada. Mas se preciso escolher um – já que tem O ESPÍRITO DOS BLOGS DE BASQUETE apontando uma arma para a minha cabeça – então o Heat acaba levando no sufoco.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Chris Andersen é um gibi”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Spurs.jpg[/image]
San Antonio Spurs (2) x Memphis Grizzlies (7)
Mas que série linda! Que série maravilhosa! Dois dos times que jogam mais DEVAGAR na NBA, dois dos times que mais jogam de costas para a cesta, os times que estão na contramão de tudo que o resto do planeta acha que deveria estar fazendo para virar cosplayer do Warriors. São dois times resistentes – o Spurs porque Popovich tem um núcleo tático que é apenas aprimorado frente às mudanças dos adversários, e o Grizzlies porque É TUDO UM BANDO DE LASCADO NA VIDA, eles só sabem resistir, se juntar, aguentar firme e dar trombadas no processo.
Mas aí a gente lembra das lesões do Grizzlies: Marc Gasol quebrou o pé e está fora da temporada, andando de muleta após sua cirurgia e Mike Conley lesionou o tendão de Aquiles e está fora até o fim dos playoffs. Jogadores como Brandan Wright, que deveria ajudar o garrafão da equipe, sequer conseguiram jogar esse ano graças às lesões. Talvez ser um bando de náufragos trombando em todos os treinos acabe cobrando um preço alto em seus corpos, afinal de contas.
O Spurs vem de uma campanha histórica, batendo na trave do recorde de não perder NENHUM jogo dentro de casa e flertando com as melhores campanhas de todos os tempos. Sem o Warriors andando por aí, vai saber se não teríamos passado a temporada inteira cogitando a chance da equipe de San Antonio alcançar o recorde do Bulls de 1996? Vencer o Spurs já seria tarefa duríssima, uma que necessitaria dos melhores duelos de garrafão da história e que eu SALIVO de imaginar a possibilidade de assistir. Mas com Marc Gasol lesionado, Zach Randolph está sobrecarregado no garrafão, viu sua eficiência desabar e o Grizzlies não tem como substituir sua produção. Sem Gasol e Conley o Grizzlies sequer tem um passador no elenco, sobrando pro MALUCO do Lance Stephenson a função de colocar a bola nas mãos dos companheiros – algo que ele é até talentoso para fazer, especialmente saindo de um pick-and-roll, mas com eficiência no mínimo QUESTIONÁVEL, tentando passes OBSCENOS, desperdiçando posses de bola e gerando contra-ataques. O resto do elenco é ou defensivo ou idoso, não tem como dar conta.
Fatores decisivos
Se Marc Gasol e Mike Conley não voltarem graças a FEITIÇARIA, só Lance Stephenson tendo as partidas mais sensacionais das suas carreiras e Zach Randolph em grande fase têm chance de desastabilizar um pouco o Spurs. Do outro lado, vejamos como Popovich vai lidar com os minutos do seu elenco: vai sobrar vontade de sentar a galera e poupar jogadores importantes, desde que isso não custe um ou outro susto que possa prolongar mais do que deveria a série para eles.
Maldição Bola Presa
Poxa, Maldição Bola Presa, nunca te pedi nada, tudo que eu queria era uma séria DIGNA para o Grizzlies. Mas se nenhuma FORÇA MÍSTICA interferir, dá Spurs numa surra triste.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Arremesso olímpico de peso”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Clippers.jpg[/image]
Los Angeles Clippers (4) x Portland Traiblazers (5)
É surpreendente que o Blazers esteja aqui depois de perder tantos jogadores importantes da temporada passada para essa, ter que se reinventar e começar um projeto de reconstrução relâmpago. O que aconteceu foi que o Blazers se saiu tão bem nessa versão pirralhada-em-construção quanto na versão time-com-estrelas-rumo-ao-título, apostando num jogo sem egos, uma abordagem familiar, e infinitos arremessos no perímetro vindo de sua dupla de clones Damian Lillard e CJ McCollum. O resto do elenco é baseado na versatilidade, em ocupar múltiplos espaços e posições, correr em contra-ataques e criar espaços. Em momentos foi desastroso, em outros parecia um dos melhores times da NBA. Na reta final, quando perderam o pivô titular Meyers Leonard por 8 meses com uma lesão no ombro, assumiu o inexperiente Maurice Harkless que não faz nada muito bem, mas faz um pouquinho de tudo, e essa versatilidade do elenco incomodou demais os adversários. A defesa, que ainda erra muito, melhorou muito sem um pivôzão de origem que possa trocar em qualquer jogador a qualquer momento, e que viva apenas de pegar sobras de bola no ataque, arremessando de 3 pontos eventualmente.
Esse Blazers é surpreendente e pode surpreender ainda mais se o Clippers não encontrar uma maneira de parar Damian Lillard e CJ McCollum ao mesmo tempo. Um deles certamente será marcado por Luc Mbah a Moute quase o jogo inteiro, mas o outro é uma incógnita. Se Chris Paul tiver que marcar um deles, acabará se cansando e sua eficiência no ataque será muito reduzida. O Clippers passou muito tempo na temporada sem Blake Griffin e Chris Paul assumiu inteiramente o funcionamento da equipe, garantindo o controle dos espaços e a melhora no aproveitamento de arremesso de todos os seus companheiros de perímetro. Para continuar funcional, o Clippers precisa de Chris Paul em toda sua glória, e para isso talvez seja necessário poupá-lo na defesa – até porque Paul estará provavelmente sendo marcado por Al-Farouq Aminu e seus braços padrão-Dhalsim, o que já será um pesadelo.
O banco de reservas do Blazers ainda é muito cru e depende demais da presença de Lillard ou McCollum pra funcionar, mas o banco do Clippers – que pra mim é o pior da NBA – mostrou grande sucesso jogando por si só na reta final da temporada, e agora terá auxílio de Blake Griffin, que pode passar parte do tempo com o segundo escalão. Ainda não sabemos como Griffin está fisicamente, quão entrosado ele está com o resto do elenco tanto taticamente quanto emocionalmente, e não sabemos se o basquete vencedor implementado por Chris Paul monopolizando a bola será deixado parcialmente de lado para que Griffin se envolva mais em quadra, mas ainda assim sua presença nos jogos garante um elenco muito mais complexo e versátil do que o Blazers pode, nesse momento, colocar para jogar.
No perímetro, o jogo será muito parelho – Blazers tem o quarto melhor aproveitamento em bolas de três pontos, o Clippers tem o sexto, ainda que JJ Redick seja quase o responsável solitário pelo aproveitamento do Clippers – então acredito que o jogo será resolvido nos detalhes do banco e do garrafão, onde o Clippers tem uma defesa bem mais sólida e mais opções de ataque.
Fatores decisivos
Quem vai defender Damian Lillard e CJ McCollum e quem vai ficar na frente de Chris Paul, já que eles são os motores de seus times? Se Lillard ou McCollum tiverem espaço e entrarem no modo-psicopata de meter dezenas de bolas de 3 pontos, o Blazers pode sair com a vitória mesmo que o Clippers esteja fazendo tudo certo. Mas em condições normais, com os dois times simplesmente tendo boas partidas, o Clippers tem mais possibilidades – desde que JJ Redick continue encontrando espaços, DeAndre Jordan execute o pick-and-roll, Blake Griffin seja envolvido no ataque e o banco tenha alguma produção ofensiva.
Maldição Bola Presa
O Blazers deve roubar uma ou outra partida numa chuva de arremessos, talvez roube até três se o Clippers fizer xixi na calça de novo como rolou na temporada passada, mas em condições normais o Clippers deveria ser capaz de colocar a cabeça no lugar e sair da série vitorioso nem que seja num Jogo 7.