[Resumo da Rodada] Raptors entrega a paçoca; Wade decide; Clippers sai de ambulância

Depois de não ter resposta para os dois pivôs simultâneos do Hornets nas três últimas partidas, o Heat entrou em quadra precisando vencer para levar a série para o Jogo 7 – e para isso precisava vencer o confronto no garrafão. Desacelerou o jogo para garantir mais proteção para os rebotes defensivos, atacou os rebotes ofensivos, pressionou Al Jefferson e Frank Kaminsky e desafiou o Hornets a arremessar de fora. No ataque, abusaram do pick-and-roll, às vezes até três vezes na mesma jogada, para encontrar espaços para infiltrar e arremessar de média distância, abrindo mão dos arremessos de três pontos a não ser em último caso.

E o que Kemba Walker fez? Usou essa ênfase nos jogadores de garrafão para se estabelecer no perímetro e aí, com a defesa do Heat em movimento, infiltrar pra cima do Hassan Whiteside como faca quente na manteiga. Whiteside, mais uma vez atrapalhado por Al Jefferson, cansou de chegar atrasado e conceder bandejas para Walker. Várias delas vieram em decisões muito rápidas do armador, quando a defesa estava se estabelecendo, parecia que Kemba iria chamar alguma jogada, e aí ele simplesmente infiltrava para surpresa geral de todos os envolvidos. Some a isso 4 bolas de três pontos, incluindo algumas INVENTANDO um espaço do nada entre ele e a marcação, e dá pra ter noção da partida monstruosa que Kemba Walker teve: foram 37 pontos, 5 assistências e 14 arremessos certos em 30 tentativas.

Os trinta arremessos mostram a dificuldade que o resto do elenco teve com as mudanças defensivas – e com a intensidade – do Heat. Kaminsky foi tão incomodado que acabou tendo que passar a maior parte do tempo no perímetro, onde foi uma nulidade. Jeremy Lin sofreu com a marcação física e só conseguiu pontuar na linha dos lances livres. Marvin Williams errou todos os 7 arremessos que deu na partida. Só Al Jefferson conseguiu ajudar no placar, mais uma vez mostrando que Whiteside não consegue marcá-lo e ajudando a tirar o pivô adversário com 6 faltas. Mas a insistência em posses de bola seguidas de colocar a responsabilidade em Al Jefferson ajudou o Heat a diminuir o ritmo do jogo e compactar a defesa, como queriam desde o princípio. Parecia estar funcionando para o Hornets, mas no fundo só ajudava o Heat a ter o jogo que haviam planejado e manter uma distância segura no placar, conquistada especialmente pelo desempenho ofensivo impecável no primeiro quarto, quando acertou mais de 63% dos arremessos. Mais uma vez Luol Deng ajudou nessa parte, acertando alguns arremessos de três pontos para esticar o placar e punir Kaminsky no processo.

Nesse jogo com poucos arremessos de longe fazendo a diferença, marcação forte e briga no garrafão, o Heat estava em terreno bem mais confortável. Wade destruiu de costas para a cesta, em arremessos de média distância e em floater por cima da defesa. Luol Deng atacou a cesta e acertou arremessos da altura da cabeça do garrafão. Dragic infiltrou na insistência a cada corta-luz que recebeu no jogo, sem olhar nem pro lado. Se o Hornets conseguiu ir tirando a diferença no placar frente a essas circunstâncias ideias para o Heat, foi só porque Kemba Walker estava fora de si encontrando espaços até quando não existiam.

Quando o placar apertou no quarto período e parecia que o Heat, indo aos trancos e barrancos, não tinha ninguém a altura do Walker em nível de talento, Dwyane Wade simplesmente assumiu o jogo. Foram 56 jogos SEGUIDOS sem acertar uma bola de três pontos, tendo tentado apenas 21 delas nesse período – a última vez que convertera uma foi em DEZEMBRO DO ANO PASSADO. Mas no quarto período de um jogo eliminatório, fora de casa, com o placar apertando e a água batendo na bunda, Wade acertou AS DUAS tentativas de três pontos no jogo, incluindo uma a 46 segundos do fim que deixou o Heat respirar um pouco, seguida de uma bola ABSURDA girando por cima do seu defensor. Pra encerrar, na posse de bola derradeira do Hornets, Kemba Walker achou outra vez espaço para infiltrar mas Wade estava lá com um TOCO CERTEIRO, seu terceiro no jogo e o suficiente para passar Michael Jordan como o armador a mais dar tocos durante os Playoffs. Que tal?

Aqui tem os arremessos do Wade no último minuto, além da sua fantástica discussão com o torcedor roxo mais sem noção do planeta:

E aqui tem o toco que garantiu a vitória:

Na hora que mais importou na série até agora, Wade soube decidir. Erik Spoelstra disse que Wade treina arremessos de três pontos loucamente, ele só não arremessa nos jogos porque a política do Heat é que cada jogador dê seus arremessos mais eficientes, o que não é o caso da bola de três do Wade. Mas quando precisou, ele teve a inteligência de tentar o arremesso mesmo contra a política da equipe, e liderou a melhora defensiva que trancou todo mundo no Hornets não chamado Kemba Walker. A série agora volta para Miami para um SENSACIONAL JOGO SETE, e não dá pra saber o que vai acontecer. Única certeza é que Wade tem vontade de decidir esses jogos e, se precisar, vai chutar de qualquer lugar da quadra. Para desespero do Michael Jordan, claro, que na noite de ontem foi flagrado com cara de quem estava contando azulejo no banheiro:

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”A tradicionalíssima ‘cara de cocô'”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Jordan.jpg[/image]


Outro time que conseguiu esticar a série para um SENSACIONAL JOGO SETE (tá, talvez não “sensacional”, mas certamente TENSO PRA BURRO) foi o Pacers, que vai tentar a ZEBRA em Toronto – apenas 5 times que se classificaram em sétimo conseguiram vencer um segundo colocado desde 1984. Adivinha como foi que o Pacers conseguiu essa vitória? Com o Raptors DESMONTANDO do nada, claro. A equipe de Toronto estava fazendo um trabalho sólido na defesa, Kyle Lowry soube encontrar DeMarre Carroll para bons arremessos e quando DeRozan voltou a não conseguir atacar a defesa do Pacers, que se ajustou e GRUDOU nele o jogo inteiro, Cory Joseph soube usar os espaços para meter suas bolas do perímetro. Parecia que o Raptors não iria ganhar por muito, mas iria carregar uma vantagem de 10 pontos confortavelmente até o fim, especialmente porque Paul George estava sofrendo demais para pontuar mais uma vez. Até que a defesa do Pacers engatou, o Raptors deixou de ter um ataque, desencanou da movimentação ofensiva, entrou em modo PÂNICO e o Pacers começou a fazer pontos fáceis de contra-ataque. Foi assim que o time de Indiana abriu uma vantagem de 7 pontos ao fim do terceiro período, e aí o Raptors já entrou para o quarto final como se tudo no planeta não fizesse mais sentido. Foram 12 pontos seguidos do Pacers no quarto período antes do Raptors pontuar, e o garrafão do Pacers simplesmente DOMINOU o adversário durante essa sequência. É impressionante como Myles Turner se tornou uma parede para as infiltrações de DeRozan e Lowry, deu 4 tocos e ainda acertou seus arremessos de média distância, enquanto Ian Mahinmi fez Valanciunas mais uma vez parecer um amador só na base do muque. Valanciunas foi anulado, não conseguiu se posicionar nem por um segundo e se pontuou foi só porque Turner e Mahinmi o abandonaram para defender alguém na cobertura em algumas jogadas. Sem ele, e com a cabeça dos outros jogadores do Raptors pedindo arrego, o último quarto foi um passeio do Pacers, que virou a partida e vai para um Jogo 7 da maneira certa: tendo melhorado muito de um jogo para o outro, de um quarto para o outro, e demolindo qualquer convicção que o Raptors tenha sobre vencer essa série. O Jogo 7 vai ser como um trágico acidente de trem: triste, horrível, deprimente, melancólico, mas IMPOSSÍVEL DE NÃO OLHAR.


O Clippers, quase sem jogadores, foi eliminado? Foi. Mas não sem MUITA PORRADA. Mesmo jogando melhor, com Damian Lillard com carta branca mental para arremessar e CJ McCollum metendo suas bolinhas, o Blazers nunca abriu mais do que SETE pontos de vantagem no placar. Em parte é porque o Blazers não teve uma partida fantástica e simplesmente não é tão bom assim (foi mal, falei), mas em parte foi porque o Clippers resistiu como se não houvesse amanhã – até porque não havia mesmo, né. Jamal Crawford (que veio do banco ao invés de jogar como ala porque NÃO FUNCIONOU, claro) atacou a cesta e arremessou como biruta, DeAndre Jordan dominou os rebotes, JJ Redick fez bandejas (?!) e Austin Rivers teve uma partida digna de um jogador de NBA. O único problema é que Al-Farouq Aminu resolveu realizar o desejo secreto de 9 em cada 10 seres humanos conscientes e deu uma COTOVELADA pra rachar o crânio do Austin Rivers em dois. Não vou postar o vídeo por motivos de TEM MUITO SANGUE, mas os fortes de estômago podem ver aqui. O filho do técnico tomou 11 pontos na cara, ficou parecendo o Rocky Balboa, e mesmo assim VOLTOU PARA O JOGO porque o Clippers não tinha mais ninguém decente para colocar em quadra. Dá uma olhada no estado do garoto quando o jogo acabou:

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Cavaleiros do Zodíaco”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Rivers.jpg[/image]

O Clippers lutou tanto, resistiu tanto mesmo sem ninguém pra segurar o rojão, que foi até triste ver eles perderem. Faltando 30 segundos para o fim do jogo, Jamal Crawford conseguiu empatar o placar na linha de lances livres, mas aí o CJ McCollum fez o up-and-under mais GROTESCO do mundo (aquelas jogadas em que o jogador finge que vai arremessar por cima, faz o adversário avançar, e aí passa por baixo dele para uma bandeja), todo atrapalhado, errou a cesta mas Jeff Green fez uma falta fora da bola em Mason Plumlee porque o DeAndre Jordan saiu para tentar contestar a bola do McCollum.

Foi com essa jogada PATÉTICA que o Blazers venceu o jogo, com o Doc Rivers surtando no banco com a marcação da falta, e depois doido porque não marcaram uma falta a favor do Jamal Crawford em sua última infiltração desesperada. Um fim duro e (literalmente) sangrento para o Clippers, uma derrota melancólica, um quase-heroico Jogo 7, mas ao menos nossos olhos não terão que lidar com um time tão sem talento em quadra por mais um jogo. Vai, Blazers, ser feliz na segunda rodada, antes que alguém lembre que vocês quase perderam para o Austin Rivers de um olho só!


MOMENTO CABELEIREIRO DA RODADA

[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Arte conceitual”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Lin.jpg[/image]

Sabem por que o Hornets perdeu para o Heat? Porque Jeremy Lin foi EGOÍSTA e quis jogar usando seu coque. Uma compilação das estatísticas do Jeremy Lin com cada penteado diferente mostra que com o coque Lin tem suas melhores médias de pontos (15.3 por jogo), mas venceu apenas 3 partidas na temporada. Se Lin estivesse preocupado com a VITÓRIA DA EQUIPE, teria usado seu cabelo penteado inteiro para um lado, já que o Hornets ganhou 15 partidas e perdeu apenas uma nessa situação. Outra opção seria também ele jogar com faixinha no cabelo, já que ele tem seu recorde de assistências (4 por jogo) e de rebotes (7 por jogo) com esse penteado. Mas poderia ser pior: pelo menos ele não jogou com o cabelo todo penteado para trás, já que assim o Hornets ganhou 13 jogos na temporada mas perdeu outros 17. Agora virou fator importante para a análise do Jogo 7: com qual cabelo Jeremy Lin entrará em quadra?

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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