Toronto Raptors [2] x Miami heat [3]
Em condições normais de temperatura e pressão, o Raptors deveria ser favorito para essa série: tem mando de quadra, graças a 8 vitórias a mais na temporada regular, uma torcida que faz esse mando de quadra fazer diferença e um time completo sem nenhuma lesão séria para atrapalhar. Mas antes de qualquer previsão ou análise, precisamos lembrar de uma coisa muito importante: é o Raptors. Seria inconsequente e alienado colocar o Raptors como favorito até de campeonato de par-ou-ímpar. Com um estilo de jogo que implodiu nos Playoffs, um histórico de fracassos retumbantes na pós-temporada e um psicológico abalado quando joga na frente da própria torcida apaixonada, seria incauto apostar seus centavos na equipe de Toronto.
Mas eles venceram, ENFIM, sua primeira série de melhor de 7 jogos nos Playoffs, agora ninguém segura eles, você deve estar pensando. O problema é COMO essa série foi vencida: não apenas com altos e baixos terríveis (admitamos, mais baixos do que altos) mas também com uma vantagem de 16 pontos no quarto período de um Jogo 7 em casa que levou o time a simplesmente SEGURAR A BOLA e REZAR PRO JOGO ACABAR, o que demoliu a vantagem e fez a partida ser definida nos segundos finais. Como um time desses pode ser favorito até pra eleição de síndico? Não pode.
Tendo dito isso, fora os FATOS INEGÁVEIS DA REALIDADE, tudo leva a crer que a vida do Raptors deve ser menos traumática na segunda rodada. Não apenas já ficou para trás todo aquele papo de MALDIÇÃO e a sombra insuportável de um fracasso na primeira rodada – perder nas semi-finais para um time como o Heat não seria vergonha pra ninguém, exceto Warriors e Spurs – mas também não há sinal de uma defesa capaz de incomodar tanto o motor principal da equipe, DeMar DeRozan e Kyle Lowry, como aconteceu contra o Pacers. Na primeira rodada, a dupla de armação do Raptors foi incomodada por uma defesa coletiva que levava os pivôs a bloquearem o caminho para a cesta, forçando os dois a arremessarem e contestando as infiltrações. Nada mais, nada menos do que 70% das jogadas de ataque do Raptors passam pelas mãos dos dois, então uma defesa como a do Pacers que bloqueou o acesso da dupla à cesta destruiu qualquer jogada minimamente inteligente da equipe. Contra o Heat, isso não deve acontecer: Hassan Whiteside não tende a sair do garrafão, especialmente para contestar corta-luz no perímetro; e Luol Deng, mesmo de ala de força, marca em geral na linha de três pontos. Marcados por Dwyane Wade, Goran Dragic e Joe Johnson na maior parte do jogo, DeRozan e Lowry têm tudo para terem suas melhores séries numa pós-temporada.
É verdade que o Heat conseguiu fazer um bom trabalho em algumas partidas contra o Kemba Walker, dobrando a marcação e até em alguns momentos usando Luol Deng para marcá-lo, mas Walker acabou com algumas partidas sozinho e é possível que a mesma coisa aconteça dessa vez. Luol Deng pode acabar tendo que passar muito tempo defendendo DeMar DeRozan, mas isso fará com que Joe Johnson, provavelmente, tenha que marcar um jogador bem mais alto – possivelmente Patrick Patterson ou mesmo Luis Scola, que deve ser resgatado para essa série. Se contra o Pacers o importante para o Raptors era espaçar a quadra e acertar bolas de fora, contra o Heat o essencial será explorar os problemas defensivos de cobertor curto que o Heat vai enfrentar ao tentar parar o perímetro adversário.
O problema do Raptors é que o contrário também se aplica: quem marcará Dragic, Joe Johnson e especialmente Dwyane Wade? DeMarre Carroll pode pegar apenas um deles, de modo que DeMare DeRozan terá que provavelmente marcar um dos jogadores restantes. Isso significa que não dará para DeRozan “descansar” na defesa, marcando algum jogador menos envolvido no ataque – aliás, todos os titulares do Heat estão envolvidos no ataque, com médias nesses Playoffs de mais de 10 pontos por jogo. Talvez por isso vejamos mais minutos de Norman Powell, o reserva que marcou muito bem Paul George, e veremos se os problemas defensivos de Luis Scola comprometerão seu tempo em quadra, já que ele poderia abusar de Luol Deng ou Joe Johnson no ataque.
Por parte do Heat, outros dois novatos também podem ser importantes defensivamente: Justine Winslow e Josh Richardson, que o Heat tirou SABE-SE LÁ DE ONDE, são os dois melhores defensores individuais da equipe e podem ser acionados com mais frequência do que seria recomendável para tentar parar DeRozan e Lowry. O quanto os dois poderão contribuir no ataque, especialmente contra a forte defesa individual do Raptors, é que pode interferir nos seus minutos.
Já que os dois times vão causar no perímetro problemas que o adversário não têm como resolver plenamente, muito dessa série deve ser resolvida no garrafão. Jonas Valanciunas foi exposto como um PEDAÇO GRANDE DE COCÔ na série contra o Pacers, destruído por Ian Mahinmi e até pelo novato Myles Turner. O Heat gosta cada vez mais de jogar baixo, com Luol Deng no garrafão, mas Hassan Whiteside pode se tornar um pesadelo terrível para Valanciunas. No ataque, Whiteside se incomoda com defensores mais físicos, o que não sei precisar se é o caso de Valanciunas, mas na defesa tem tudo para engolir o pivô do Raptors, anulando o ataque do coitado. Por outro lado, Valanciunas até tem uma defensa de pick-and-roll razoável, o que pode atrapalhar as constantes infiltrações do Dragic mesmo ele não consiga fazer o mesmo diretamente contra o Whiteside.
O Heat sofreu demais quando o Hornets apostou no tamanho, mas se depender do Valanciunas, o Raptors não conseguirá apostar nessa estratégia. Em geral, o Heat poderá usar o seu tamanho – Wade não deve ter defensores à altura do seu jogo de costas para a cesta, e Dragic ou Joe Johnson devem sofrer marcação bem baixa – mas pode ser que Luol Deng enfrente problemas nos rebotes caso o Raptors aposte num quinteto mais alto com Byombo ou Scola. Como o Raptors adequar o tamanho da equipe para conseguir incomodar o Heat sem estagnar o próprio ataque pode ser decisivo para essa série.
Ainda assim, o Heat tem mais armas individuais capazes de incomodar a defesa do Raptors, até porque ela é muito individual e o Heat sabe usar as falhas de cobertura especialmente na linha de fundo para criar cestas fáceis. Quando surgem cestas fáceis contra o Raptors, que tem dificuldade em pontuar com tranquilidade, o placar costuma ficar elástico em sequências de poucos minutos contra o time de Toronto. Além disso o Heat, que anda tendo problemas para arremessar da linha de três pontos, deve ter mais facilidade de pontuar no garrafão do que teve contra o Hornets, embora certamente vá sofrer mais para pontuar do perímetro. Será que o Heat sobrevive mesmo sem acertar suas bolinhas de três eventuais que costumam consolidar a vantagem?
Fatores decisivos
Será que Valanciunas consegue incomodar um pouco Hassan Whiteside, seja no ataque quanto na defesa? Se conseguir, o Raptors terá uma vantagem incrível. Em caso negativo, Whiteside já mostrou que consegue desequilibrar alguns jogos facilitando a vida de Dragic e Wade no ataque e bloqueando e alterando arremessos na defesa. Como o Raptors vive de infiltrações, Whiteside, se tiver espaço, pode ser o fator determinante dessa série. No perímetro, fica a dúvida: Lowry ou DeRozan serão marcados por Luol Deng? Se isso acabar sendo necessário, então quem marcará Patterson ou Scola, e será que o Raptors consegue usar os dois para punir o Heat por jogar sem ala de força? Do outro lado: quem DeRozan terá que marcar? Wade, Dragic ou Joe Johnson devem sobrar para ele, e os três tem tudo para explorar sua defesa e tentar colocá-lo em problemas de faltas. O banco também deve contar muito: o Heat tem dois novatos defensores para usar, dependendo de como contribuirão no ataque, e o Raptors tem Powell e também Cory Joseph, que aliás está acertando 58% dos seus arremessos nos Playoffs (incluindo 53% na linha de três pontos). Joseph melhora muito o ritmo da equipe, pode causar problemas para a defesa do Heat, mas muitas vezes o Raptors não tem confiança para sentar Lowry ou DeRozan por longos períodos para apostar na bola de três dele. Será que vai criar coragem? Até porque Kyle Lowry, dizem, andou drenando o cotovelo e está jogando levemente contundido, o que explicaria as péssimas atuações.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”O talento do Kyle Lowry voou, voou”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/05/Lowry.jpg[/image]
E por fim, o fator decisivo fundamental: O RAPTORS VAI TER CABEÇA PRA BRINCAR DE BASQUETE? Se tiver, vai ser lindo. Se não tiver, vai ser esperado, né?
Maldição Bola Presa
Como cidadão bem informado, comedido, cauteloso e ciente de meu papel na sociedade, eu sou OBRIGADO a apostar contra o Raptors. A série deve ser dura, os dois times tem armas que o outro não tem como defender, mas acredito que o Heat é mais versátil, sabe se adequar melhor ao longo de séries longas, inventa novas saídas e vai sobreviver tempo suficiente para que uma hora o Raptors IMPLODA sozinho. Vai dar Heat!