Golden State Warriors [1] x OKC Thunder [3]
Os Playoffs do Golden State Warriors deveriam ter sido um passeio no parque até aqui, mas tiveram uma boa dose de drama. Teve Stephen Curry fora praticamente por 6 jogos, o Warriors tendo que mostrar que consegue jogar sem ele, uma derrota improvável para o Rockets, outra assustadora para o Blazers, e uma semi-final de Conferência em que passou mais minutos perdendo do que liderando partidas. Ainda assim, fica difícil apontar uma coisa que tenha dado verdadeiramente errado até agora: Stephen Curry não se lesionou de maneira grave, voltou a tempo de tirar a poeira antes das Finais do Oeste, o resto do elenco está saudável, todo mundo está em grande fase e até se o Curry quiser TIRAR UMAS FÉRIAS NO HAVAÍ acho que o resto do elenco consegue segurar a onda com dignidade. Draymond Green teve partidas espetaculares no ataque, recuperou sua eficiência nos arremessos do perímetro e puniu todos os jogadores de garrafão que ousaram defendê-lo, Klay Thompson acertou arremessos de três como se não houvesse amanhã e fez o papel de Curry no ataque com uma naturalidade exemplar, e todo o resto do elenco contribuiu quando necessário. Talvez o único ponto fraco da equipe até agora tenha sido o segundo escalão do time, que com Shaun Livingston titular fica sem ninguém para cadenciar o ataque e fazer a bola rodar, algo naturalmente resolvido com Curry de volta ao quinteto inicial.
Já o Thunder, por incrível que pareça, conseguiu chegou nas Finais do Oeste com menos dramas. Até contra o Spurs, em que todo mundo em sã consciência esperava uma série difícil, sofrida e DIGNA DE JOGO 7, vimos um Thunder capaz de impor seu ritmo de jogo e desafiar até a melhor defesa da Liga, vencendo com certa facilidade. Ninguém esperava, talvez por uma simples questão cognitiva, da ligação olho-cérebro: você vê o Thunder jogando, a bola quase não gira, há pouca movimentação ofensiva, as jogadas são forçadas e nenhum outro time da NBA, estatisticamente, arremessa tanto em jogadas individuais cara-a-cara com a marcação. O olho capta essa informação, manda pro cérebro, e ele conclui que NÃO FAZ SENTIDO FUNCIONAR. Mas é que a quantidade de talento presentes em Kevin Durant e Russell Westbrook é tão absurda que conseguem impor seu estilo acima da tática – tanto do Thunder quanto do adversário. Nada conta melhor essa história do que o Westbrook, tendo um jogo ruim, conseguiu transformar o jogo depois de assumidamente resolver PENSAR MENOS, batendo para a cesta em velocidade após cada rebote e não dando a mínima para o que o resto do mundo iria pensar. Aliás, o Thunder é o time que menos se importa com o resto do planeta: numa NBA cada vez mais coletiva, em que Spurs e Warriors ditam o modo “correto” de se jogar basquete moderno, lá está a equipe de Oklahoma fazendo jogadas individuais e forçando bolas absurdas porque acredita que esse é o melhor modo de usar o talento que tem disponível. O mais incrível é que o Spurs já caiu para esse modelo; agora só falta o Warriors.
Na temporada regular, o Thunder não queria de jeito nenhum enfrentar o Warriors. Teve até aquele incidente em que o Westbrook, quando foi lembrado por um jornalista de que iria enfrentar o Warriors em breve, soltou um “oh shit”:
Quando finalmente se enfrentaram, o Warriors passeou sem nenhuma dificuldade. Mas é o Thunder, né, o time mais cabeça dura da NBA. Saíram de quadra depois de tomar uma surra dizendo “olha que legal, aprendemos vários pontos fracos deles, na próxima a gente ganha”. Quais mudanças táticas resolveram colocar em prática no próximo confronto, então? NENHUMA. Foram lá e fizeram mais do mesmo, mas com mais intensidade, mais força e mais eficiência. Acabaram mesmo assim perdendo o jogo na prorrogação para aquele arremesso absurdo do Curry que é a imagem da temporada até agora:
Tudo tranquilo, saiu o Thunder dizendo que quase tinham ganhado, que no próximo confronto já sabiam o caminho para a vitória. Resultado? Tomaram outra surra. Fica difícil levar a confiança do Thunder a sério porque eles sempre acham que dá pra vencer, sempre acreditam no estilo de jogo que colocam em prática, quando dá certo mas TAMBÉM quando dá errado. Essa confiança que pareceu balela na temporada regular – já que não rendeu nenhuma vitória – foi a mesma que, com pouquíssima variação tática, venceu o Spurs depois que o Thunder foi ATROPELADO sem dó pelo time de San Antonio no Jogo 1 da série.
Verdade seja dita, o Thunder só chegou nas Finais de Conferência porque ocorreram outras coisas na equipe para além de Westbrook e Durant não previstas por ninguém. Steven Adams e Enes Kanter foram essenciais para vencer o Spurs, porque não basta jogar na contramão da NBA no quesito “invidualismo”, tem também que jogar na contramão no quesito “pivô”, colocando dois deles AO MESMO TEMPO numa época em que ninguém quer colocar pivô sequer no banco de reservas. Os “Irmãos Bigode” foram essenciais gerando rebotes ofensivos e abrindo espaço nas infiltrações de Westbrook, mas fica difícil imaginar esse mesmo esquema funcionando contra o Warriors, especialista em inutilizar os pivôs adversários. Forçá-los a usar Andrew Bogut e Festus Ezeli por mais minutos talvez já seja o suficiente para diminuir o poder ofensivo do Warriors e dar uma folga para o Thunder, que tende a errar rotações defensivas especialmente na transição e sofrerá se o Warriors colocar um quinteto menor e mais rápido em quadra. Por outro lado, a simples presença de Draymond Green deve forçar Serge Ibaka a ficar mais tempo em quadra pelo Thunder, tanto para marcar o adversário quanto para forçá-lo a defender o perímetro, com o Thunder tentando colocar o máximo de arremessadores de três pontos junto com seus pivôs para o rebote ofensivo. Fora isso, o Thunder deve fazer mais do mesmo, e em parte isso deve funcionar: Durant tem histórico de destruir contra o Warriors na temporada regular, mas suas atuações não costumam ser suficientes para garantir a vitória. Isso ocorre principalmente porque o tipo de defesa que o Warriors emprega é O TERROR do Russell Westbrook, que terá pouco espaço para infiltrar, Draymond Green se jogando na frente dele em cada bandeja, e linhas de passe interceptadas quando ele precisar mandar a bola para fora. Contra o Warriors, Westbrook tende a virar um arremessador, o que é MUITO prejudicial para o Thunder. Além disso, ele terá que provavelmente marcar Curry ou Klay Thompson, a não ser que Durant cumpra essa função, o que não deve ocorrer. Isso colocará um forte peso nos ombros do armador, que não poderá cometer faltas e nem descansar de nenhum lado da quadra. O Warriors, por sua vez, pode não ter como parar Durant, mas a defesa coletiva deve dar conta das infiltrações e forçará o elenco secundário do Thunder a acertar arremessos rápidos de fora, tirando a equipe da zona de conforto.
Fatores decisivos
O Warriors tem uma preocupação constante, que é quão saudável está o joelho e o tornozelo do Stephen Curry. A saúde do armador é essencial para que o Warriors possa repetir o altíssimo nível da temporada regular. Fora isso, a maior preocupação da equipe deve ser defensiva: no ataque não devem ter muita dificuldade, mas na defesa terão que coletivamente cobrir Westbrook e dar um jeito de parar Durant na defesa individual. Quem será escolhido para a função? Draymond Green é o mais indicado, mas o Warriors não pode arriscar ser dominado nos rebotes como foi o Spurs; Andre Iguodala consegue incomodar muito Durant mas desfalcaria para isso o banco de reservas, tendo que passar mais minutos com os titulares; Klay Thompson pode ser o homem certo se estiver inspirado e não for muito sobrecarregado no ataque, o que às vezes tende a acontecer. Nos rebotes, o Warriors usará Bogut, Ezeli e Varejão por mais tempo para garantir o domínio do garrafão, mesmo que com isso tome mais bolas de três pontos e comprometa seu contra-ataque? E o Thunder terá que decidir como marcará Stephen Curry, se ele receberá toda atenção ou se será desafiado a chutar em nome de uma defesa fechada no resto do elenco do apoio. No garrafão, o Thunder deve tentar usar Kanter e Adams juntos de novo, mas será que continuarão eficientes ou serão punidos por Draymond Green chutando mil bolas de três pontos? Se o Thunder não conseguir usar os seus pivôs, as chances da equipe serão mínimas, então esse duelo deve ser essencial. Além disso, enquanto Serge Ibaka estiver em quadra, ele acertará seus arremessos de três pontos? Se não acertar essas bolas para desafogar o ataque estagnado do Thunder, a defesa do Warriors poderá fechar o garrafão e gerar ainda mais contra-ataques.
Maldição Bola Presa
Acho que nem a nossa pseudo-maldição conseguirá atrapalhar a melhor campanha da NBA nesse temporada. Seria muito, muito estranho se o Warriors não ganhasse essa série com certa tranquilidade. Mas como o Thunder vai lá com sua cabeça dura e ganha jogos no talento individual, acredito que a série pode até durar um pouquinho mais do que o esperado, talvez um 4 a 2. Mas no fundo, o Golden State é muita areia para o caminhãozinho de Durant e Westbrook. Vai dar Warriors!