[Resumo da Rodada] O Raptors não quer arremessar

Até dá vontade de me enganar, dizer que o Raptors tem chance de bater de frente com o Cavs, roubar um jogo em Cleveland com algumas atuações improváveis, levar o jogo apertado até o final quando vira tudo terra de ninguém, tudo pra pra tentar deixar a série minimamente interessante e nos motivar a assistir um confronto de verdade. Mas se eu fizesse isso, não conseguiria mais me encarar com seriedade na frente do espelho. O Cavs é tão ABSURDAMENTE dominante nessa série que achar que o Raptors pode vencer alguma partida é um DELÍRIO. Claro que o Raptors pode vencer jogos, tudo pode acontecer, assim como o louquinho que fica gritando na praça pode falar umas verdades de vez em quando, mas isso não torna menos absurdo quem acredita nele.

O pior é que o jogo sempre começa parelho, com o placar bem apertado. O Raptors parecia bizarramente tranquilo, lidando com compostura com a defesa SUPER PRESSIONADA do Cavs. A equipe de Cleveland está decidida a atacar as linhas de passe, tentar interceptar qualquer bola antes de chegar nos outros jogadores, porque confia que o adversário que ficar livre numa tentativa de roubo de bola mal efetuada não vai ter habilidade para arremessar a bola ou coragem para infiltrar. O fato de que o Raptors não se desesperou com essa ousadia do Cavs e continuou executando suas jogadas, com DeMar DeRozan acertando seus arremessos de média distância e Kyle Lowry tentando (ainda que errando tudo) os arremessos livres de fora foi uma visão interessante e surpreendente. Quando os arremessos do Raptors começaram a cair e outros jogadores, especialmente Terrence Ross, começaram a converter bolas de longe, respondendo com agressividade à defesa pressionada do Cavs, a equipe de Toronto chegou até a TOMAR A FRENTE DO PLACAR no terceiro período.

Vejam no vídeo abaixo como Kyle Lowry está sendo pressionado numa defesa sanduíche por frente e por trás ao mesmo tempo, algo que o Cavs faz sempre para gerar roubos de bola que viram contra-ataques instantâneos. Quando Lowry passa para o lado para Terrence Ross, LeBron James está POUCO SE LIXANDO para Patrick Patterson livre na linha de três pontos, tudo que ele quer é bloquear a linha de passe para Patterson para conseguir um roubo de bola fácil e correr para a enterrada. Ross aproveita a situação para usar o espaço e arremessar de maneira DECIDIDA, punindo a defesa do Cavs pelo excesso de agressividade. O Cavs quer tanto gerar contra-ataques que abre espaço para arremessos se os jogadores do Raptors foram determinados, como é o caso da bola de Ross:

Mas Terrence Ross foi um caso raro no jogo de ontem. Olha a oportunidade fantástica que Patrick Patterson teve DE NOVO para arremessar porque o Cavs está tentando bloquear o caminho de DeMarre Carroll para a cesta, já que Carroll é um dos poucos jogadores do Raptors que consegue bater pra dentro sozinho, desafiando a defesa e gerando lances livres:

O problema é que Patterson não quer arremessar dali – Pacers e Heat já tinham se aproveitado disso na temporada passada – e ele acaba dando um passe para o Kyle Lowry, que é forçado a arremessar uma bola IDIOTA e de baixíssimo aproveitamento. É fato que Lowry errou alguns arremessos livres que ele deveria acertar se quiser manter o Raptors vivo na série, mas a maior parte das bolas que ele tenta são jogadas que quebraram, arremessos que alguém desistiu de dar e tacou a batata quente pra ele, e isso vai minando não apenas o aproveitamento mas também a CONFIANÇA do jogador. Nos dois jogos contra o Cavs, Lowry arremessou 28 bolas e acertou apenas 8, com um único arremesso certo de três pontos em 15 tentativas. É um desastre, daqueles que vai fazer o Lowry MORAR PARA SEMPRE no ginásio arremessando sozinho depois dos jogos. Mas enquanto o resto do elenco de apoio do Raptors continuar abrindo mão de arremessos fáceis, o Lowry vai seguir errando bolas difíceis e a defesa do Cavs vai seguir com sua pressão nas linhas de passe para gerar contra-ataques.

Essa jogada aqui é ainda pior do que a do Patterson: James Johnson, que entrou em quadra para tentar defender LeBron James, ficou COMPLETAMENTE LIVRE para uma bola de três pontos com o Lowry fazendo um corta-luz monstruoso para lhe dar tempo de arremessar. Aí o que Johnson faz? Passa pro Patterson, que não quer a bola, devolve na hora, e aí Johnson – que teve espaço pra arremessar DE NOVO – aciona DeMar DeRozan numa jogada quebrada. DeRozan não tem NADA pra fazer, passa uns segundos olhando pro defensor dele com cara de “deu ruim”, e aí com ajuda de Lowry consegue um arremesso forçado de dois pontos de longuíssima distância.

 

Essas jogadas vão minando o ataque do Raptors aos poucos e favorecendo a defesa pressionada do Cavs. Chegou a um ponto no segundo período que o Raptors errava todos os arremessos forçados ou perdia a bola quando passava pro lado, e no desespero o time inteiro começou a PULAR EM CIMA dos rebotes de ataque – o que gerava faltas óbvias. O Cavs começou então sua MARATONA de lances livres, e não precisava sequer ir para o ataque. Bastava defender, pegar o rebote e esperar a falta do Raptors na tentativa de recuperar a bola. Isso quando o Cavs não roubava a bola antes e aí coisas MARAVILHOSAS aconteciam:

Depois de estar na frente do placar no meio do terceiro período, o Raptors tomou um 16 a 2 que não encerrou apenas o quarto, encerrou também O JOGO. Com um ataque tão desestruturado, o Raptors não consegue correr atrás de vantagens muito amplas no placar. Resta ao time ficar cozinhando o adversário em banho-maria, torcendo para Terrence Ross fazer 10 pontos em 6 minutos de jogo (como ocorreu no segundo quarto) e ir aos poucos flertando com a liderança. Mas depois de perder o quarto por 12 pontos, já não havia tração para correr atrás do placar. Até mesmo porque a defesa do Raptors, por mais que tenha tido bons momentos, não é capaz de parar tanto talento individual individualmente, e todas as vezes que tentou marcar por zona tomou infiltrações de LeBron James ou sofreu com o jogo dentro do garrafão de Kevin Love. É muito bom ver Love envolvido de novo no jogo próximo à cesta, onde ele consegue fazer muito estrago. O Raptors não encontrou resposta para ele no primeiro tempo, e no segundo tempo Love mal participou do jogo porque não precisava mais. LeBron conseguiu mais um triple-double na partida faltando quase o último quarto inteiro de jogo, uma vantagem muitíssimo confortável e o Raptors desequilibrado fazendo faltas tolas. No começo pode até parecer que dá, mas no meio já é sempre um passeio no parque.

O ponto positivo da derrota do Raptors, pra mim, é ver que o time seria MUITO diferente com arremessadores agressivos e de boa pontaria. É a ausência de arremessadores confiantes que quebra a maior parte das jogadas e deixa um fardo desproporcional nas costas de Lowry e DeRozan. Nunca vimos nas Finais de Conferência um time tão bom ser tão FRÁGIL, ter tantos pontos fracos e ausência de tantas coisas essenciais para o bom andamento de um esquema tático. Mas ainda assim o Raptors é um bom time e talvez algumas dessas fragilidades possam ser remediadas pelo fato de que o time tem uma escolha Top 10 no próximo draft. Vale sempre lembrar que esse Raptors, por mais risível que seja, chegou aqui ao abrir mão de um monte de jogadores “consagrados” como Rudy Gay e Andrea Bargnani, e que isso abriu espaço para outros membros do elenco e gerou a escolha de draft do Knicks que agora pertence ao Raptors dentro do Top 10. Ou seja: o futuro próximo, não vou me enganar, é de derrota atrás de derrota para esse Cavs, mas o futuro nos próximos anos é bastante promissor.


RODADA DO DIA

Não temos jogos da NBA hoje! Levem seus namorados para jantar, se entupam de sorvete, andem de bicicleta, durmam como nunca dormiram. Sintam-se livres, leves e vivos por uma noite, que amanhã voltamos à programação normal, com Cavs @ Raptors às 21h30 na ESPN.


ESPORRO DO DIA

Um texto do Ken Berger jura de pé junto que o momento de virada desse time do Cavs foi quando num pedido de tempo, LeBron James começou a opinar como sempre fazia com o ex-técnico David Blatt e então o novo técnico, seu amigo Tyronn Lue, mandou ele “calar a merda da boca” porque ele estava no controle. Isso fez com que todos os jogadores passassem a respeitá-lo e sentissem que faziam parte de um TIME, não de um elenco de apoio a LeBron. O engraçado é que esse tipo de coisa só é possível justamente porque Lue e LeBron são amigos, se respeitam, e o esporro acaba tendo menor impacto psicológico, mesmo mantendo o impacto social. Quem achava que Lue no comando era só um jeito de deixar LeBron ditar as regras deve estar surpreso agora, e pelo jeito isso transformou o Cavs realmente num time a ser temido. Veremos o resultado disso nas Finais da NBA!

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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