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Como o Denis anunciou, postaremos hoje uma homenagem ao ganhador de lavada do prêmio de MVP, Kobe Bryant. Trata-se de um texto escrito pelo próprio Kobe Bryant para a revista Dime há dois anos atrás, e que parece mostrar aspectos do tão amado e odiado Kobe que pouca gente conhece – e que com certeza acabaram levando-o a ganhar o prêmio de MVP num time que tem tudo pra (quem diria) levar o Oeste.
Essa é mais uma das minhas traduções que mantém o selo “Isiah Thomas” de qualidade, ou seja, embora algumas pessoas possam até gostar, encorajo sempre a leitura do original, especialmente pra quem assistiu tanto Friends e NBA na internet que até já manja dessa língua esquisita. Se as transmissões do Houston pelas TVs chinesas continuarem, por exemplo, muito em breve vou acabar traduzindo uns textos do chinês também, com o selo “Kwame Brown” de qualidade. Agora, com vocês, o MVP dessa temporada na língua de Camões.
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por Kobe Bryant
“Meu maior medo é não ganhar outro título. Mas medo é uma grande motivação. Eu estou determinado a levar esta organização de volta ao topo. As pessoas que antes me celebravam são as mesmas pessoas que agora duvidam de mim. Eles dizem que agora que não tenho Shaq não posso mais ganhar, que está tudo acabado. A única coisa com a qual verdadeiramente me preocupo é que minha energia e minha força de vontade às vezes são demais para meus parceiros de equipe lidarem. Será que eu espero demais deles? Como posso elevá-los a jogar com a mesma paixão que eu todas as noites?
O que me ajuda a entender e lidar com isso é o fato de que eu já estive na pele deles. Eu já joguei um papel de coadjuvante nesse time. Naquela época eu sabia quanta pressão Shaquille tinha nos ombros para ganhar um anel e eu também sabia que podia ajudar. Então eu estudei o jogo ofensivamente e especialmente defensivamente porque eu sabia que se eu pudesse incomodar no perímetro com ele fechando o garrafão, isso iria desmoralizar nossos oponentes mais do que qualquer coisa que pudéssemos fazer ofensivamente. Eu também sabia que os times em que ele havia jogado no passado não tinham alguém para fechar os jogos. Ninguém podia tomar conta do jogo no final ou acertar o arremesso da vitória ou fazer os lances livres cruciais. Aquelas eram as fraquezas de Shaq, então eu tive que melhorar e torná-las meus pontos fortes. Eu sabia que poderia trazer muito mais para a batalha, mas aquilo não era meu papel. Eu era um pontuador que se tornou um facilitador para que pudéssemos vencer. Mas agora eu me preocupo porque sei como foi difícil para mim aprender, quantas noites eu passei sem dormir e quantas críticas e rumores de troca eu tive que suportar antes de dominar meu papel. Isso é provavelmente pelo que meus parceiros de equipe estão tendo que passar. Tudo que posso fazer é rezar para que um dia nós alcancemos o mesmo nível de química e entendimento que existia entre eu, Shaq, Rick Fox, Derek Fisher, Hobert Horry e todos os outros jogadores com os quais já fui para a guerra.
Os medos que tenho são amenizados um pouco pela presença de Phil Jackson. Sem delongas: ele é o melhor técnico para o qual já joguei. Tudo que aprendi sobre o jogo pode ser rastrado vindo dele e de Tex Winter. Eles ensinam o jogo num nível tão mais profundo do que apenas a tática. O jogo é um ritmo, uma dança. Phil e Tex me ensinaram a sentir o jogo. Pensar o jogo sem pensar, vê-lo sem ver. Eles me ensinaram como me preparar. Como conceituar o espírito dos meus oponentes e atacá-los onde são fracos. Eu vi o quanto PJ fica preparado antes dos jogos, e como o líder dentro de quadra ele confia em mim para fazer o mesmo. Então eu faço todas as coisas que ele me ensinou antes do tapinha inicial e assim que a bola está no ar minha mente está tranquila e meu corpo está pronto para jogar. Eu encaro o outro time nos dois lados da quadra. Eu me orgulho em ser capaz de fazer isso. Eu ODEIO quando pontuam em cima de mim, até mesmo quando se trata de jogadores que alguns dizem ser “indenfensáveis”. Eu não acredito quando dizem “Oh, aquele jogador está simplesmente quente hoje.” Foda-se isso! Apague o traseiro dele, então.
Quando jogamos fora de casa e toda a torcida está me vaiando, isso não me incomoda em nada. O que eu penso é simples: “Quando esses fãs saírem do jogo eu quero que se lembrem do quanto eu lutei e da paixão e da energia com as quais joguei.” Eu sempre joguei esse jogo com paixão. E eu sempre trabalhei duro. Quando eu assisti o filme Rudy eu lembro de ter pensado, “e se eu trabalhasse tão duro assim?” Deus me abençôou tanto física quanto intelectualmente para jogar esse jogo, então o que aconteceria se eu me esforçasse tanto quanto o personagem naquele filme? Eu amaria que as pessoas pensassem em mim como um cara talentoso que conseguiu mais do que sua capacidade permitia. Mesmo que aqueles fãs possam gritar “o Kobe fede” quando eles saem do ginásio, eu quero que eles saiam de lá com uma sensação diferente de quando entraram. Quando eles saírem, sairão com o entendimento de que acabaram de presenciar um jogador se doar completamente à sua paixão; eles acabaram de assistir um atleta sangrar cada gota de seu coração e de sua alma na quadra. E, com sorte, quando essa fase da minha vida estiver encerrada, eles irão me respeitar e me apreciar pelos anos que gastei dando tudo de mim ao jogo que significa tudo para mim.”