>
O negócio é o seguinte: existem dois LeBron James e dois Kobe Bryant. Irmão gêmeo maligno, clone alienígena, projeto do governo americano, você escolhe a explicação que preferir. Mas é impossível negar os fatos, seria tipo negar que as gêmeas Olsen existem. E se você é um homem heterossexual, sabe que isso é impossível.
Existe um LeBron que joga todas as partidas da temporada, normalmente, e com o qual estamos bem acostumados. Mas existe outro LeBron que passa a temporada inteira escondido, treinando, se aperfoiçando, descansando, e só surge diante dos nossos olhos nos Jogos 5 dos playoffs, quando então eles trocam de lugar. Esse outro LeBron que só aparece em jogo 5 é mais físico, mais esperto, bate para dentro do garrafão ao invés de ficar dando arremessos inconsistentes e faz cestas em bandejas acrobáticas inacreditáveis, cavando milhões de faltas no processo. Esse LeBron é destruidor e experiente, pois foi ele, justamente ele, que acabou tornando possível eliminar o Pistons na temporada passada graças a 48 pontos, sendo o único jogador do Cavs a fazer uma cesta nos últimos 18 minutos daquele jogo 5, incluindo duas prorrogações. É impossível parar o LeBron dos Jogos 5, mas pudera, ela passa a temporada inteira escondido na Suíça apenas aguardando esse momento.
Na noite de ontem, essa versão do LeBron marcou 23 pontos apenas no primeiro quarto, dominando a partida de um modo assustador. Mas então veio o intervalo e alguma coisa aconteceu, dor de barriga, dengue, problemas com travestis, novamente você escolhe sua explicação preferida. Mas o que importa é que o LeBron versão Jogo 5 não conseguiu voltar para a quadra e, sem outra escolha, o LeBron normal teve que tomar seu lugar. O resultado foi um punhado de arremessos de longe, queda de produção, piora na defesa, e o Celtics acabou tomando a liderança e ganhando a partida. Agora, a dúvida que aflige os fãs do Cavs não é o Daniel Gibson, que estará fora das próximas partidas graças a uma contusão no ombro, mas sim se o LeBron versão Jogo 5 poderá jogar o segundo tempo do Jogo 6 para compensar o tempo que perdeu na noite de ontem.
E se você ainda tem suas dúvidas sobre a multiplicidade lebrônica, basta citar a entrevista dada logo após o jogo. Perguntado se o Cavs estava agora desesperado, LeBron respondeu: “Um time com LeBron James nunca fica desesperado.” Quem diabos se dirige a si mesmo na terceira pessoa sem ter uma cópia de si? Ou você acha que o Pelé jogou tudo aquilo sendo apenas um?
Kobe Bryant também tem sua cópia, mas não é o mesmo caso do LeBron, uma não fica treinando apenas para os playoffs enquanto a outra sofre toda a temporada regular. A diferença entre os dois Kobes é apenas de índole: enquanto um quer fazer o máximo de pontos que puder e já marcou 81 num jogo, o outro está mais interessado em arremessar pouco e envolver seus companheiros de equipe. Após um Jogo 4 em que o Kobe arremessou de todos os lugares da quadra e não acertou nem cotonete no ouvido, foi conversar com sua cópia e deixou que ela jogasse o Jogo 5 em seu lugar. Com apenas 10 arremessos (a outra versão de Kobe havia chutado 33 bolas no jogo anterior) e acertando 6 deles, o Kobe bonzinho foi super eficiente, inteligente e permitiu que Gasol e Odom tivessem partidas monstruosas. Esse Kobe bonzinho aparece de vez em quando mas ele também costuma aparecer mais nos playoffs, com resultados diversos. Na temporada passada, jogou algumas partidas e fez seus companheiros de equipe participarem mais, mas como o elenco fedia, as derrotas eram comuns. Agora, esse Kobe versão São Francisco de Assis pode ficar de lado vendo Odom e Gasol chutar traseiros, e olha que o Bynum nem conseguiu sair do aparelho Dragon Ball que muda a gravidade do seu joelho ainda. Com o tempo (e com a velhisse), o Kobe agressivo deve ir perdendo espaço para essa versão caridoda e ter o mesmo sucesso, ou até mais, o que me faz imaginar o Kobe quebrando os recordes do Mutombo e jogando aos 60 anos de idade. Até mesmo porque ter cópias de si evita lesões e o cansaço natural de disputar tantas partidas numa só temporada.
Se o Tracy McGrady tivesse umas 5 cópias e o Yao Ming umas 10, de modo a sempre haver uma cópia substituta quando eles se machucassem, meu Houston ainda estaria nos playoffs. Espero que o governo chinês desenvolva logo essa tecnologia conhecida apenas na terra do Tio Sam.