As Finais da Conferência Oeste finalmente estão sobre nós, enquanto o Cleveland Cavaliers ainda aguarda tranquilamente o vencedor entre Washington Wizards e Boston Celtics no Leste. Com o primeiro jogo das Finais do Oeste começando na tarde de hoje, é hora de nosso Preview!
Golden State Warriors (1) x (2) San Antonio Spurs
“Rezar”. Esse é, nas palavras do próprio técnico Gregg Popovich, o plano do San Antonio Spurs para vencer a série contra o Golden State Warriors. O mais assustador é que o Spurs venceu 61 partidas na temporada regular – apenas 6 a menos do que o temido adversário dessas Finais de Conferências – e ainda assim admite que, se não houver um milagre, não tem chances reais nessa série.
O Spurs foi capaz de parar o ataque poderoso do Houston Rockets, uma versão caricata e bem menos talentosa do Warriors, no que Manu Ginóbili chamou de “preparação” para o que enfrentarão nessas Finais. Mas se Kawhi Leonard foi responsável por parar James Harden, o motor da equipe adversária, na série contra o Warriors provavelmente terá que ater-se a Kevin Durant, uma MERA ENGRENAGEM num sistema de ataque sofisticado que não tem seu centro em nenhum dos jogadores do elenco. Danny Green pode ter que caçar Klay Thompson quadra afora por uma série de corta-luzes, o que significaria que armadores com defesa abaixo da média como Patty Mills ou Dejounte Murray acabarão tendo que marcar Stephen Curry. A situação no garrafão é mais aterradora ainda: Pau Gasol e LaMarcus Aldridge fizeram bom trabalho recuando na defesa para impedir as bandejas do Rockets, mas sofreram demais para fechar os espaços no perímetro e defender os adversários no mano-a-mano. No Warriors, Draymond Green exigirá uma mudança nesse plano defensivo sob risco de arremessar bolas de três pontos livres durante toda a partida. Imagino que o Spurs seja capaz de impedir as destruidoras pontes-aéreas para JaVale McGee que tanto machucaram os adversários nesses Playoffs até aqui, mas o preço para isso deve ser ainda mais espaço para Draymond Green e para as bolas de três pontos de Curry e companhia. O banco de reservas traz mais dificuldades: David West terá muitos arremessos livres de média distância e Shaun Livingston terá muitas oportunidades para jogar de costas para a cesta contra Patty Mills, minando as já poucas possibilidades de armadores da equipe de San Antonio.
Na temporada regular o Spurs teve a melhor defesa da NBA – com o Warriors logo atrás num apertado segundo lugar – mas nesses Playoffs caiu para um amargo sexto lugar, com diversas deficiências sendo expostas tanto pelo Grizzlies quanto pelo Rockets. David Lee se mostrou um elo fraco na defesa e as adequações necessárias para protegê-lo abrem outros caminhos para os adversários. Jonathon Simmons brilhou no final da série contra o Rockets como um excepcional defensor de perímetro, mas resta ainda saber se ele pode ser inserido no quinteto titular – talvez uma opção para atrapalhar Curry? – e se o Spurs tem condições de usá-lo para formar um quinteto mais baixo, abrindo mão das limitações de David Lee e Pau Gasol para estancar as inevitáveis sequências de pontos que o Warriors impõe ao longo das partidas.
Para o Spurs, o trabalho defensivo será questão de experimentação, uma infinidade de ajustes constantes, uma execução que não pode ter espaço para falhas e por fim, infelizmente, uma forte TORCIDA (ou reza) para que o Warriors não aproveite os arremessos sem contestação que ainda assim surgirão. O melhor que o Spurs poderá fazer será ESCOLHER quais arremessos ENTREGARÁ para o Warriors efetuar, decidindo se deixará Draymond Green livre para centralizar nele – o mais instável do elenco – toda a responsabilidade, se abrirá mão das bolas de transição de Klay Thompson para fechar o garrafão, ou se entregará os arremessos de média distância como o fez com o Houston Rockets, por exemplo. É uma escolha dura dar de mão beijada um tipo de arremesso que o Warriors certamente saberá explorar, mas ao menos ESCOLHER qual é esse arremesso dará para o Spurs uma situação de protagonismo e de controle necessária para que tenha chances na série. De certa maneira, escolher qual arremesso se vai tomar é impor parte do seu plano de jogo para o adversário, podendo ao menos planejar como minimizar os danos a partir de um cenário já conhecido.
No ataque, o Spurs teve uma melhora considerável nessa pós-temporada e mostrou que tem mais armas do que lhe foram dados os créditos: Kawhi não apenas se transformou numa força ofensiva INEGÁVEL, capaz de punir os adversários no mano-a-mano, arremessar bolas de três pontos na transição e criar pontos mesmo contra defesas sufocantes e em jogadas quebradas, como também mostrou que essa responsabilidade não altera significativamente seu trabalho defensivo.
Mas na sua ausência o Spurs soube voltar para uma situação de maior coletividade, girou a bola com precisão e até LaMarcus Aldridge, vivendo Playoffs complicados, ressurgiu das cinzas para se tornar o pontuador confiável dos seus tempos de Blazers. Para manter os placares dessas Finais de Conferência apertados, entretanto, será preciso um ataque que não oscile JAMAIS, com os reservas mantendo a mesma eficiência dos titulares, e como todo o elenco disposto a arremessar frente ao menor espaço que surgir. Acostumado a arremessar apenas as bolas de três pontos que estiverem completamente sem contestação, o Spurs correrá o risco de NUNCA encontrar esses arremessos contra a defesa do Warriors, a melhor da NBA em trocar as marcações e rotacionar as coberturas.
Tudo que o Warriors precisa é que a defesa “seque” o ataque do Spurs por um punhado de posses de bola consecutivas numa partida para que o ataque possa transformar as oportunidades em contra-ataque ou gerar uma sequência de pontos capazes de criar uma vantagem intransponível no placar. Contra o Jazz, o Warriors teve jogos bastante próximos no placar, ali na casa dos 10 pontos de diferença – sempre vantagens surgidas numa sequência de pontos movidas por uma defesa momentaneamente sufocante, e que impediam o Jazz de alcançar a liderança mesmo quando acertavam os arremessos mais difíceis e impensáveis. Por isso o Spurs precisa impedir essas sequências de pontos – especialmente na transição – e colocar em ação o ataque mais organizado e controlado de que já se teve notícia.
Outra coisa que não pode acontecer para o Spurs ter chances é eles caírem de novo na “armadilha da correria”. Contra o Rockets, volta e meia se empolgavam numa sequência de contra-ataques de ambos os lados, jogando em altíssima velocidade, e quando menos percebiam haviam trocado um monte de bolas de dois pontos por bolas de três pontos do adversário, o que qualquer pessoa que sabe contar descobre que é péssimo negócio. O Warriors não perdoa os times que querem trocar cestas, de modo que é sempre melhor diminuir o ritmo e tentar impor o máximo possível um jogo de meia quadra, ainda que possa parecer que não está funcionando quando o Warriors encontra espaço mesmo assim. Além disso, o Spurs precisa acertar as próprias bolas de três pontos – sem essa arma, é quase impossível imaginar um ataque que fosse suficiente.
Quando a defesa do Spurs colapsar ou o ataque entrar num momento ruim, é bem possível que o Warriors simplesmente dispare no placar e os jogos terminem antes do quarto período. Mas se o Spurs conseguir estabelecer e impor um padrão de jogo e o Warriors errar os arremessos que o Spurs ESCOLHER lhes dar, os jogos podem ficar bem apertados e aí qualquer coisa pode acontecer.
Não podemos duvidar do talento do Popovich de fazer ajustes e essa série será uma chance rara de vermos o Warriors ser destrinchado tanto no ataque quanto na defesa em busca de soluções para atrapalhá-los. Se existem maneiras TÁTICAS de incomodar o Warriors, essa é a série em que descobriremos isso. São Finais de Conferência que servirão de termômetro para entender quão à frente taticamente o Warriors ainda está do resto da NBA. É possível que vejamos falhas sendo finalmente exploradas e novos caminhos e ideias que, mesmo que não funcionem nessa série, sirvam de embrião para planos capazes de conter o Warriors no futuro.
MALDIÇÃO BOLA PRESA
Precisamos admitir que a série é desigual: Warriors vem de duas varridas, parece no ápice de seu funcionamento humano e tático, tem um sistema de jogo ainda imparável e o melhor elenco do Oeste; já o Spurs teve suas deficiências defensivas expostas, passou apuros com Grizzlies e Rockets, perdeu Tony Parker pelo resto do ano e Kawhi Leonard está voltando de lesão. A vida me ensinou a não duvidar jamais de Gregg Popovich mesmo quando ele tem elencos mais limitados em mãos, mas talvez a coisa mais sensacional que ele possa fazer nessa série seja apontar CAMINHOS e DIREÇÕES para a NBA seguir na hora de enfrentar, analisar e pensar o Warriors. O confronto entre as duas equipes ainda não aconteceu nos Playoffs durante essa Era histórica da equipe de Golden State, então será uma oportunidade rara de vermos Popovich abrir portas – ou até mesmo criar portas, por que não? O problema é que isso talvez signifique apenas jogos levemente disputados, uma ou duas vitórias para o Spurs na série, ou somente alguns minutos de pânico no Warriors até que eles encontrem outra saída. Nossas expectativas aqui no Bola Presa são enormes para a série – podem esperar muitos posts de análise tática desses confrontos – mas é preciso ser realista e aceitar que a nossa vontade de ver e aproveitar o duelo tático não necessariamente se transformará numa série verdadeiramente disputada em que o Spurs terá reais chances de vencer. Salvo alguma mudança muito drástica na série – que tem mais chances de acontecer aqui nas Finais do que no restante dos Playoffs, mas que ainda assim será muito improvável – imaginamos que o Warriors deve perder apenas um joguinho na série e correr para o abraço.