>
Afinal, do que posso escrever hoje? Da partida monstruosa do Leon Powe? De como o Paul Pierce é o real MVP do Celtics e que ele ainda está para errar sua primeira bola de 3 na série final? De como o Kobe é um cara quando só arremessa e outro quando bate pra dentro? Sobre como o Lakers parece nervoso às vezes e um timaço noutras? Sei lá, é muita coisa pra se falar em apenas um jogo, ou melhor, três jogos. Tivemos um jogo de um jeito no primeiro período, outro no segundo e terceiro períodos e outro completamente diferente no quarto. Acho que só falando desses três momentos diferentes para se entender um pouco o que foi esse jogo.
Jogo 1: Boston 20 x 22 Los Angeles
Acho que o primeiro jogo dentro desse jogo foi o mais comum, o mais com cara de temporada regular. E nada mal quando um jogo comum desses tem um placar disputado, bola de 3 no estouro do cronômetro e uma enterrada fenomenal como a do Pau Gasol sobre o Kevin Garnett. Aliás, o Gasol é um caso a ser estudado, ele parecia o melhor pivô do mundo nessa primeira parte do jogo (e até no começo da segunda parte, vai) e de repente ele apagou e parou de atacar a cesta, claro que tem culpa também o afobado ataque do Lakers que muitas vezes decidia dar um arremesso ruim ao invés de dar a bola pro espanhol lá no meio.
Pelo lado do Celtics, nesse primeiro quarto acho que nada de tão especial além do Rajon Rondo não amarelando pela 100ª vez na temporada e fazendo um jogo que, apesar de muito burocrático às vezes, é bem eficiente.
Aqui a enterrada do Gasol:
Jogo 2: Boston 63 x 39 Los Angeles
Alguém que lê o blog gosta de tênis? Eu gosto bastante de tênis e ontem foi um dia especial tanto para o basquete, com o jogo 2 da final da NBA, quanto para o tênis, com a final de Roland Garros, ou, se você preferir chamar assim, “a chance anual do Federer vencer o Nadal no saibro”. Estou lembrando desse jogo porque achei que, em partes, as duas finais foram bem parecidas.
O Roger Federer é o número 1 do mundo, o Nadal é o número 2. Porém, no saibro (a terrinha batida estilo várzea em que é jogado Roland Garros) o Nadal é o melhor, perdeu apenas 5 jogos nesse piso desde 2004, então a graça do jogo é que temos o melhor jogador do piso contra o melhor jogador em todos os outros e, em teoria, o único cara capaz de tirar o reinado do Nadal no saibro. Para vencer um jogo de saibro não dá pra contar só com técnica e muito menos com força, é um jogo mais lento, de paciência e talvez o piso em que a estratégia e conhecimento do adversário seja o mais importante. E é aí que a NBA aparece.
O jogo que vimos no segundo e terceiro quartos foram exatamente como a final de Roland Garros. O Boston era o Nadal, nos seus domínios, o Lakers era o Federer, o desafiante talentoso. E você sabem quanto foi o jogo de tênis? Bom, foi um 3 a 0 esmagador para Nadal, com direito a um 6 a 0 no terceiro set, o primeiro pneu que o suíço toma desde 1999. Essa segunda parte do jogo foi uma lavada no mesmo nível, um dos lados parecia desesperado (embora esforçado) e não se entregava embora também não consiguisse acertar nada, já o lado vencedor sempre pareceu fazer tudo sempre certo na hora certa e do jeito certo.
E as duas sacoladas têm uma explicação bem simples, um time é bom demais e o outro é muito burro. Ou, se você não gosta de xingar e gosta de ficar em cima do muro como o Cléber Machado, o outro time não é burro, é apenas afobado, precipitado. O Nadal fez sua estratégia: se defendeu, mandou bolas altas e jogou na esquerda do Federer. O Boston fez a sua parte, impediu o Kobe de entrar dentro do garrafão e atacou a cesta o tempo inteiro.
Como resposta o Federer não jogou as bolas onde o Nadal tinha dificuldades, cometeu inúmeros erros não forçados e só foi pra rede quando não devia. E o Lakers respondeu sem tomar uma falta de ataque nas infiltrações, fazendo faltas tolas e confundindo “jogar com velocidade” com “jogar batata-quente”, arremessando a bola o mais rápido possível.
E já que nos cobraram umas piadinhas de mau gosto e trocadilhos ruins (como se existisse um trocadilho bom…) posso dizer que a estrela dessa parte do jogo foi o Leon Powe, um Leão em quadra. O mané conseguiu 21 pontos arremessando apenas 7 bolas e nenhuma delas foi de 3, tudo porque sempre que ele colocava aqueles braços gigantescos do tamanho das duas canelas do Odom juntas dentro do garrafão, ele tomava um tapa e ainda fazia a cesta. Em um ponto da partida, o Leão Powe tinha o mesmo número de pontos que o Kobe Bryant, com a diferença que o Kobe estava com a síndrome de Mark Blount, uma doença que ataca as pessoas de um jeito em que eles tem medo de entrar no garrafão e apenas arremessam de longe. Outra coisa do Powe é que ele chutou 13 lances livres nos 14 minutos que passou em quadra, o Lakers inteiro chutou apenas 10.
O ponto final desse jogo foi uma jogada que não sei se chamo de marcante, espetacular, patética ou só que parecia um profissional jogando sério em uma pelada de moleques de 12 anos. Foi aquela enterrada em que o Powe correu desde o seu garrafão até o garrafão do Lakers em linha reta e enterrou. Por um instante achei que estava vendo um jogo de NBA Live.
Aqui os melhores momentos do Powe no jogo:
Jogo 3: Boston 25 x 41 Los Angeles
Segundo o técnico Phil Jackson, a jogada citada do Leão Powe foi o ponto de mudança da equipe. Depois disso o Lakers tomou vergonha na cara e resolveu jogar como deveria. De repente o Lakers virou um time agressivo que defendeu melhor, com menos faltas, aproveitou contra-ataques, trocou bolas com mais paciência, acertou as bolas de 3, foi um sonho. Além disso, o Boston colocou nos pés, ao invés daquele tênis de mil dólares do Garnett, um belo salto alto, daqueles divinos que você olha e fala “ma-ra-vi-lho-so” e que você só acha em Paris. O salto alto começou com o Doc Rivers, que não colocou as 3 estrelas do time em quadra, depois veio o resto do time que não marcou com a mesma vontade de antes e que quando tentou voltar a marcar encontrou um Lakers finalmente agressivo e, mais importante, confiante, sem medo.
Outra coisa que pesou contra o Celtics foi o Kevin Garnett. Nessa terceira parte do jogo, o quarto período, o Garnett não apareceu, nos últimos 7 minutos de jogo ele não fez nenhum ponto, nenhum rebote, nenhuma assistência, nenhum roubo e nenhum toco. Ele só estava lá, como eu, você ou o Greg Ostertag poderíamos estar.
Chegamos então no minuto final de jogo quando o Lakers estava prestes a fazer história ao reverter em menos de um período uma diferença que tinha chegado em 24 pontos, lembrando que o Lakers já tinha feito história ao acertar 7 bolas de 3 em apenas um período, recorde das finais. Mas então nesse minuto o jogo voltou a ser o que era, o Lakers não soube defender e em uma confusão na dobra no Paul Pierce saiu uma falta que fez com que o Boston abrisse 4 pontos de diferença. O Lakers ainda teve mais uma chance para tentar cortar a diferença para 1 ponto mas a jogada foi ridícula, a bola parecia que era pro Fisher ou pro Kobe mas acabou nas mãos do Sasha Vujacic que arremessou mal e tomou um toco do Paul Pierce. Aí o sonho da virada histórica acabou.
Aqui um vídeo com os melhores momentos da quase-virada do Lakers:
Mas para quem estava reclamando de um playoff sem graça, essas finais são uma bela resposta. O primeiro jogo teve a linda virada do Celtics com direito a momento histórico, emocionante e polêmico na contusão do Paul Pierce. E no jogo dois vimos uma atuação de gala do Leon Powe e uma lavada do Celtics que quase virou uma das maiores e mais improváveis viradas da história das finais. Já é muito história para apenas o comecinho da série.
A juizada
Deixei os juízes de fora de todo post, isso porque queria ter um espacinho aqui para falar só deles. Quem acompanha o blog sabe que a gente não é de encher muito o saco de juiz, quando eles erram em jogadas decisivas (como no jogo 4 entre Lakers e Spurs) nós falamos, mas preferimos falar dos jogadores, dos técnicos, das táticas dentro do jogo.
Ontem foi uma das piores atuações dos juízes em todo playoff, dá pra fazer uma lista de marcações ridículas, mas acho que fica até chato para quem lê ficar lendo de reclamação de juiz. O que eu espero é que eles melhorem para o próximo jogo, porque acho que ontem eles acabaram decidindo muita coisa. Nesse jogo 2 eles deixaram de marcar muitas coisas a favor do Lakers no primeiro tempo e essas jogadas levaram o Celtics a muitos lances livres e em duas vezes deixaram de marcar faltas para o Lakers (que poderiam virar 4 pontos) para dar a bola para o Celtics, que transformou esses turnovers do Lakers em arremessos de 3 pontos.
Já no segundo tempo foi a vez dos juízes darem uma força pro Lakers e ferrar com o Celtics, tá bom que foram menos vezes, mas aqueles 3 ou 4 passos do Radmanovic na sua enterrada, até quem não entende de basquete viu que tinha algo de errado.
Aqui a jogada mais bonita que os juízes ferraram, o toco do Ronny Turiaf no Leon Powe: