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A jogada da noite no jogo de ontem foi a seguinte: Jordan Farmar pula para um rebote defensivo, ganha a bola de PJ Brown, sofre a falta e sai encarando o cara que é uns 15 anos mais velho, 50kg mais pesado e 20cm mais alto. Isso resume tudo.
O Lakers de ontem não foi muito melhor do que o Lakers que jogou em Boston, mas venceu. Os problemas ainda estavam lá mas eles simplesmente deram um jeito de superar tudo com muita vontade e dedicação, eu discordo de quem diz que o Lakers estava derrotado nas duas primeiras partidas, eu acho que eles estavam com muita vontade de ganhar mas ao mesmo tempo estavam nervosos demais e perdidos também. Ontem a parte do medo foi embora, ficou só a vontade de jogar e, ainda, alguns jogadores meio perdidos. Mas foi o bastante para ganhar o jogo, a defesa, mesmo errando algumas vezes corria para contestar os arremessos, lutava. A jogada da noite foi a do Farmar porque simboliza tudo isso. Primeiro que não é o Farmar que deve lutar por rebote, mas ele estava lá e lutou, depois que foi com tamanha garra que ganhou a bola e por fim não teve medo mesmo vendo um adversário mais forte.
Sim, mesmo com a vitória do Lakers o jogo foi uma prova de que o Celtics é um time mais forte. A defesa dos verdes, mesmo sendo mais atacada que jogador do Botafogo em Pernambuco, se virou e nunca deixou o Lakers escapar na partida. Além disso, conseguiu ficar no jogo até o minuto final mesmo com uma partida pífea do Paul Pierce e uma apenas mediana de KG. Garnett errou muitos arremessos mas sua defesa em Gasol foi boa e ele saiu de quadra como líder do jogo em rebotes e assistências, não dá pra falar que ele falhou completamente no jogo de ontem. Portanto, em um jogo que deu tudo errado, o Celtics ainda teve chances de vencer, sinal de que a longo prazo eles ainda não correm riscos.
Pelo lado do Lakers, Odom e Gasol “lideraram” uma atuação vergonhosa dos titulares do Lakers que, tirando Kobe Bryant e seus 36 pontos, marcaram 22. Fisher ainda que se salvou um pouco porque, por alguns instantes, fez boa defesa, mas no ataque esteve nulo. Será esse Lakers mais fraco do que parece ou Odom, Gasol e Fisher só não conseguem jogar por causa da forte defesa do Celtics? Eu acho que as duas coisas. Odom e Gasol são bons mas não são os melhores de suas posições, não será nenhum absurdo se eles não forem para um All-Star Game no ano que vem, por exemplo, aliás Odom nunca foi para um. Já o espanhol é cuidadoso demais, finesse demais e tem muita dificuldade com jogos muito físicos, como pivô ele sempre terá dificuldades contra times fortes e talvez com a volta de Bynum no ano que vem Gasol jogue como ala de força e assim renda mais. Sem esquecer da defesa do Celtics, que fez miséria com todos os times na temporada inteira e não tinha porque ser diferente bem na final.
Um detalhe curioso sobre o Pau Gasol é que até ontem ele tinha feito apenas 7 pontos em quarto períodos. Mas não nas finais, e sim nos playoffs inteiros! Somando as séries contra Nuggets, Jazz, Spurs e os dois primeiros jogos das finais ele tinha apenas 7 (dos seus 98 pontos marcados) em quartos decisivos, patético. Ontem ele começou a compensar, já que fez 5 de seus 9 pontos no quarto final.
Nos duelos pessoais a troca mais significativa foi a de deixar Kobe marcando Rajon Rondo. O MVP forçou uns erros do pivete que mesmo assim vinha se virando bem, até que se virou demais e torceu o pé. Até voltou pro jogo depois (sem música épica na sua volta do vestiário) mas algumas notícias dizem que ele pode até perder o jogo 4. Se ele não jogar eu acho que o Celtics deveria tentar usar, durante o maior número de minutos possível, uma formação com o Ray Allen na posição 1, levando a bola pro ataque e com o Posey em quadra, porque eles não vão pra lugar nenhum com Eddie House ou o Cassell armando, os dois são bons para entrarem junto com os reservas, já que ambos não sabem fazer outra coisa da vida além de arremessar, arremessar e arremessar, o House chegou até a comprometer o jogo no final forçando uma bola ridícula, digna do nosso glorioso Marcelinho Machado.
Eu sei que o Ray Allen é melhor se movimentando sem a bola mas o que eu acho que eles devem fazer é o seguinte: o Ray Allen conduz a bola até o ataque e lá ele decide que caminho seguir: a isolação do Paul Pierce, que só foi parado por ele mesmo na série, nunca por um marcador do Lakers; ou a isolação do Garnett no garrafão, que também tem tomado grande vantagem sobre Gasol e Odom. Com a bola na mão de um dos dois é só o Ray Allen se movimentar e esperar a dobra ou alguns cortas do Posey e do Perkins pra fazer o que sabe. O Ray Ray também sabe muito bem jogar com o pick-and-roll, então pode fazer mais essa jogada, que o Lakers marca tão bem quanto o Suns (veja o vídeo).
Você deve estar se perguntando “Como assim o Lakers ganhou só porque jogou com mais vontade? Se vontade ganhasse jogo o Gattuso não perdia nunca”. Pois é, não é só vontade mesmo, embora a postura do Lakers tenha sido importante demais. E a postura começou com o exemplo do líder, que além da vontade mostrou agressividade, talento e um pouquinho de espetáculo, que não faz mal a ninguém. Usando a frase que a revista Dime usou, o Lakers venceu o jogo por um motivo bem simples: eles trocaram o Vlade Divac pelo Kobe Bryant 12 anos atrás.
Mais uma vez Kobe foi o centro das atenções e jogou como nunca (ou como sempre). Chamou o jogo, vibrou a todo momento e desde o começo da partida estava com uma cara de quem não ia deixar o Celtics vencer esse jogo de jeito nenhum, não importando o preço. E estamos falando de um cara que em um treino do Lakers pulou para tirar de dentro da cesta um lance livre do Derek Fisher, sabe o motivo? Se Fisher, último da fila do treino, acertasse o chute, Kobe teria sido o único do treino a errar um lance livre. Sim, ele é competitivo o bastante para trapacear em um treino de lance livre só para não perder, imagina do que ele é capaz numa final de NBA.
Por falta de competência o Lakers pode perder, já que o Celtics foi, sobrando, o melhor time nos 3 jogos. Mas por falta de vontade não vai ser.
Aqui minha singela homenagem ao Leon Powe do jogo 3, Sasha Vujacic.
Foram 20 pontos com direito a aplausos do Jack Nicholson e muitos “biiingo!” do Everaldo Marques e muitos “Ele nunca acertaria esse arremesso em Boston” da minha parte: