Resumo da Rodada 23/4 – O quarto de 50 pontos

por Danilo

A série contra o Wolves certamente não está sendo muito lisonjeira para o Rockets. Os jogos foram mais difíceis do que deveriam, o Wolves venceu a partida anterior e, mais preocupante do que isso, pequenos ajustes defensivos foram suficientes para tirar o Rockets completamente da zona de conforto, dificultando as infiltrações e as bandejas que são essenciais para criar espaços para as bolas de três pontos. Ver James Harden batendo bola sozinho contra seus defensores durante uma posse de bola inteira apenas para forçar um arremesso pode até ser o sonho molhado de muita franquia por aí, mas para um time que sonha com títulos parece sinal de que alguma coisa nessa série deu muito, muito errado. O time não tinha mostrado ao longo de toda uma temporada regular que poderia ser melhor do que isso?

O primeiro tempo não fez nada para dissipar essa sensação. Pelo contrário: apesar do placar apertado – o Rockets acabou o segundo quarto um ponto à frente – pareceu, na maior parte do tempo, que era o Wolves quem estava no controle do jogo. Parecia que o Rockets jogava em “pílulas”: Trevor Ariza começou acertando duas bolas de três pontos seguidas em transição, mas depois disso o time secou e o Wolves foi lá, devagar e sempre, tirando a vantagem. Aí o Rockets acerta uma ou duas bolinhas, e outra vez parece secar. No primeiro quarto, o Rockets só acertou SEIS arremessos dos 24 que tentou, com o Harden errando as suas 7 tentativas. Foi um desastre ofensivo, com o time apresentando as mesmas dificuldades de antes em aceitar a meia distância, que é tudo que o Wolves oferece com sua defesa.

Mas quando o primeiro quarto terminou, o jogo estava EMPATADO. Tudo porque o Wolves não consegue converter suas bolas de três pontos, Karl-Anthony Towns saiu rapidinho com 2 faltas, e o Rockets praticamente não manda o adversário para o lance livre, enquanto o Wolves concedeu só nessa primeira etapa 6 lances livres. O ataque do Wolves parece incapaz de aproveitar as oportunidades que sua defesa, e os erros do Rockets, estão lhe oferecendo. Mas ainda que a vantagem no placar não tenha aparecido, a vantagem tática parecia óbvia: o Wolves estava impondo seu jogo e, cedo ou tarde, parecia fadado a assumir a liderança e vencer mais uma partida jogando em casa. Uma série empatada em 2 a 2 colocaria toda a pressão em cima do Rockets, que chegou com a pompa de ser o líder de Conferência, e poderia bastar um jogo assustado e sem confiança para que o Wolves sonhasse com a maior zebra da temporada. Quando até Derrick Rose parece que tem 20 anos de idade vencendo o Rockets na corrida, como não acreditar em milagres?

Mas quando o Rockets voltou para o segundo tempo, ALGO aconteceu: o técnico Mike D’Antoni fez um pequeno ajuste ofensivo. Se o Wolves está marcando o corta-luz DESCENDO rumo à cesta para impedir as infiltrações, o que aconteceria se o Rockets NÃO INFILTRASSE nessas situações, usando corta-luz e hand offs (quando um jogador “solta” a bola para um companheiro deixando seu corpo parado para funcionar de corta-luz) para manter seus jogadores no perímetro? A resposta eu deixo com Chris Paul:

A cada corta-luz os defensores do Wolves passam por trás do corta-luz, não pela frente, para assim conseguir impedir as constantes infiltrações de James Harden. Quando Harden e Chris Paul passaram a FICAR no perímetro nesses lances, ganharam segundos valiosos sem marcação para o arremesso. E aí a porta do CAOS foi aberta:

Foram NOVE bolas de três pontos para o Rockets só no terceiro período, 3 para Harden, 3 para Chris Paul e duas para Eric Gordon. Desesperada, a defesa do Wolves começou a tentar chegar MAIS CEDO nos arremessos mas, passando por baixo do corta-luz, só conseguiram com isso cometer falta atrás de falta. Foram 13 lances livres gerados no período, 5 deles só para James Harden, que acabou o quarto com 22 pontos, fora os 15 de Chris Paul.

De repente, sem nenhum aviso, o Rockets tinha somado CINQUENTA PONTOS no terceiro quarto – a mesma quantidade de pontos que tinha marcado no primeiro tempo inteiro.

Foi um dos quartos mais incríveis que o Rockets já produziu ofensivamente, o que gerou uma série de recordes: o segundo melhor quarto da história dos Playoffs, o recorde de um jogador do Rockets na pós-temporada com 22 para o Harden, e o melhor quarto de Harden e Chris Paul juntos desde que se juntaram em Houston, somando 37 pontos.

Ao fim do terceiro quarto, a diferença já era de TRINTA pontos no placar, chegando a estar em 35. Mas aí o Rockets voltou ao normal no quarto período, o Wolves continuou seu domínio do jogo como se nada tivesse acontecido, a diferença foi diminuindo e o Rockets praticamente DESISTIU do jogo, segurando as posses de bola até o limite do cronômetro só aguardando o jogo acabar durante um quarto inteiro. O Rockets venceu por 19 pontos, 119 a 100, o que é até um placar digno para os derrotados, mas definitivamente não conta a história do jogo – nem da dominância no terceiro período, nem do Wolves tendo jogado melhor em todos os outros. Na prática, o Wolves foi melhor no jogo por mais tempo, impondo seu modo de jogar por mais minutos. Mas o Rockets só precisou de UM quarto – um quarto de 50 pontos, claro – para criar uma distância tão surrealmente intransponível que não havia nada que o Wolves pudesse fazer.

Esses arremessos que o Rockets tentou no terceiro período sempre estiveram aí, disponíveis – só não tinha ocorrido ao time tentá-los, abrir mão das infiltrações e arriscar perder um jogo desses com uma chuva de bolas de três que poderiam, claro, não ter caído. Parece que o time se esquece de que bolas de três pontos não precisam cair sempre, basta que caiam num intervalinho de 12 minutos para matar quaisquer intenções do adversário. Agora, o Rockets volta para Houston com uma liderança de 3 a 1 na série e carta branca para arremessar, sem pressão alguma e com a confiança lá no alto. Talvez assim vejamos, pela primeira vez, o Rockets ser o melhor time da partida durante quatro quartos inteiros?


por Denis

No nosso preview dos Playoffs, dissemos que a série com mais chance de briga era a entre OKC Thunder e Utah Jazz. A combinação da marra de Paul George e da intensidade de Russell Westbrook com as provocações de Joe Ingles e o orgulho sempre ferido de Jae Crowder não tinham como dar em outra coisa, especialmente numa série com defesas tão fortes, físicas e onde os dois times adoram brigar por rebotes ofensivos. Dito e feito: tirando a também pegada série entre Sixers e Heat, nenhuma chega perto nas provocações, empurrões e mãos bobas de Jazz e Thunder.

A diferença até aqui tem sido outra: enquanto o Jazz briga e joga basquete, o Thunder briga e toma decisões questionáveis em quadra. Uma coisa tem a ver com a outra? Não necessariamente, mas eu chutaria que sim: o Jogo 4 foi tenso, pegado e acabou com a terceira vitória seguida do Jazz na série, 113 a 96.

O jogo começou como tem começado normalmente, com o Thunder defendendo bem, causando problemas para o ataque do Jazz e forçando bons contra-ataques para Paul George e Russell Westbrook. Mas a entrevista pós-primeiro quarto do técnico Billy Donovan já sinalizava o perigo, “nós começamos bem assim antes, precisamos manter pelo resto do jogo”. E, de novo, não foi o caso.

A defesa do Jazz melhora quarto a quarto, o Thunder movimenta cada vez menos a bola e se frustra mais a cada minuto que passa. Não é à toa que Westbrook tenha média de apenas 1.7 ponto por quarto período nos últimos 3 jogos. Enfrentar a melhor defesa é como pisar na areia movediça, são 48 minutos se debatendo e a coisa só piora a cada vez que você tenta escapar:

Após o triple-double de Ricky Rubio no Jogo 3, Westbrook havia prometido ANULAR o espanhol. A intensidade de Westbrook, porém, não foi bem canalizada. Ele passou o jogo todo com problema de faltas, algumas delas bem bobas, como essa aqui onde ele só tava tentando fazer bullying no rival. É assim que o Jazz vai torturando aos poucos:

Depois disso Westbrook passou o jogo tendo que se controlar e às vezes abrindo espaços para infiltrações dos adversários com medo de fazer ainda mais faltas e sair da partida. Do outro lado, ele errou ataques e aceitou os arremessos de 2 pontos contestados que o Jazz queria que ele tentasse. Poucas vezes vi um cara com tanto talento fazer tão pouca diferença em quadra.

A defesa sobre Paul George não foi menos intensa. O Jazz forçou nada menos que SEIS turnovers do ala, incluindo aí até alguns empurrões-falta-de-ataque que já no último jogo tinham inspirado o apelido de “Pushoff P” (ao invés de Playoff P) da torcida do Jazz. Do trio sobrou Carmelo Anthony, que teve os melhores arremessos do trio e não soube aproveitar. Ele precisou de 18 chutes pra fazer 11 pontinhos. Com tantas atuações ofensivas ruins, não é estranho ver que eles terminaram o jogo só com 5 bolas de 3 em 26 tentativas.

Se o ataque previsível do Thunder está sendo exposto pelo Jazz, pelo menos a defesa deveria segurar o barco, né? Deveria, mas não é isso que aconteceu ontem. O Jazz conseguiu O QUE QUIS ao longo de toda partida. Quando Westbrook tentava engolir Rubio por pura sede de vingança, o espanhol só tocava a bola para quem estava livre e fazia a bola correr, afinal é assim que o time joga. Rubio sabe criar, Joe Ingles sabe criar e o novato Donovan Mitchell sabe criar. Com os três em quadra, a bola sempre se mexe e algum bom arremesso sempre sai. E se não sai, Mitchell bota a bola embaixo do braço e acha uma cesta do jeito que for:

As jogadas de Mitchell são impressionantes. Ontem o Twitter estava comentando de como ele parece um jovem Dwyane Wade, achando bandejas onde o olho comum não vê espaço, com a diferença que o jovem do Jazz ainda  arremessa de longe com muito mais desenvoltura do que o veterano do Heat jamais teve. Mitchell marcou 33 pontos e está beirando os 30 pontos DE MÉDIA na série!!! Dá pra culpar a defesa do Thunder em muitos lances, especialmente no segundo tempo, mas nada tira desse pirralho todos os méritos de jogar como poucos na história.

Separei aqui dois lances que mostram como o Jazz fez para pontuar com tanta facilidade sobre o pobre Thunder. Vejam como Ricky Rubio sempre tem a paciência de esperar um segundinho a mais e dar o passe exatamente quando seu companheiro está embaixo da cesta para finalizar…

…e vejam como esse time movimenta a bola com facilidade até a defesa do Thunder DERRETER e ceder um arremesso sem marcação:

Eu aposto na frustração do Thunder porque só isso explica um time errar tanto na defesa do pick-and-roll a essa altura da temporada. Estar atrás no placar, não achar solução e ter um outro time empurrando e provocando tirou o Thunder dos eixos. E aí temos que ver alguns desses lances que ajudaram a desestabilizar o time: começamos com Joe Ingles, que provocou e encarou Paul George depois de TODO SANTO ARREMESSO que fez ao longo do jogo:

… depois teve mais uma falta dura de Westbrook, de pura frustração, que virou uma confusão que acabou com cotovelada de Jae Crowder NO NARIZ de Steven Adams, que é tão FORTE E PODEROSO que só sentiu uma coceira:

O próximo jogo é em Oklahoma City e lá a torcida é barulhenta e difícil de lidar. Também sabemos que Paul George e Russell Westbrook não vão simplesmente abaixar a cabeça e aceitar a lavada, mas depois de um provável primeiro quarto intenso e avassalador, o Thunder vai ser capaz de sobreviver à solidez do Jazz? Vão dar conta de marcar bem todas as posses de bola e não cair na tentação de dar arremessos contestados sobre a defesa? Parece mais improvável a cada jogo.

Torcedor do Rockets e apreciador de basquete videogamístico.

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