Um dos times mais misteriosos da NBA foi o primeiro eliminado dos Playoffs nesta temporada, o Portland Trail Blazers. Por que o mistério? Bom, eles são o Washington Wizards do Oeste: nos últimos anos eles sempre vão bem quando não esperamos nada e vão mal quando criamos expectativas. Cada ano é de um jeito e já não sabemos mais o que tirar deles.
Vamos recapitular: ao fim da temporada 2014-15, o Blazers viu QUATRO dos seus titulares irem embora de uma vez só, aà quando todo mundo esperava um TANK caprichado daqueles, o time não só foi para os Playoffs, como passou da primeira rodada. No ano seguinte, cheio de expectativas, o Blazers teve que ralar e ganhar uma grande sequência de jogos no final da temporada só para classificar em OITAVO. Então chegamos neste ano, quando achávamos que a equipe era limitada e aà eles tiveram um ano quase perfeito, acabando em terceiro do Oeste… só para ser logo VARRIDO na primeira rodada dos Playoffs.
Os altos e baixos do Blazers tornam um trabalho difÃcil ainda mais complicado: como fazer a avaliação do estado atual da equipe e de até onde ela pode chegar? Nas entrevistas de fim de temporada, enquanto a torcida do Blazers inundava o Twitter com os mais diversos xingamentos a todos os personagens do time, o General Manager Neil Olshey defendeu o projeto e disse que não iria “perder de vista o sucesso da temporada” ao exagerar na reação de uma série de Playoff que foi um mero “matchup desfavorável”.
Neil Olshey: "This (result) was so extreme, I don't want to overreact to one unfavorable matchup against a team that played outstanding basketball. We're not going to lose sight of the success we had this season."
— Sean Highkin (@highkin) April 22, 2018
A questão é: ele está certo ou só está tentando salvar seu emprego? É possÃvel argumentar as duas coisas. Embora a diferença entre ser o terceiro e o NONO do Oeste tenha sido mÃnima nesta temporada em termos de total de jogos vencidos, não é pouca coisa conseguir ser o campeão desse grande bolo de ótimos times. Por outro, eles perderam DE ZERO mesmo tendo mando de quadra e enfrentando um time desfalcado do seu segundo melhor jogador. Por mais que o estilo de jogo do Pelicans seja bem complicado para o Blazers, a falta de resposta do time foi preocupante.
Outro fator que complica a avaliação deste Blazers são as oscilações dentro da própria temporada. O Matt Moore, da CBS, compilou números das últimas três temporadas para mostrar que em todo santo ano o time é bem medÃocre na maior parte do tempo e em só um momento, geralmente no fim da temporada, é que engrena para valer:
2015-16: 18 vitórias e 4 derrotas entre 10 de Janeiro e 1º de Março – 26v/34d no resto do ano
2016-17: 17 vitórias e 5 derrotas entre 2 de Março e 10 de Abril – 24v/36d no resto do ano
2017-18: 22 vitórias e 5 derrotas entre 16 de Janeiro e 18 de Março – 29v/26d no resto do ano
Aà novamente vem a pergunta: qual é o Blazers REAL? O que é boa fase, o que é calendário favorável, o que é fora da curva e o que é confiável e previsÃvel? Quando Neil Olshey olha para isso tudo ele pensa que está tudo indo no caminho certo ou é um mero vaivém de uma maré que nunca avança ou recua demais?
O exemplo do Blazers é fascinante por não ter respostas fáceis e porque sabemos que conseguir adivinhar a resposta pode ser a diferença entre sucesso e fracasso. Os exemplos recentes são inúmeros: o Golden State Warriors precisou decidir que Mark Jackson não deveria ser mais o técnico do time apesar de duas temporadas de sucesso, já o Orlando Magic se livrou de Victor Oladipo antes de descobrir seu real valor. O Denver Nuggets trocou Carmelo Anthony depois de usar seus melhores dias e ainda ganhou uma bolada na troca, já o Sacramento Kings segurou DeMarcus Cousins um pouquinho demais antes de admitir que a experiência não ia dar em nada. Nem para times campeões isso é fácil: o Dallas Mavericks venceu o tÃtulo em 2011 e logo percebeu que o elenco era velho e com poucas chances de repetir o feito, mas ao se desmontar nunca mais chegou perto do sucesso; o Cavs, por outro lado, simplesmente pagou TODO MUNDO que tava no time campeão de 2016 e agora tá aà com JR Smith zerando jogos, Tristan Thompson nem pisando em quadra e com a maior folha salarial de toda a liga.
Esse é o momento em que Neil Olshey vai ter que decidir se o tempo de Terry Stotts como técnico já passou ou não, se um time comandado por Damian Lillard pode ser campeão da NBA e se vale a pena trocar CJ McCollum por outro tipo de estrela que possa complementar melhor o astro do time. Mas também pode ser o momento em que ele vê os bons momentos do time e aposte que basta esperar um pouquinho mais para que eles deem o próximo passo. Essa foi, afinal, a melhor temporada das vidas de Lillard, McCollum, Al-Farouq Aminu, Jusuf Nurkc, Moe Harkless, Shabazz Napier…
Para tomar essa decisão, Olshey vai precisar analisar duas questões. A primeira é decidir quais são os pontos fracos do time que devem ser atacados e, depois, ver o que é possÃvel ser feito dentro da situação financeira da franquia. Comecemos pelos problemas: o time acabou com a 8ª melhor defesa da temporada e o 15º melhor ataque. A parte ofensiva também viu o time ser o que dava menos assistências por jogo na temporada regular! Pulamos para os Playoffs e lembramos que o ataque do time estagnou quando Lillard perdeu a capacidade de pontuar. Embora o armador tenha feito o passe certo na maior parte das vezes, o ataque não funcionava depois disso, seja por falta de um outro criador ou por má pontaria nos arremessos. Esse vÃdeo do Half Court Hoops mostra muito bem isso:
Já na defesa o time foi muito bem o ano todo e só pecou mesmo nessa série, especialmente por não ter quem marcasse Anthony Davis. Esse matchup acabou estragando também as opções de como marcar Nikola Mirotic e aà o efeito dominó fez seu trabalho.
Analisando isso, o time deveria buscar duas funções novas: um ala que pudesse criar jogadas quando Lillard e McCollum não estivessem produzindo, e de preferência um que soubesse arremessar de longe para seguir sendo útil quando a bola voltasse a ficar com Lillard. E eles também precisam de um ala ou pivô mais alto e ágil, capaz de lidar com esses “unicórnios” à lá Anthony Davis. Não é preciso anulá-los nem nada assim, só não ser uma presa tão fácil quanto foram Jusuf Nurkic e Al-Farouq Aminu.
Se achar um jogador assim já não é dos trabalhos mais fáceis, fazer ele chegar em Portland será quase impossÃvel. Essa é a situação de salários atual da equipe:
É muito número, né? Muito dinheiro e pouca flexibilidade. Em julho o Blazers precisará se decidir se quer manter (e por quanto) jogadores importantes como Ed Davis, que é Free Agente Irrestrito (pode ir para onde quiser) e Nurkic, que é Free Agent Restrito (o Blazers pode igualar uma oferta que ele assine por aÃ). Manter os dois sairá caro demais, manter um só sairá bem caro e perder os dois não irá aliviar tanto assim essa que já é uma das folhas salariais mais caras de toda a NBA.
O curioso de ver onde eles gastam o dinheiro deles é perceber que esses problemas de dentro da quadra que citamos antes já foram atacados ANOS atrás! O obsceno salário do Evan Turner foi dado para que ele fosse esse “playmaker” alternativo que tiraria o peso das costas da dupla Lillard/McCollum, a extensão de Moe Harkless visava dar mais arremesso de longa distância nas alas e a renovação de Meyers Leonard era a grande aposta do time para ter um pivô alto, atlético, mas ainda bem ágil e com arremesso de 3 pontos. Com exceção de Harkless, que teve ótimo ano, o resto foi um desastre. Turner é bom jogador, mas não muda o status do time, e Leonard sequer está conseguindo lugar na rotação do time! Nos Playoffs foi preterido até pelo novato Zach Collins.
Muitas vezes julgamos um General Manager por sua habilidade de convencer Free Agents a assinar com sua equipe, pela capacidade de executar trocas ou pela engenhosidade ao encaixar contratos dentro das complexas regras do teto salarial da NBA. Mas TUDO isso começa com esse momento pós-eliminação (ou pós-tÃtulo para um dos 30 times a cada ano) onde é preciso sentar, respirar, deixar o calor da frustração passar e conseguir enxergar onde o time está. Anos atrás o Blazers passou por isso, fez o diagnóstico correto, mas comprou os remédios errados. É hora de fazer de novo e dessa vez usar a criatividade para reestruturar um dos times mais engessados da atualidade.